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    Comunicação

    Fundação Grabois leva solidariedade das Américas à abertura política tunisiana

    Sob um vento forte da primavera tunisiana que soprava mesmo debaixo de um sol intenso, cerca de 40 pessoas se reuniram em 29 de março, uma sexta-feira, na Tenda Democrática, instalada no campus da Universidade El Manar, para ouvir os relatos de dirigentes de partidos e movimentos tradicionais da esquerda em todo mundo. O diretor […]

    POR: Com informações de Deborah Moreira, do Vermelho

    Sob um vento forte da primavera tunisiana que soprava mesmo debaixo de um sol intenso, cerca de 40 pessoas se reuniram em 29 de março, uma sexta-feira, na Tenda Democrática, instalada no campus da Universidade El Manar, para ouvir os relatos de dirigentes de partidos e movimentos tradicionais da esquerda em todo mundo.

    O diretor administrativo e financeiro da Fundação Maurício Grabois, Leocir Costa Rosa, juntamente com Iole Ilíada, vice-presidenta da Fundação Perseu Abramo, coordenou o diálogo, que contou com a presença marcante do deputado tunisiano Mohamed Jmour, que substitui na oposição ao governo o líder assassinado em fevereiro deste ano, o advogado Chockri Belaid. Mohamed fez questão de abrir sua fala citando os mártires “do passado e do presente” atribuindo a eles a realização de um Fórum Social Mundial na Tunísia.

    “Há três, quatro anos era impossível pensar num momento como este. Este momento que vivemos agora era impossível porque o país vivia uma situação em que as ações democráticas eram impossíveis. O nosso povo através de grandes sacrifícios encurtou o nosso caminho rumo à liberdade”, declarou.

    Segundo o diretor da Grabois, o debate cumpriu importante papel no FSM 2013, pois, além de possibilitar uma reflexão do atual momento das lutas da esquerda no Brasil, na América Latina e no Caribe, pode proporcionar uma reflexão sobre o Oriente Médio no contexto da chamada Primavera Árabe.

    “Especialmente na Tunísia, onde o processo de abertura se intensifica e há na sociedade, como houve no Brasil na redemocratização, uma ânsia por mais democracia e mais liberdade e conquistas sociais”, afirmou Leocir. Ele diz ainda que a situação é bastante complexa, com a esquerda buscando se unir para as próximas eleições e para o processo de realização da constituinte.

    Leocir lembra que o atual partido que comanda o país, o Ennahda, é bastante truculento e sofre influência de setores integralistas do fundamentalismo islâmico, o que causa muita apreensão no democratas e progressistas. “O Fórum Social Mundial ocorrendo ali foi importante para que o mundo afirmasse sua solidariedade com o povo tunisiano e sua luta”, concluir o comunista.

    Representando o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a secretária de Movimentos Sociais, Lúcia Stumpf, fez uma explanação sobre o atual cenário geopolítico, lembrando que a crise do capitalismo vem gerando uma “onda de retrocessos que se reflete de diferentes formas em todos os continentes”, onde mulheres e jovens são os mais afetados pelo desemprego e supressão de direitos sociais e trabalhistas: “Há um novo avanço neocolonial empreendido pelo imperialismo. Como podemos ver nos ataques contra os povos da Síria, da Líbia, da Palestina e do Mali”.

    Lúcia Stumpf lembrou que, em meio a esse cenário, o Brasil vive um momento de avanços e conquistas, após 10 anos do que chamou de “um novo modelo de governança”, com diminuição da desigualdade social e redução da pobreza.

    “Esse governo é fruto de décadas de luta do povo e do movimento social organizado. Um governo que, no âmbito nacional, promove a diminuição da desigualdade e na política externa também marca uma agenda diferente da que tivemos anteriormente. Se antes éramos mais uma peça do jogo imperialista, nos últimos 10 anos o Brasil tem fortalecido as relações do chamado eixo sul-sul”, enfatizou a dirigente comunista, lembrando o estreitamento das relações sociais com países da América Latina, África e Oriente Médio.

    “Devemos ampliar a unidade dos povos na luta anticapitalista. Ampliar os laços de solidariedade entre os continentes da América Latina, África e do Oriente Médio. Façamos desse encontro de hoje e desse fórum social um passo além da nossa luta anticapitalista, anti-imperialista e pela paz no mundo”, finalizou Lúcia.

    Colômbia

    Quem também falou foi o representante do Vale do Cauca, na Câmara colombiana, Wilson Arias Castillo, do Polo Democrático Alternativo, que chamou a Colômbia de Israel da América Latina, referindo-se à influência estadunidense no país. Wilson Arias foi enfático ao discorrer sobre a atuação do governo de Juan Manuel Santos que, em muito pouco tempo, promoveu a “estrangeirização” das terras públicas do país, ocupadas por camponeses. A disputa pela terra, que alimentou a guerrilha no país, por mais de meio século, acirrou a rivalidade entre Santos e Álvaro Uribe, ex-presidente colombiano.

    Panorama tunisiano

    O dirigente do Partido dos Patriotas Democratas Unificados (PPDU) enfatizou que a chamada revolução está numa encruzilhada. De um lado os que querem a mudança. Do outro, um governo liderado por um partido bastante influenciado pelo aspecto religioso: “Há forças no nosso país formadas por trabalhadores, que querem avançar rumo a uma sociedade mais justa. Essas forças lutam por uma república democrática, cívica, não teocrática e social. Uma república que seja capaz de reduzir as injustiças sociais, as divisões entre as classes sociais e entre as regiões. E há forças que são contrarrevolucionárias, que estão hoje no governo, que querem instaurar um Estado teocrático, um regime corrompido”.

    Mohamed Jmour modifica a voz, a fim de chamar a atenção, para quem são os tunisianos que querem dar continuidade ao processo revolucionário. “As forças principais da nossa revolução são os pobres, as mulheres e os excluídos. E é com essas forças que contamos para dar prosseguimento ao nosso processo”.

    O dirigente tunisino elencou alguns pontos que fazem parte do programa da Frente Popular, criada pelo PPDU e outros 11 partidos, em setembro de 2012, para contrapor as Ligas para a Proteção da Revolução (LPR), formada por salafistas (muçulmanos sunitas ultraconservadores que lutam para definir a nova ordem de acordo com as tradições religiosas) e simpatizantes do partido que atualmente governa a Tunísia, o Ennahda. Chokri Belaid morreu denunciando à sociedade crimes praticados, e não apurados, por membros das Ligas.

    De acordo com Mohamed, a Frente Popular quer proteger a indústria e a agricultura tunisina a partir de relações comerciais com o empresariado estrangeiro que vise o desenvolvimento do país e a geração de empregos, renegociando os acordos firmados no passado com a União Europeia e outros países do Norte com o objetivo de preservar os interesses do país. Além disso, exige a suspensão do pagamento dos juros da dívida externa até que seja feita uma auditoria efetiva sobre a mesma.

    “Isso não quer dizer que a gente recuse os investimentos estrangeiros, mas os investimentos estrangeiros devem levar em conta também os nossos interesses. A mais valia local deve ser integrada ao produto estrangeiro também. A Frente Popular quer diversificar as relações com os países do terceiro mundo, com a África, America Latina e Ásia. Isso não quer dizer que queremos fechar as portas da Tunísia para a União Europeia e para os Estados Unidos, isso seria pouco sério da nossa parte. Mas queremos renegociar os nossos acordos”, destacou.

    Democracia, justiça e soberania

    Ele negou, ainda, que a Frente Popular pretenda expropriar o empresariado, como tem afirmado a direita tunisina. Para alavancar a economia do país e conquistar a soberania alimentar, a Frente aposta em três pilares: setor público, setor privado e setor da economia solidária. Para o bloco de partidos é inadmissível que 50% dos produtos agrícolas da mesa dos tunisinos sejam importados, em um país com forte vocação agrícola. “Saibam, caros amigos, que a União Europeia, principalmente a França e a Alemanha, não querem que a Tunísia continue produzindo trigo, batata, gado”, alertou.

    Baseada na democracia, na justiça social e na soberania nacional, a Frente Popular pretende ampliar sua base na construção do que chamou de “projeto nacional pela Tunísia”, promovido por homens e mulheres, lado a lado, sem distinção de gênero.

    Para encerrar, voltou a falar da violência contra os insurgentes e reforçou que, mesmo diante de ameaças e pressão, continuarão lutando com o povo tunisiano: “Infelizmente o nosso partido foi o primeiro a perder uma grande liderança, o secretário-geral Chokri Belaid. Esse assassinato vergonhoso não vai nos impedir de continuar a lutar por vocês e por nós. Mesmo que isso nos custe outras vidas”. .

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