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    Comunicação

    Tu me queres branca

    Tu me queres branca, Me queres de espumas, Me queres de nácar. Que eu seja açucena Sobre todas casta. De perfume tênue. Corola cerrada. Nem raio de lua Filtrado me haja, Nem a margarida Minha irmã se diga; Tu me queres branca, Tu me queres nívea, Tu me queres casta. Tu, que em mão tiveste […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    Tu me queres branca,
    Me queres de espumas,
    Me queres de nácar.
    Que eu seja açucena
    Sobre todas casta.
    De perfume tênue.
    Corola cerrada.

    Nem raio de lua
    Filtrado me haja,
    Nem a margarida
    Minha irmã se diga;
    Tu me queres branca,
    Tu me queres nívea,
    Tu me queres casta.

    Tu, que em mão tiveste
    Já todas as taças,
    E de méis e frutos
    Os lábios morados;
    Tu, que no banquete,
    Coberto de pâmpanos,
    As carnes deixaste,
    Festejando a Baco;
    Tu que no negrume
    Dos jardins do Engano,
    Vestido de rubro
    Correste ao Estrago;

    Tu, que o esqueleto
    Conservas intato
    Eu não sei ainda
    Por que altos milagres,
    Me pretendes branca
    (Que Deus te perdoe),
    Me pretendes casta
    (Que Deus te perdoe),
    Me pretendes alva.

    Foge para os bosques;
    Vai para a montanha;
    Limpa bem a boca,
    Mora nas cabanas;
    Com as mãos apalpa
    A terra molhada;
    Alimenta o corpo
    com raiz amarga;
    Bebe a água das rochas,
    Dorme sobre a escarcha;
    Renova tecidos
    Com salitre e água;
    Conversa com os pássaros,
    Desperta com a alva.
    E enfim, quando as carnes
    Te forem tornadas,
    E quando hajas posto
    Nelas a tua alma
    Que pelas alcovas
    Ficou enredada,
    Então, ó bom homem,
    Pretende-me branca,
    Pretende-me nívea,
    Pretende-me casta.

     

    Grandes Vozes Líricas Hispano-Americanas
    Seleção e Tradução: Aurélio Buarque de Holanda Ferreira
    Editora Nova Fronteira – edição 1990