Eles vieram ao Brasil para participar da exibição do filme “Tupac Amaru” na Cinemateca Brasileira e de outros eventos do mundo cinematográfico. Como membros do Partido Comunista do Peru, aproveitaram a estadia para acompanhar de perto o rico processo político brasileiro nessas eleições.

Federico é uma das principais figuras do cinema no seu país. Foi diretor do magistral “Tupac Amaru. El ultimo Inca” (1984), que conta a história dos últimos anos da vida do primeiro herói e mártir da independência da América Latina. Tupac liderou uma revolta popular de base indígena que abalou os alicerces da dominação colonial e a própria oligarquia “crioula”. Derrotado, preso, torturado, foi brutalmente assassinado em 1781. Seu corpo foi despedaçado por quatro cavalos.

O filme, co-produzido com ICAIC – Instituto Cubano del Arte y la Industria Cinematográficos, contou com a participação de organizações populares de Cusco. Foi considerado pela crítica internacional como um dos mais importantes da história do cinema peruano e latino-americano — recebeu, entre outros, o Prêmio da Associação de Cineastas Latino-americanos e a Menção Honrosa no Festival de Cinema de Londres em 1986.

Outro destaque de sua vasta obra é “Melgar, sangre de poeta” (1982), que trata da vida de outro herói independentista de seu país: o jovem revolucionário Mariano Melgar. O seu último filme foi El Forastero (2002).

Federico dirigiu também uma mini-série para televisão chamada “El Amauta” sobre a juventude do dirigente e teórico comunista peruano José Carlos Mariategui. Foram feitos os cinco primeiros capítulos. O projeto pretendia abarcar toda vida de Mariategui – sua participação na criação da central sindical e do Partido Comunistas —, mas não conseguiu ser concluído. O filme foi proibido em seu próprio país, acusado de incentivar o terrorismo senderista.

Durante o governo democrático e popular do General Juan Velasco Alvarado, entre 1968 e 1975, o diretor realizou inúmeras filmagens da revolução que se processava no país. O material bruto ainda não foi editado e se encontra ameaçado pelo descaso governamental.

Brasil Peru

A reunião entre os cineastas peruanos e a direção da Fundação Maurício Grabóis foi bastante frutífera. Discutiu-se a necessidade de aprofundar a integração latino-americana, especialmente na área da cultura. Concluiu-se que ainda conhecemos pouco da história e da cultura de nossos irmãos de continente. No período anterior ao o governo Lula, o Brasil – voltando suas costas para seus vizinhos do sul e seus olhos para a Europa e os Estados Unidos – pouco fez por esse intercâmbio tão necessário.

Federico e Pilar contaram ainda sobre as dificuldades de divulgar — e mesmo preservar — suas obras no Peru devido a existência de vários regimes ditatoriais e pelos longos anos de hegemonia conservadora e neoliberal, que busca impedir o acesso do povo peruano a uma cultura mais avançada, comprometida com o progresso social e o socialismo.

Ficou estabelecido que a Fundação Maurício Grabois colaborará na divulgação da produção cinematográfica peruana em nosso país. Uma das primeiras medidas seria legendar parte desses filmes e reproduzi-los para divulgação. Pela sua importância começaríamos pelas obras do próprio Federico e Pilar, como Tupac Amaru, Melgar e El Amauta. Outro passo seria batalhar por sua exibição nas redes públicas de televisão brasileiras e em outros eventos culturais. Devemos aproveitar o fato de que no ano próximo estaremos relembrando os 230 anos da morte do revolucionário indígena latino-americano Tupac Amaru para dinamizar essas propostas.