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PCdoB homenageia memória e legado de Vital Nolasco

24 de maio de 2023

A direção nacional do PCdoB, através da sua Comissão Executiva Nacional, decidiu prestar homenagem ao legado de Vital Nolasco.

A direção nacional do PCdoB, através da sua Comissão Executiva Nacional, decidiu prestar homenagem ao legado de Vital Nolasco, aproveitando a abertura do Encontro de Professoras(es) da Escola Nacional de Formação João Amazonas, ocorrido entre 19 e 21 de maio, em São Paulo. A homenagem se concretizou em forma do descerramento de uma placa na entrada do auditório da sede nacional do Partido.

O líder operário e ex-vereador de São Paulo, militante histórico do PCdoB, morreu em 19 de janeiro de 2022, aos 75 anos, em decorrência de uma fibrose pulmonar crônica.

A mesa montada antes da abertura do Encontro honrou a memória de Vital lembrando pontos chave de sua trajetória. Ao final entregou flores a Maria Ester Nolasco, sua companheira, e descerrou placa assinada pela Comissão Executiva Nacional do Partido, que diz: “Homenagem ao legado do camarada Vital Nolasco, destacado dirigente nacional do PCdoB, que liderou a campanha vitoriosa da aquisição da sede própria do Partido”.

Maria Ester fez questão de ressaltar o carinho do companheiro pelo PCdoB e sua sede, ao relatar que, pouco antes de morrer, foi chamado a assinar um documento. “Eu disse para ele pedir para um motoboy trazer o papel para ele assinar. Ele andava muito devagar e sentia muita falta de ar.  Mas ele insistiu que queria vir. A gente veio para ele se despedir daqui. Foi um esforço enorme para ele atravessar esta rua, mas ele fez questão. Para se ter ideia do amor que ele tinha pelo PCdoB”, disse ela.

Educação comunista

O filho Daniel, de 48 anos, agradeceu mais esta homenagem ao pai. “Já falei, mais de uma vez, que tive a sorte de ter nascido e ter sido educado no meio comunista. Não tive a escolha política e tenho muito orgulho disso. O maior legado que meu pai deixou é o engajamento na luta pela igualdade social e o fortalecimento do Partido Comunista do Brasil”, afirmou.

Ele lembrou que seus pais foram monitorados pelos militares, da clandestinidade até 1989, mesmo quando já era vereador. “Eu adorava fazer porta de fábrica, desde os sete anos. Não perdia a oportunidade de pegar no microfone. E minha frustração era minha mãe não deixar eu fazer pixação”, contou Daniel. 

Daniel lembrou que seu pai saiu foragido com a roupa do corpo, de Minas Gerais, com 21 anos. “Não consigo imaginar minha filha com essa idade indo embora, fugida, numa época que não tinha meios de comunicação, como agora. Veio pra São Paulo e fazer uma nova vida, com um novo nome”, relatou, lembrando que seu nome vem da homenagem a Carlos Danielli, que foi torturado “pelos mesmos que torturaram brutalmente meu pai”.

Luta antirracista

O secretário de Formação e Propaganda do PCdoB e presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, explicou que a placa descerrada é alusiva ao legado do Vital, no momento em que o Partido realiza um movimento no Brasil inteiro de revigoramento da legenda. “Um dos propósitos é no sentido de que o partido venha se vincular mais e mais às lutas do povo, à classe trabalhadora e ao movimento operário”.

Adalberto observou que, no mês de agosto, o PCdoB vai realizar uma conferência da luta antirracista. “A vida e a militância política do Vital foi pelos direitos da classe operária e do povo brasileiro como um todo, mas também a luta contra o racismo e pela igualdade social de negros e negras desse país”.

O dirigente comunista lembrou da fotografia icônica de Vital abraçado com Mandela. “Aquela foto diz tudo, e não precisa dizer mais nada, sobre o vínculo do Vital com o movimento negro e com a luta antirracista”.

A Escola João Amazonas forma e capacita a militância com teoria marxista, mas também com valores, de acordo com Adalberto. “Quantos valores advêm da vida e da militância do Vital?”, indaga. “Essa homenagem da Escola vem desse conteúdo”.

Adalberto contou ainda que a Fundação Maurício Grabois em parceira com a Editora e Livraria Anita Garibaldi estariam ofertando aos presentes um exemplar do livro Vital Nolasco – Vale a Pena Lutar, minha vida na Ação Popular (AP) e no Partido Comunista do Brasil, que teve como pesquisador e redator, Osvaldo Bertolino, que trabalhou lado a lado com Vital.

A faceta operária da luta

Representando o Comitê Central, o primeiro vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino destacou o caráter celebrativo da memória presença por décadas de Vital e sua na luta no PCdoB. “Vejo muitos operários que vieram celebrar este momento, porque a semente que Vital deixou é muito poderosa e entrou na alma de todos nós”, disse.

Reavivar a memória dele, na opinião de Sorrentino, é reavivar a memória de toda uma geração, que vem da luta contra a ditadura, durante os anos mais escuros e que entregou o melhor de si, da sua consciência, do seu trabalho aos compromisso com o Brasil e com a luta pelo socialismo.

“Vital teve uma trajetória muito impar e chama nossa atenção a trajetória de muita completude”, destacou ele. “Operário de acordar cedo e bater ponto, vindo da luta de Betim e Contagem, que ainda tem um partido muito sólido, desde então”.

O dirigente do PCdoB enfatizo o papel como operário que Vital carregou por toda a vida. Líder de greves, muito perseguido, tendo participado de todas as lutas populares também, como nos movimentos de carestia no território da Zona Sul paulistana.

“Aquilo foi um momento sublime da luta dos comunistas aqui em São Paulo, e no centro disso estava o Vital Nolasco contra o desemprego, nas grandes jornadas de 1982, a crise da dívida”, avaliou.

Para Sorrentino, Vital era um homem “multifacético”. “Nunca descuidou de suas lutas no local de trabalho, na comissão de fábrica, na Cipa, na luta sindical, e sempre o fez de uma perspectiva política. Acompanhou não só a luta sindical, mas a luta política institucional”, disse.

Na política institucional, Vital assumiu a tarefa como vereador eleito por dois mandatos muito produtivos, ao lutar pelo passe livre e a luta contra a discriminação racial.

Quando deixou de ser vereador voltou à atividade do Partido. Sorrentino observou como a trajetória simples como operário, nos anos 1960, vindo da Juventude Católica, fez esse movimento de se integrar ao PCdoB com Ação Popular (AP). “Teve a vida de operário e fez todo esse trajeto. Houve muitos assim na histórica do Partido. Vital se equipara à trajetória de Angelo Arroyo, que, além de líder grevista, foi pegar em armas na Guerrilha do Araguaia”, comparou, citando outros nomes operários da luta comunista, como também Aurélio Peres.

“A reminiscência mais marcante que trago dele do ponto de vista pessoal é primeiro esse sorriso de bonomia, de bem com a vida”, lembrou ele. Citou ainda a bela família construída e a dedicação e empenho corajoso de Maria Ester, quando foi necessário.

“Nosso passado é a seiva que alimenta o presente e o futuro”, justificou Sorrentino. “Precisamos disso nessa grande jornada desafiadora que está se abrindo no Brasil, mais uma vez. Jornada esperançosa num mar muito revolto. Vital estaria nas linhas de frente desse combate”, concluiu.

Atravessando vidas

Outros que homenagearam Vital foram o secretário Sindical do PCdoB, Nivaldo Santana, o presidente do PCdoB do Estado de SP, Rovilson Britto, o jornalista e escritor, Osvaldo Bertolino, que participou da biografia de Vital, e a ex-vereadora de São Paulo, Ana Martins.

Nivaldo acompanhou a trajetória política, sindical e antirracista, no movimento comunitário popular, desde a atuação na Metal Leve. Ele lembrou que o Partido teve três parlamentares operários: Aurélio Peres, Arnaldo Alves e Vital Nolasco. “Ele foi diretor do Sindicato dos Metalúrgicos e podemos dizer que foi pau para toda obra. Se destacou como grande dirigente partidário e faço questão de resgatar que era um corintiano de boa estirpe. A melhor homenagem é perseverar neste caminho tão bem trilhado pelo Vital”, celebrou o sindicalista.

Rovilson considera que pessoas como Vital explicam como é possível uma legenda durar tanto tempo, se renovar, persistir e ter perspectiva. “A generosidade com que os filhos do nosso povo se dedicam a essa causa e constroem o PCdoB, Vital foi um exemplo completo disso”, afirmou.

Para ele, Vital era um quadro com larga capacidade construída na dureza da clandestinidade e do movimento democrático que varreu o país, e que construiu o ciclo que deu a Constituição e que abriu espaço para os governos progressistas. “A vida do Vital é um depoimento de generosidade para com a luta do nosso povo e da emancipação do nosso país. Generosidade é a palavra que vem a cabeça quando penso no Vital”. 

Bertolino conta que a biografia de Vital faz parte de uma tríade que ele teve a honra de escrever de dirigentes contemporâneos dele, como Aurélio Peres e o Tom, o Antonio Almeida Soares. “Eu revirava os arquivos do DOI CODI, do Exército, dos jornais de São Paulo e Minas Gerais, levava as informações para ele confirmar. Ele chegava com aquele sorriso e conversávamos muito sobre a biografia. Decidimos escrever na primeira pessoa. Foi um trabalho com muita interação”, ressaltou.

O escritor diz ter conhecido Vital em 1982 na campanha eleitoral, quando chegou a São Paulo em meio a efervescência da Anistia e da luta sindical dos metalúrgicos. Por onde andava, via muita campanha de Aurélio Peres, candidato a reeleição de deputado federal. “Foi assim que cheguei à Tribuna da Luta Operária e o Vital estava lá com sua coluna. Andei muito com o Vital nas noitadas das estações do Metrô fazendo luta sindical”, lembrou.

Ele ressaltou a luta sindical de Vital, no momento em que a ditadura recrudescia sua violência e barbaridades, em 1968. A famosa greve de Contagem e Belo Horizonte estava na primeira frente de combate organizando a luta. “O coronel Jarbas Passarinho foi lá, pessoalmente, comandar a repressão. O papel do Vital na greve de Contagem e Betim revela a fibra e a convicção de classe, política e ideológica”, salientou.

Em São Paulo, Vital e Aurélio só não foram assassinados no Doi Codi, acredita Bertolino, pela ação de uma resistência que já existia organizada por Dom Paulo Evaristo Arns, que denunciava e reunia advogados. 

“Outro ponto que considero vital foi a CPI das Ossadas de Perus, quando ele teve uma atuação, como vereador, de enfrentamento do que representava aquela vala comum em que foram jogados muitos dos que resistiram à ditadura”, destacou, lembrando que ali em Perus estavam Carlos Danielli, assassinado em 1972, e Pedro Pomar, na Chacina da Lapa em 1976, ambos com biografias escritas por ele.

“São histórias que fazem parte do nosso acervo, formação e convicção de que a luta pela democracia, pelos direitos do povo, tem toda uma trajetória que são bandeiras fundamentais do nosso Partido. Sem dúvida alguma, o Vital é um dos esteios de toda essa militância e legado no partido. Vital está neste panteão”, declarou.

Ana Martins e Jamil Murad entregaram flores para Ester, antes de descerrarem a placa. Ana disse que Vital conheceu seu marido, Tom, antes dela. Tom era da Juventude Operária Católica (JOC) e Vital era da JOC de Belo Horizonte. “Quando ele teve problemas de segurança, arrumamos um esquema para ele vir para São Paulo, onde morou com a tia Aida, uma mulher negra alta, família muito parecida com a dele”. 

Ana lembrou as lutas nas fábricas que acompanhou com Vital. “Vital foi preso porque não acertaram a conta dele na fábrica, exigindo que ele fosse receber no Ministério do Trabalho, onde ele foi algemado. Vital saiu da prisão todo desfalecido, ensanguentado e machucado”, testemunhou. 

Nem o advogado da Comissão de Justiça e Paz queria que ele denunciasse as torturas, segundo ela. “Eu não vou denunciar?! Eu tenho as costas todas dilaceradas, essas marcas nas pernas, como não vou denunciar?”, citou ela. Vital carregou por toda a vida as sequelas da tortura, sem que isso fosse limitante para a continuidade de sua luta.

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