O Brasil vive momentos cruciais neste começo de ano. O governo parece invencível na implantação do projeto neoliberal, e vai de vitória em vitória a um custo inconfessável, transformando de vez a política num balcão de negócios. Parece que, de tanto falar no domínio do mercado convenceu-se da inevitabilidade de trazer suas práticas para as artes da administração! Ao mesmo tempo, a Vale do Rio Doce, prêmio mais cobiçado pelos caçadores de estatais, descobre jazidas de ouro e cobre de riqueza inimaginável, complicando o cálculo daqueles que sonham em transfereir a mineradora brasileira, uma das três maiores do mundo, para as mãos de particulares, brasileiros ou não.

Luis Carlos Gomes enfrenta o desafio, nesta edição, de tentar compreender o sentido da ação entreguista do governo de Fernando Henrique Cardoso, e pergunta: o Brasil ainda precisa de um projeto nacional? E qual a natureza desse projeto? Um projeto como o que Fernando Henrique gerencia, e que atende aos interesses do grande capital brasileiro e internacional, ou um projeto nacional novo, que aponte no sentido do desenvolvimento autônomo do país e tenha como objetivo atender às necessidades de seu povo? Haroldo Lima, por sua vez, analisa os interesses econômicos que moveram a campanha pela reeleição do presidente da República, interesses que vêem da permanência do sociólogo-presidente à frente do executivo a melhor forma de garantir seus próprios privilégios. E Socorro Gomes enfatiza a importância da Vale do Rio Doce para o Brasil, e denuncia os atentados contra ela, atentados que são, na verdade, ameaças profundas contra a soberania nacional. Aldo Rebelo, finalmente, faz o balanço do governo FHC ao longo de 1996 e mostra como, ao longo do ano, o que restava da máscara de “ético” que o presidente exibia, e com a qual se elegeu, foi gradualmente sendo desmontado.

A luta dos comunistas portugueses e italianos é relatada nas intervenções de Álvaro Cunhal e de Armando Cossuta. Eles permitem a conclusão de que, apesar de todas as mentiras da propaganda burguesa, a bandeira do comunismo e da revolução continua de pé naqueles países. A mesma bandeira que, hasteada no Brasil em 1922 e reerquida em 1962, é empunhada com orgulho pelo PcdoB no ano em que comemora 75 anos de fundação e 35 de reorganização, como mostra o artigo de José Carlos Ruy. Uma trajetória marcada por momentos de heroísmo, como a guerrilha do Araguaia, principal evento da resistência armada contra a ditadura militar de 1964, cuja epopéiaé rememorada pelo depoimento de João Amazonas à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, transcrito nesta edição.

Os êxitos da luta de Cuba para afirmar sua soberania e retomar uma vida econômica normal, próspera são relatados por Miguel Urbano Rodrigues. Aldo Arantes, por sua vez, toca num tema que, por duas décadas, esteve for a do centro noticiário, apesar de sua dramaticidade e crueza: a resistência do povo do Timor Leste contra a ocupação estrangeira e contra o barbarismo genocida da Indonésia.
No campo das idéias, Edvar Bonotto apresenta as críticas de Marx e Engels à concepção do direito de Emanuel Kant, e Philadelpho Menezes registra, com fina ironia, as mudanças na concepção da arte representadas na Bienal de São Paulo de 1996.

E mais: as razões dos estudantes e da UNE contra o provão criado pelo ministério da Educação para criar barreiras discriminatórias entre as universidades brasileiras, apresentadas por Wladimyr Vinicyus. José Reinaldo Carvalho lembra a obra de Jack London, comemorando os 80 anos de sua morte.

Dedicamos esta edição ao decano dos jornalistas e dos patriotas brasileiros, Barbosa Lima Sobrinho, que completou, em 22 de janeiro, 100 anos de uma vida dedicada à democracia e à defesa da Pátria. A coerência de suas atitudes confunde-se com a história da luta pelo progresso social neste século, e é um exemplo para todos nós.

EDIÇÃO 44, FEV/MAR/ABR, 1997, PÁGINAS 3