O dia 7 de agosto de 1936, há quase 72 anos, marca a data em que a Alemanha jogou contra a Noruega uma partida de futebol válida pelos Jogos Olímpicos daquele ano. O jogo ocorreu no Post Stadium, na cidade de Berlim. Segundo os assessores de Hitler, aquela seria uma oportunidade excepcional para a propaganda política, especialmente aquela que considerava a raça ariana como uma raça superior; assim como era difundida por Joseph Goebbels, ministro da propaganda do “fuhrer”.

      Hitler queria que a vitória da Alemanha significasse a demonstração, perante o mundo, de que o terceiro império era um poder a ser levado em consideração, e que esta vitória uniria toda a Alemanha na crença de que lutar pela terra natal era uma causa digna de mérito. Hitler tinha certo desdém pelo futebol. Ele gostava era de música de Wagner, lutas de boxe e corrida de carros. Este jogo marcou a única vez, em toda a sua vida, em que Hitler foi pessoalmente assistir a uma partida de futebol. Aos seis minutos do primeiro tempo, a Noruega marcou seu primeiro gol. Hitler ficou carrancudo, aguardando a virada do time alemão. Aos trinta e nove minutos do segundo tempo, a Noruega marca seu segundo gol. Hitler, vermelho de raiva, levantou-se, seguido pelos assessores Goebbels, Goering e Hess, abandonando o estádio sem esperar pelo final da partida.

      A época, o resultado deste jogo, valorizado pela reação de Hitler, espalhou pelo país um triste estado de espírito. Isso se devia não só à fúria do ”fuhrer”, mas também pelo fato de que os dois gols foram marcados por um jogador norueguês, cujo nome soava como de origem judaica: Isaaksen (parecido com Isaac). No decorrer dos doze anos do domínio nazista, Hitler tentou desesperadamente manipular os resultados das partidas de futebol, em prol da sua causa política. Hitler não compreendia a imprevisibilidade dos resultados no esporte, e não os aceitava.

      O futebol tornou-se ainda pior aos olhos de Hitler, quando no dia de seu aniversário, a seleção da Alemanha perdeu para a Suécia, por uma contagem arrasadora. O que Hitler esperava era usar o futebol, que tinha um poder de atração tão forte, para explorar os aspectos que encorajavam a população à uma idéia de identidade nacional corporativa e que poderiam ajudá-lo a consolidar seu poder.

      Ele queria que a federação alemã convidasse times de países ocupados pela Alemanha, só para vencê-los e mostrar que ali ele era o chefe. Hitler estabeleceu para si mesmo a meta ambiciosa de tentar impedir derrotas da seleção nacional alemã, para manter alto o moral da nação, e assim desestimulou partidas contra equipes claramente mais fortes, tal e qual o técnico Zagalo da seleção brasileira fizeram muitas vezes, com a abjeta aprovação do genro do presidente da FIFA.

 
Fatos

      Houve outros fatos interessantes: – em abril de 1938, iria haver um plebiscito na Áustria, quando o povo austríaco decidiria se iriam ou não unirem-se à Alemanha. Hitler mandou marcar um jogo entre as seleções dos dois países uma semana antes, na cidade de Viena. Os jogadores alemães receberam ordens para jogar um futebol bonito, sem agressividade, (coisa que o futebol alemão jamais conseguiu), para reduzir o medo que os austríacos tinham da Alemanha ser uma ameaça para eles. A Áustria venceu por dois a zero, e no dia do plebiscito, 99% dos votos dos austríacos foram a favor da união entre os dois países. Os dois gols, de penalidade máxima, convertidos pelos austríacos não foram questionados pelos torcedores. Todos entendiam que havia uma ordem superior para que os austríacos levassem alguma vantagem.

E nós

        Durante a ditadura militar no Brasil, o governo Médici também utilizou o futebol da seleção canarinho na copa de 1970, para desviar a atenção dos brasileiros tanto dos exageros da polícia social, quanto das guerrilhas que se formavam em alguns pontos do país, propondo a desobediência civil, além de encobrir a situação de penúria que vivia o país, por culpa de um governo incompetente, além de ditatorial. A diferença entre o método utilizado pelos nazistas e pelos ditadores tupiniquins foi de um pouco de sorte (o Brasil, no futebol, sempre foi muito melhor que os outros, ao contrário da Alemanha), além de uma rara competência para utilizar o “tema seleção” em qualquer pronunciamento, ajudado por uma ufanista música do Miguel Gustavo (Deus o tenha), em que dizia: – pra frente Brasil!

Copa de 2006 na Alemanha

      O Brasil deve chegou até as quartas de final. Fomos eliminados vergonhosamente, mais uma vez perante a equipe da França. Houve jogador de defesa que parou para “arrumar a meia” enquanto o atacante adversário fazia o gol exatamente no lugar onde o zagueiro deveria estar. Até nosso presidente disse que o “fenômeno estava gordo”. (É certeza que nosso presidente da República, “expert” em matéria futebolística, faz suas parábolas e pérolas de improviso). Quando a seleção voltou, não foi convidada para visitar o palácio da Alvorada, pois não se pode capitalizar uma equipe derrotada, ainda se pelo menos, eles demonstrassem espírito de luta… Em 2010, na África do Sul, tem mais. Mas, em ano eleitoral; os políticos concorrerão e farão uso, com certeza, do futebol, pois isso fará bem à sua imagem.

 Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 7 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de três outros publicados em antologias junto a outros escritores.