Pra que estrelas? Eu tenho um papel!
Lembro-me de quando eu era criança e, certa vez, numa festinha de aniversário, os chapéus de papel acabaram bem na minha vez. Fui a única criança a não receber. Precisei passar a festa toda ali, triste, olhando as crianças devidamente uniformizadas para o aniversário, podendo, inclusive, pegar mais balas, com a ajuda do pequeno adereço, quando estouravam os grandes balões recheados. Há traumas que somente as crianças compreendem.
Esta semana, porém, a imagem daquele fatídico aniversário surgiu novamente em minha vida. Vinte anos depois, em outro ambiente, o de trabalho, a cena repetiu-se. Dessa vez o ataque foi ainda maior, intencional, certeiro, raso e moralmente destrutivo: criaram um céu e minha estrela não estava lá.
Explico.
Na escola onde trabalho, utilizaram um mural de recados para divulgar as datas de aniversário de todos (todos!) os funcionários. Achei muito bonita a ideia, confesso. Os nomes, com seus respectivos dia e mês, foram escritos no interior de estrelas coloridas e distribuídos de forma calorosa por todo o quadro, embelezando uma triste parede, agora alegre como nunca! Como gosto de cores, fiz uma aposta mental (estava sozinho na sala) para tentar acertar a cor de minha estrela. Amarela, joguei. E fui até lá perto procurar meu nome. Olhei todos. Um por um. Um por um. Um por um. Nada. Olhei novamente. Procurei no sentido horário. Procurei no sentido anti-horário. Na vertical. Na horizontal. Na diagonal. Não encontrei uma estrela para mim.
Não trabalho ali a pouco. Já se foram 4 anos! Não sou desconhecido e nem passo despercebido. “Foi proposital”, pensei imediatamente, com base em toda uma conjuntura. “Nunca se entregar ao mundo das mesquinharias” – pensei. Não deixaria acontecer novamente como naquela festa de criança.
Sempre defendi o melhor troco à maldade, que não se trata de mais uma maldade, mas de uma demonstração de bom-humor e criatividade: peguei um papel em meu bolso e escrevi meu nome, meu aniversário e desenhei um pequeno sorriso. Não era uma estrela, mas eu o coloquei em destaque, quase no centro do mural.
Recomendo ao leitor amigo fazer o mesmo quando sentir-se tratado com indiferença, pois, como li certa vez, “maldade se paga com sorrisos”.
Boa semana a todos!
Luiz Henrique Dias é escritor, membro do Núcleo de Dramaturgia do SESI, estudante de Arquitetura e Urbanismo e comunista (convicto). De uns tempos pra cá ele desenvolveu o hábito de abstrair. E isso o tem feito alguém muito feliz. Siga o Luiz no twitter @luizhdias !