Um tango e a gente é capaz de fazer-se feliz
Aquela parede tingida de vermelho vivo, cor de coração e lábios, engole a sombra do violoncelo que se mistura num tom mais escuro. A camisa laranja dilui o músico de cabelos cinzentos naqueles sons que exalam cores vivas.
Suas pernas o entrelaçam e seus braços leves fazem amor apaixonadamente. Sem pudor dedilha flexivelmente suas cordas, dança suas mãos habilmente acima e abaixo e num enlace sem esforço extrai-lhe a alma, transforma-o êxtase.
As sombras do movimento amoroso projetam-se no vermelho e no fundo dos meus olhos úmidos de prazer. O som que nasce ali se evapora com outros instrumentos e a melodia vem me beijar em carmim, embriaga feito um perfume de cravo e canela.
Clarinete, violoncelo, piano e acordeon se juntam e cativam os melhores sentimentos. Os sons se juntam e sentem dor, choram, lamentam, gargalham e amam. Acalmam e excitam. São nuvens brancas, trem vagaroso, pássaro, mato verde, ventania e mil sorrisos. Correm, rodopiam, saltam, batucam, palpitam, suspiram, sussurram. Cheiram chocolate e canela, mixirica, sabonete e chuva. Chá de hortelã.
Um tango e a gente é realmente capaz de fazer-se feliz.
Professora