Foi assim nos Estados Unidos de meados do século 19. Há um início de industrialização na costa do Atlântico. Depois, um forte movimento migratório. Quando a indústria ganha escala, busca novos mercados internos, levando o desenvolvimento para o oeste e para o sul.
Criam-se, então, as condições para a revolução industrial e política. Novos consumidores são agregados tanto ao mercado econômico quanto político social. Nesse período, emerge uma pujante sociedade civil, ainda hoje o fator mais dinâmico do desenvolvimento norte-americano.
No Brasil, lutas sociais e inclusão social ajudaram na modernização das estruturas nos anos 30 e 50 – produzindo também crises políticas significativas. Mas em pelo menos três momentos o país jogou fora janelas de oportunidade históricas.
A primeira, no final do século 19, com a Abolição da Escravatura e a política migratória. Falta de políticas inclusivas e de oportunidades para os imigrantes atrasaram o desenvolvimento do mercado interno.
A segunda janela perdida foi nos anos 70. Completa-se a urbanização brasileira, desenvolvem-se novos centros industriais e uma enorme seca expulsa populações inteiras do nordeste para o sudeste. Ao mesmo tempo, pelo menos na primeira metade da década o país experimentou taxas elevadas de crescimento. Uma melhor distribuição de renda forneceria as bases internas para um crescimento sustentado.
A terceira janela de oportunidade foi o próprio Plano Real. O mero fim da inflação trouxe milhões de brasileiros para o mercado de consumo em um momento de profundas transformações na cadeia produtiva das multinacionais. As jogadas com o câmbio e juros mataram essa possibilidade, adiando em 12 anos a explosão do mercado interno de consumo.
Com o aumento do salário mínimo e as políticas de transferência de rendas, emergiu um novo mercado de consumo que mudou a escala da produção das empresas.
Mais que isso, trouxe um novo pensamento sistêmico à economia brasileira, fugindo das análises terrivelmente emburrecedoras dos cabeças de planilha.
O cabeça de planilha primário tende a considerar todo gasto social como despesa, quase próxima ao desperdício. No entanto, além da responsabilidade do país para com as populações vulneráveis, políticas de transferência de renda possibilitam:
– Melhoria no sistema educacional, ao substituir a mendicância pela escola para as crianças de baixa renda.
– Melhoria substancial nos gastos com saúde, ao afastar as famílias da subnutrição e seus riscos.
– Melhoria na segurança, ao deixar jovens menos expostos ao crime organizado.
– Dinamização do mercado interno.
O grande desafio será mudar as formas de financiamento da Previdência e das políticas sociais, tirando o peso das folhas de salário, de maneira a desonerar a mão-de-obra.
Fonte: Carta Capital