Tendo sido intimado a comparecer à festa, não teve outro jeito: foi. Chegou na porta do prédio, olhou para o alto, viu luz no apartamento dela e pressentiu que de lá emanava uma vaga animação.
 
      "Tô até vendo: gente com o copo na mão, papeando futilidades, e eu, que nem bebo, sem saber onde por as minhas. Talvez sobre os joelhos, se é que vou encontrar algum lugar no sofá apinhado de peruas entonadas em vestidos vaporosos. Capaz mesmo é de ficar em pé com essa minha cara de sinhá mariquinha cadê o frade".

      Fez-se anunciar pelo interfone. Apartamento 153 foi o que ouviu do porteiro atarracado e banguela. Já no elevador, começou a suar. Era sempre assim: ia para um evento público, no qual, certamente, ia ficar deslocado, a boca secava e punha-se a suar feito não sei o quê.

      Atendeu a porta uma senhora.

      – Desculpe… Acho… Acho que me enganei.

      – Pode entrar.

      Ele entrou e a velha saiu. Sala vazia, música tocando. "Saco, cheguei cedo demais! Eu e essa minha mania de cumprir horário!".

      Avançou. A não ser a música, nada ali anunciava uma festa. Deu uma espiada pelo corredor que dava para os quartos: nada. Dirigiu-se para a varanda. Lá encontrou uma mesa posta para dois. "Êpa…"

      – Oii!

      "Meeu deus!…". Ela surgiu num vestido leve, cabelos soltos, sorriso lindo. Ele ficou paralisado. Ela veio, abraçou, deu um beijo leve em seu rosto e ele lá, atônito.

      – Senta. O que você vai beber?

      – Ééé…

      – Tenho um vinho aí que é uma delícia. Mas só para o jantar. Tem cerveja, uísque…

      – Jantar?

      – Tá sem fome?

      – Não, é… quer dizer…

      Ela ficou um tempo saboreando a atrapalhação dele. Abriu um sorriso delicioso.

      – Espera aí que já volto.

      Voltou com uma garrafa de campari e dois copos. Preparou os drinques, sentou-se ao seu lado e lhe estendeu um.

      – Que bom que você veio.

      – Cheguei meio cedo e…

      – Nada. Chegou na hora combinada. Gosto de sua pontualidade.

      Deu um gole na bebida com os olhos fixos nele.

      – Não gostou do drinque?

      – E… os outros?

      – Não tem outros. Somos só nós dois.

      O pânico começou a chegar devagarinho e ficar grande como o quê. Olhou para a porta. Olhou para a mesa na varanda. Pratos de porcelana, talheres de prata. Lá fora a lua e uma brisa leve.

      Percebendo seu embaraço, ela lhe tomou delicadamente o copo, puxou-o para o meio da sala, conduziu as mãos dele até sua cintura, enlaçou seus pescoço e pôs-se a dançar. Ele mal se mexia. Ela fixou um olhar divertido no rosto afogueado dele.

      Confuso, assustado, quando deu fé, estava no quarto da moça. Sempre sorrindo, ela virou-lhe as costas, levantou o cabelo e mostrou-lhe a nuca, onde começava o zíper do vestido. Tensionado entre ser e não ser, viu o vestido despencar. Deslumbrado, só pôde perguntar:

      – E… o jantar?

      – Depois. Agora, estou cheia de fome.