O que você está achando da Conferência?

 

Acredito que nós, enquanto comunistas, estamos avançando bastante nesta II Conferência, abrindo essas perspectivas de trabalhar com as questões estruturantes das desigualdades sociais. Acredito que a primeira grande questão é a de classe, sem dúvida, mas também tem outras: a questão do racismo, do machismo, da homofobia, lesbofobia, transfobia, e a questão de pessoas com deficiências. Enfim, acredito que nós avançamos discutindo sobre isso com todo o Partido numa Conferência sobre a questão da emancipação das mulheres.

Você acha que ficou uma lacuna na questão da homofobia, por exemplo, no documento da Conferência?

Acredito que não seja uma questão de lacuna. Nós já temos constituída uma fração LGBTT, nossa, do PCdoB. Nós já temos um documento, mas ainda estamos colocando isso em debate. Hoje nas resoluções nós fizemos várias emendas, vão ser incorporadas no documento. E é isso, temos de pautar e vai avançando ao longo do tempo. As coisas não podem se dar de uma maneira superficial, precisamos discutir e debater dentro do Partido. E tem espaço para isso.

Você não vê resistência no Partido para esse debate?

Sinceramente, não vejo. Acredito que precisamos nos organizar. Fiz uma brincadeira dizendo para o PCdoB “sair do armário”, porque tem muitos camaradas e muitas camaradas que ainda não se colocam enquanto pessoas LGBTT. E isso é importante, porque é uma questão de visibilidade política, não é uma questão individual. Mas acredito que tem espaço sim. E nós precisamos nos organizar e fazer essa luta também.

Essa intolerância que existe na nossa sociedade exerce pressão dentro do Partido?

Depende do ponto de vista. Se pensarmos de maneira individual, não exerce. Mas, enquanto organização coletiva, acredito que, como também fazemos parte dessa sociedade, e de uma certa forma a sociedade é machista, é racista, é homofóbica, sim. Estamos fazendo essa discussão profunda para avançarmos nessas questões. Mas em nenhum lugar do planeta que eu conheço é tranquila essa questão da orientação sexual.

Você acha que é uma pressão inconsciente, talvez?

Acredito que sim, e também porque é um tema que nunca foi tratado com profundidade. E os desafios que estão colocados na nossa sociedade nós precisamos trazer para dentro do Partido e discutir. Para mim, esse é o grande ganho. Ter espaço para fazer o debate e nós ganharmos as pessoas. É isso o que precisamos fazer.

Você acha que o fato de Cuba, por exemplo, ter adotado o combate á homofobia como política pública influencia o PCdoB?

Acredito que sim, porque quando falamos em emancipação precisamos compreender que o nosso grande papel enquanto PCdoB é ser essa vanguarda. É fazer essa discussão de uma maneira tranqüila, acreditando que queremos a liberdade, a felicidade, a emancipação para todas as pessoas. E a orientação sexual é um direito humano. Não tem nenhum problema em relação a isso. Só tem valores morais. Precisamos mesmo é aprofundar esse debate para ele ser alguma coisa como qualquer outra dentro do nosso Partido.

O Partido é herdeiro de uma tradição de luta pela emancipação da mulher. Como você se sente nessa sua luta?

O que me marca bastante é o que Loreta Valadares, uma gaúcha baiana, ou baiana gaúcha, disse: precisamos ir aonde ela não foi. Acho que ela abre essa porta para nós, porque ela começou fazendo essa discussão sobre o entrelaçamento das relações de gênero com a relação ao racismo. E para ir aonde ela não foi é isso: nós incorporarmos a questão da lesbofobia, da homofobia, transfobia e todas as outras diversidades. Acho que temos um campo muito bom e tem muitas mulheres que nos antecederam e já abriram essa brecha, essa porta, e nós precisamos abri-la cada vez mais.

Como você o papel de João Amazonas, que fez uma inflexão na história do Partido sobre a emancipação da mulher?

Acho fantástico, porque essa herança é um grande tesouro para nós, que somos comunistas. E ontem eu me referi a isso, quando li os documentos do Partido colocando que o maior tesouro que nós temos são os nossos militantes e as nossas militantes. Então, acho que é uma grande honra mesmo ter como referência, uma das maiores referências do PCdoB, o nosso querido João Amazonas.