Leia a seguir o ensaio “Não há raças humanas, assegura a biologia”, sétimo capítulo do livro “Há Racismo no Brasil”, do escritor e jornalista José Carlos Ruy (1950-2021). Nos marcos da celebração do Mês da Consciência Negra, o Vermelho divulga a obra póstuma de Ruy, que é inédita. Será publicado um capítulo do livro por dia entre 20 e 30 de novembro. Confira.

Cap 7 – Não há raças humanas, assegura a biologia

A igualdade entre os seres humanos é reconhecida e proclamada pela biologia, que não reconhece a existência de raças humanas, mas que há uma espécie única, cujas distintas variações corporais são superficiais (cor da pele, formato do crânio, nariz e olhos, tipos sanguíneos predominantes, etc.) e não autorizam a crença em nenhuma hierarquia baseada em características físicas.

O racismo é uma construção histórica e social sem base na biologia, diz a ciência. Ele resulta das condições históricas do desenvolvimento social e sinaliza as relações de domínio que existem na sociedade.

Em 1994, uma pesquisa conduzida pelo químico Marcos Palatnick, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, calculou a taxa de miscigenação entre os cariocas e concluiu que estão a caminho de se tornarem uniformemente morenos. Foi o resultado de quinze anos de uma pesquisa que estudou marcadores genéticos e concluiu que o carioca é predominantemente mestiço, com heranças genéticas africana e europeia: os de pele escura tem 2/3 de herança africana; os mulatos, meio a meio; e os brancos, 1/3 da mesma herança africana.

Aquele resultado foi confirmado e generalizado para todo o país por outra pesquisa divulgada em abril de 2000 por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais e sob coordenação do biólogo Sérgio Pena. Eles mostraram que, entre a população que se autoconsidera branca, cerca de 30% da herança genética vem da contribuição indígena, outros 30% da contribuição negra, e os demais 30%, de origem europeia. E que a contribuição europeia se deu principalmente através dos homens, enquanto a índia e a africana, através das mulheres. “Somos descendentes de africanos, índios e europeus”, escreveu Verônica Bercht, sobre esta pesquisa.

A classe dominante racista “do começo do século havia sonhado promover, com a imigração europeia, o branqueamento da população. Mas os imigrantes não formaram quistos étnicos isolados. Incorporaram-se à população já existente através dos casamentos. Frustraram assim aquela esperança racista. Como os cientistas da UFMG mostraram, a mistura dos imigrantes à população brasileira aumentou enormemente o número dos mestiços, muitos dos quais à primeira vista são brancos, que caracterizam nossa população”, diz a pesquisadora.

As raças são “construções sociais e culturais, e o racismo é uma realidade, por mais perverso e detestável que seja”, enfatiza o biólogo Sérgio Pena, no artigo “Os múltiplos significados da palavra raça”.