Não se pode ver a literatura goiana no século passado sem constatar a forte presença feminina. O Século 20 foi o século das letras e das artes em nosso estado. Os solitários escritores dos séculos 18 e 19, autores de poucas obras, foram sucedidos por uma geração de grandes criadores. Os nomes de Bernardo Elis, nosso primeiro acadêmico, Eli Brasiliense, Carmo Bernardes, J, Veiga, AG Ramos Jubé, José Godoy Garcia, Gilberto Mendonça Teles, Antônio José de Moura e José Mendonça Teles. Paro por aqui, porque toda lista é incompleta. O leitor certamente recorda outros nomes. E os atuais? Uma vaga de jovens e já não tão jovens lança livros todos os dias. Já não conseguimos acompanhar o movimento editorial de Goiânia. Corre em nossos meios que há mais escritores que leitores. E os artistas da palavra acabam lendo uns aos outros ou a si mesmo. Não foi por esquecimento que deixei de relacionar nomes de escritoras no primeiro momento. Foi proposital. Conheci as rodas literárias de Goiânia nos anos 70 e 80 do século passado. Isso me dá uma sensação de sobrevivência e um arrepio de senectude. Ufa! Como dizia Cora: “Venho do século passado/e carrego comigo todas as idades.” Milagre da vida. Quem vai vivendo vai deixando pedaços e levando fiapos das vidas que encontra pelos caminhos. Elas não podiam faltar. Yêda Schmaltz, ainda enigmática, pedindo por melhor divulgação de sua obra. Nelly Alves de Almeida, Ada Curado, Marietta Teles Machado e Rosarita Fleury. Como venho dizendo, os nomes são apenas sugestões, há muito mais gente, desde Eurídice Natal até Darcy Denófrio, Maria Helena Chein, Heloisa Campos e Moema Olival. Recordo isso apenas para avivar a memória. Porque é tempo de absoluto esquecimento. Faces e vozes que estavam conosco até poucos dias vão se esfumaçando na névoa. O momento presente, passado sem gosto nem prazer, passado por obrigação. Consumido. Doida ilusão de que o consumo minora nossa solidão. Quando só a poesia salva. A palavra alimenta o ser do homem e unifica os tempos. O mutismo não é uma escolha do homem, mas a vitória do medo da vida. Ao calar-se, ao deixar de ouvir, de olhar o homem nega sua face de miraculosa ilusão. Esplêndida ilusão. Esmaga-se no precário concreto. Onde cabem todos os bens perecíveis, mas não alcança o sonho. Goiás não exportou estadistas, nem políticos criativos, nem empresários generosos. Goiás tem sido visto por seus artistas, poetas e prosadores. E talvez ainda sobrevivam quando a soja, os canaviais que embriagam o ronco dos motores do ócio extinguir todas as árvores, calarem todos os pássaros.  Darão ao homem que lavrava a mãe terra o indigno destino de acampado, de sem terra, sem nada. Entre tantos, recordo hoje Rosarita Fleury. Educadora, romancista, criadora de instituições, ganhadora de vários prêmios, que se chamava Maria do Rosário Fleury, de conhecida família de intelectuais. Passado apenas 15 anos de sua morte já é de clamar pela reedição de sua obra, pelo menos o seu romance premiado pela Academia Brasileira de Letras, com o prêmio Júlia Lopes de Almeida. Elos da mesma Corrente.