Mesmo de luto, luto, luto.
Aborreço-me com as retóricas
que surgem ao convite aberto dos basculantes,
atrevidas de repetição.
Este tempo de palanques, excesso de siglas e fotos.
Não há mais crenças para tais notícias,
promessas emitidas e em horário nobre.
Frases condensadas, comprimidas no limbo,
na textura absurda das cascas, coloridas pelo escuro.
No intervalo das horas, acendo meu cigarro, solitário,
depois de um amargo café – confissões de meus modos
de existir, de suportar a divisão das águas,
as desigualdades expressas nas cozinhas, nas casas alagadas,
na coleta do lixo…
No olhar do avô da vizinha despejado no infinito
sem voz para o preço dos remédios.
Eu registro, letra por letra, e em represália repetida,
que meu país não quer da gagueira desse palco, uma cena sequer.
Porque o homem das frutas não vai ocultar seu sustento
ás sete horas da manhã.
Porque o cheiro de pão quentinho entrará pelas narinas
como um descongestionante nasal.
O cotidiano cumprindo com os seus trabalhadores.
E a bandeira de mãe, convicta de que livra dos perigos, sua prole.
Mesmo com a boca amarga pelo café fora de açúcar…
Mesmo de luto, luto, luto.

Marta Eugênia é Especialista em Linguística e Professora de Língua Portuguesa na cidade de Arapiraca em Alagoas.