Excelência,
Por causa da academia do peixe frito
E universidade ancestral que se chama o Museu do Marajó
Nós, os cabocos marajoaras extraídos do mato
Sem cachorro
Queremos aproveitar a maré
No sítio Vermelho por intermédio deste nosso parente
Versejador abaixo assinado na presente petição
Talvez descendente dos Guaianás extintos
Que algum dia habitaram a extinta aldeia das Mangabeiras
Na beira da baía
Viemos assim desviar vossa atenção só um minutinho:
A modo dar notícia desta nossa ilha grande
Entre chuvas e esquecimento
A ver navios na boca do maior rio do mundo.

Primeiramente a gente muito agradece
A Vossa Excelência por ser o primeiro Presidente
Do Brasil que ouviu nossas queixas
E veio pessoalmente a Breves trazer resposta
Ainda que brevemente ficasse
no lugar onde carece conversar ao sabor da maré
A explicar coisas e coisas da invenção d'Amazônia
Brasileira nestas ilhas filhas da pororoca
Sobretudo a paz do rio dos Mapuá
Sem a qual não haveria brasileiros nestas paragens
Mas porém a Amazônia é Nossa!
Graças a Deus
Por obra e graça do Divino Espírito Santo
Ajudado nas terras-baixas por pajés do Jurupari
Sítio universal do Quinto Império do Mundo
Ou reserva da biosfera onde canta a saracura
Hoje Reserva Extrativista que foi um dia improvisada igreja
Do Santo Cristo consagrada pela Payaçu
Antônio Vieira
Ora ele mais vivo do que nunca
Na glória dos seus 400 anos de nascimento.

Nós estamos gratos ao Serviço do Patrimônio da União
Por quebrar a servidão da gleba
E garantir uso da terra ancestral aos ribeirinhos
Legítimos ocupantes e descendentes dos Nheengaíbas
A varja é a parte que nos cabe neste latifúndio
Que foi um dia sesmaria da capitania dos Barões de Joanes
Ruína dos Aruãs e tapera de aldeias doutras nações indígenas.

Com o uso coletivo da terra madre tapuia
E o reconhecimento dos mucambos
Falta devolver a identidade marajoara perdida
Religar a ancestralidade africana
Resgatar a herança ibérica
Incentivar a economia solidária a todo vapor
Para isto nada melhor que recuperar já
E federalizar o Museu do Marajó herança da avó
Desta gente ribeirinha desde menina
Amparar a academia do peixe frito
Institucionalizar a universidade livre
Tudo o mais no ano do Centenário de Dalcidio Jurandir.

A gente sabe que a Governadora do Pará
Tem compromisso firmado com a gente
Que o Governo Federal não está mais ausente
Mas porém o Palácio de vossa serventia
Não é a Academia Brasileira pra saber tudinho
Destes Brasis tão grandes e distantes
Portanto não dá tempo ao pessoal de vos dizer
Todos estes porquês
Que fariam mais bonito o discurso de Vossa Excelência
A toda ocasião que falar do extremo-Norte brasileiro
Diante do mundão mandão.

O senhor Presidente pense no Museu do Marajó
Como se fosse o Louvre com açaí e tucupi
Símbolo vivo que ele é no patrimônio invisível
Da teimosia desta brava gente brasileira
Nos campos de Cachoeira do rio Arari
Que vem do tempo dos Nheengaíbas jamais vencidos
Na guerra.

Os marajoaras existimos ainda hoje por ajuda
Do Padre Antônio Vieira outrora que não deixou
O governo do Maranhão e Grão-Pará
Dar a guerra de extinção e cativeiro às Ilhas
Insubmissas então e apenasmente integradas pela paz
Fato a completar 350 anos no ano que vem
No Centenário do índio sutil Dalcídio Jurandir
E Fórum Social Mundial em Belém.

O senhor Presidente se lembre
Os cabocos somos remanescentes de povos indígenas
Vítimas do erro cartográfico de Cristóvão Colombo
O qual querendo ir às Índias deu com a nau ao Novo Mundo
Tivemos que esperar 500 anos pra despertar
Do tal baque que a História deu:
Aqui nas ilhas o Museu do Marajó é o canto do Gallo
Que ajuda a acordar esta gente adormecida
Mundiada pela cobra grande Boiúna
Desde a primeira noite do mundo.

A gente quer um Plano Mandela pra todo mundo
Da periferia global que nem aquele
Que reconstruiu a Europa da guerra mundial
Tudo pra ficar igual entre o Norte e o Sul
Sem mais apartação tão desmedida como ainda há.

O Senhor Presidente sabe que a gente do fim do mundo
Depois da enorme noite colonial vai chegar em 2030
A qualquer coisa como 350 milhões de “indígenas”
Da Terra toda.
Recuperada a memória das Índias orientais e acidentais
Lá estarão as novas gerações marajoaras!
Quem tem medo dos novos índios do Brasil
Descendentes de abril de 1500?
Quando se sabe que o Povo Brasileiro é herdeiro
Da terra dos Tapuias e do Pindorama…

Se por acaso ninguém avisou a Vossa Excelência
Ser a ilha do Marajó o maior patrimônio arqueológico
Do Brasil a par de ser também patrimônio natural
Da humanidade
Ainda não reconhecido
É preciso que a gente se levante e mande o recado
Urgente.

 

José Varella – Belém da Amazônia, 16/02/2008
Museu do Marajó – www.museudomarajo.com.br