A recusa ao retrocesso
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, também avalia o momento como “grave”. “Não queremos que haja nenhum tipo de retrocesso”, afirmou, apontando um dos temores que marcaram a esquerda política ao observar a infiltração de temas reacionários nas manifestações, a partir de grupelhos fascistas ou tentativa de condução pelas corporações dos meios de comunicação de massa.
Falcão lembrou que a mídia protagonizou um recuo estratégico que chamou a atenção dos manifestantes, ao exigir a repressão violenta por meio de telejornais, mas invertendo a posição, conforme os protestos cresciam e assumiam contornos que poderiam ser direcionados para a direita ideológica. Mas, para o petista, as manifestações não foram relâmpago em céu azul. Para ele, as conquistas dos últimos dez anos abriram campo para novas conquistas, novas reivindicações e direitos.
Se por um lado, a direita teve pouca capacidade de condução do processo, por outro, há uma oposição real que encontra vocalização na mídia oligopolizada. O dirigente petista aponta uma ofensiva da direita, buscando enfraquecer,  principalmente, o Governo Central, por meio de alarmes falsos de pânico como a iminência de um apagão, da inflação sem controle, da Copa de futebol que não ocorreria por falta de tempo e um país paralisado pela incompetência do governo.
Falcão afirma as condições concretas que levaram ao desabafo da população contra a baixa qualidade das condições de vida e dos serviços públicos nas cidades. Uma situação que foi amplificada por uma juventude que entra em massa para as universidades, por meio de programas do governo como o Prouni, ao passo que enfrenta as dificuldades cotidianas de locomoção. “A violência da polícia do governo do PSDB até contra quem não participou dos protestos precipitou algo que estava entalado na vida das pessoas”, disse o dirigente.
Falcão admite também que os 50 milhões de brasileiros que ascenderam socialmente não entendem isto como resultado de políticas públicas, como transformações que se deram de forma coletiva, mas como mérito e fruto do esforço pessoal. “É uma fragmentação resultada da hegemonia neoliberal, que conseguiu manter valores enraizados na sociedade, como o reforço do individualismo e das dificuldades de associação”, afirma ele, apontando um desafio de mudança de mentalidade para a esquerda.
Ele acredita que a explicação da mídia oligopolizada de que a perda do controle sobre a inflação era o motor das manifestações caiu por terra, conforme os índices inflacionários foram se reduzindo. Para ele, a juventude é vítima de um toque de recolher nas grandes cidades, por motivos de violência e falta de mobilidade. “Saudamos as demandas progressistas, porque não houve demanda contra a democracia, mas pela ampliação dos direitos sociais e mudanças. Bandeiras que os partidos empunharam e podem continuar empunhando com orgulho”, afirmou, ressaltando que o desfecho do processo continua em aberto, assim como continue em disputa pela mídia oposicionista.
Falcão exemplificou essa parcialidade da imprensa com as manifestações marcadas contra a corrupção nas obras do metrô paulistano. Assim como escolheu o termo “mensalão” com cuidado para amplificar algo que não era pagamento de mensalidades, agora, escolhe-se o termo “cartel” para amenizar os efeitos do crime e dissociá-lo do governo, restringindo o crime às empresas envolvidos e poupando os agentes públicos. “O estado não é abstrato, tem governo e tem responsáveis. Além disso, tem a teoria do domínio do fato e não podem alegar que não sabiam, pois estão no governo desde 1992”, disse, sobre o governo do PSDB, que só é citado no noticiário como um governo que reage com firmeza às acusações.
“Entendemos que, longe de ter medo das manifestações ou condená-las por terem infiltração de direita, temos que apoiar a mobilização para precipitar reformas que são urgentes, mas que pela correlação de forças não se ensejou”, afirmou, citando uma lista de medidas aprovadas a partir de demandas da juventude. “Um mês de manifestações serviu para acelerar medidas que estavam hibernando, há anos”.
Falcão citou ainda um paradoxo que permeou as manifestações, quando a mídia explorou a desqualificação da política como forma de organização da vida social. Uma desvalorização do público diante do privado, em que emerge a valorização do mercado e do pensamento neoliberalismo. “Havia um mal estar nas manifestações contra a mercantilização da vida em sociedade, expressado indiretamente, que não deixa de ser uma certa crítica ao sistema capitalista”, analisa.
Falcão encerrou citando os pactos propostos por Dilma para solução das insatisfações populares. Entre eles, citou o pacto pelo plebiscito da reforma política, a necessidade de uma reforma tributária que taxe as grandes fortunas. “Esse conjunto de reivindicações não cabe no orçamento atual”, afirmou, acrescentando a pauta da democratização da mídia. Os manifestantes se expressaram sobre o assunto ao repudiar a cobertura jornalística da Rede Globo, chegado a incendiar carros de reportagem e cercar prédios da emissora.
“Tiro o chapéu para o Vermelho [portal do PCdoB] e para o Barão Itararé que são medidas concretas pela democratização da comunicação”, elogiou o petista, informando ainda que o PT está fazendo fortes investimentos em redes sociais. Falcão apontou para a necessidade de mudança na gestão de recursos publicitários do Governo. Ele lembrou que os meios impressos estão quebrados, mas ganham sobrevida com os recursos dos governos e empresas públicas.