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    Prometeu

    Encobre, ó Zeus! o céu com suas nuvens. E como o jovem que gosta de colher cardos no campo, em teu poder conserva o robusto carvalho e o alto cume da espaçosa montanha. Mas consente que eu use essa terra que é minha, esse abrigo que eu fiz, e esta forja que quando faço arder, […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    Encobre, ó Zeus!
    o céu com suas nuvens.
    E como o jovem
    que gosta de colher
    cardos no campo, em teu poder conserva
    o robusto carvalho e o alto cume
    da espaçosa montanha.
    Mas consente que eu use
    essa terra que é minha,
    esse abrigo que eu fiz,
    e esta forja que quando faço arder,
    tu, no Olimpo, me invejas.

    Nada mais pobre eu conheci, ó deuses
    do que vós próprios.
    Apenas vos nutris
    de sacrifícios
    e de preces,
    dedicados a vossa majestade.
    Morreríeis de fome se não fossem
    as crianças, os loucos, os mendigos
    que vivem de ilusões.

    Quando eu era menino
    e nada conhecia,
    ao sol se erguiam meus sentidos olhos
    como se lá houvessem
    ouvidos que escutassem meus lamentos,
    e um coração tivesse igual ao meu
    capaz de consolar a minha angústia.

    E quem contra insolência
    da turba dos titãs me auxiliou?
    Quem me salvou da morte
    e me impediu a escravidão?
    Não foste tu meu coração somente
    ardendo numa chama inextinguível?
    Jovem e  ingênuo eu tudo agradecia
    àquele que no céu
    dorme na ociosidade.

    Como prestar-te honra? Mas por que?
    Deste jamais alívio
    aos oprimidos?
    Já enxugaste as lágrimas
    dos que são infelizes?
    Formei um homem,
    mas um homem afinal que só se curva
    perante o Tempo e o Fado
    que são tão meus senhores como teus.

    Pensaste tu talvez
    que poderia desprezar a vida
    e ao deserto fugir
    porque nem todos
    os meus sonhos floriram?

    Aqui estou.
    Homens faço segundo a minha imagem,
    Homens que serão logo iguais a mim.
    Divertem-se e padecem,
    gozam e choram
    mas não se renderão aos poderosos
    como também eu nunca me rendi!

     

    Edmundo Moniz – Poemas da Liberdade
    Uma Antologia Poética de Dante a Brecht
    Editora Civilização Brasileira

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