Dia desses, em Porto Alegre, eu encontrei um cartaz com a intrigante pergunta: “Quer ser um escritor?”. Fiquei a observar, por alguns minutos, aquele chamado e pensando na profundidade do convite e na complexidade da definição “escritor”, principalmente em um país onde só se é se regulamentado.

      Eu sou ator, tenho um DRT, um código e uma anotação em minha carteira de trabalho. Os médicos tem também um código, o CRM. Bem como os administradores, veterinários, engenheiros, etc. Mas não há um código, um número, para você colocar no cartão, na placa em frente ao seu escritório ou no anúncio do jornal. Ser escritor é, no máximo, se intitular.

      E mesmo assim há problemas. A própria classe não se encontra, não se acredita.

      Eu assino “escritor” ao final de minhas colunas. Eu escrevi um livro. Eu fiz contos. Eu escrevi textos até para blog de loja de calçados! Faço peças de teatro atualmente. Executo trabalhos por encomenda. Mas nada me dá suporte para o título. Há tantos outros que escrevem também livros, fazem também contos, enchem o mundo de doces poesias e não se classificam como tais. E há pessoas que não fazem nada, mas se classificam. É uma bagunça.

      E os que do dia para noite viram escritores? Vide Bruna Surfistinha. Mas há quem leia. O escritor só vive de leitores.

      No Rio Grande do Sul, a Unisinos criou um curso superior para formar escritores.

      Dentro de “escritor” há subtítulos. Há ainda dramaturgos, cronistas, poetas e outros tantos nomes específicos. Não há uma organização classista. Há apenas pessoas querendo ser algo que a sociedade não entende, ou não acredita.
     
      No check-in do hotel:

– Profissão?
– Escritor.
– Ahm?

      Certa vez o grande professor Ildo Carbonera me disse para não ficar se intitulando escritor. Fui para casa chateado. Eu escolhi escrever. Não gosto dos outros títulos que tenho. Gosto desse. Até coloco em meu imposto de renda.

      Enfim, se o leitor quer ser escritor, em primeiro lugar, assuma-se como tal e, em segundo vá estudar um pouco sobre os estilos que gosta e as técnicas para escrever. Depois arrisque colocar algo no papel. Por último mostre a todos, publique. E faça isso sem medo. Enquanto não regulamentarem nossa profissão, a gente exerce sem carteira, sem número e por amor.

* Luiz Henrique Dias é escritor, membro do Núcleo de Dramaturgia do SESI e transgressor dos conceitos básicos de vida, carreira e sociedade. Ele tem um blog, o blogdoluiz.com.br e passa o dia no twitter. Segue ele lá: @luizhdias