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    Comunicação

    Enredo para um café amargo

    Mesmo de luto, luto, luto. Aborreço-me com as retóricas que surgem ao convite aberto dos basculantes, atrevidas de repetição. Este tempo de palanques, excesso de siglas e fotos. Não há mais crenças para tais notícias, promessas emitidas e em horário nobre. Frases condensadas, comprimidas no limbo, na textura absurda das cascas, coloridas pelo escuro. No […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    Mesmo de luto, luto, luto.
    Aborreço-me com as retóricas
    que surgem ao convite aberto dos basculantes,
    atrevidas de repetição.
    Este tempo de palanques, excesso de siglas e fotos.
    Não há mais crenças para tais notícias,
    promessas emitidas e em horário nobre.
    Frases condensadas, comprimidas no limbo,
    na textura absurda das cascas, coloridas pelo escuro.
    No intervalo das horas, acendo meu cigarro, solitário,
    depois de um amargo café – confissões de meus modos
    de existir, de suportar a divisão das águas,
    as desigualdades expressas nas cozinhas, nas casas alagadas,
    na coleta do lixo…
    No olhar do avô da vizinha despejado no infinito
    sem voz para o preço dos remédios.
    Eu registro, letra por letra, e em represália repetida,
    que meu país não quer da gagueira desse palco, uma cena sequer.
    Porque o homem das frutas não vai ocultar seu sustento
    ás sete horas da manhã.
    Porque o cheiro de pão quentinho entrará pelas narinas
    como um descongestionante nasal.
    O cotidiano cumprindo com os seus trabalhadores.
    E a bandeira de mãe, convicta de que livra dos perigos, sua prole.
    Mesmo com a boca amarga pelo café fora de açúcar…
    Mesmo de luto, luto, luto.

    Marta Eugênia é Especialista em Linguística e Professora de Língua Portuguesa na cidade de Arapiraca em Alagoas.

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