Além disso, o encontro tem o objetivo de "ampliar a unidade dos partidos progressistas, populares e de esquerda, aprofundar as mudanças, derrotar a contraofensiva da direita e consolidar a integração regional", informou um comunicado. "O Foro nasceu em um momento em que o neoliberalismo se impunha sem resistências, como mecanismo de defesa das políticas que representavam a mais selvagem concentração econômica e a defesa de um modelo de opressão", destacou.

Sobre isso, o texto aponta que "nestes tempos de comemoração do bicentenário de muitos processos independentistas latino-americanos e caribenhos, o Foro mantém a luta contra as políticas que demonstraram sua ruptura histórica e seu fracasso, e, ao mesmo tempo, sistematiza as ideias gerais das alternativas democráticas e populares".

Declaração de Ronaldo Carmona

Em declaração à Agência Estado, o coordenador da comissão que discute as políticas de defesa regional e continental do Foro, Ronaldo Carmona, da Comissão de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), disse que o conflito entre Colômbia e Venezuela também seria um ponto de destaque do documento. "Vamos enfatizar a necessidade de uma negociação pacífica entre os dois países e em defesa da paz na região", disse.

O documento-base também critica “o cataclismo financeiro iniciado nos Estados Unidos que se propagou rapidamente pelo resto do mundo”, afirmando que esta não é apenas uma crise financeira, mas do próprio sistema capitalista. “A recuperação é incerta e há riscos de que o mundo caia novamente numa recessão global”, diz o documento, “tendo como custo a pobreza e o desemprego. A falta de oportunidades de trabalho continuará elevada no mundo por vários anos”.

Por outro lado, o foro destaca que a crise não foi tão aguda, pelo menos em algumas áreas da América Latina, porque em vários países da região foram aplicadas políticas que compensaram, em grande parte, o impacto recessivo. “Estas políticas”, segundo o documento, “foram possíveis porque os países acumularam importantes reservas monetárias que puderam ser usadas para compensar a queda das exportações e a saída de capitais”. As diversas delegações estão discutindo também a fundação de escolas e centros de capacitação, politicas de defesa regional e continental, o meio ambiente e as mudanças climáticas, a democratização dos meios de comunicação, a soberania nacional e a descolonização, entre outros temas.

Bloqueio contra Cuba

Entre os presentes no encontro na Argentina estão o presidente hondurenho Manuel Zelaya, vítima de um golpe de Estado; Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência brasileira para assuntos internacionais; o embaixador da Nicarágua no Peru e ex-ministro de Interior, Tomás Borge, e o dirigente político peruano Ollanta Humala.

O texto destaca também o processo crescente de união e integração latino-americana e caribenha e o papel desempenhado por organizações como a Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), a União de Nações Sul-americanas (Unasul) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul). Também repudia o golpe de Estado perpetrado contra o presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya, e recusa os resultados das ilegítimas eleições realizadas nesse país centro-americano.

Presente à cerimônia de abertura, Zelaya retomou em sua intervenção o tema do bloqueio norte-americano contra Cuba e pediu "que termine a ação imperialista mais cruel no continente americano". Ele defendeu também pela retirada de todas as bases militares estrangeiras da região; felicitou o restabelecimento das relações diplomáticas entre Venezuela e Colômbia, e pediu que se restabeleça a democracia em Honduras.

Na cerimônia de inauguração interveio, em nome dos convidados de outras áreas geográficas, o representante do Partido Comunista Chinês, Tien Yung, que manifestou a disposição de intensificar o intercâmbio e a colaboração. Também foi rendida homenagem de recordação à lutadora independentista porto-riquenha Lolita Lebrón; ao ex secretário geral do Partido Comunista de Chile Luis Corvalán, e ao general Alberto Muller Rojas, fundador do Partido Socialista Unido de Venezuela.

Recepção na Casa Rosada

Na quinta-feira (19), cerca de 100 representantes do Foro foram recebidos pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner, na Casa Rosada, para uma conversa sobre a situação política de seu país e do mundo. "Estivemos na Casa Rosada com cerca de 100 representantes de todos os partidos políticos que integram o Foro. Cristina Kirchner tomou conhecimento do que estamos debatendo em Buenos Aires e fez uma exposição muito interessante sobre a política local e internacional", disse o secretário executivo do Foro São Paulo e secretário de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores (PT), Valter Pomar.

Fundado em julho de 1990, o Foro de São Paulo aglutina 83 organizações de 21 países latino-americanos. Dez são governados por partidos que o integram: Bolívia, Brasil, Cuba, Equador, El Salvador, Nicarágua, Paraguai, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Agrupamentos filiados à entidade também estão presentes no governo argentino.

A criação do Foro nasceu de convocação do brasileiro Partido dos Trabalhadores a agremiações de esquerda e progressistas da América Latina. O objetivo, desde o início, era organizar um espaço de discussão e troca de informações, cujas resoluções fossem sempre adotadas por consenso. O funcionamento deveria ser o oposto das antigas Internacionais, que comandavam suas seções locais.

As organizações convidadas ao I Encontro do Foro, realizado na capital paulista, passaram a ser membros oficiais da associação. Vários grupos de cada país, expressando a pluralidade da esquerda, fazem parte da lista de fundadores. A partir de então, novas filiações passaram a ser aceitas, desde que não houvesse veto de nenhum integrante original e se os partidos conterrâneos do eventual postulante não fizessem objeções.

Partido institucional

O clima político que rodeava o Foro em seus momentos iniciais estava marcado pelo colapso do socialismo soviético e pela predominância de governos liberais ou conservadores nas nações abaixo do rio Grande. Na época, as ideias de esquerda pareciam derrotadas ou confinadas a guetos de oposição. Nos meses anteriores à reunião em São Paulo, as correntes principais da entidade tinham perdido eleições presidenciais no Brasil (1989) e na Nicarágua (1990).

Com o desaparecimento da União Soviética, os grupos guerrilheiros também caminhavam para a exaustão. A Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, atualmente governando El Salvador, decidiu abandonar armas e transformar-se em partido institucional. O mesmo caminho foi seguido, nos anos seguintes, pela insurgência guatemalteca e por parte da guerrilha colombiana.

Nos intervalos dos Encontros, sua estrutura executiva é comandada pelo Grupo de Trabalho, composto pelos principais partidos. Desde 1995, existe uma secretaria executiva, coordenada pelo PT. O atual secretário-executivo é Valter Pomar. A última participação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi em 2005, quando o Foro voltou a organizar seu encontro em São Paulo. Até ser eleito em 2002, Lula participou das principais atividades do organismo que ajudou a criar. Segundo informa o site O 19 Digital, o XVII Foro de Sao Paulo será no próximo ano na Nicarágua — uma homenagem ao 50º aniversário da Fundação da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).

Carta de Lula

Na abertura do evento, o secretário-geral do PT, José Eduardo Martins Cardozo, leu uma carta enviada pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, aos participantes do evento. Na mensagem, Lula conta como, há 20 anos, 42 partidos e movimentos progressistas se reuniram para um encontro “sem precedentes na história do continente”, que viria a ser o embrião do Foro de São Paulo. “As transformações pelas quais passaram a América Latina e o Caribe nestas duas décadas têm muito a ver com os debates que realizamos”, afirma.

Segundo ele, experiências como a Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e a Comunidade da América Latina e do Caribe são herdeiras das discussões do Foro. “Elas abrem o caminho para uma verdadeira integração de nossos países fundadas, sobretudo, nos valores da democracia, do progresso econômico e social e da solidariedade”, diz.

O presidente também ressalta que muitos dos que participaram do Foro como forças de oposição, em edições passadas, hoje estão nos governos da América Latina, “desenvolvendo importantes mudanças em nossos países e na região como um todo”. A carta também afirma que alguns classificam o Foro como uma organização autoritária, mas que este é “o velho discurso de uma direita que foi apeada do poder pela vontade popular e que não se conforma com a democracia de que se diz falsamente partidária”.

Como conclusão, Lula menciona a contribuição do PT e outros partidos progressistas do Brasil para a nova realidade continental. Entre as conquistas, cita a retomada do crescimento com distribuição de renda, a criação de empregos, a independência do Fundo Monetário Internacional, o aumento do salário real dos trabalhadores e da renda dos trabalhadores do campo e o controle da inflação.

“Pudemos fazer esta transformação com expansão da democracia, aumento da participação popular e fortalecimento de nossa soberania nacional. O Brasil mudou e vai continuar mudando nos próximos anos”, finaliza.

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Leia a carta na íntegra:

MENSAGEM DO PRESIDENTE DO BRASIL, LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA AO FORO DE SÃO PAULO

Queridas Companheiras e Companheiros

Há 20 anos, 42 partidos e movimentos progressistas da América Latina e do Caribe reuniram-se em São Paulo – convidados pelo Partido dos Trabalhadores – para um Encontro sem precedentes na recente história política de nosso Continente.

Nascia o que um anos depois, no México, seria chamado de Foro de São Paulo.

Vivíamos tempos difíceis no início dos anos noventa.

Em muitos países ainda persistiam fortes marcas das ditaduras que se haviam abatido nas décadas anteriores sobre nossos povos. Esses resquícios autoritários impediam a constituição de democracias vigorosas e dificultavam a luta dos trabalhadores.

Pairava sobre nosso Continente a hegemonia do ideário do Consenso de Washington.

Primazia do mercado, enfraquecimento do Estado, desregulamentação das relações de trabalho, sacrifício da noção de desenvolvimento e de políticas sociais em nome de uma suposta estabilidade, buscada a qualquer preço, com enormes sacrifícios para os trabalhadores do campo e das cidades.

A predominância dessas idéias conservadoras era reforçada pela profunda crise das referências tradicionais das esquerdas – as comunistas e os socialdemocratas. Suas políticas não permitiam explicar a realidade mundial mas, sobretudo, mobilizar as grandes massas.

A reunião de São Paulo e tantas outras que se seguiram nestes 20 anos tiveram como mérito fundamental criar um espaço democrático de conhecimento e de discussão das esquerdas. Esse espaço não existia, muitas vezes, nem mesmo em nossos países.

Não criamos uma nova Internacional.

Conhecíamos a história das internacionais e sabíamos que era mais importante termos um Foro no qual pudéssemos intercambiar experiências, discutir acordos, mas também desacordos.

As transformações pelas quais passaram a América Latina e o Caribe nestas duas décadas têm muito a ver com os debates que realizamos.

Hoje, nossa região vive uma situação radicalmente diferente daquela de vinte anos atrás. Muitos dos que nos encontramos no passado nas reuniões do Foro de São Paulo como forças de oposição, hoje somos Governo e estamos desenvolvendo importantes mudanças em nossos países e na região como um todo.

Experiências como a UNASUL e a Comunidade da América Latina e do Caribe são herdeiras dos debates que levamos no Foro. Elas abrem o caminho para uma verdadeira integração de nossos países fundadas sobretudo nos valores da democracia, do progresso econômico e social e da solidariedade.

Uns poucos tentam caracterizar o Foro de São Paulo como uma organização autoritária. É o velho discurso de uma direita que foi apeada do poder pela vontade popular. Não se conformam com a democracia de que se dizem falsamente partidários.

A contribuição de meu partido e outros partidos progressistas do Brasil para esta nova realidade do Continente é de todos conhecida.

Nosso Governo retomou o crescimento, depois de décadas de estagnação.

Crescemos distribuindo renda. Incluímos 30 milhões de brasileiros que viviam abaixo da linha da pobreza. Criamos 14 milhões e meio de empregos formais e aumentamos substancialmente o salário real dos trabalhadores e a renda dos trabalhadores do campo. Mantivemos a inflação sob controle. Reduzimos nossa vulnerabilidade internacional. Não mais dependemos do Fundo Monetário Internacional. E pudemos fazer esta grande transformação com expansão da democracia, aumento da participação popular e fortalecimento de nossa soberania nacional.

O Brasil mudou e vai continuar mudando nos próximos anos.

Mudou junto com seus países irmãos do Continente.

Mudou como está mudando a Argentina que agora acolhe mais este encontro do Foro de São Paulo.

Recebam, queridos amigos, o abraço do seu irmão e companheiro

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Presidente da República Federativa do Brasil

Brasília, 15 de agosto de 2010.