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    Comunicação

    Farpada

    este lixo e este brilho instável tua vida ainda que me vires a face pronta para outro tapa bala perdida atravessando a porta de feios, sujos e culpados uma das mil pétalas de teu peito murcho teu podre corpo embaixo de milhões de caramujos vesgos no fundo tranqüilo da baía da Guanabara um país inexplicável […]

    POR: Alexandre Pilati

    2 min de leitura

    este lixo
    e este brilho instável
    tua vida ainda
    que me vires a face
    pronta para outro tapa

    bala perdida
    atravessando a porta
    de feios, sujos e culpados
    uma das mil pétalas
    de teu peito murcho

    teu podre corpo
    embaixo de milhões
    de caramujos vesgos
    no fundo tranqüilo
    da baía da Guanabara

    um país inexplicável
    pelo estruturalismo
    o estômago verde
    de um verme feliz
    ave de rapina, bola perdida

    o anel que o doutor
    displicente esqueceu
    no cu da puta uma faca
    só cabo no crânio do padre
    teu sorriso na foto em família

    uma fresta fedida
    de calcinha
    que tuas pernas
    não conseguem cruzar
    um vácuo de 21 gramas

    um pico, um pinto
    as varizes de teu nariz
    tua satisfação quando
    a esquerda se dá mal
    tu mesmo e tua gravata

    irmão meu, anti-herói
    cagão que nada diz
    na cara de ninguém
    safado, poeta
    que bate um soneto a chibatadas

    este bruto animal
    com que sonhas na cama
    sem firma reconhecida
    o gole de Champagne
    que sobrevoa a avenida

    apenas um poema
    sujo, solto no vento
    daquela manhã de greve
    uma moção de desagravo
    uma soprano sem garganta

    Ofélia e Rocinante,
    fantasma e cacareco
    cronista e contabilista
    Lenine e o adeus
    que não aceito que me dês