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    Comunicação

    Concha e Molusco

    Molusco frágil, carente, o que seria de mim sem ti, oh! casulo meu?! Julgas que te protejo. Quando adormeces, fazes de mim um lençol. Do meu tórax, um travesseiro. Julgas-te frágil canoa atracada a um forte cais! – De início, que diabo seria feito dos portos sem as embarcações? Que sentido teriam os aeroportos sem os […]

    POR: Adalberto Monteiro

    Molusco frágil,
    carente,
    o que seria de mim
    sem ti,
    oh! casulo meu?!
    Julgas que te protejo.
    Quando adormeces,
    fazes de mim um lençol.
    Do meu tórax,
    um travesseiro.
    Julgas-te
    frágil canoa
    atracada a um forte cais!
    – De início, que diabo
    seria feito dos portos
    sem as embarcações?
    Que sentido teriam
    os aeroportos
    sem os aviões?

    Vês aquela minúscula
    mancha na imensidão azul?
    Sinto-me assim:
    uma andorinha em ti.
    Lembras-te daquele pequenino
    peixe saltitando
    desesperado
    na areia da praia?

    Olha o céu…
    Vês aquela estrela
    tão franzina
    tão…
    sem importância,
    que só com
    caridade se vê?
    Ao me perceberes
    deste-me brilho,
    atributos.
    Deste-me consistência.
    Contigo no censo da existência
    passei a compor
    a constelação da vida.

    Confesso-me:
    um ente espantado,
    espantalho errante,
    um vaga-sem-lume
    na escuridão.
    Só o amor imenso da família
    poupou-me do manicômio.

    Por gostar
    de rajadas de vento frio
    e chorar solitário
    nos morros
    e feito o mar,
    inchar e murchar
    segundo o luar,
    julgo-me
    descendente
    do lobo.

    Que seria feito
    deste confuso ente,
    sem o ungüento
    do teu sexo?
    Sem a carícia
    de tua pele?
    Sem a proteção da loba
    na qual te transformas
    quando me atacam,
    ou quando minha
    própria fragilidade
    me conduz
    ao ridículo,
    ao escárnio?

    Teria perecido,
    sem dúvida.

     

    Verbos do Amor & Outros Versos – Adalberto Monteiro 
    Goiânia – 1997

    Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).

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