Ele elogiou a inicitiva da Fundação Maurício Grabois de resgatar as idéias de Lênin, contribuindo com citações dos conceitos que fundamentaram a obra do grande pensador russo. Para Barata-Moura, o leninismo ganhou mais força, coesão e coerência na década de 1910, a partir do reforço e retomada da dialética hegeliana às suas análises. Ele também discorreu sobre o livro Materialismo e Empiriocriticismo, concluído por Lênin em 1908, destacando que o autor cita poucas vezes Hegel ao opor o materialismo ao idealismo.

Segundo Barata-Moura, a obra foi escrita no rastro de dois eventos históricos: as rebeliões populares contra o czarismo (que foram duramente reprimidas) e a derrota da Revolução de 1905. Já nos Cadernos Filosóficos, que são de 1913, segundo o filósofo Lênin aprofunda “a dimensão filosófica do pensar — subsidia-se mais em Hegel para fazer uma releitura aprofundada no materialismo”. “E é um livro também elaborado num período de refluxo, às portas da 1ª Guerra Mundial e em meio a muitas traições de altos dirigentes comunistas”, destaca.

Ele ressaltou também o prefácio Lênin à Ciência da Lógica, de Hegel, para destacar a “atitude flosófica” do pensador russo. “Não é possível compreender plenamente O Capital, de Marx, e particularmente o seu capítulo 1, sem ter estudado a fundo e sem ter compreendido toda a Lógica de Hegel. Por conseguinte, meio século depois nenhum marxista compreendeu Marx", escreveu Lênin.

Segundo Barata-Moura, o pensamento leninista é uma prova de que, para estar diante do materialismo, não basta apenas conceber a matéria como categoria filosófica. “Muitas matrizes idealistas ressuscitam disfarçadas, com figurinos mais sofisticados”, afirmou. “Lênin demonstra que a prática tem de ser um processo de verificação da objetividade de nossos conhecimentos — uma ação transformadora. Não é só com a filosofia que transformamos o mundo, mas, sem a compreensão concreta dos fatos, não há transformação duradoura”, disse. E Arrematou: “A teoria é uma peça montada sobre o contexto da luta de classes. É preciso representar no movimento presente o futuro desse mesmo movimento.”

Barata-Moura é professor Catedrático de Filosofia da Universidade de Lisboa, vice-presidente da “Internationale Gesellschaft Hegel-Marx für dialektisches Denken” e tem dezasseis livros publicados sobre temas variados, que incluem os problemas filosóficos suscitados pelas obras de Aristóteles, Hegel e Marx. Entre os quais estão Ontologias da “práxis e idealismo”, Materialismo e subjetividade, Estudos sobre a ontologia de Hegel, Kanto e o conceito de filosofia, Da redução das causas em Aristóteles, Estética da canção política, Episteme: perspectivas gregas sobre o saber, Heráclito-Platão-Aristóteles, Para uma crítica da “Filosofia dos Valores”, Da representação à “Práxis”, Ontologia da “Práxis” e Idealismo.