A grave crise política que há mais de três meses abala o país coloca em risco o governo do presidente Lula. Novamente – como já aconteceu em outros momentos da história –, os setores das classes dominantes mais conservadores e antipatrióticos movimentam-se para levar à falência um governo progressista eleito sob o compromisso de lutar pela construção de um país soberano, democrático e desenvolvido. Assim fizeram contra Getúlio em 1954 e contra João Goulart em 1964 e, agora, intentam ceifar o mandato de Lula ou mantê-lo acuado e fraco – uma espécie de refém.

A crise se tornou mais grave na primeira quinzena de julho quando veio à tona a confissão de dirigentes do PT de que participaram de esquemas ilícitos de financiamento de campanha, além de outros fatos escabrosos. A partir desse episódio, a oposição conservadora assumiu o controle da situação e, com essa vantagem, busca imprimir à dinâmica da crise um desfecho que melhor favoreça ao seu real interesse, qual seja: retornar ao governo da República.

Desse quadro emerge uma onda conservadora com alto poder destrutivo que dia após dia atua para desmoralizar o presidente da República e seu governo, execrar e “linchar” o PT, explorando ao máximo os erros e limitações que os próprios dirigentes dessa legenda assumiram e, ainda, corroer a legitimidade conquistada pela esquerda brasileira ao longo de décadas de luta.

O PSDB e o PFL – que operam o ataque contra o governo a partir do Congresso Nacional – são apenas a expressão partidária do que é a oposição conservadora no Brasil, envolvendo um verdadeiro sistema que abarca o chamado poder econômico e financeiro e as empresas de comunicação. Esta “santa aliança”, hipocritamente como já fez no passado, apresenta-se como guardiã da ética e da moralidade e procura manipular a justa ira que a opinião pública cultiva contra a corrupção. O mesmo faz a chamada “extrema esquerda” que sem constrangimento cumpre o papel de força auxiliar dessa ofensiva.

Em face disso, as forças avançadas e democráticas devem sem nenhum titubeio estar à frente do trabalho e das ações que levem à punição dos que tenham cometido esse tipo de crime. Uma efetiva reforma política democrática que assegure a pluralidade partidária, reduzindo a chamada cláusula de barreira, e que institua o financiamento público das campanhas eleitorais deve ser exigida como solução ao atual modelo de financiamento privado, uma das causas da corrupção presente no processo eleitoral.

Diante dessa gravidade de iminente possibilidade de retrocessos, as forças democráticas, patrióticas e populares são chamadas a resistir e enfrentar essa avalanche conservadora. Para isso – através do diálogo, do debate e da ação –, precisam se reagrupar, recompor sua unidade. Este necessário coesionamento deve ser canalizado, em caráter emergencial, para reforçar a autoridade do presidente da República, cujo mandato encontra-se ameaçado.

Contudo, ambos movimentos só serão possíveis com base no regaste da plataforma de mudanças com a qual o presidente foi eleito. A dispersão das forças progressistas se deu, em grande medida, pela dubiedade programática do governo e pelo modo errado com que o PT exerceu o papel de força hegemônica. Tanto uma coisa quanto outra precisam ser corrigidas.

Desse modo, cabe ao governo um imediato reencontro com os compromissos assumidos com o povo. Nesse sentido, é urgente que o governo implemente uma agenda que concretize as aspirações legítimas do povo e de seus movimentos sociais referentes ao desenvolvimento, à geração de empregos e à distribuição de renda.

Da parte das forças políticas e sociais que têm compromisso e responsabilidade com o Brasil e seu povo não há outro caminho senão o da resistência democrática e da mobilização popular para enfrentar e superar progressivamente a ofensiva da oposição neoliberal.

Os Editores

EDIÇÃO 80, AGO/SET, 2005, PÁGINAS 3