A história do povo do Vietnã caracteriza-se por ser uma história de lutas contra agressores estrangeiros para defender sua independência nacional e sua liberdade. Do final do século XIX e início do XX a luta pela libertação nacional encontrava-se em prolongada crise, como se estivesse em um beco sem saída. Todas as estratégias e linhas políticas praticadas nas lutas encabeçadas por destacadas personagens da intelectualidade, do campesinato e da pequena burguesia vivenciaram amarga derrota. A nação ainda estava sob bárbaro jugo colonial e feudal.

Em 03 de fevereiro de 1930 surgia o Partido Comunista do Vietnã, sob a direção do líder Nguyen Ai Quoc (Ho Chi Minh), proporcionando à causa revolucionária o que lhe faltava: uma linha política correta, que determinava unir a libertação nacional e o socialismo num único objetivo da revolução conduzida pelo proletariado, e guiada pelo marxismo-leninismo. Quinze anos depois, em 19 de agosto de 1945, o proletariado e outras classes do povo vietnamita derrotaram o regime colonial-feudal. E, em 02 de setembro, seu líder Ho Chi Minh anuncia ao mundo o nascimento da República Democrática do Vietnã.

A partir desse momento, os vietnamitas entregaram-se ao cumprimento de duas tarefas unidas entre si: a de continuar a revolução democrático-popular e a de realizar a revolução socialista. Até hoje transcorreram aproximadamente 62 anos de desenvolvimento do socialismo no Vietnã, dos quais nos primeiros 30 (1945-75) houve sucessivas guerras contra o colonialismo francês e o imperialismo norte-americano; por volta de 10 (1975-85) foi iniciada a edificação socialista em todo o território, tanto no norte quanto no sul, já reunificados na República Socialista do Vietnã; e o último período, 21 anos (de 1986 até hoje), é conhecido como de renovação. Vistos em seu conjunto nesses 62 anos podem ser destacadas algumas importantes particularidades do processo de desenvolvimento do socialismo no Vietnã.

A primeira delas se dá pela combinação da emancipação nacional com o aprimoramento do socialismo para conformação do objetivo estratégico resultante da revolução. Aqui, entre luta nacional e luta de classes; entra nação e proletariado; patriotismo e internacionalismo; independência nacional e socialismo etc sempre é demandada rigorosa dialética não apenas na teoria e no conhecimento, mas também na prática permanente e eficaz. Essa dialética foi esboçada por Marx e Engels no fundamental Manifesto do Partido Comunista desde 1848 e, em seguida, foi enfatizada por Lênin por meio de suas palavras e, principalmente, de sua práxis criadora. No entanto, nenhum dos nossos clássicos sabia como seria a combinação da emancipação nacional com o aprimoramento do socialismo num país oriental, asiático, com marcantes diferenças histórico-culturais, sócio-econômicas etc em relação aos países europeus. Todo o peso dessa tarefa recaiu sobre os ombros dos próprios comunistas vietnamitas, desafiando sua sabedoria e ação. Primeiro Ho Chi Minh, depois, por terem criado e dirigido o Partido, aqueles que sabem empunhar aquelas duas bandeiras nacional e classista numa revolução.

Se amigos e companheiros de outros locais do planeta notam algo peculiar, diferente, e inclusive raro, no socialismo do Vietnã seria precisamente por essa conhecida, e ao mesmo tempo nova, particularidade do socialismo no país.

A segunda particularidade vietnamita implica em sua transição para o socialismo, não a partir de um capitalismo de alto nível, como Marx e Engels haviam pressuposto; nem tampouco um capitalismo pela metade, como teve Lênin na época da Revolução de Outubro; mas uma sociedade tipicamente pré-capitalista. Nesse ponto de partida ficavam patentes a produção agrícola atrasada, a mentalidade camponesa, a baixíssima produtividade, a pobreza, o subdesenvolvimento constrangido, a debilidade das instituições sócio-políticas etc. Diante dessas condições, os comunistas vietnamitas devem definir o que significa transição ao socialismo sem passar pelo capitalismo? Seriam impossíveis, por isso, a transição direta em curto prazo, a eliminação imediata de todos os setores econômicos capitalistas, a liquidação da produção mercantil, da economia de mercado e da exploração do trabalho etc. Nem mesmo se poderia sonhar com o estabelecimento subseqüente de um sistema político propriamente socialista, nem contar de hoje para amanhã com uma estrutura sócio-classista intrínseca ao socialismo.

A terceira particularidade do socialismo no Vietnã se dá no fato de sua construção ter se reajustado forçosamente durante todo tempo ao estado de guerra. As leis e os princípios do desenvolvimento do socialismo não tiveram aqui ambiente oportuno para se manifestarem, e nem mesmo um caminho pertinente para proporcionar uma proveitosa realidade. Em muitos casos exigia-se uma interpretação desses princípios e leis em favor da lógica de uma sociedade em plena guerra. Dezenas de anos em guerra deixaram marcas profundas no povo vietnamita e também imprimiram nítidas irregularidades em seu socialismo.

Como materialista dialético, o Partido Comunista do Vietnã está sempre atento para garantir que as leis gerais do socialismo sejam cumpridas mediante – e pelas – suas particularidades. Isso repercute de maneira evidente em todas as linhas políticas de construção do socialismo no país do célebre Ho Chi Minh. Graças a ele, do fim da resistência contra os franceses (1954) até 1975 – denominada etapa de construção do socialismo em tempos de guerra – o povo vietnamita obteve importantes conquistas econômico-sociais.

No campo econômico, o crescimento médio anual chegou a 6,1%; a produção industrial aumentou aproximadamente 150%, com destaque para a produção energética, a extração de carvão, as indústricas metalúrgica, mecânica, química, a produção de materiais de contrução; a agricultura foi suficiente para as necessidades básicas do povo. Além disso, as forças produtivas conseguiram modestos – mas realmente sem precedentes – avanços. As relações de produção socialistas começaram a se instaurar, dando novo caráter à economia do país. O comércio interno, e externo, alcançou desenvolvimento a cada dia mais abrangente.

No âmbito social houve um progresso transcendental. Em 1960 foi totalmente erradicado o analfabetismo, antes acima de 95% da população. Foram desenvolvidos a educação, a assistência médica e o aproveitamento do esporte gratuito a todo o povo. Escolas de nível básico, secundário e pré-universitário foram construídas nas áreas mais afastadas do Vietnã do Norte; dezenas de universidades criadas com todas as principais especialidades da ciência e tecnologia. Não havia desemprego, drogas, prostituição. A igualdade social, a igualdade entre homem e mulher, a democracia socialista, o espírito coletivo, o patriotismo, o amor ao trabalho, a entrega total à causa revolucionária, o internacionalismo proletário etc tornaram-se valores comuns e cotidianos. Tais valores – em que encontram-se ligadas a tradição milenar do povo heróico e a consciência socialista – foram os fatores, entre outros, que deram ao Vietnã imbatível força frente a todos os obstáculos e agressores.

Em abril de 1975, o Vietnã conquistou a vitória final na guerra de mais de duas décadas contra o imperialismo norte-americano. A independência nacional e a reunificação do país – objetivos não negociáveis – tornaram-se realidade, satisfazendo o desejo profundo do povo guerreiro liderado pelo inesquecível Ho Chi Minh e seu glorioso Partido Comunista.

A partir desse momento, a construção do socialismo no Vietnã iniciou novas condições (de paz) e de valor (tanto no Norte quanto no Sul). Aos vietnamitas foram apresentadas muitas oportunidades, e também enormes dificuldades. Estas, de caráter objetivo, articularam-se a erros, de caráter subjetivo, impelindo o país a uma severa crise econômico-social.

Em 02 de setembro Ho Chi Minh anuncia ao mundo o nascimento da República Democrática do Vietnã. A partir desse momento, os vietnamitas entregaram-se ao cumprimento de duas tarefas unidas entre si: a de continuar a revolução democrático-popular
e a de realizar a revolução socialista

O Vietnã havia passado longo tempo desenvolvendo-se por um modelo sócio-econômico de marcado caráter burocrático e planejado administrativamente. Embora tivesse resultado inevitável, nas condições de gerra, e obtido indiscutíveis avanços, esse modelo tornou-se ineficaz e inadequado cada vez mais. A economia nacional caiu em crise assinalada por uma tremenda recessão e um grande desequilíbrio. Os recursos material e humano não haviam sido suficientemente explorados. As iniciativas do povo não tiveram oportunidade para materializar-se. A vida social vivenciava graves problemas, entre os quais: débil prática de democracia, desemprego, pobreza etc. O partido no poder, o governo e o povo do Vietnã enfrentavam o histórico desafio de renovar para sair da crise ou permanecer definitivamente no atraso. Escolheram o caminho da renovação em dezembro de 1986, cuja essência assentava-se na liberação de todos os recursos em potencial para o desenvolvimento.

Quando estava sendo desenvolvido o processo de renovação vietnamita houve muitos acontecimentos – todos grandes, complexos e importantes – configurando um contexto histórico peculiar. Eles deixaram marcas e influências na teoria e na práxis de renovação em nosso país – dos quais assinalamos:
Primeiro, o gradual – porém integral – processo de reformas e aberturas da China desde 1978 cujo conteúdo abrangia a aplicação do modelo da economia de mercado, da reestruturação de dinâmicas de desenvolvimento, da democratização da sociedade, da abertura ao mundo etc. Os exitosos resultados conquistados pela China foram uma valiosa fonte de inspiração e de experiência para o empreendimento e transcurso da renovação no Vietnã, pois ambos países possuíam semelhantes condições sócio-econômicas e idiossincrasias culturais.

Segundo, o revertério da perestróika na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que a levou a desintegração e caótica situação de conflitos, instabilidade e enfraquecimento, representou uma amarga experiência e negativa lição. Os soviéticos cometeram graves e imperdoáveis erros ao negar o passado revolucionário de sua pátria e ao praticar cegamente a terapia de “choque” para naufragar na brutal economia de mercado das máfias. Além disso, outro erro da URSS foi ter seguido inadequada or dem em relação às reformas políticas e econômicas. A dialética entre infra-estrutura e superestrutura, e entre economia e política, foi mortalmente subestimada. A isso tiveram de pagar um preço demasiadamente caro, mas inevitável.

Terceiro, os recém-industrializados países asiáticos – os tigres da Ásia – planejaram novos métodos e eficazes soluções em aspectos do desenvolvimento das sociedades agrícolas orientais. Em suas estratégias há algo de comum: a ênfase nos recursos internos como fator determinante, a prática do modelo de economia de mercado em conformidade à cultura oriental, abertura do país, a produção para a exportação e esforço para atrair investimentos estrangeiros.

Quarto, o surgimento e a consolidação de tendência a cooperação e desenvolvimento na sociedade internacional, após o fim da guerra fria, obrigou, e favoreceu, todos os países a reajustarem sua estratégia, ressaltando a obtenção de paz, soberania nacional e desenvolvimento. O Vietnã – saído de uma longa guerra – ficou atento àquela nova e positiva tendência, aproveitando-a exitosamente para o bem do povo.

Esses quatro acontecimentos mencionados esboçam o contexto histórico que influenciou o Vietnã em ambas direções. Por um lado, exigia-se uma radical mudança na concepção e na estratégia de desenvolvimento, levando em consideração o crescimento econômico como pré-requisito e condição básica. Por outro, criaram-se as oportunas condições para garantir essa urgente mudança.
Em 1986, aquele ano de arranque, o Vietnã iniciou o processo de renovação em cinco aspectos: de pensamento; da estrutura e gestão econômica; de sistema político; da política social; e da política externa.

Em relação à renovação de pensamento, fez-se profunda crítica ao subjetivismo que, durante longo tempo, desprezou as leis objetivas e as condições concretas. Ao mesmo tempo, afirmaram-se o compromisso e o respeito às exigências da realidade e da lógica de desenvolvimento da sociedade.
Com a renovação da estrutura e gestão econômica foi reconhecida a existência de múltiplas formas de propriedade e de múltiplos componentes econômicos. Declarou-se a necessidade de aplicação do modelo da economia de mercado com gestão estatal socialista.

Dezenas de anos em guerra deixaram marcas profundas no povo vietnamita e também imprimiram nítidas irregularidades em seu socialismo

Na política social, o homem foi colocado como ponto de partida e de chegada para atingir todas as ações sócio-econômicas da sociedade; aquela política social idealista não baseada nas condições econômicas reais foi abandonada; e foi exigido combinar organicamente o crescimento econômico com igualdade e progresso social.

Para renovar o sistema político foi enfatizada a necessidade de redifinição do papel dirigente do partido governante distinguindo-o do papel de Estado; de estabelecimento de novo conteúdo e método da ação dirigente do partido; de estabelecimento do Estado de direito socialista do povo, pelo povo e para o povo.

No âmbito da política externa, a renovação foi bastante expressiva. Trata-se da política de paz, independência, solidariedade, amizade, cooperação e desenvolvimento. Tudo isso como resultado do longo e conseqüente processo de aplicação da nova política externa – denominada política de ampliação e multiplicação das relações internacionais – sob o lema dirigente de o Vietnã estar disposto a ser amigo e sócio confiável de todos os países dedicados à luta por paz, cooperação e desenvolvimento.

Graças à correta política do Estado, e aos grandiosos esforços do povo, o trabalho de renovação atingiu positivos e importantes resultados de 1986 até hoje.

Os êxitos alcançados ao longo de aproximadamente 20 anos de renovação deram ao Vietnã recente ascensão e força para iniciar um período de desenvolvimento mais elevado que o anterior

O primeiro êxito foi ter mantido sua estabilidade político-social. Como se sabe, no pós-guerra fria o mundo atual caracterizou-se por uma constante convulsão e instabilidade. Na região Ásia-Pacífico em geral, e no Sudeste asiático em particular, ocorreram conflitos e explosões político-sociais em muitos países – como China, Camboja, Indonésia, Filipinas etc – vizinhos ao Vietnã. Inserido num contexto regional e internacional extremamente sensível, o nosso governo e nosso povo são conscientes de que se não conseguirem conservar a estabilidade político-social seria impossível realizar qualquer reforma, nem fazer o país dar um passo adiante. Por isso, as políticas econômica, social e cultural voltaram-se para reduzir e enfraquecer possíveis tensões e conflitos étnico-religiosos nacionais. No Vietnã não existem confrontos religiosos, choques étnicos, guerra separatista, nem golpe de Estado, crise governamental, caos constitucional etc. Durante muitos anos, as organizações internacionais reconheceram o Vietnã como um dos mercados mais estáveis da região Ásia-Pacífico. Atualmente, para nós a estabilidade político-social é condição primordial para o crescimento econômico e o desenvolvimento.

O êxito econômico foi elogiável. Ao iniciarmos a renovação em 1986, o país encontrava-se em profunda crise sócio-econômica e em 1991 sofremos uma grave perda com a desintegração da URSS, mas dela ainda pudemos sair exitosamente anos depois. Houve queda da inflação que sai da casa de mais de 700% em 1986, para 12% em 1995, e atualmente mantém-se em aproximadamente 5%. O ritmo de crescimento econômico médio anual foi de 7,2% de 1986 até hoje. Com tal ritmo – após cada 10 anos – o PIB duplicou-se. O volume da produção foi tal a ponto de garantir o consumo nacional e exportar milhões de toneladas de arroz anualmente, dando ao Vietnã o segundo lugar entre os países exportadores de arroz do mundo. O valor total da exportação durante quase duas décadas recentes subiu mais de 20% por ano e, em 2006, chegou a US$ 40 bilhões, ajudando a diminuir o excesso de importação a aproximadamente US$ 1 bilhão hoje, em comparação aos mais de 2,5 bilhões de anteriormente. Houve considerável melhora no balanço antecipado e um razoável volume de divisas com reserva. O montante de inversão total chegou a 28% do PIB em 2002 e 30% atualmente. O país atraiu mais de US$ 75 bilhões de inversão estrangeira direta (FDI) e aproximadamente US$ 30 bilhões de assistência oficial para o desenvolvimento (ODA). A estrutura econômica nacional prosperou na industrialização e na modernização. Graças a isso, a porcentagem da produção agrícola no PIB diminuiu de 45%, em 1986, para 25% hoje. Já a produção industrial aumentou ao ritmo médio anual de 13,5%, chegando atualmente a 40%. O cálculo econômico e demais princípios de gestão da economia de mercado com o papel administrador do Estado socialista modificaram basicamente a dinâmica de distribuição e o uso dos recursos para o desenvolvimento.

Do ponto de vista social, o processo de renovação foi um real benefício para todos. Embora consideremos a obtenção de rápido crescimento econômico como tarefa central para as próximas décadas não abandonamos o objetivo de construção de uma sociedade igualitária, íntegra, democrática e humana. Visando a tal objetivo o governo manifestou-se com firmeza para aproveitar de modo eficaz cada êxito econômico para melhorar a vida material e cultural do povo trabalhador. Não privilegiamos o econômico em detrimento do social, nem preterimos a tarefa de resolver os problemas sociais apenas quando houver suficientes meios econômicos. Desde o início, e constantemente, combinamos o desenvolvimento econômico com o desenvolvimento social. De 1986 até hoje o PIB per capita triplica mensalmente: de US$ 200 passa a US$ 640. Há vinte anos mais de 50% da população do país estavam em situação de miséria. Atualmente esse índice está abaixo de 15%, de um total de 86 milhões de habitantes. A cada ano o governo destina cerca de 40% do orçamento para educação e saúde pública. O Vietnã tem sido elogiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) por sua profícua política de luta contra a pobreza nos últimos anos. O índice de desenvolvimento humano (HDI) do país aumentou consideravelmente: em 1992 estava no 121º lugar e, 2006, no 105º, dentre os 175 países classificados. De sua população total 92% têm acesso à eletricidade, 80% à água potável, e seu nível de escolaridade chega ao sexto grau.

No campo das relações internacionais, o Vietnã de hoje encontra-se visivelmente renovado. Mediante negociações políticas ele conseguiu acabar com a hostilidade e o embargo por que foi perseguido durante muito tempo. Sua relação com a China foi normalizada em 1993, e em 1995 nosso país filiou-se à Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), estabeleceu relações diplomáticas com os EUA e estabeleceu Protocolo de Cooperação com a União Européia (UE). Atualmente, o Vietnã possui relacionamento diplomático pleno com 171 países; mantém relações comerciais com quase todos os países; relaciona-se com mais de 40 organizações internacionais e por volta de 600 Ong’s do mundo todo. Entrou para a Apec em 1998 e a Organização Mundial de Comércio (OMC) em 2006.

Recentemente, o Vietnã foi escolhido como membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU para 2008-09. Enquanto membro e integrante da sociedade internacional, nosso país vem agindo para participar da integração econômica internacional que, atualmente, bate à porta de todos.
Em resumo, os êxitos alcançados ao longo de aproximadamente 20 anos de renovação deram ao Vietnã recente ascensão e força para iniciar um período de desenvolvimento mais elevado que o anterior. Do ponto de vista das exigências do desenvolvimento moderno, o ponto mais significativo em seu processo de renovação assenta-se na busca e na prática de um caminho correto para avançar nas novas condições complexas desta época. Esse caminho continuará a ser aberto até 2020 – ano marco – quando o país do sudeste-asiático deverá ter cumprido os objetivos da industrialização e ser uma das nações denominadas tigres.

Nos últimos 20 anos houve grandes dificuldades e desafios para o governo e o povo do Vietnã. Ao mesmo tempo, significaram também momento oportuno para nosso país reafirmar sua independência e criatividade. Com base nos êxitos e deficiências acumulados ao longo do processo de renovação, delineamos as seguintes experiências e lições:

Primeira: mantendo firmes os objetivos programáticos da nação – a independência nacional e o socialismo – a renovação pôde seguir adiante sem riscos de desorientação. Renovar não signifca negar os feitos anteriores, mas continuar a fazê-los melhor. As gerações vietnamitas anteriores derramaram sangue pela emancipação do país e para iniciá-lo na via do socialismo. Fizeram-no com métodos próprios à sua época e, hoje, continuamos a executar essa tarefa com métodos atuais. A questão não é modificar os objetivos, mas sim realizá-los de maneira mais adequada a essas novas condições. Ao observar o mundo, percebemos que todos os países que se atreveram a atirar pedras em seu passado foram dizimados com artilharia pesada no futuro. Esta lição possui sentido amplo, tanto ético quanto prático.

Segunda: a renovação deve ser integral, sistemática e radical, mas demanda passos dialéticos e métodos adequados. Isto refere-se, essencialmente, à arte de realizar o trabalho de renovação. Isto repercute na combinação dos diferentes tipos de interesses (imediatos e amplos, materiais e ideológicos, individuais e coletivos etc) durante a determinação e o cumprimento das políticas em vários ramos. Privilegiar a renovação em qualquer setor seria renovar pela metade; renovar indistintamente todas as coisas ao mesmo tempo seria risível infantilismo político. Começar a renovar esquadrinhando antes a política, como demonstrou a URSS, levaria o país a desordem, crise e desintegração. O Vietnã adotou o seu método renovando gradualmente primeiro a economia e, depois – com cautela – a política. A certeza do método garantiu à nação de Ho Chi Minh um caminho seguro em direção ao desenvolvimento com estabilidade.

Terceira: a economia de mercado com orientação socialista torna-se necessária e possível para o desenvolvimento do Vietnã. Como se sabe, o nosso país passou muito tempo nos limites da economia burocrática e administrativamente planejada. A economia de mercado, pela mentalidade vietnamita daquela época, era vista como algo próprio do capitalismo. Hoje, a consideramos como um nível de desenvolvimento econômico da humanidade e, além disso, como um passo inevitável do processo ao socialismo no Vietnã.

Na realidade, graças à aplicação do mecanismo de gestão da economia de mercado, as potencialidades econômico-produtivas do país foram liberadas e postas em ação; as iniciativas criadoras do povo trabalhador foram estimuladas e a democracia realmente praticada num plano decisivo, que é o econômico. Os impressionantes êxitos econômicos mencionados acima são testemunho do positivo significado da economia de mercado em nosso país.

Apesar disso, a mesma realidade nacional e mundial sugere outra questão. A economia de mercado foi bem identificada como principal agente da polarização cada vez maior entre ricos e pobres; ativo provocador da comercialização das relações humanas, da cultura, da educação; perigosa fonte da proliferação dos delitos sociais e outros males. Para limitar, e evitar, essas calamidades o governo vietnamita escolheu um modelo de economia de mercado com orientação socialista. Ele implica a garantia do poder supremo do povo trabalhador na propriedade sobre os meios de produção fundamentais; a reafirmação da gestão estatal sobre a economia; a manutenção do papel diretor do setor estatal na economia nacional de multicomponentes, o uso de instrumentos macroeconômicos, entre os quais o planejamento econômico nacional; a prática da política de desenvolvimento sustentável, sadio e duradouro; a dedicação aos problemas sociais, à igualdade e ao progresso social; a erradicação da fome e a luta contra a miséria; a defesa da idiossincrasia nacional; a consolidação das conquistas revolucionárias etc.

Quarta: a grande unidade nacional é a força-motriz que promove e impulsiona o desenvolvimento da nação. O Vietnã possui 54 nacionalidades, cuja tradição comum é se tornarem um bloco único, inquebrantável frente a qualquer tipo de invasores estrangeiros. Nos anos de renovação, um dos êxitos do governo vietnamita foi ter revitalizado essa unidade nacional tradicional por meio de apropriadas políticas econômica, social e cultural. Graças a isso, consolidam-se a coesão e o consenso nacional diante da exigência de muitas tarefas importantes. As diferenças de classe, ideologia, crença religiosa, de cultura em geral dão lugar ao objetivo comum: construir um Vietnã de prosperidade, democracia, igualdade social e civilização.

Quinta: é necessário ampliar a cooperação internacional e aproveitar por vezes os recursos internos e externos; a força da nação e a força da época. Como sempre, nosso governo concebe o país como parte orgânica do mundo atual. A existência e o desenvolvimento do Vietnã dependem em muito da existência e do desenvolvimento de outras nações. A lógica de inter-relação, interação e interdependência na atual sociedade internacional não permitiria a nenhuma delas avançar solitariamente. Temos nos dedicado a perceber a tempo as novas tendências internacionais para nos incorporarmos a elas e integrarmos o mundo, com nosso talhe.

Sexta: cuidamos constantemente para que a estratégia e a política do partido governante sejam sempre justas e corretas. A fecunda história da revolução vietnamita ao longo dos cerca de 80 anos recentes (de 1930 até hoje) confirma que o papel dirigente do partido é o fator primordial e decisivo das gloriosas vitórias alcançadas. O nosso partido é o arquiteto, organizador, realizador e dirigente do trabalho de renovação. A ele se apresentam muitas novas provações, entre as quais destacamos a de adequar sua estratégia para continuar a impulsionar o país a andar no presente e no futuro. O povo do Vietnã habitua-se a ver seu partido dirigente como uma garantia de um melhor porvir.

Em 1986, aquele ano de arranque, o Vietnã iniciou o processo de renovação em cinco aspectos: de pensamento; da estrutura e gestão econômica; de sistema político; da política social; e da política externa

O processo de renovação foi uma ação de busca revolucionária para o desenvolvimento de nosso país. Tal empenho foi desenvolvido desde 1986. Com base em tudo o que foi feito durante aproximadamente 20 anos de renovação – em todos os aspectos econômico, político, social, cultural e diplomático – até hoje o Vietnã encontra-se em plenas condições para asseverar a necessidade e a certeza daquele processo renovador que inseriu o país sudeste-asiático nas tendências de desenvolvimento da época.

O processo de renovação produziu profundas mudanças e transformações na sociedade vienamita. O país saiu de uma crise sócio-econômica; sobreviveu à grave situação que surgiu com a desintegração da URSS; encontrou um novo caminho confiante de desenvolvimento; manteve sua estabilidade político-social; alcançou alto crescimento econômico; ampliou e diversificou suas relações internacionais; resolveu muitos problemas sociais herdados da guerra; fortaleceu a coesão e a unidade nacional etc. Em resumo, o poderio integral do país multiplicou-se em comparação às décadas anteriores. Portanto, o Vietnã apresenta-se perante o mundo não apenas como um povo veterano no combate por sua libertação nacional, mas também como um povo dinâmico e ativo em seu desenvolvimento. Apesar de ainda não termos alto nível de desenvolvimento, os modestos – mas importantes – êxitos alcançados durante os anos de renovação nos asseguram que seguimos num caminho correto e devemos continuar a fazê-lo cada vez melhor.

Nguyen Viet Thao é professor Doutor e Editor da Revista Political Theory Magazine da Academia Nacional de Política e Administração de Ho Chi Minh. Traduzido por Maria Lucília Ruy.

EDIÇÃO 92, OUT/NOV, 2007, PÁGINAS 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77