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    Comunicação

    Muito mais grave

    Todas as partes de minha vida têm algo teu e isso na verdade não é nada de extraordinário tu o sabes tão objectivamente como eu. No entanto há algo que gostaria de esclarecer-te, quando digo todas as partes, não me refiro só a isto de agora, a isto de esperar-te e aleluia encontrar-te, e caramba […]

    POR: Redação

    3 min de leitura

    Todas as partes de minha vida têm algo teu
    e isso na verdade não é nada de extraordinário
    tu o sabes tão objectivamente como eu.
    No entanto há algo que gostaria de esclarecer-te,
    quando digo todas as partes,
    não me refiro só a isto de agora,
    a isto de esperar-te e aleluia encontrar-te,
    e caramba perder-te,
    e voltar a encontrar,
    e oxalá nada mais.
    Não me refiro só a que de pronto digas, vou chorar
    e eu com um discreto nó na garganta, bom, chora.
    E que um lindo aguaceiro invisível nos ampare
    e quem sabe por isto saia de seguida o sol.
    Nem me refiro só a que dia após dia
    aumente o stock das nossas pequenas e decisivas cumplicidades,
    ou que eu possa crer que possa converter os meus reveses
    em vitórias,
    ou me faças o terno presente do teu mais recente desespero.
    Não.
    A coisa é muitíssimo mais grave
    quando digo todas as partes
    quero dizer que além desse doce cataclisma,
    também estás a reescrever a minha infância,
    essa idade em que dizemos coisas adultas e solenes
    e os solenes adultos comemoram-nas,
    e tu ao contrário sabes que isso não serve.
    Quero dizer que estás a rearmar a minha adolescência,
    esse tempo em que fui um velho carregado de receios,
    e tu sabes ao contrário extrair desse deserto
    o meu gérmen de alegria e presenteá-lo olhando-o.
    Quero dizer que estás a sacudir a minha juventude,
    esse cântaro que ninguém nunca pegou nas suas mãos,
    essa sombra que ninguém aproximou da sua sombra,
    e tu ao contrário sabes estremecê-la
    até que comecem a cair as folhas secas,
    e fique a armação da minha verdade sem proezas.
    Quero dizer que estás a abraçar a minha maturidade,
    esta mistura de estupor e experiência,
    este estranho confim de angústia e neve,
    esta vela que ilumina a morte,
    este precipício da pobre vida.
    Como vês é mais grave.
    Muitíssimo mais grave.
    Porque com estas ou com outras palavras
    quero dizer que não és tão só
    a querida menina que és,
    e também as esplêndidas ou cautelosas mulheres
    que quis ou quero.

     Porque graças a ti descubri,
    (dirás já era hora e com razão),
    que o amor é uma baía linda e generosa,
    que se ilumina e se escurece,
    de acordo com a vida,
    uma baía onde os barcos chegam e se vão,
    chegam com pássaros e augúrios,
    e vão-se com sirenes e nuvens carregadas.
    Uma baía linda e generosa,
    onde os barcos chegam e se vão.
    Mas tu,
    por favor,
    não te vás.

     

    Fonte: poesiaemartini.blogspot.com

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