Jornalista acusa empresas brasileiras de permitir coleta de dados à NSA
Empresas brasileiras mantêm acordos com uma grande companhia americana de telecomunicações que coleta dados para a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos. A afirmação foi feita pelo jornalista Glenn Greenwald, autor das reportagens que revelaram os programas cibernéticos de espionagem americana. Em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado, Greenwald sugeriu que o Congresso investigue a suposta participação dessas empresas na coleta ilegal de dados do governo e de cidadãos.
O jornalista não citou nomes de empresas – nem brasileiras nem americanas. Segundo ele, ainda não é possível dizer, a partir da análise dos documentos vazados pelo ex-técnico da NSA e da CIA Edward Snowden, se as companhias brasileiras tinham conhecimento da participação na espionagem ao firmarem acordos com a empresa americana.
– Uma empresa de telecomunicações muito grande nos EUA tem muitos acordos com outros países, incluídas empresas brasileiras. Com esses acordos, ocorre o acesso às comunicações. Eles estão coletando tudo para a NSA – afirmou o jornalista aos senadores e deputados.
NOVAS REVELAÇÕES SOBRE BRASIL
Greenwald criticou a reação do governo brasileiro às denúncias de espionagem. Segundo ele, a reação contrária à prática, manifestada em público, não estaria se repetindo na relação entre os dois países, um comportamento comum às outras nações vítimas da vigilância.
– O governo está mostrando muito mais raiva em público do que em privado com os EUA. Está fingindo ter raiva. Todos os governos estão fazendo isso – disse Greenwald após a audiência.
A investigação sobre a suposta atuação de empresas brasileiras em programas de espionagem está no foco da Comissão de Relações Exteriores. O presidente do colegiado, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), pretende convocar as empresas de telecomunicações para obter detalhes de acordos com empresas americanas. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), já leu em plenário o requerimento para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito – a CPI da Espionagem. O funcionamento da CPI depende da disposição dos líderes partidários de indicar os integrantes.
– A NSA protege a identidade das empresas que trabalham para eles. Estão usando codinomes para tudo. Estamos tentando descobrir informações sobre quais são essas empresas. O Senado tem poder para obrigar o fornecimento dessa informação – sugeriu Greenwald.
O jornalista reiterou que boa parte das 70 mil pessoas que atuam para a NSA, direta e indiretamente, pode acessar dados – o que representaria um grande risco de violação da privacidade. Greenwald falou da possibilidade de acesso ao conteúdo de e-mails e conversas telefônicas, e não somente a metadados, que são os registros das chamadas, datas e duração das conversas:
– Eles podem invadir qualquer busca feita no Google, ver o conteúdo. O sistema mostra quase tudo que as pessoas estão fazendo na internet.
Segundo Greenwald, os documentos vazados por Snowden e revelados até agora correspondem a uma parte pequena do que ainda está por vir. Novas revelações serão feitas, inclusive com detalhes sobre a atuação da NSA no Brasil:
– Eles sempre dizem que fazem tudo pela segurança nacional, para proteger a nação contra o terrorismo. Na realidade é o oposto. Há muito acesso a informações sobre disputa entre países, negócios entre empresas e indústrias.
Dez jovens compareceram à audiência na Comissão de Relações Exteriores a fim de pedir liberdade para Snowden, asilado na Rússia. Eles usavam máscaras do ex-técnico da CIA. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) chegou a usar uma delas.
Publicado em O Globo – 07/08/2013