A solução sobre quem, pelo menos, será o novo comandante-em-chefe das Forças Armadas da Turquia foi encontrada tarde à noite de domingo passado, mas a inédita na crônica da Turquia crise entre as lideranças política e militar, além da demissão de quatro dos cinco generais membros do establishment militar, foi acompanhada, também, pela denúncia do chefe do Estado-Maior Conjunto sobre a aventura nos tribunais de muitos oficiais das três armas, enquanto outros 250 permanecem presos.

Logo após as 18 horas de sexta-feira passada eclodiu a crise na capital Ancara, ao ser divulgada a demissão do comandante-em-chefe das Forças Armadas, general do Exército Ishik Kosaner, e, logo em seguida, tornou-se conhecida a demissão do comandante do Exército, general de Exército Erdal Jeilanoglu; do comandante da Marinha, almirante de esquadra Esref Ougour; e do comandante da Força Aérea, brigadeiro do ar Hassan Aksai. O único que não pediu demissão foi o comandante Polícia Militar, general, Nezdet Ozel.

Após as demissões, realizou-se no palácio presidencial reunião com a participação do presidente da República, Abdullah Ghiul, do primeiro-ministro, Retzep Tayyip Erdogan, e do general comandante da Polícia Militar, Nezdet Ozel, que, na ocasião, foi nomeado chefe do Estado-Maior do Exército e sub-chefe das Forças Armadas.

Simultaneamente, foi confirmada a realização da reunião do Supremo Conselho Militar, nesta quinta-feira. Na reunião, o general Nezdet Ozel, deverá ser nomeado chefe do Estado-Maior do Exército da Turquia.

Avalia-se que os comandante militares, embora tenham se demitido, deixaram margem de saída da gravíssima crise, mantendo no poder o general Nezdet Ozel, enquanto a nomeação dos novos chefes das três armas será realizada durante a reunião do Supremo Conselho Militar. Já os demissionários, passarão todos à reserva.

Prisão de 250 oficiais

A crise, aparentemente, foi motivada pela prisão de 250 oficiais das três armas, mas, obviamente, os militares presos constituem a célula de oposição mais perigosa para o Governo Erdogan. Entre os oficiais presos encontram-se 14 generais, almirantes e brigadeiros e 58 com a patente de coronel; os demais têm patentes inferiores.

Em sua mensagem ao povo da Turquia, o demissionário comandante-em-chefe das Forças Armadas menciona esforços que foram feitos para "criar-se a impressão de que as Forças Armadas são uma organização criminosa". Informações confirmadas, contudo, revelam que a crise eclodiu quando o governo insistiu passar è reserva todos os 250 oficiais presos.

Forte foi, também, a imediata reação da oposição política contra o Governo Erdogan. O vice-presidente do Partido Popular Republicano, Ghiurçel Tekin, declarou que "o poder político busca formatar as Forças Armadas da Turquia com base em seu próprio credo".

De acordo com o líder do Partido de Movimento Nacionalista, Devlet Mahtseli, "está claro que esta evolução anormal já abriu caminho para uma seríssima situação de crise no país. Na realidade, a liderança política, após ter dominado o Poder Judiciário, quer agora dominar as Forças Armadas, plano resultando em tensões provocadas por causa desta situação que estão atingindo ponto fora de qualquer controle".

Já a empoada dirigente do Parlamento Europeu Pia Rouiten, totalmente alheia à realidade, declarou que "a Turquia evolui a país mais democrático, onde as instituições democráticas controlam as decisões militares".

Já o porta-voz da Secretaria de Estado dos EUA, Marc Toner, questionado, (lavou as mãos e) disse que "trata-se de assunto interno da Turquia", mas expressou "a plena confiança dos EUA sobre o poder das instituições turcas".

Casos de demissão do comandante-em-chefe das Forças Armadas já ocorreram duas vezes durante a recente história da Turquia. Contudo, esta é a primeira vez em que demitem-se, simultaneamente, todos os membros do Comando Militar conjunto, menos um.

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Fonte: Monitor Mercantil