A Fundação Maurício Grabois, em conjunto com a Fundação Perseu Abramo e o Foro de São Paulo, realizou no Forum Social Mundial Palestina Livre a palestra “As esquerdas palestina e latino-americana: diálogos sobre a paz, soberania e descolonização”.  Participaram o comissário para relações internacionais do Fatah, Nabil Shaat, o secretário de relações internacionais do PCdoB, Ricardo Abreu, o secretário executivo do Foro de São Paulo, Valter Pomar, e a diretora da Fundação Perseu Abramo, Iole Ilíada Lopes.

Primeiro a falar, Pomar ressaltou que todos os partidos de esquerda são unânimes em criticar e denunciar a conduta de Israel para com os palestinos. “Por suas infrações aos tratados internacionais, pelos assentamentos que ocupam indevidamente as regiões mais férteis da Palestina, pelo muro de Israel”, apontou. A hipocrisia e seletividade de países, como acrescentou Ricardo Abreu, que no discurso defendem a democracia, a ONU e suas resoluções, mas que na prática ignoram tais posições.

Os palestrantes destacaram as práticas de terrorismo de estado praticado por Israel contra os palestinos e frisaram a importância de “diferenciar a violência vinda do opressor daquela causada pelo oprimido”. Shaat comparou as acusações vindas de Israel de que a Palestina teria sido responsável pelo início do conflito fazendo uma analogia ao estupro. “É como se o estuprador tentasse acusar a mulher por ele violentada de haver ofendido sua mãe durante o ato”, afirmou.

Para embasar seus posicionamentos com relação à discrepância entre as forças palestinas e israelenses, Shaat e os demais destacaram a inexistência de um exército palestino ante o exército “nuclearizado e com o apoio da maior potência militar do mundo”, os Estados Unidos. Refutando veementemente a tese de que o apoio estadunidense ao estado judeu se dá principalmente devido à pressão semita, optando pela tese que considera como maiores fatores para a proximidade entre os dois estados seus interesses pelas riquezas do Oriente Médio, em especial o “sangue negro”: petróleo.

Apesar de considerar que o país governado por Barack Obama seja “mais comprometido com Israel do que com qualquer outro, inclusive a Inglaterra”, Shaat percebe fraquezas nessa ligação e afirma que ela já estremeceu. “Quando eles derrubaram Saddam Hussein do poder, pensaram que talvez não precisassem mais de Israel”. Para voltar a recuperar seu posto de aliado de primeira linha, avalia o membro do Fatah, Israel teria proposto novos serviços de testes militares aos Estados Unidos.  “Nós somos seus porquinhos de teste”, ironizou Shaat sobre o poderio militar desferido por Israel nos palestinos.

Ameaça  estadunidense

No mesmo dia que o conselho da ONU elevou o status da Palestina de “observadora” para “estado não-membro observador” – pela chamativa maioria de 138 votos a favor, 9 contra e 41 abstenções – o comissário para relações internacionais do Fatah relembra da pressão contrária liderada por Obama. Ele teria advertido o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, contra sua postulação para a modificação de seu status junto ao organismo internacional. “Hoje buscamos na Europa o apoio dos governos e aqui, no Brasil, a solidariedade das populações”, concluiu Shaat. Ricardo Abreu, o Alemão, mostrou que ações como as do FSM neste momento decisivo terá uma repercussão positiva nas demandas do povo palestino pela autodeterminação.

Pressão sionista

O dirigente comunista falou ainda da pressão sofrida para que o Forum não acontecesse e o debate sobre a causa palestina ocorresse.  “Quando essa questão é colocada em debate automaticamente ocorre o isolamento político dessa postura do Estado de Israel, uma postura terrorista, neo colonialista, de ocupação e massacre continuado do povo palestino”. Para Abreu, é preciso pressionar os governantes a ampliarem a solidariedade a Palestina de maneira concreta, não só apenas votando na ONU. “É preciso fazer um trabalho de cooperação nacional necessárias ao povo palestino em áreas como infra estrutura, social, tecnológica.

Convite a Lula

Shaat confirmou, ao ser questionado, que havia sugerido o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva como um líder em potencial para o movimento. “Ele poderia assumir outros papeis, é o tipo de pessoa que eu gostaria que assumisse essa liderança”, respondeu.