A violência exacerbada até contra pessoas que evitaram a manifestação e profissionais de imprensa, causando ferimentos graves, revelaram a orientação do governo estadual para barbarizar contra os manifestantes. Bombas e balas de borracha foram atiradas contra apartamentos, prédios, universidades e empresas. As prisões arbitrárias e injustificadas também foram flagrantes.

Com o recrudescimento da violência policial e a reafirmação do vigor do movimento pelo transporte público de qualidade e acessível, o movimento Passe Livre avançou na mobilização e angariou apoios dos mais diversos setores e movimentos sociais, inclusive dos governos municipal e federal, neutralizando a repressão da PM. O prefeito da cidade Fernando Haddad convidou o movimento a participar da reunião do Conselho da Cidade, composto por representantes da sociedade civil, para falar de suas reivindicações. O próprio governo estadual, diante dos inúmeros repúdios à violência de sua polícia, seguiu o prefeito e resolver dialogar com o movimento sobre as próximas mobilizações.

Prefeitura
No fim da noite da quinta (13), quando ocorreram os incidentes, o prefeito Fernando Haddad foi enfático em afirmar que a violência policial marcou as manifestações do dia. Ele afirmou que as manifestações e confrontos criaram uma “escalada” de violência na cidade, que “não leva a nada”, e considerou positivo o posicionamento da Secretaria de Segurança do Estado de investigar os indícios de excesso de força policial.
“Infelizmente, hoje não resta dúvida de que a imagem que ficou foi a de violência policial, razão pela qual entendo que o secretário Grella, ao abrir inquérito para apuração rigorosa dos fatos, agiu corretamente”, disse o prefeito, que passou o fim da tarde e a noite em reunião com secretários e técnicos para monitorar a manifestação do Movimento Passe Livre. “Infelizmente, a imagem que ficou hoje é essa, de um possível excesso da força policial”, completou.
“Vamos conversar com autoridades do Estado e continuar acompanhando a evolução dos eventos, sempre entendendo que o método escolhido foi o pior possível. Nós estamos vivendo uma escalada que não vai levar a nada. O diálogo levaria. A compreensão sobre a situação de São Paulo e de outras capitais levaria ao entendimento e à evolução positiva dessa agenda”, disse Haddad.
No dia seguinte, o prefeito voltou a cobrar da Secretaria da Segurança Pública do Estado a apuração de excessos policiais relatados pelas testemunhos da violência policial. “Há indivíduos que precisam ser avaliados na sua conduta. No dia de ontem, segundo as imagens e relatos dos repórteres, cinegrafistas, fotógrafos e do cidadão comum, eu penso que alguns protocolos foram quebrados”, disse o prefeito.
Haddad ressaltou que a população de São Paulo respeita a liberdade de expressão, a liberdade de manifestação, mas que não compactua com violência de nenhum lado. “Todas as manifestações são legítimas. Aqui na Praça do Patriarca (Centro) recebemos toda semana as mais diversas manifestações e tudo transcorre normalmente, como deve ser numa democracia”.
Com relação à reivindicação do Movimento Passe Livre, o prefeito lembrou do esforço feito por Prefeitura e Estado para que o reajuste fosse abaixo da inflação. “Se nós demos um reajuste abaixo da inflação, de 20 centavos em três anos, é porque nós não tínhamos alternativas para fechar o exercício. Agora, precisamos buscar alternativas para que consigamos avançar no direito do trabalhador, do estudante, de ter um transporte de qualidade. Estamos dispostos a sentar e explorar todas as possibilidades que estejam ao nosso ao alcance”.
A Prefeitura de São Paulo realiza nesta terça-feira, às 9h, uma reunião extraordinária com o Conselho da Cidade para discutir o transporte público na capital. Por determinação do prefeito Haddad, o Movimento Passe Livre (MPL) foi convidado para fazer uma apresentação diante dos conselheiros e explicar suas propostas e visões para o setor. A administração municipal apresentará detalhes sobre a composição de preço da tarifa de ônibus, a evolução da despesa orçamentária com o subsídio e os planos para a melhoria na qualidade do sistema.
Governo Alckmin
Já o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), comandante da Polícia Militar, oscilou seus posicionamentos conforme a evolução dos fatos. Seu posicionamento radicalmente a favor da repressão violenta e dos policiais que a praticaram evoluiu para uma eventual apuração dos excessos, chegando a convidar o movimento Passe Livre para uma reunião, após a mesma proposta feita pelo prefeito da Capital. As manifestações do governo, revelando essa oscilação de opinião foram apagadas do Portal do Governo, mantendo-se apenas a mais recente.
Aparentemente, a estratégia de Alckmin, desde a Virada Cultural, quando a orientação parecia ser mandar a PM cruzar os braços contra os arrastões, ao passo que agora ordena a violenta repressão aos estudantes, mostram que o objetivo do PSDB é criar um clima de pânico na cidade com a finalidade de passar a impressão de que Haddad representa a insegurança e o caos na cidade, e, assim, dividir com Haddad a crise do sistema de segurança pública promovida pelos tucanos em 20 anos de gestão.
O governador Geraldo Alckmin afirmou nesta sexta-feira, 14, que a Corregedoria da Polícia Militar está apurando os episódios de violência que decorreram de manifestações realizadas nos últimos dias contra o aumento da tarifa do transporte público.  Enquanto isso, o Ministério Público manteve a sintonia com o tucanato, não tendo garantido o direito à manifestação, quando o governo anunciou que reprimiria, nem solicitando investigação dos abusos policiais, após o ocorrido.
Alckmin chegou a imputar a jovens estudantes o crime de formação de quadrilha, enquadrando-os no Art.284-A do Código Penal: “Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código”.
Logo após o quarto protesto contra o reajuste da passagem de ônibus em São Paulo, o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB) defendeu a ação da Polícia Militar. “É dever da polícia proteger a população, assegurar seu direito de ir e vir e ainda preservar o patrimônio público e privado. Só ontem tivemos 48 ônibus destruídos e pichados. Já na última terça-feira foram 80 ônibus depredados, além de lojas destruídas. Precisamos garantir aos cidadãos segurança para trabalhar”, explicou Alckmin, em entrevista ao jornal SPTV, da Rede Globo.
As bombas de gás lacrimogêneo que a Polícia Militar soltou durante a ação na manifestação do Movimento Passe Livre (MPL) atingiram e colocaram em risco moradores, pedestres e passageiros de ônibus na hora do rush na Consolação, no centro de São Paulo. Como as ruas da região não foram bloqueadas, motoristas ficaram ilhados no meio do gás. Entretanto, o governador deixou claro que a Polícia Militar fez o que foi necessário para manter a paz no local e destacou que irá apurar casos de violência por parte das autoridades. “Manifestação é legítima e a polícia acompanha, mas verificamos atos de violência e destruição do patrimônio público.”
Partidos
Tanto o Partido dos Trabalhadores, quanto o PCdoB, aliados no governo da cidade, repudiaram a violência da Polícia Militar do Governo Alckmin e exigiram a devida apuração dos fatos, bem como a punição dos responsáveis. 
O PT manifestou sua “total confiança no governo do prefeito Fernando Haddad (PT) que ainda não teve tempo hábil para pôr em prática seu programa de governo, tampouco fazer as mudanças que pretende na área dos transportes, as quais foram compartilhadas com população durante campanha eleitoral”.
O partido de Fernando Haddad defendeu a abertura de diálogo pelos movimentos sociais. Segundo a nota, os movimentos encontrarão na Prefeitura um líder democrático e disposto a construir coletivamente um novo modelo de transporte para a cidade de São Paulo. “O PT não compactua com qualquer tipo de violência, praticada por setores que tentam tirar proveito das manifestações para propagar o caos”, afirma a nota, convocando sua militância a participar das manifestações.
O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) também foi enfático ao condenar a truculência da Polícia Militar. O PCdoB pontuou as políticas públicas de transporte coletivo que defende para a cidade, com eficiência, qualidade e mais barato. Para consegui-lo é preciso investimentos contínuos na expansão das linhas ramais de metrô e trens, construção de corredores de ônibus, integração entre modais, a implantação do bilhete único mensal, desoneração de impostos e outras medidas que possibilitam um transporte público mais acessível.
“As manifestações contra o aumento da tarifa demonstram uma insatisfação com o preço praticado e a qualidade do serviço. Sempre defendemos o direito à manifestação e a liberdade de expressão. Defendemos a abertura do diálogo entre os movimentos sociais e o poder público para se chegar a um melhor resultado para a população”, diz a nota assinada por Jamil Murad, dirigente do PCdoB municipal.
Governo Federal
Em meio à série de protestos pelo país, a presidenta Dilma Rousseff também avaliou nesta segunda que as manifestações pacíficas são próprias da democracia. A informação é da ministra da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Helena Chagas.
“A presidenta Dilma Rousseff considera que as manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia e que é próprio dos jovens se manifestarem”, relatou a ministra. Dilma acompanha a mobilização que está tomando as ruas em várias cidades do país. No começo da noite, ela se reuniu com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para tratar do assunto.
Mais cedo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que o governo está preocupado com os protestos, e quer garantir diálogo com os movimentos para entender “anseios importantes” que têm levado as pessoas a se manifestar.
Sindicalismo
Em nota, publicada nesta segunda, as cinco maiores centrais sindicais, incluindo a Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), declararam seu apoio às mobilização contra o aumento das passagens urbanas e o direito de manifestação. Para as centrais,”as manifestações são absolutamente legítimas e democráticas”.
“A virulência da repressão policial contra os manifestantes é inadmissível, avilta o direito constitucional à livre manifestação e resgata o velho bordão de que os poderes constituídos tratam os assuntos de interesse social como caso de polícia”, diz a nota.
As entidades consideram que o preço das tarifas é absurdamente elevado frente às condições de prestação deste fundamental serviço público. “As centrais sindicais consideram, portanto, que as manifestações são absolutamente legítimas e democráticas”.
Entidades Estudantis
Desde a primeira manifestação, a União Nacional dos Estudantes (UNE) participou dos protestos e destacou sua posição contrária á repressão policial, afirmando ser contrária, ainda, ao aumento contínuo do preço da passagem de ônibus sem melhorias para o usuário. Para a presidenta da UNE, Vic Barros, que esteve presente no protesto, o transporte representa para a juventude, a possibilidade de romper com o isolamento territorial, sendo de extrema relevância para a diminuição das desigualdades produzidas pelas cidades. “O direito de locomoção nas grandes cidades não pode ser submetido às leis do mercado, por isso condenamos este reajuste que eleva o valor da tarifa de R$ 3 para R$ 3,20!”, avaliou.
Para a presidenta da entidade são justas e legítimas as manifestações da juventude sobre o valor das tarifas e a reivindicação que existe, em todo o País, pelo passe estudantil no transporte público. “Os governos Federal, Estaduais e Municipais devem assumir a responsabilidade de construir um Sistema que permita deslocamento digno e seguro para a juventude das cidades e do campo, com uma tarifa que contemple todos os usuários”, destacou.
A UNE também repudia a violência da Polícia Militar ocorrida na Avenida Paulista, em São Paulo, nas avenidas de Goiânia, nas ruas de Natal ou em qualquer outra cidade. Segundo Vic, a ação da PM fere o princípio da democracia e compromete a liberdade histórica garantida aos jovens para se organizarem e defenderem seus princípios.
A UNE ainda reafirmou que o Movimento Passe Livre, o DCE da USP, a UBES, a UPES e outras entidades estudantis e organizações vão continuar participando e organizando manifestações.