O ano que passou registrou novos recordes dos lucros dos principais bancos do Brasil. Apenas três dos grandes bancos [1] privados fecharam o ano com um lucro líquido de R$ 29,8 bilhões, com um crescimento de 7,63% vis-à-vis 2012 – bem acima da inflação oficial, 5,91%. Isso equivale a cerca de US$ 12,2 bilhões!

Como mostra a tabela, os magnatas do Itaú/Unibanco, o Bradesco, o Santander (espanhol e maior banco da zona do euro) encheram o rabo – e tudo o mais – de grana (“Lucro dos bancos engorda com calotes em queda”, Valor Econômico, 5/2/2014). No mesmo passo do “amor ao dinheiro”, o crescimento econômico do país situou-se em torno de magros 2,2%.

Ainda assim, segundo estudo da CUT (Central Única dos Trabalhadores) os bancos brasileiros contrataram 38.563 funcionários (janeiro-dezembro 2013) e demitiram 42.892; as maiores demissões ocorreram em São Paulo e no Rio de Janeiro, que possuem presença maior da banca privada. Esses, os bancos privados, seguiram abusando da rotatividade: “esse mecanismo perverso usado para reduzir a massa salarial e turbinar ainda mais os lucros”, disse com razão o sindicalista da CUT, Carlos Cordeiro.

Mas, para Roberto Setubal, oligarca-chefe do Itaú, as explicações são outras: “Estamos colhendo frutos de políticas de ajuste de risco e de crédito que começaram em 2011” – disse ao jornal Valor na matéria acima. Haja cinismo: além da queda da inadimplência dos clientes, as seguidas elevações da taxa de juros (10,5%, desde abril de 2013), a extorsão dos preços dos serviços/tarifas bancários (somaram os três R$ 51,3 bilhões, 16,1% a mais que 2012) e a histérica exploração dos bancários, certamente ficariam na “continha” da ideologia caritativa de “contribuição” desse banqueiro (et alii)  à sociedade!

No rastro da verdadeira orgia de lucros e voraz exploração capitalista pela burguesia financeira, no curso dos últimos seis anos, 2 mil empresas abandonaram a atividade exportadora no Brasil. Ou seja, segue célere o movimento de “reprimarização” da pauta exportadora num cenário de crise e contração dos principais centros capitalistas, bem como perda de competitividade da indústria nacional.

De acordo com Julio Almeida (ex-secretário de Política Econômica da Fazenda), a perda de espaço das grandes indústrias no topo dos exportadores é reflexo da saída de empresas médias com produção de maior valor agregado da lista das 250 mais influentes. “Grandes empresas têm mais condições de se protegerem. Se elas perdem espaço e a concentração aumenta, é sinal de que quem realmente deixou de exportar ou diminuiu muito o nível de vendas foram empresas médias”, assinalou Almeida.

Entre as causas o “boom” dos preços das commodities nos últimos anos “é uma parte da explicação”, afirma Almeida; outra seria a perda de competitividade da indústria nacional dos últimos anos, que “afastou as pequenas e médias empresas do leque de exportadores brasileiros” (“Exportações ficam mais concentradas em poucas empresas”, Valor Econômico, 28/01/2014).

Em tempo: parece bem claro: a) o que resulta da constituição desse “novo” padrão de acumulação capitalista que vai se consolidando no Brasil, à sombra da globalização neoliberal (agronegócio/fornecedores + setor exportador de primários + setor petróleo + construção civil), em crescente aliança com o capital estrangeiro; b) e quem é (oligarquia bancária/financeira) seu sócio maior e dele mais se favorece!

NOTA
[1] De acordo com a Associação Brasileira de Bancos, na ordem de classificação das “500 marcas mais valiosas”, duas instituições brasileiras aparecem entre as 25 maiores do mundo: Bradesco, na 20ª posição (com US$ 10,600 bilhões em valor de marca) é o banco que lidera na América Latina; o Itaú/Unibanco aparece depois na 23ª posição, com US$ 9,904 bilhões; o Banco do Brasil surge na 35ª posição (com US$ 6,972 bilhões).