Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Comunicação

    Olhos verdes

    Eles verdes são: E têm por usança Na côr esperança, E nas obras não. CAMÕES, Rimas São uns olhos verdes, verdes, Uns olhos de verde-mar, Quando o tempo vai bonança; Uns olhos cor de esperança, Uns olhos por que morri; Que ai de mi! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi! Como […]

    POR: Redação

    3 min de leitura

    Eles verdes são:
    E têm por usança
    Na côr esperança,
    E nas obras não.
    CAMÕES, Rimas

    São uns olhos verdes, verdes,
    Uns olhos de verde-mar,
    Quando o tempo vai bonança;
    Uns olhos cor de esperança,
    Uns olhos por que morri;
    Que ai de mi!
    Nem já sei qual fiquei sendo
    Depois que os vi!

    Como duas esmeraldas,
    Iguais na forma e na cor,
    Têm luz mais branda e mais forte,
    Diz uma – vida, outra – morte;
    Uma – loucura, outra – amor.
     Mas ai de mi!
    Nem já sei qual fiquei sendo
    Depois que os vi!

    São verdes da cor do prado,
    Exprimem qualquer paixão,
    Tão facilmente se inflamam,
    Tão meigamente derramam
    Fogo e luz no coração;
    Mas ai de mi!
    Nem já sei qual fiquei sendo
    Depois que os vi!

    São uns olhos verdes, verdes,
    Que podem também brilhar;
    Não são de um verde embaçado,
    Mas verdes da cor do prado,
    Mas verdes da cor do mar.
    Mas ai de mi!
    Nem já sei qual fiquei sendo
    Depois que os vi!

    Como se lê num espelho,
    Pude ler nos olhos seus!
    Os olhos mostram a alma,
    Que as ondas postas em calma
    Também refletem os céus;
    Mas ai de mi!
    Nem já sei qual fiquei sendo
    Depois que os vi!

    Dizei vós, ó meus amigos,
    Se vos perguntam por mi,
    Que eu vivo só da lembrança
    De uns olhos cor de esperança,
    De uns olhos verdes que vi!
    Que ai de mi!
    Nem já sei qual fiquei sendo
    Depois que os vi!

    Dizei vós: “Triste do bardo!
    Deixou-se de amor finar!
    Viu uns olhos verdes, verdes,
    Uns olhos da cor do mar:
    Eram verdes sem esp’rança,
    Davam amor sem amar!”
    Dizei-o vós, meus amigos,
    Que ai de mi!
    Não pertenço mais à vida
    Depois que os vi!

    (1823-1864)
    Cancioneiro do amor – Os mais belos versos da poesia brasileira
    Antologia organizada por Wilson Lousada
    Livraria José Olympio Editora – 2ª edição, 1952