A declaração de Tsipras nem sequer chega a ser uma ilusão, é uma combinação de inverdades. Num estilo triunfalista e cruel, Schäuble disse à delegação grega que queria ver como eles iam explicar esta capitulação ao seu povo.

A tentativa de artifício aqui em baixo é a declaração de Tsipras. De facto são as mesmas tretas onde brilham os políticos do centro. Podíamos vê-la como um recuo tático se integrasse uma estratégia global, não não parece que seja o caso. Esta teria sido uma declaração mais honesta:

O discurso que Tsipras devia ter feito

Tentámos, negociámos com seriedade, mas eles estavam determinados em defecar nas nossas cabeças. Primeiro os alemães e depois os seus seguidores. Isto foi especialmente duro para o nosso ministro das Finanças que não trazia chapéu na cabeça nesse dia. Estava na sua mão. Por isso regressámos com nada.

Eles ganharam o primeiro assalto e na segunda-feira vão ditar ainda mais as condições do seu triunfo. A Troika ainda está no comando. Vai controlar o dinheiro que recebemos, vai determinar como e em quê vamos gastar o nosso dinheiro. A elita da UE está determinada em prosseguir o nosso castigo e nós aceitámos isso por quatro meses. Vamos usá-los para preparar um plano B. Apelamos aos cidadãos da Europa a mobilizarem-se para nos apoiarem.

A chantagem que nos é imposta é semelhante à que impuseram aos países pequenos durante os anos entre guerras. A Grécia ainda não é um país soberano. A nossa democracia não diz nada aos alemães e à elita da UE. Alguns agradecem-nos por termos salvo o Euro, mas esse elogio não nos engana. Agora estamos determinados a salvar a Grécia.

O discurso que ele fez

[Na sexta à noite, Atenas e os seus credores da zona euro chegaram a um acordo de última hora para prolongar o resgate de 172 mil milhões de euros. Esta é a declaração oficial do primeiro-ministro grego]

Ontem a Grécia conseguiu um resultado importante e positivo nas negociações com a Europa. A Grécia mantém-se de pé – e com a sua dignidade intacta. Provámos que a Europa defende compromissos mutuamente benéficos e não a distribuição de castigos. E neste sentido, os resultados de ontem podem ser ainda mais importantes para a Europa do que para a própria Grécia.

A declaração conjunta do Eurogrupo estabelece o quadro do acordo que faz a ponte entre o Memorando e o nosso plano de crescimento. O acordo cria o quadro institucional para as tão necessárias reformas progressistas no que respeita à luta contra a corrupção e a fuga ao fisco, bem como reformar os Estado e a administração pública, e evidentemente ultrapassar a crise humanitária, o que consideramos ser a nossa principal responsabilidade.

Ontem demos um passo decisivo, deixando para trás a austeridade, o Memorando e a Troika. Um passo decisivo que permitirá mudanças na zona euro. Ontem não foi o fim das negociações. Entraremos numa nova fase das negociações até chegarmos a um acordo final para a transição das políticas catastróficas do Memorando para políticas concentradas no desenvolvimento, emprego e coesão social.

Claro que enfrentaremos desafios. Mas o governo Grego está empenhado em abordar as negociações, que terão lugar entre agora e junho, com ainda maior determinação. Comprometemo-nos a repor a nossa soberania nacional e popular. Juntamente com o apoio do povo Grego, a quem cabe o julgamento final das nossas ações. Enquanto apoiantes e participantes ativos, o povo Grego vai ajudar-nos nos nossos esforços para alcançar a mudança política.

Artigo publicado na página Facebook de Tariq Ali. Traduzido por Luís Branco para o esquerda.net.