De manhã, bem cedo, ele acordou e foi para a rua. Estava frio. Ventava. Era outono. O ar estava pesado, e o céu ainda estava escuro. Colocou o pescoço encolhido dentro da blusa e caminhou, confiante em seu rumo. Logo na primeira esquina, viu um pequeno papel amassado. Passou. Mas alguma coisa o chamou a atenção, como se fosse um piparote de consciência. Voltou e apanhou o papel. Abriu. Era uma carta. Longa por sinal. Não leu. Guardou no bolso a levou para passear por um dia frio e cheio de afazeres.

      A carta conheceu seu caminho. Ouviu suas músicas secretas, cantadas na solidão da maçante caminhada. A carta pôde sentir a sua respiração ofegante durante a longa subida. Visitou seu trabalho repetitivo e vazio. Almoçou ao seu lado. Sentiu sono no início da tarde, frio no começo da noite e foi, finalmente, conhecer o seu triste lar.

      Depois do jantar, sentado frente ao abajur da sala, ele tirou o papel do bolso para ouvir aquelas palavras de alguém para alguém.

      Era uma carta de amor.

      Encantou-se com a sonoridade das palavras que, de tão sinceras, faziam-se uma voz aveludada na morna madrugada à frente do rádio ao lado da cama. Riu com os dizeres apaixonados que parecem exagerados para terceiros, mas retratam o verdadeiro estado dos corações enamorados. Pôde ouvir os “porquês” das mágoas e, assim, pode entender aquela necessidade que nós (humanos) temos de estarmos diariamente apaixonados por outro palpitar de vida.

      Ao final, pôde então perceber que aquela carta era o começo de uma nova vida. Agora, os papéis (amassados e jogados) nunca mais serão os mesmos.

Luiz Henrique Dias é escritor, membro do Núcleo de Dramaturgia do SESI de Curitiba e estudante de Arquitetura e Urbanismo e Gestão Pública. Ele escreve todas as segundas no Jornal A Gazeta do Iguaçu. Leia mais no www.blogdoluiz.com.br ou siga o Luiz no twitter @LuizHDias.