(parábola)

Um sapateiro olhava uma pintura
E no calçado um erro distinguiu.
O pintor fez a correção à altura.
Mãos nas cadeiras, o outro prosseguiu:
“O rosto, eu creio estar meio entortado…
E o seio não está por demais nu?”
Cortou então Apeles, agitado:
“Nada, além do sapato, julgues tu!”

Alguém há quanto a mim bem topetudo:
Desconheço que ele haja feito estudo
Especial, mas é duro ao se expressar.
Consente o diabo que ele julgue tudo:
Que ele sapatos tente examinar!

(1829)

Poesias escolhidas
Aleksandr Púchkin
Organização e tradução: José Casado
Editora Nova Fronteira – edição 1992