A intervenção de Elias Khalil Jabbour, doutor em Geografia pela USP, autor de “China Hoje – Projeto Nacional, Desenvolvimento e Socialismo de Mercado”’ e também pesquisador da Fundação Maurício Grabois foi essencial para inicialmente se compreender a atualidade e a centralidade da obra de Rangel para a moderna economia política.


Para Elias o importante da obra de Rangel é “vermos quais são os pontos que ele elaborou que se encaixam na realidade brasileira hoje”. De acordo com Elias Jabbour, movimento desse tipo só é possível porque a obra, mesmo com 50 anos de existência é, além de “original”, “atual” ao mesmo tempo.


Para Elias, “muitos dos desafios que o Brasil enfrenta hoje na economia, na política, na questão social e democrática, todas essas questões foram abordadas por Rangel com muita maestria e primazia.” O estudioso diz ainda que por isso mesmo se pode dizer que “o pensamento de Rangel não morreu, está vivo e é evidente que se deve fazer as devidas adaptações ao que existe hoje.”


Para Jabbour, com base no que consta em obras como “A inflação brasileira”, “muita pesquisa deve ser feita sobre Ignacio Rangel.” Os estudos do economista colocam “a inflação como mais um campo da luta de classes no Brasil, de apropriação do excedente econômico”, diz Elias Jabbour sobre a essência política do pensamento de Rangel.


Elias tem convicção de que a descoberta na obra de Rangel é ver que “a inflação antes de ser a causa da crise econômica, é, em verdade, um efeito da crise econômica.” Com base nisso Elias afirma que essa crise acaba por atingir “diretamente os trabalhadores”. “A inflação brasileira é novo campo político para a luta de classes aqui no Brasil”, diz Elias, que entende, por isso mesmo, que o debate é profícuo e deve acontecer de maneira persistente.


“Ignácio Rangel consegue escrever uma obra a partir da visão dos trabalhadores e da nação”, destaca ainda Elias a certa altura, emendando que “ao contrário das teses em voga sobre inflação hoje, que colocam que crédito é um problema, que excesso de demanda é um problema, isso é exatamente o contrário”.
Elias disse que “‘A inflação brasileira’, antes de um livro para ser lido, é verdadeira arma política na mão dos trabalhadores. É dessa forma que tem que ser vista.”


O palestrante seguinte, professor Moacir Feitosa, Mestre em Planejamento do Desenvolvimento pelo Núcleo de Altos Estudos da Amazônia (UFPA), autor do livro “Tendências da economia mundial e ajustes nacionais e regionais”, fez brilhante exposição das entranhas do pensamento de Ignacio Rangel.


Sem dúvida, uma coisa entre tantas expostas na riqueza das exposições, ficou claro que com a apresentação de Moacir Feitosa deve-se partir do ponto de que para se captar a essência do pensamento econômico de Ignacio Rangel não se deve jamais dissociá-lo de sua obra “A inflação brasileira”.


Entre outras questões levantadas pelo respeitado professor Moacir Feitosa, a acumulação mereceu destaque especial. Chegou-se a expor o que o próprio Marx disse sobre a questão, constatando-se plena sintonia com o que disse Ignacio Rangel sobre o assunto. Moacir revelou que Ignacio Rangel dizia que “a acumulação deveria continuar, pois a lei da acumulação é a própria lógica do capitalismo”.


Moacir Feitosa citou também a provocação aos intelectuais feita por Rangel em 1986 quando ele, Rangel, disse que acreditava no crescimento da economia brasileira com base nas leis da própria economia. “A economia (no capitalismo) tem a dinâmica constituída em ciclos curtos”, dizia, e que, tirada uma média do somatório de cada ciclo poderia se concluir, com base numa sequência de pequenos ciclos de crescimento/crise, que existe, sim, possibilidade de longo ciclo de crescimento da economia brasileira. Com base em tal premissa é que Ignacio acreditava concretamente ser possível uma fase de crescimento longo da economia brasileira.


Mas Moacir não para aí na sua exposição sobre a essência do pensamento econômico de Rangel. Moacir diz que para que esses ciclos aconteçam “é necessário o papel ‘interventor’ do Estado”. E enfatiza que “o Estado é que vai garantir um ciclo longo de crescimento da economia brasileira, assumindo papel estratégico para o crescimento e o desenvolvimento da Nação”.


Moacir por fim destacou a ação necessária dos intelectuais, dos pesquisadores, da Fundação Grabois e outros, em promover o debate para que mais pessoas se envolvam e consolidem a ideia de que o Brasil pode sim crescer de maneira eficaz. Para isso acontecer, “é necessário novo pacto político entre os grupos da sociedade para poder reestruturar o estado brasileiro no caminho do crescimento e do desenvolvimento nacionais”, disse o professor maranhense.


O terceiro palestrante convidado, Professor Raimundo Palhano, mestre em História pela Universidade Federal Fluminense e autor do livro “Um fio de prosa autobiográfica com Ignácio Rangel”, não pôde comparecer ao evento por um desencontro de informações. Mas enviou carta à Fundação Grabois onde afirma:

“Lamento informar-lhes que deixei de comparecer ao painel sobre os 50 anos de A inflação brasileira, livro de autoria do nosso mestre Ignacio Rangel, por força de um imprevisto lamentável, ligado a desencontro entre as datas do aludido evento (…). Tudo aconteceu completamente alheio aos meus desejos e vontade. O convite que recebi para participar do encontro foi dos mais honrosos e gratificantes. Tenho por Ignacio Rangel a mais profunda admiração e por sua obra um respeito invulgar. Convivi intensamente com ele nos seus últimos dez anos de vida. Considero-me um dos divulgadores de sua contribuição intelectual no Maranhão, onde ainda continua pouco conhecido. Lamento, lamento, lamento…”


Durante os debates que sucederam às intervenções dos palestrantes surgiram questões que ajudaram a formatar o pensamento de Rangel sobre dinâmicas de crescimento, política externa brasileira, importações, Taxa Selic, crescimento econômico, desenvolvimento, luta política, e outros temas respondidos de maneira aprofundada pelos palestrantes.

O evento foi gravado em vídeo e estará disponível em breve, na íntegra, no portal Grabois.


Fonte: Blog do Marden Ramalho.