Em seu comentário semanal, o economista e colunista de CartaCapital Luiz Gonzaga Belluzzo analisa o resultado decepcionante do PIB brasileiro, em sua opinião muito ligado ao baixo desempenho da indústria:
O resultado do PIB –do crescimento da economia– naturalmente, decepcionou os que fizeram apostas, em geral, em torno de crescimento de 0,9% e 1%.
O PIB cresceu pouco a despeito do bom desempenho da agropecuária e dos investimentos associados a ela, sobretudo a compra de caminhões. Mas a indústria, mais uma vez, decepcionou. Aliás, a indústria vem tendo quedas sucessivas ao longo de 2012.
Isso não vai ser resolvido no curto prazo, porque nós temos um problema de fundo que não esta resolvido. Está muito claro que ele esta na origem do mau desempenho da indústria, e que vem de muitos anos. Desde a crise da dívida externa, mas ali não havia muito que fazer, a não ser esperar pela estabilização da economia. Mas, depois da estabilização, quando a economia passou a ter inflação mais baixa… Aliás, isso ocorreu no mundo inteiro, a partir de meados dos anos 90.
Mas, então, nós começamos a executar uma política econômica que, a meu juízo, foi muito danosa para o desempenho da indústria: nós deixamos o câmbio valorizado.
Quando a gente fala isso, as pessoas ficam dizendo: mas vocês insistem nisso! É que o câmbio é um preço relativo importantíssimo. Hoje mesmo, tem uma entrevista do presidente do Banco Central falando dessa questão. Tem uma entrevista de um economista do Morgan Stanley, que eu até conheço, e que é um sujeito que gosta do Brasil, bem intencionado.
Mas há uma presunção de que é impossível ter um certo controle sobre o câmbio nominal, que implique num câmbio real, ou seja, numa capacidade de você exportar e defender sua economia de importações predatórias, que ficam barateadas quando o câmbio está valorizado. Não é que a gente quer impedir as importações, as importações são necessárias até para você dar competitividade a suas exportações. Mas eu não conheço nenhum país que tenha câmbio valorizado e que tenha desenvolvido a sua indústria.
Então, este é o “calcanhar de Aquiles” da economia brasileira. Vai crescer pouco, porque tem anos de sobrevalorização do câmbio e perda de competitividade industrial.
Se nós olharmos nosso parceiro competidor mais importante, hoje, que é a China, vamos ver que a China fez exatamente o contrário do que estamos fazendo.
É preciso que a gente olhe para essas questões com olhos um pouco mais distantes das nossas afeições partidários. Não é porque o sujeito é do PT que vai defender a qualquer custo isso. Nem porque é do PSDB que vai ficar falando da inflação. A inflação do PSDB foi igual à inflação dos últimos anos. Então, é preciso ter um pouco de distanciamento para analisar essas coisas.
É evidente que todo mundo tem seu parti pris [opinião preconcebida], seu ponto de vista. A gente tem que estar sempre revendo o ponto de vista. Não pode se aferrar às ideias, nem achar que aquilo que a gente aprendeu no manual de economia de 1950, vale pra hoje.
A economia é um organismo vivo que se transforma. Basta olhar o que aconteceu nos últimos anos na economia mundial e a inserção do Brasil. Como é que o Brasil na verdade se colocava nessa estrutura, nesse formato mais global da economia. O formato mudou, o Brasil mudou a sua inserção e ao meu juízo para pior.
Por isso, que um dos motivos para nós estarmos crescendo pouco é que nós discutimos mal. Nós queremos pensar essas coisas como se fôssemos mecânicos de automóvel. Não é assim! É uma coisa muito mais complicada, que tem relações com as visões que a sociedade tem dos problemas e que também são importantes, são fundamebntais no caso da economia, e, frequentemente, não se leva isso em conta.