Côs braço cheio de fita,
Ainda me acho bonita,
Meu pená ninguém atina
Mêmo amarrada de imbira,
Não lamento minha sina:
-Sô a viola caipira!

Imbora vancê se admira,
Mêmo pindurada num prego,
Minhas lembrança carrego,
-Queria que vancê me afina.

Eu ia sempe em festança,
Animava véio e criança,
Das veiz eu era levada,
Nos bordé e nos velório,
Com amor era tocada,
Por um matuto simplório.

Me alembro das noite,
Daquelas festa de reis,
Tocava pra Deus menino,
Cantavam, batiam sino:
-Quanta coisa que nóis fez!

Nas festa de São João,
Eu era admirada,
Animava todo mundo,
Junto com verso e poesia,
Meu dono as corda tangia,
E eu tinía um som profundo.

Agora amarrada num prego,
Esta é a cruz que carrego,
Eu vivo no desamô,
Me alembro do dotô matuto,
Seu pai, junto a meu regaço,
Anseio por seu abraço:
-Pode me tocá, seu dotô!

 Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 7 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de três outros publicados em antologias junto a outros escritores.