I – Observações Preliminares

 

CAMARADAS! Antes de passar à essência da questão, permití-me que faça algumas observações preliminares.

                         1. Contradições do Desenvolvimento Interno do Partido

A PRIMEIRA questão é a questão da luta dentro de nosso Partido, de uma luta que não começou ontem e que ainda não terminou.

Se considerarmos a história de nosso Partido desde o momento de sua origem na forma de grupos bolcheviques em 1902 e acompanharmos as suas etapas posteriores até os dias de hoje, pode-se então afirmar sem exagero que a história de nosso Partido é a história da luta das contradições dentro do próprio Partido, a história da superação destas contradições e o fortalecimento gradual de nosso Partido na base da superação destas contradições. Pode-se pensar que os russos sejam demasiadamente briguentos, gostem de discutir, criem divergências e por isso o desenvolvimento do Partido se processa entre nós através da superação das contradições internas do Partido. Isto não é verdade, camaradas. O problema aqui não é o de se ser belicoso. O problema aqui está na existência das divergências de princípios que surgem na marcha do desenvolvimento do Partido, no curso da luta de classes do proletariado. O problema aqui está em que só se pode superar as contradições por meio da luta por estes ou aqueles princípios, por estes ou aqueles objetivos da luta, por estes ou aqueles métodos de luta que nos conduzam ao objetivo que temos em vista. É possível e é necessário estabelecer quaisquer acordos com os heterodoxos dentro do Partido quanto às questões da política corrente, quanto às questões de caráter puramente prático.

Mas se estas questões se acham ligadas à divergências de princípios, então nenhum acordo e nenhuma linha “intermediária” pode salvar a situação. Não há e não pode haver uma linha “intermediária” nas questões que tenham caráter de princípios. Estes ou aqueles princípios devem ser colocados na base do trabalho do Partido. Uma linha “intermediária” nas questões de princípios é uma “linha” de confusão nas cabeças, uma “linha” de dissimulação das divergências, uma “linha” de degeneração ideológica do Partido, uma “linha” de morte ideológica do Partido.

Como vivem e se desenvolvem atualmente os Partidos social-democratas no Ocidente? Há entre eles contradições dentro do Partido, divergências de princípios? Há, sem dúvida. Revelam eles estas divergências e se esforçam no sentido de superá-las honrada e francamente perante as massas do Partido? Não. Não, sem dúvida! A prática da social-democracia consiste em ocultar e esconder estas contradições e divergências. A prática da social-democracia consiste em transformar as suas conferências e congressos numa vazia mascarada de exibição de bem-estar que oculta e dissimula cuidadosamente as divergências internas. Mas disto não se pode obter nada mais do que a confusão nas cabeças e o empobrecimento ideológico do Partido. Nisto se encontra uma das causas da decadência da social-democracia da Europa Ocidental que outrora foi revolucionária mas que atualmente é reformista.

Mas assim não podemos viver e progredir, camaradas. Uma política em que haja uma linha “intermediária” de princípios não é a nossa política, A política em que há uma linha “intermediária” de princípios é a política dos Partidos que se acham num processo de definhamento e de degeneração. Uma tal política não pode deixar de conduzir à transformação do Partido num aparelho burocrático vazio que marcha à reboque dos acontecimentos e isolado das massas operárias. Este caminho não é o nosso caminho.

Todo o passado de nosso Partido constituí uma confirmação da tese de que a história de nosso Partido é a história da superação das contradições internas do Partido e do fortalecimento incessante das fileiras de nosso Partido na base desta superação.

Consideremos o primeiro período, o período da “Iskra” ou o período do IIº Congresso de nosso Partido quando pela primeira vez surgiram divergências dentro de nosso Partido entre os bolcheviques e os mencheviques e quando os dirigentes de nosso Partido se dividiram, no final de contas, em duas partes: na parte bolchevique (Lênin) e na parte menchevique (Plekhanov, Axelrod, Mártov, Zassulitch e Potressov). Lênin se achava então em minoria. Se soubésseis quantos gritos e exclamações houve então a respeito dos “insubstituíveis” que haviam se afastado de Lênin! A prática da luta e a história do Partido demonstraram, porém, que estas divergências se apoiavam numa base de princípios e que estas divergências constituíam uma etapa necessária para a formação e o desenvolvimento de um Partido realmente revolucionário e realmente marxista. A pratica da luta demonstrou então que, em primeiro lugar a questão não é de quantidade, mas de qualidade e, em segundo lugar, a questão não é de unidade formal, mas de que a unidade tenha uma base de princípios. A história demonstrou que Lênin tinha razão e que os “insubstituíveis” estavam errados. A história demonstrou que sem a superação destas contradições entre Lênin e os “insubstituíveis” não teríamos um autêntico Partido revolucionário.

Consideremos o período seguinte, o período que abrange as vésperas da revolução de 1905, quando os bolcheviques e os mencheviques ainda se defrontavam dentro de um mesmo Partido como dois campos cem duas plataformas inteiramente diferentes, quando os bolcheviques se achavam às vésperas de uma cisão formal no Partido e quando eles foram forçados a convocar o seu congresso particular, o III Congresso, para a defesa da linha de nossa revolução.

Por que a parte bolchevique do Partido conquistou então a supremacia, por que conquistou as simpatias da maioria do Partido?

Porque não dissimulava as divergências de princípios e lutava pela superação destas divergências por meio do isolamento dos mencheviques.

Eu poderia citar, também, a terceira etapa de desenvolvimento de nosso Partido, o período posterior à derrota da revolução de 1905, o período de 1907, quando uma parte dos bolcheviques, os chamados “otzovistas”(2), chefiados por Bogdanov, romperam com o bolchevismo. Foi um período crítico na vida de nosso Partido. Foi o período em que toda uma série de bolcheviques da velha guarda abandonaram Lênin e seu Partido. Os mencheviques apregoavam então o fracasso dos bolcheviques. O bolchevismo, porém, não pereceu e a prática da luta de cerca de ano e meio demonstrou que Lênin seu Partido estavam certos ao travarem a luta pela superação das contradições dentro das fileiras do bolchevismo Estas contradições foram superadas não por meio de sua dissimulação, mas por meio da revelação de sua essência e por meio da luta para o bem e em proveito de nosso Partido.

Eu poderia citar, ainda, o quarto período da história de nosso Partido, o período de 1911 a 1912, quando os bolcheviques restabeleceram o Partido que havia sido destruído pela reação tsarista e expulsaram dele os liquidacionistas. Aí também, tanto quanto nos períodos anteriores, os bolcheviques se encaminharam no sentido do restabelecimento e fortalecimento do Partido não através da dissimulação das divergências de princípio com os liquidacionistas, mas através de sua descoberta e superação.

Eu poderia me referir, lambem, à quinta etapa de desenvolvimento de nosso Partido, ao período anterior à Revolução de Outubro de 1917, quando uma parte dos bolcheviques, chefiada por conhecidos líderes do Partido Bolchevique, vacilou e não quis marchar para a insurreição de Outubro, considerando-a uma aventura. Sabe-se que também esta contradição foi superada pelos bolcheviques não por meio da dissimulação das discordâncias, mas por meio de uma luta aberta pela Revolução de Outubro. A prática da luta demonstrou que sem a superação destas discordâncias poderíamos ter colocado a Revolução de Outubro em situação crítica.

Eu poderia citar, finalmente, os últimos períodos de desenvolvimento de nossa luta interna no Partido, o período da paz de Brest, o período de 1921 (discussão sindical) e os demais períodos que são conhecidos de todos nós e sobre os quais não me alongarei aqui. Sabe-se que em todos estes períodos, tanto quanto no passado, o nosso Partido cresceu e se fortaleceu através da superação das contradições internas do Partido.

Quais são, portanto, as conclusões a que chegamos?

Em primeiro lugar, chega-se à conclusão de que o PC (b) da URSS cresceu e se fortaleceu através da superação das contradições internas do Partido.

Em segundo lugar, chega-se à conclusão de que a superação das divergências internas no Partido através da luta constitui uma lei de desenvolvimento de nosso Partido.

Alguns poderão nos dizer que se trata de uma lei para o PC (b) da URSS e não para outros Partidos proletários. Isto não é verdade. Esta lei é uma lei de desenvolvimento para todo e qualquer grande Partido, trate-se do Partido proletário da URSS ou dos Partidos proletários do Ocidente. Se se pode, desta ou daquela forma, dissimular as divergências que se verifiquem num pequeno Partido de um pequeno país, cobrindo-as com a autoridade de uma ou algumas pessoas, por outro lado num grande Partido de um grande país o desenvolvimento através da superação das contradições constitui um elemento inevitável de crescimento e de fortalecimento do Partido. Assim se colocava o problema no passado. Assim se coloca o problema no presente.

Eu desejaria, aqui, invocar a autoridade de Engels que dirigiu, ao lado de Marx, os Partidos proletários no Ocidente durante dezenas de anos. Trata-se dos anos da década 80 do século passado, época em que vigorava na Alemanha uma lei de exceção contra os socialistas(3) e em que Marx e Engels se achavam em Londres, como emigrados, e quando “O Social-Democrata”(4), órgão ilegal da social-democracia alemã editado no estrangeiro, dirigia na realidade o trabalho da social-democracia alemã. Bernstein era então um revolucionário marxista (ele ainda não havia se passado para o lado dos reformistas) e Engels mantinha com o mesmo uma ativa correspondência sobre as questões mais atuais e de maior interesse da política da social-democracia alemã. Eis o que ele escreveu então a Bernstein (1882):

“É evidente que qualquer Partido operário de um grande país só pode se desenvolver na luta interna e em completa concordância com as leis do desenvolvimento dialético em geral. O Partido alemão se tornou o que ele é atualmente na luta entre os Eisenaquianos e os Lassalianos onde a própria luta representava um importante papel. A união só se tornou possível quando o bando de patifes criados especialmente por Lassale para lhe servir de instrumento já havia fracassado, e então os nossos marcharam com muita rapidez para essa unificação. Na França as pessoas que, embora tenham sacrificado a teoria bakuninista, continuam, porém, a lançar mão dos métodos bakuninistas de luta e ao mesmo tempo querem sacrificar o caráter de classe do movimento aos seus objetivos particulares, devem também, em primeiro lugar, superar a si mesmas antes que novamente se tome possível a unificação. Seria a maior estúpidas pregar a união em tais circunstâncias. Os sermões morais não dão resultado contra as doenças infantis que em vista das circunstâncias atuais são inevitáveis”(5).
Ou então, como o afirma Engels em outro local (1885):

“As contradições nunca poderão ser dissimuladas por longo tempo, são resolvidas pela luta”.(6).
Eis que é necessário, antes de tudo, explicar a existência de contradições dentro de nosso Partido e o desenvolvimento de nosso Partido através da superação destas contradições por meio da luta.


                                     2. Origens das Contradições Dentro do Partido

MAS de onde partem estas contradições e divergências, onde se encontram a sua origem?

Penso que as origens das contradições internas dos Partidos proletários residem em duas circunstâncias.

Que circunstâncias são estas?

Trata-se, em primeiro lugar, da pressão da burguesia e da ideologia burguesa sobre o proletariado e seu Partido nas condições da luta de classes — pressão a que frequentemente cedem as camadas menos firmes do proletariado, o que quer dizer também as camadas menos firmes do Partido proletário. Não se pode considerar que o proletariado esteja completamente isolado da sociedade e que se mantenha fora da sociedade. O proletariado é uma parte da sociedade e se acha ligado às suas diferentes camadas por numerosos fios. Mas o Partido é uma parte do proletariado. É por isso que o Partido não pode estar livre das ligações e influências das diferentes camadas da sociedade burguesa. A pressão da burguesia e de sua ideologia sobre o proletariado e seu Partido se manifesta no fato de que as idéias, os costumes, os hábitos e o estado de espíritoburgueses penetram frequentemente no proletariado e seu Partido através de determinadas camadas do proletariado que se encontram desta ou daquela forma ligadas à sociedade burguesa.

Trata-se, em segundo lugar, da heterogeneidade da classe operária, da existência de diferentes camadas no seio da classe operária. Penso que se poderia dividir o proletariado, como classe, em três camadas.

A primeira camada é constituída pela massa fundamental do proletariado, o seu cerne, a sua parte constante, é a massa dos proletários “puro-sangue” que já rompeu de há muito as suas ligações com a classe capitalista. Esta camada do proletariado constitui o esteio mais firme do marxismo.

A segunda camada é constituída pelos elementos recém-saídos das classes não proletárias, do campesinato, das fileiras da pequena burguesia e da intelectualidade. Trata-se de elementos provenientes de outras classes que apenas recentemente se integraram na composição do proletariado e que introduzem na classe operária os seus hábitos, os seus costumes, as suas vacilações e as suas indecisões. Esta camada constitui o campo mais favorável para todo gênero de agrupamentos anarquistas, semi-anarquistas e “ultra-esquerdistas”.

E finalmente temos a terceira camada — é a aristocracia operária, a cúpula da classe operária, a parte do proletariado mais acomodada, com a sua tendência a estabelecer compromissos com a burguesia, com o seu estado de espírito predominante no sentido da adaptação aos poderosos do mundo, com a sua tendência a “vencer na vida”. Esta camada constitui o campo mais favorável para os reformistas e oportunistas rematados.

Apesar da diferença exterior, estas duas últimas camadas da classe operária representam mais ou menos o melo comum que alimenta o oportunismo em geral, o oportunismo descarado, quando predominam os estados de espíritoda aristocracia operária, e o oportunismo que se cobre com uma fraseologia “de esquerda”, quando predominam os estados de espírito das camadas semi-burguesas da classe operária que ainda não romperam inteiramente com o meio pequeno-burguês, o fato de que os estados de espírito “ultra-esquerdistas” coincidem frequentemente com o estado de espíritode um oportunismo descarado — é um fato que nada apresenta de extraordinário. Lênin, afirmou por mais de uma vez que a oposição “ultra-esquerdista” é o reverso da oposição de direita, menchevique e francamente oportunista. E nisto ele tem toda razão. Se um elemento “ultra-esquerdista” é pela revolução somente pelo fato de que espera para amanhã mesmo a vitória da revolução, então se torna claro que ele deve cair em desespero e se desiludir da revolução se se verificar um atraso da revolução, se a revolução não vencer amanhã mesmo.

É natural que em cada reviravolta do desenvolvimento da luta de classes e em cada aguçamento da luta e intensificação das dificuldades a diferença de opiniões, nos hábitos e nos estados de espírito das diferentes camadas do proletariado deve se manifestar inevitavelmente sob o aspecto de determinadas divergências dentro do Partido e a pressão da burguesia e da sua ideologia devem aguçar inevitavelmente estas divergências, apresentando-as sob a forma de luta dentro do Partido proletário.

Tais são as origens das contradições e divergências internas do Partido.

Pode-se evitar estas contradições e divergências? Não, não se pode. Pensar que se possa evitar essas contradições significa enganar-se a si mesmo. Engels tinha razão quando afirmou que não se pode dissimular as contradições dentro do Partido por longo tempo e que estas contradições são resolvidas pela luta.

Isto não quer dizer que o Partido deva ser transformado em clube de discussão. O Partido proletário, ao contrário, é e deve continuar a ser uma organização de luta do proletariado. Eu quero apenas dizer que não se pode passar por alto e fechar os olhos em face das divergências dentro do Partido se estas divergências assumem um caráter de princípios. Quero apenas dizer que é somente por meio da luta pela linha marxista de princípios, que se poderá preservar o Partido proletário da pressão e influência da burguesia. Quero apenas dizer que é somente por meio da superação das contradições internas do Partido que se poderá conseguir a pureza e o fortalecimento do Partido.

                           II — As Particularidades da Oposição no PC (b) da URSS

PERMITÍ-ME que eu passe agora das observações preliminares para a questão da oposição no PC (b) da URSS.

Desejaria, em primeiro lugar, assinalar algumas particularidades da nossa oposição interna no Partido. Tenho em vista as suas particularidades exteriores, que saltam aos olhos e por enquanto não me refiro à essência destas divergências. Penso que se poderia reduzir estas particularidades a três particularidades principais. Trata-se, em primeiro lugar do fato de que a oposição no PC (b) da URSS é uma oposição unificada e não uma “simples” oposição qualquer. Trata-se em segundo lugar, do fato do que a oposição tenta mascarar o seu oportunismo com uma fraseologia “de esquerda”, ostentando palavras de ordem “revolucionárias”. Trata-se, em terceiro lugar, do fato de que a oposição, em vista da sua imprecisão de princípios, queixa-se de vez em quando de que não é compreendida e que os seus líderes representam na realidade uma fração de “incompreendidos”. (Risos).

Comecemos pela primeira particularidade. Como se explica o fato de que a oposição se apresente entre nós como uma oposição como bloco de todas e quaisquer tendências condenadas anteriormente pelo Partido e em que ela se apresenta não como uma simples oposição, mas tendo à frente o trotskismo?

Este fato é explicável pela seguinte circunstância.

Em primeiro lugar, pelo fato de que todas as tendências que se unem em bloco — os trotskistas, a “nova oposição”, os restos do “centralismo democrático”(7) e os restos da “oposição operária(8) — todas elas são tendências mais ou menos oportunistas que ou lutam contra o leninismo desde que surgiram ou iniciaram ultimamente a luta contra o mesmo. Não é preciso dizer que este traço comum devia facilitar a sua unificação em bloco para a luta contra o Partido.

Em segundo lugar, o caráter de reviravolta do período que atravessamos e a circunstância de que o atual período de reviravolta coloca sem rodeios as questões básicas de nossa revolução e como todas estas tendências se afastaram e continuam a se afastar do nosso Partido quanto a tais ou quais questões da revolução, é natural, então, que o caráter geral do período atual, ao fazer um balanço de todas as nossas divergências, pusesse todas estas divergências num só bloco, num bloco contra a linha fundamental de nosso Partido. Não é preciso dizer que esta circunstância não pôde deixar de facilitar a unificação das diferentes tendências oposicionistas num campo comum.

Em terceiro lugar, a poderosa força e coesão de nosso Partido, por um lado, e a fraqueza de todas as tendências oposicionistas sem exceção e seu isolamento das massas, por outro lado, é uma circunstância que não podia deixar de fazer com que a falta de unidade destas tendências na luta contra o nosso Partido a tornasse bastante insegura e que, em vista disso, as tendência oposicionistas deviam enveredar inevitavelmente pelo caminho da unificação de forças para, com a junção de grupos separados, compensara sua fraqueza e por isso mesmo aumentar, embora aparentemente, as probabilidades da oposição.

Pois bem, e como se explica o fato de que sejam precisamente os trotskistas que se, apresentam à frente do bloco oposicionista?

Em primeiro lugar, pelo fato de que o trotskismo constitui a tendência mais completa do oportunismo em nosso Partido entre todas as tendências oposicionistas existentes (O V Congresso da Internacional Comunista estava certo ao qualificar o trotskismo como um desvio pequeno-burguês)(9).

Em segundo lugar, pelo fato de que nenhuma tendência oposicionista em nosso Partido sabe mascarar, com tanta habilidade e artifício, o seu oportunismo com uma fraseologia “de esquerda” e revolucionária, como o trotskismo (Risos).

Não é a primeira vez, na história de nosso Partido, que o trotskismo se apresenta à frente das tendências oposicionistas contra o nosso Partido. Desejaria me referir a um precedente conhecido que teve lugar, na história de nosso Partido, de 1910 a 1914, quando se formou um bloco, chefiado por Trotski, de tendências oposicionista» e anti-partidárias, o chamado bloco de Agosto. Eu desejaria me referir a este precedente porque ele representa uma espécie de protótipo do atual bloco oposicionista. Nessa ocasião Trotski unificou, contra o Partido, os liquidacionistas (Potressov, Mártov e outros), os otzovistas (os “vperiodistas”) e o seu próprio grupo. E atualmente ele tenta unificar num bloco oposicionista a “oposição operária”, a “nova oposição” e o seu próprio grupo.

Sabe-se que Lênin lutou então contra o bloco de Agosto durante três anos. Eis o que escreveu Lênin então a respeito do bloco de Agosto, às vésperas de sua formação:

“Por isso declaramos, em nome do Partido em seu conjunto, que Trotski segue uma política anti-partidária; — que ele infringe os estatutos do Partido e se lança pelo caminho da aventura e da cisão… Trotski cala a respeito desta verdade incontestável porque, em virtude dos objetivos reais de sua política, a verdade lhe é insuportável. E os seus objetivos reais tornam-se cada vez mais claros e tornam-se evidentes até mesmo para os membros do Partido menos clarividentes. Estes objetivos reais são a constituição de um bloco anti-partidário dos Protessov com os vperiodistas, bloco que Trotski apóia e organiza… Este bloco, sem dúvida, apóia o “fundo” de Trotski e da conferência, anti-partidária por ele convocada porque tanto os senhores Potressov como os vperiodistas conseguem aqui o que lhes é necessário; a liberdade para suas frações, a sua consagração, uma máscara para a sua atividade e a sua defesa legal perante os operários.
E eis que justamente do ponto de vista das “bases de principio” não podemos deixar de considerar este bloco como aventurismo no sentido mais preciso da palavra. Trotski não ousa disser que ele vê nos Potressov e nos otzovistas autênticos marxistas e verdadeiros defensores dos princípios do social-democratismo. Nisto está a essência da posição de aventureiro que ele se esforça permanentemente por mascarar. O bloco de Trotski com Potressov e os vperiodistas é uma aventura precisamente do ponto de vista das “bases de princípio”. Isto não é menos verdadeiro do ponto de vista das tarefas político-partidárias… A experiência do ano decorrido após o pleno demonstrou de fato que são precisamente os grupos de Potressov e que é justamente a fração dos vperiodistas que encarnam esta influência burguesa sobre o proletariado… E finalmente, em terceiro lugar, a política de Trotski é uma aventura do ponto de vista da organização, porque, como já o indicamos, ela infringe os estatutos do Partido e, ao organizar uma conferência em nome de um grupo do estrangeiro (ou em nome de um bloco constituído de duas frações anti-partidárias, os golossoviets e os vperiodistas) envereda diretamente pelo caminho da cisão”.(10)
Assim se manifestou Lênin a propósito do primeiro bloco das tendências anti-partidárias chefiadas por Trotski.

O mesmo é preciso dizer no fundamental, mas com dureza ainda maior, quanto ao bloco atual das tendências anti-partidárias chefiadas também por Trotski.

Eis o motivo pelo qual a nossa oposição manifesta atualmente na forma de oposição unificada e se manifesta não “simplesmente” mas chefiada pelo trotskismo.

Tal é a situação do problema no que se refere à primeira particularidade da oposição.

Passemos a segunda particularidade. Eu já afirmei que a segunda particularidade da oposição consiste na sua tendência, que se fortaleceu, a encobrir o seu trabalho oportunista com uma fraseologia “de esquerda”, “revolucionária”.

Eu não considero possível me alongar aqui quanto aos fatos que demonstram as constantes divergências entre as palavras “revolucionárias” e os atos oportunistas que se verificam na vida prática de nossa oposição. Basta consultar, por pouco que seja, as teses sobre a oposição, aprovadas pela conferência do PC (b) da URSS(11) para se compreender, o mecanismo desse mascaramento. Eu só desejaria citar alguns exemplos da história de nosso Partido que afirmam que todas as tendências oposicionistas em nosso Partido durante o período decorrido após a tomada do poder se esforçavam no sentido de mascarar os seus atos anti-revolucionários com uma fraseologia “revolucionária”, criticando invariavelmente o Partido e a sua política “de esquerda”.

Consideremos, por exemplo, os comunistas “de esquerda” que se manifestaram contra o Partido no período da paz de Brest (1918). Sabe-se que criticavam o Partido do ponto de vista “da esquerda” ao se manifestarem contra a paz de Brest e ao qualificarem a política do Partido como oportunista, anti-proletária e conciliadora em relação aos imperialistas. E de fato se verificou que, ao se manifestarem contra a paz de Brest, os comunistas “de esquerda” impediam que o Partido conseguisse uma “trégua” para a organização e o fortalecimento do Poder Soviético, ajudavam aos social-revolucionários e aos mencheviques que eram então contra a paz de Brest e facilitavam a tarefa do imperialismo que visava sufocar o Poder Soviético no próprio nascedouro.

Consideremos a “oposição operária” (1921). Sabe-se que ela também criticou o Partido do ponto de vista “da esquerda”, “fulminando” de todas as formas a política da NEP. (Nova Política Econômica) e “pulverizando” a tese de Lênin de que é necessário iniciar o restabelecimento da indústria pelo desenvolvimento da agricultura que fornece as matérias primas e os gêneros alimentícios para a indústria, “pulverizando” esta tese de Lênin como esquecimento dos interesses do proletariado e como desvio camponês. Mas na realidade se verificou que sem a política da NEP, sem o desenvolvimento da agricultura que fornece as matérias primas e os gêneros alimentícios à indústria não teria havido entre nós nenhuma indústria e o proletariado perderia as suas características de classe. Sabe-se, além disso, em que sentido a “oposição operária” começou a progredir depois de tudo isso, para a direita ou para a esquerda.

Consideremos, finalmente, o trotskismo que já há alguns anos critica o nosso Partido do ponto de vista “da esquerda” e que constitui, ao mesmo tempo, segundo a correta classificação do V Congresso da Internacional Comunista, um desvio pequeno-burguês. O que pode haver de comum entre um desvio pequeno-burguês e a verdadeira revolução? Não é verdade que uma fraseologia “revolucionária” constitui aqui apenas a cobertura de um desvio pequeno-burguês?

Já não falo da “nova oposição”, cuja gritaria “esquerdista” serve para dissimular a sua escravização ao trotskismo.

O que nos revelam todos estes fatos?

Eles nos revelam que o mascaramento “esquerdista” de sua atividade oportunista constitui um dos traços característicos de todas e quaisquer tendências oportunistas no nosso Partido durante o período posterior à tomada do poder.

Como se explica esse fenômeno?

Explica-se pelo espírito revolucionário do proletariado da URSS e pelas imensas tradições revolucionárias que possui o nosso proletariado. Isto se explica pelo intenso ódio dos trabalhadores da URSS aos elementos contra-revolucionários e oportunistas. Isto se explica pelo fato de que os nossos operários simplesmente se negarão a ouvir um oportunista notório e por isso a máscara “revolucionária” constitui o engodo que deve, embora de forma aparente, atrair a atenção dos operários e inspirar-lhes confiança na oposição. Os nossos operários não poderão, por exemplo, compreender por que até agora os operários ingleses não chegaram a perceber a necessidade de afogar traidores da espécie de um Thomas, a necessidade de jogá-los no poço. (Risos). Todo aquele que conhece os nossos operários compreenderá facilmente que não haveria lugar entre os trabalhadores soviéticos para pessoas e oportunistas da espécie de Thomas. E apesar disso todos nós sabemos que os trabalhadores ingleses não somente não pretendem afogar os senhores Thomas, mas ainda os reelegem para o Conselho Geral(12) e não simplesmente os reelegem mas ainda lhes fazem uma demonstração de apreço. É claro que esses operários não exigem do oportunismo uma máscara revolucionária porque eles atualmente aceitam de boa vontade os oportunistas em seu meio.

E como se explica esse fato? Explica-se pela ausência de tradições revolucionárias entre os operários ingleses. Elas, estas tradições revolucionárias, começam a se formar agora. Surgem e se desenvolvem e não temos motivos para duvidar de que os operários ingleses se temperarão nos combates revolucionários. Mas até que isso aconteça permanece a diferença existente entre os operários ingleses e soviéticos. Esta circunstância explica, em particular, o fato de que seja arriscado para os oportunistas se aproximarem dos operários da URSS sem algum disfarce “revolucionário”.

Eis onde residem as causas do disfarce “revolucionário” do bloco oposicionista.

Consideremos, finalmente, a terceira particularidade da oposição. Já afirmei que esta particularidade reside na imprecisão de princípios do bloco oposicionista, na sua falta de princípios, na sua forma rudimentar e nas constantes queixas que daí decorrem dos líderes da oposição no sentido de que “não são compreendidos”, “deturpam o seu pensamento” e lhes são atribuídas afirmações “que não fizeram”, etc. Trata-se, realmente, de uma fração de “incompreendidos”. A história dos partidos proletários nos ensina que esta particularidade (“não nos compreendem!”) constitui a particularidade mais comum e mais conhecida do oportunismo em geral. Deveis saber, camaradas, que “aconteceu” exatamente o mesmo com os conhecidos oportunistas Bernstein, Volmar, Auer e outros nas fileiras da social-democracia alemã em fins de 1890 e em princípios de 1900, quando a social-democracia alemã era revolucionária e quando esses oportunistas incorrigíveis se queixaram, por muitos anos, de que “não eram compreendidos” e que “desfiguravam” o seu pensamento. Sabe-se que os social-democratas revolucionários alemães chamavam então a fração de Bernstein de fração dos “incompreendidos”. Não se pode considerar casual o fato de que tenhamos, dessa forma, que incluir o bloco oposicionista nas fileiras da fração dos “incompreendidos”.

Tais são as particularidades principais do bloco oposicionista.

                                 III — As Divergências no PC (b) da URSS

PASSEMOS a considerar a essência dessas divergências. Penso que se poderia reduzir as nossas divergências a algumas questões fundamentais. Não me referirei a estas questões detalhadamente porque disponho de pouco tempo para isso e meu informe se tornaria muito longo. Tanto mais quanto tendes materiais relativos às questões que se referem ao PC (b) da URSS os quais, é verdade, contém alguns erros de tradução mas que, apesar disso, nos dão, no fundamental, uma noção exata das divergências existentes no nosso Partido.

                                        1 — Os Problemas da Construção Socialista

PRIMEIRA QUESTÃO — A primeira questão é a questão da possibilidade da vitória do socialismo em um único país, a questão da possibilidade da construção vitoriosa do socialismo. Não se trata, evidentemente, do Montenegro ou mesmo da Bulgária, mas do nosso país, da URSS. Trata-se de um país onde existiu, e se desenvolveu o imperialismo, onde há um certo mínimo de indústria pesada, onde há um certo mínimo de proletariado e onde há um Partido que dirige o proletariado. Assim sendo, é possível a vitória do socialismo na URSS, é possível construir aqui o socialismo na base das forças internas de nosso país, na base das possibilidades que se acham à disposição do proletariado da URSS?

Mas o que significa construir o socialismo se traduzirmos esta fórmula na linguagem concreta de classe? Construir o socialismo na URSS — significa superar, no curso da luta, e com as nossas próprias forças, a nossa burguesia, soviética. Por conseguinte, a questão está em se saber se o proletariado da URSS é capaz de superar a sua própria burguesia, soviética. Por isso, quando se fala da possibilidade de se construir o socialismo na URSS com isso se quer saber se o proletariado da URSS é capaz de superar com as suas próprias forças a burguesia da URSS. É assim e somente assim que se coloca a questão ao se solucionar o problema da construção do socialismo em nosso país.

O Partido responde a esta pergunta afirmativamente porque parte do fato de que o proletariado da URSS e a ditadura proletária na URSS têm a possibilidade de superar a burguesia da URSS com as suas próprias forças.

Se isso estivesse errado, se o Partido não tivesse razões para afirmar que o proletariado da URSS é capaz de construir a sociedade socialista, apesar do relativo atraso técnico de nosso país, então o Partido não teria motivos para permanecer por mais tempo no poder, deveria abandonar o poder desta ou daquela forma e passar para a situação de um Partido da oposição.

Uma das duas: ou podemos edificar o socialismo e construí-lo apesar de tudo, superando a nossa burguesia “nacional” — e então o Partido é obrigado a manter-se no poder e dirigir a construção socialista no país em prol da vitória do socialismo em todo o mundo; ou não estamos em condições de superar a nossa burguesia com as nossas próprias forças — e então, tendo em vista a ausência de um apoio imediato de fora, por parte da revolução vitoriosa em outros países, devemos honradamente e sem subterfúgios nos afastarmos do poder e orientar a nossa atividade no sentido da organização de uma nova revolução na URSS no futuro.

Pode o Partido enganar a sua classe, neste caso a classe operária? Não, não pode. Ainda não existiu até hoje um Partido desse tipo.

Mas é precisamente pelo fato de que o nosso Partido não tem o direito de enganar a classe operária que ele deveria dizer francamente que a falta de certeza na possibilidade da construção do socialismo em nosso país leva ao afastamento do poder e à passagem de nosso Partido da situação de dirigente à situação de Partido de oposição.

Conquistamos a ditadura do proletariado e por isso mesmo criamos a base política para o nosso avanço no sentido do socialismo. Podemos criar com as nossas próprias forças a base econômica do socialismo, um novo alicerce econômico indispensável à construção do socialismo? Em que consiste a essência econômica e a base econômica do socialismo? Não está em se implantar sobre a terra o “paraíso celestial” e a alegria para todos? Não, não se trata disso. Esta é a noção do filisteu e do pequeno-burguês da essência econômica do socialismo. Criar a base econômica do socialismo significa tornar a agricultura estreitamente unida à indústria socialista de maneira que formem uma única economia total, submeter a agricultura à direção da indústria socialista, organizar as relações entre a cidade e o campo na base da troca dos produtos da agricultura e da indústria, fechar e liquidar todos os canais pelos quais se originam as classes e se origina, em primeiro lugar, o capital, criar, no final de contas, as condições de produção e distribuição que conduzam direta e rapidamente à liquidação das classes.

Eis o que afirmou a respeito o camarada Lênin na época em que se estabeleceu a NEP, quando a questão da construção da base socialista da economia nacional se apresentou ao Partido em toda a sua amplitude:

“A substituição do imposto em espécie pelo imposto fiscal e a sua significação de princípio: do comunismo “de guerra” para a base segura do socialismo. Nem o imposto em espécie nem o imposto fiscal, mas a troca dos produtos da grande indústria (“socializada”) por produtos camponeses, tal é a essência econômica do socialismo, a sua base”.(13)
Eis como Lênin encara a questão da criação da base econômica do socialismo.

Mas para se unir estreitamente a agricultura à indústria socializada é necessário, em primeiro lugar, possuir-se uma ampla rede de órgãos de distribuição de produtos, uma ampla rede de órgãos cooperativos tanto de consumo como de produção. Foi justamente desta tese que Lênin partiu quando afirmou na sua brochura “Sobre a “Cooperação” que:

“A cooperação, nas nossas condições, coincide inteiramente, muitas vezes, com o socialismo”.(14)
Assim sendo, pode o proletariado da URSS construir, com as suas próprias forças, a base econômica do socialismo nas condições do cerco capitalista de nosso país?

O Partido responde a esta pergunta afirmativamente (Vide a resolução da XIV conferência do PC (b) da URSS (15), Lênin responde afirmativamente a esta pergunta (Basta consultar o seu folheto “Sobre a Cooperação”). Toda a prática de nossa construção dá uma resposta afirmativa a esta pergunta, porque a parte do setor socialista de nossa economia aumenta de ano a ano às custas do setor do capital privado tanto no domínio da produção como no domínio da troca e o papel do capital privado em relação ao papel dos elementos socialistas de nossa economia diminui de significação de ano a ano.

Pois bem, como a oposição responde a esta pergunta?

Ela dá a esta questão uma resposta negativa.

Daí se conclui que é possível a vitória do socialismo em nosso país e que se pode considerar assegurada a possibilidade da construção da base econômica do socialismo.

Isto significa que se pode denominar essa vitória de vitória integral; a vitória definitiva do socialismo que garanta o país em que se constrói o socialismo em face de qualquer perigo oriundo do exterior, do perigo da intervenção imperialista e da restauração que a mesma acarreta? Não, não significa. Se a questão da construção do socialismo na URSS constitui a questão da superação de nossa burguesia “nacional”, então a questão da vitória definitiva do socialismo é a questão da superação da burguesia mundial. O Partido afirma que o proletariado de um único país não se acha em condições de suplantar com as suas próprias forças a burguesia mundial. O Partido afirma que para a vitória definitiva do socialismo num único país torna-se indispensável a superação ou, pelo menos, a neutralização da burguesia mundial. O Partido afirma que somente o proletariado de alguns países possui forças para a realização dessa tarefa. É por isso que a vitória definitiva do socialismo neste ou naquele país significa a vitória da revolução proletária, no mínimo, em alguns países.

Esta questão não provoca em nosso Partido divergências dignas de menção e por isso não me alongarei a respeito da mesma, indicando aos interessados os materiais elaborados pelo CC de nosso Partido e distribuídos há dias aos membros do pleno ampliado do Comitê Executivo da Internacional Comunista.

                                                        2. Os Fatores da Trégua

Segunda questão. A segunda questão diz respeito aos problemas das condições que caracterizam a atual situação internacional da URSS, das condições do período de “trégua” em cujo decurso teve início e se desenvolveu entre nós o trabalho de construção do socialismo. Podemos e devemos construir o socialismo na URSS. Mas para se construir o socialismo é preciso, em primeiro lugar, existir. Foi preciso que houvesse uma “trégua” na guerra, foi preciso que não houvesse tentativas de intervenção, foi preciso que se conquistasse certo mínimo de condições internacionais indispensáveis para que pudéssemos existir e construir o socialismo.

Pergunta-se: sobre que se baseia a atual situação internacional da República dos Soviets, o que determina a presente etapa “pacífica” de desenvolvimento de nosso país nas suas relações com os países capitalistas, em que se baseia esta “trégua” ou esse período de “trégua” já conquistado e que não dá ao mundo capitalista a possibilidade para tentativas imediatas de intervenção séria e que cria as condições exteriores indispensáveis à construção do socialismo em nosso país, se está provado que existe e continuará existindo o perigo de intervenção e que este perigo só pode ser liquidado como resultado da vitória da revolução proletária numa série de países?

O período atual de “trégua” se baseia, no mínimo, em quatro fatos básicos.

Em primeiro lugar, nas contradições existentes no campo dos imperialistas que não diminuem e que dificultam um acordo contra a República dos Soviets.

Em segundo lugar, nas contradições entre o imperialismo e os países coloniais, no progresso do movimento de libertação nos países coloniais e dependentes.

Em terceiro lugar, no progresso do movimento revolucionário nos países capitalistas e na crescente simpatia dos proletários de todos os países em relação à República dos Soviets. Os proletários dos países capitalistas ainda não têm forças para apoiar os proletários da URSS com uma revolução direta contra os capitalistas de seus países.

Mas os capitalistas das nações imperialistas já não têm forças para movimentar os “seus” operários contra o proletariado da URSS porque a simpatia dos proletários de todos os países em relação à República dos Soviets aumenta e não pode deixar de aumentar dia a dia. E hoje, é impossível fazer a guerra sem os operários.

Em quarto lugar, na força e no poderio do proletariado da URSS, nos êxitos da sua construção socialista, na força de organização do seu Exército Vermelho.

A combinação destas e de condições semelhantes dá origem ao período de “trégua” que constitui o traço característico da atual situação internacional da República dos Soviets.

3. A Unidade e a Indissolubilidade das Tarefas “Nacionais” e Internacionais da Revolução

Terceira questão. A terceira questão diz respeito aos problemas das tarefas “nacionais” e internacionais da revolução proletária neste ou naquele país. O Partido parte do fato de que as tarefas “nacionais” e internacionais do proletariado da URSS se fundem numa única tarefa comum de libertação dos proletários de todos os paises do capitalismo, que os interesses da construção do socialismo em nosso país se fundem de modo cabal e completo com os interesses do movimento revolucionário de todos os países no interesse único comum da vitória da revolução socialista em todos os países.

O que haveria se os proletários de todos os países não simpatizassem com a República dos Soviets, e não a apoiassem? Haveria a intervenção e o aniquilamento da República dos Soviets.

O que aconteceria se o capital conseguisse destruir a República dos Soviets? Sobreviria uma época da mais negra reação em todos os países capitalistas e coloniais, começariam a sufocar a classe operária e os povos oprimidos e seriam liquidadas as posições do comunismo internacional.

O que acontecerá se a simpatia e o apoio dos proletários de todos os países à República dos Soviets se intensificarem e aumentarem?

Isto facilitará, de maneira radical, a construção do socialismo na URSS.

O que acontecerá se aumentarem os êxitos da construção socialista na URSS? Isto melhorará de maneira radical as posições revolucionárias dos proletários de todos os países na sua luta contra o capital, minará as posições do capital internacional na sua luta contra o proletariado e aumentará de muito as possibilidades do proletariado mundial.

Mas segue-se daí que os interesses e as tarefas do proletariado da URSS se entrelaçam e se unem indissoluvelmente aos interesses e tarefas do movimento revolucionário de todos os países, e, por outro lado, as tarefas dos proletários revolucionários de todos os países se ligam indissoluvelmente às tarefas e êxitos dos proletários da URSS na frente da construção socialista.

É por isso que contrapor as tarefas “nacionais” dos proletários deste ou daquele país às suas tarefas de caráter internacional significa cometer o mais profundo erro em política.

É por isso que considerar o zelo e a paixão na luta dos proletários da URSS na frente da construção socialista como indício de “estreiteza nacional” e “exclusivismo nacional”, como às vezes o fazem os nossos oposicionistas, significa loucura ou infantilidade.

É por isso que a consolidação da unidade e da indissolubilidade dos interesses e tarefas dos proletários de um país com os interesses e tarefas dos proletários de todos os países constitui o caminho mais seguro da vitória do movimento revolucionário dos proletários de todos os países.

É precisamente por isso que a vitória da revolução proletária num determinado país não constitui um objetivo em si mesmo, mas um meio e uma ajuda ao desenvolvimento e à vitória da revolução em todos os países.

É por esse motivo que construir o socialismo na URSS significa realizar a tarefa comum dos proletários de todos os países, significa forjar a vitória sobre o capital não somente na URSS mas também em todos os países capitalistas, uma vez que a revolução na URSS é parte da revolução mundial, o seu começo é a base do seu desenvolvimento.

                  4. Sobre a História do Problema da Construção do Socialismo

Quarta questão. A quarta questão diz respeito à história do problema que estamos analisando. A oposição afirma que a questão da construção do socialismo num único país foi colocada pela primeira vez no nosso Partido em 1926. Em todo caso, Trotski afirmou claramente na conferência:

“Por que exigem o reconhecimento teórico da construção do socialismo em um único país? De onde surgiu essa perspectiva? Por que ninguém apresentou este problema antes de 1925?”
Conclui-se, dessa forma, que esta questão não se apresentou ao nosso Partido antes de 1925. Conclui-se que somente Stálin e Bukharin apresentaram esta questão ao Partido e a apresentaram em 1925.

Isso é verdade? Não, não é.

Afirmo que o problema da construção da economia socialista num único país foi apresentado pela primeira vez ao Partido por Lênin ainda em 1915. Afirmo que quem então replicou a Lênin não foi outro senão Trotski. Afirmo que desde aquela época, isto é, a partir de 1915, o problema da construção da economia socialista num único país foi tratado, por diversas vezes, em nossa imprensa e em nosso Partido.

Citemos os fatos.

a) 1915. Artigo de Lênin no órgão central dos bolcheviques (no “O Social-Democrata”)(16): “A palavra de ordem dos Estados Unidos da Europa”. Eis o que afirma Lênin nesse artigo:

“Como palavra de ordem independente, porém, a palavra de ordem de Estados Unidos do mundo não seria justa, provavelmente, em primeiro lugar porque se funde com o socialismo; em segundo lugar porque poderia dar lugar a uma interpretação errônea sobre a impossibilidade da vitória do socialismo em um único país e sobre as relações desse país com os demais.
A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Donde se conclui que é possível que o socialismo comece triunfando somente em alguns países capitalistas e inclusive em um só país isoladamente. O proletariado triunfante deste país, depois de expropriar os capitalistas e de organizar a produção socialista dentro de suas fronteiras (o grifo é meu — St,) se levantaria contra o resto do mundo, contra o mundo capitalista, atraindo para seu lado as classes oprimidas dos demais países, organizando neles a insurreição contra os capitalistas e empregando, se necessário, inclusive a força das armas contra as classes exploradoras e seus Estados..,” Porque “a livre união das nações no socialismo é impossível sem uma luta mais ou menos prolongada e tenaz das repúblicas socialistas contra os Estados atrasados”(17).
Citamos a seguir a réplica de Trotski, publicada no mesmo ano de 1915 no órgão “A Nossa Palavra”, dirigido por Trotski(18):

“A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo”.
Daqui “o Social-Democrata” (órgão central dos bolcheviques. em 1915, onde foi publicado o citado artigo de Lênin. — Stálin) chegou à conclusão de que é possível a vitória do socialismo em um único país e que por isso não há motivo para condicionar a ditadura do proletariado em cada país considerado isoladamente à criação dos Estados Unidos da Europa… Que nenhuma nação, em sua luta, deve “aguardar” a outras — é um pensamento elementar que é útil e indispensável repetir para que a idéia de ação internacional que se desenvolva paralelamente não seja substituída pelas idéias de inatividade internacional expectante. Não esperando por outros, iniciamos e continuamos a luta numa base nacional com a plena certeza de que a nossa iniciativa dará impulso à luta nos demais países; e se isto não aconteceu então é inútil julgar — como o atestam tanto a experiência da história como as considerações teóricas — que, por exemplo, a Rússia revolucionária pudesse resistir em face da Europa conservadora, ou a Alemanha socialista pudesse se manter isolada no mundo capitalista. Considerar as perspectivas da revolução social dentro dos limites nacionais significaria tornar-se vítima da mesma estreiteza nacional que constitui a essência do social-democratismo” (O grifo é meu — J. St.).

Vemos que o problema da “organização da produção socialista” foi colocado por Lênin já em 1915, às vésperas da revolução democrático-burguesa na Rússia, na época da guerra imperialista, quando a questão da transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista se apresentava na ordem do dia.

Vemos que quem então replicou a Lênin não foi outro senão Trotski que, evidentemente, sabia que o artigo de Lênin trata da “vitória do socialismo” e da possibilidade da “organização da produção socialista num único país”.

Vemos que a acusação a respeito da “estreiteza nacional” foi pela primeira vez apresentada por Trotski já em 1915 a essa acusação era dirigida não contra Stálin ou Bukharin, mas contra Lênin.

Hoje Zinoviev, de vez em quando, põe em circulação a ridícula acusação de “estreiteza nacional”. Ele, pelo visto, não compreende que repete e restaura com isso a tese de Trotski dirigida contra Lênin e seu Partido.

b) 1919. Artigo de Lênin “A Economia e a Política na Época da Ditadura do Proletariado”. Eis o que Lênin escreve nesse artigo:

“Por mais que mintam e caluniem os burgueses de todos os países e seus auxiliares abertos e encobertos (os “socialistas” da Segunda Internacional) um fato permanece fora de qualquer dúvida: do ponto de vista do problema econômico fundamental da ditadura do proletariado acha-se entre nós assegurada a vitória do comunismo sobre o capitalismo. A burguesia de todo o mundo se enfurece perde a cabeça nas suas manifestações contra o bolchevismo, organiza expedições militares, conspirações, etc. contra os bolcheviques precisamente porque ela compreende muito bem a inevitabilidade de nossa vitória na reorganização da economia social se não conseguir nos esmagar pela força das armas. Mas por este meio ela não conseguirá esmagar-nos”.(19) (O grifo é meu— J. St.).
Vemos que este artigo de Lênin trata do “problema econômico da ditadura do proletariado”, da “reorganização da economia social” no sentido da “vitória do comunismo”. E o que quer dizer “o problema econômico da ditadura do proletariado” e “reorganização da economia social” na vigência da ditadura do proletariado! Não é outra coisa senão a construção do socialismo num único país, no nosso país.

c) 1921. Folheto de Lênin: “Sobre o Imposto em Espécie”.(20) Trata-se da conhecida tese a respeito de que podemos e devemos edificar “o fundamento socialista de nossa economia” (Vide “Sobre o Imposto em Espécie”).

d) 1922. Discurso do camarada Lênin no Soviet de Moscou, no qual ele afirma que “realizamos o socialismo em nossa vida diária” e que “da Rússia da NEP surgirá a Rússia socialista”(21). A réplica de Trotski nas suas “Ultimas Observações” ao “Programa de Paz” em 1922 sem dizer diretamente que polemiza com Lênin. Eis o que afirma Trotski nessas “últimas Observações”:

“A afirmação de que a revolução proletária não pode ser levada a cabo vitoriosamente dentro das fronteiras nacionais, repetida por diversas vezes no “Programa de Paz”, parecerá talvez, a alguns leitores refutada pela experiência de quase cinco anos de nossa República Soviética. Mas essa conclusão não teria base. O fato de que o Estado operário se manteve contra todo o mundo num único país, atrasado além do mais, atesta o poderio colossal do proletariado que será capaz de realizar verdadeiros milagres em outros países mais avançados e mais civilizados. Mas após nos havermos defendido no sentido político e militar, como Estado, não chegamos à criação da sociedade socialista nem nos aproximamos disso. A luta pela auto-preservação revolucionária da nação provocou durante este período uma diminuição extraordinária das forças produtivas: consideramos o socialismo, porém, somente na base do seu progresso e do seu florescimento. As relações comerciais com os países burgueses, as concessões, a conferência de Viena, etc., constituem um testemunho demasiadamente eloqüente da impossibilidade de uma edificação socialista isolada dentro dos limites de nosso país… Um autêntico ascenso da economia socialista na Rússia só se tornará possível após à vitória do proletariado nos países mais importantes da Europa”. (O grifo é meu — J. St.).
A quem Trotski replica aqui sobre a “impossibilidade de uma edificação socialista isolada dentro dos limites de nosso país”? Não há dúvida de que não é a Stálin nem a Bukharin. Trotski replica aqui ao camarada Lênin e a sua réplica não se refere a qualquer outra questão, mas à questão fundamental — sobre a possibilidade da “construção do socialismo dentro dos limites nacionais de um país”.

e) 1923. Folheto de Lênin “Sobre a Cooperação” que constitui o seu testamento político. Eis o que Lênin afirma nesse folheto:

“Na realidade, todos os grandes meios de produção em poder do Estado e o Poder estatal em mãos do proletariado; a aliança deste proletariado com os muitos milhões de pequenos e muito pequenos camponeses; a garantia da direção do proletariado sobre o campesinato, etc., acaso não é isso tudo o que necessitamos para que com a cooperação e nada mais do que com a cooperação que anteriormente desprezávamos como mercantilista e que agora, na vigência da NEP continuamos a desprezar de certo modo, acaso isto não é tudo o que necessitamos para a construção da sociedade socialista completa? Não é ainda a construção da sociedade socialista, mas é tudo o que é necessário e suficiente para essa construção”(22) (O grifo é meu — J. St.)
Parece difícil expressar-se de maneira mais clara.

Trotski é de opinião que “a construção socialista dentro dos limites de um único país” é impossível. Lênin afirma porém que nós, isto é, o proletariado da URSS, temos atualmente, na época da ditadura do proletariado, “tudo o que é necessário e suficiente” “para a construção de uma sociedade socialista completa”. O contraste dos pontos de vista é completo.

Esses são os fatos.

Vemos assim que a questão da construção do socialismo num único país foi apresentada em nosso Partido já em 1915 e o foi pessoalmente por Lênin e que não foi outro senão Trotski quem discutiu a respeito com Lênin, acusando Lênin de “estreiteza nacional”.

Vemos que desde então esse problema não saiu da ordem do dia dos trabalhos de nosso Partido até a morte do camarada Lênin.

Vemos que esse problema foi por diversas vezes levantado por Trotski desta ou daquela forma sob o aspecto de uma polêmica dissimulada mas perfeitamente clara com o camarada Lênin e em que Trotski toda vez que tratava do mesmo não o fazia no espírito de Lênin e do leninismo, mas contra Lênin e o leninismo.

Vemos que Trotski prega uma descarada mentira ao afirmar que antes de 1925 a questão da construção do socialismo num único país não foi apresentada por ninguém.

5. A Significação Particularmente Importante do Problema da Construção do Socialismo na URSS no Momento Atual

Quinta questão. A quinta questão diz respeito ao problema da atualidade da tarefa da construção do socialismo no momento presente. Por que a questão da construção do socialismo assumiu um caráter particularmente atual, precisamente agora, precisamente nos últimos tempos? Por que, por exemplo, em 1915, 1918. 1919. 1921, 1922 e 1923 a questão da construção do socialismo na URSS era debatida casualmente, em artigos isolados, e em 1924, 1925 e 1926 esta questão ocupou um lugar particularmente importante em nossa vida partidária? Como se explica esse fato?

Sou de opinião que três motivos principais explicam esse fato.

Em primeiro lugar, pelo fato de que o ritmo da revolução nos outros países diminuiu de intensidade nos últimos anos e sobreveio a chamada “estabilização parcial do capitalismo”. Dai surge a pergunta — acaso a estabilização parcial do capitalismo não provocará o enfraquecimento ou mesmo o desaparecimento das possibilidades da construção do socialismo em nosso país? Dai o crescente interesse que se manifesta a propósito dos destinos do socialismo e da construção do socialismo em nosso país.

Em segundo lugar, por termos estabelecido a NEP, permitimos a atividade do capital privado e fizemos um certo recuo afim de reagruparmos as nossas forças para em seguida empreendermos ofensiva. Daí surge a pergunta — acaso a NEP não acarretará enfraquecimento das possibilidades da construção do socialismo em nosso país? Daí a nova fonte do crescente interesse em relação à questão das possibilidades da construção do socialismo em nosso país.

Em terceiro lugar, pela circunstância de que ganhamos a guerra civil, expulsamos os intervencionistas e conquistamos uma “trégua” na guerra, asseguramos a paz e um período de paz que apresenta condições favoráveis a que se liquide a ruína econômica, se restabeleçam as forças produtivas do país e se cuide da construção de uma nova economia em nosso país. Daí decorre a pergunta — em que sentido é necessário orientar a organização da economia, no sentido do socialismo ou em outro sentido qualquer? Daí a pergunta — se se orientar a construção no sentido do socialismo, não haverá então motivos para se considerar que temos a possibilidade de edificar socialismo nas condições da NEP e durante a estabilização parcial do capitalismo? Daí decorre o imenso interesse de todo o Partido e de toda a classe operária em relação ao problema dos destinos da construção socialista em nosso país. Daí os cálculos anuais de toda espécie de dados, cálculos esses realizados pelos órgãos do Partido e do Poder Soviético do ponto de vista do fortalecimento do peso específico das formas socialistas de economia no setor da indústria, no setor do comércio e no setor da agricultura.

Eis aí os três motivos principais porque a questão da construção do socialismo se tornou para o nosso Partido e para o nosso proletariado, assim como para a Internacional Comunista, uma questão das mais atuais.

A oposição julga que o problema da construção do socialismo na URSS possui apenas um interesse teórico. Isso não é verdade.

Trata-se de um erro dos mais grosseiros. Essa maneira de tratar a questão só pode ser explicada pelo isolamento integral da oposição em relação a nossa vida partidária, a nossa edificação econômica e a nosso sistema cooperativo. A questão da construção do socialismo agora, quando liquidamos a ruína econômica, restabelecemos a indústria e enveredamos pelo caminho da reconstrução de toda a economia nacional sobre uma nova base técnica — a questão da construção do socialismo assume atualmente uma imensa significação prática. Em que sentido devemos orientar a nossa atividade ao empreendermos a construção econômica, com que objetivo construir, o que devemos construir, quais devem ser as perspectivas de nossos trabalhos de construção — tudo isso são problemas sem cuja solução administradores honestos e sensatos não podem dar nenhum passo à frente, se é que desejam encarar o problema da edificação de maneira efetivamente consciente e refletida. Construímos para adubar o campo para o advento da democracia burguesa ou para edificar a sociedade socialista — nisto se encontra atualmente a raiz de nosso trabalho de edificação. A questão de se saber se temos a possibilidade de construir a economia socialista agora, nas condições da NEP e na vigência da estabilização parcial do capitalismo — nisto se encontra atualmente um dos problemas mais importantes de nosso trabalho partidário e soviético.

Lênin respondeu a esta pergunta afirmativamente (Basta que se consulte o seu folheto “Sobre a Cooperação”. O Partido respondeu a esta pergunta afirmativamente (Vide a resolução da XIV Conferência do PC (b) R.). Pois bem, e como se manifesta a oposição a respeito? Eu já afirmei que a oposição responde a esta pergunta negativamente. Eu já afirmei no meu informe apresentado à XV Conferência do PC (b) da URSS e agora cabe-me repetir aqui que Trotski, líder do bloco oposicionista, declarou ainda muito recentemente, na sua conhecida proclamação aos oposicionistas, em setembro de 1926, que ele considera a “teoria do socialismo num só país” como “uma justificação teórica da estreiteza nacional” (Vide o Informe de Stálin à XV Conferência do PC (b) da URSS)(23).

Comparemos este trecho de Trotski (1926) com alguns de seus artigos publicados em 1915 onde ele, ao estabelecer uma polêmica com Lênin quanto à questão da possibilidade da vitória do socialismo num único país, apresentou, pela primeira vez, a questão da “estreiteza nacional” do camarada Lênin e dos leninistas — e compreenderemos que Trotski permaneceu, quanto ao problema da construção do socialismo num único país, na sua velha posição social-democrata que nega essa possibilidade.

É precisamente por esse motivo que o Partido afirma que o trotskismo constitui, no nosso Partido, um desvio social-democrata.

                                       6. As Perspectivas da Revolução

Sexta questão. A sexta questão diz respeito ao problema das perspectivas da revolução proletária. Trotski afirmou em discurso pronunciado na XV Conferência do Partido:

“Lênin considerava que de forma alguma poderemos construir o socialismo em vinte anos em vista do atraso de um país camponês como o nosso e nem conseguiremos fazê-lo dentro de trinta anos. Admitamos como um mínimo necessário o prazo de trinta a cinqüenta anos”.
Considero meu dever declarar aqui, camaradas, que esta perspectiva, inventada por Trotski, não tem nada de comum com a perspectiva apresentada pelo camarada Lênin no que diz respeito à revolução na URSS. O próprio Trotski começa a lutar, um pouco mais adiante em seu aludido discurso, contra essa perspectiva. Mas isso é uma tarefa sua. Eu devo declarar porém, que nem Lênin, nem o Partido podem responder por esta perspectiva inventada por Trotski e pelas conclusões que daí decorrem. O fato de que Trotski, após haver inventado essa perspectiva, comece depois em seu discurso a lutar contra a sua própria ficção — esse fato serve apenas para provar que Trotski se emaranhou definitivamente e se colocou em posição ridícula.

Lênin não afirmou em absoluto que “de forma alguma poderemos construir o socialismo” em 30 ou cinqüenta anos. Na realidade eis o que Lênin afirmou:

“Dez a vinte anos de relações justas com o campesinato e a garantia da vitória em escala mundial (até mesmo se se verificar um retardamento das revoluções proletárias que, entretanto, aumentam de número no momento atual), ou então vinte a quarenta anos de sofrimentos causados pelo terror dos guardas-brancos”.(24)
Pode-se, partindo desta tese de Lênin, chegar à conclusão de que “de forma alguma podemos construir o socialismo em vinte a trinta ou a cinquenta anos”? Não, não se pode. Desta tese só se pode chegar às seguintes conclusões:

a) Na vigência de relações justas com o campesinato teremos assegurado a vitória (isto é, a vitória do socialismo) em dez a vinte anos;

b) Essa vitória será uma vitória não apenas na URSS, mas uma vitória “em escala mundial”;

c) Se não lograrmos a vitória durante esse prazo tal fato será um indício de que fomos derrotados e o regime de ditadura do proletariado será substituído pelo regime do terror dos guardas-brancos que poderá se prolongar por vinte a quarenta anos.

Não há dúvida alguma de que podemos concordar ou não concordar com essa tese de Lênin e com as conclusões que dela decorrem. Mas não se pode deturpá-la, como o faz Trotski.

E o que significa a vitória “em escala mundial”? Significa que essa vitória seja equivalente à vitória do socialismo num único país? Não, não significa. Lênin distingue claramente, nas suas obras, a vitória do socialismo num único país da vitória “em escala mundial”. Falando sobre a vitória “em escala mundial”, Lênin quer dizer que os êxitos do socialismo em nosso país, a vitória da construção socialista em nosso país possuem uma significação internacional tão grande que ela (a vitória) não pode se limitar à nosso país, mas deve provocar um poderoso movimento em direção ao socialismo em todos os países capitalistas, verificando-se que, se ela não coincidir, quanto à ocasião, com a vitória da revolução proletária em outros países, então ela, em todo caso, deverá inaugurar por si mesma um poderoso movimento do proletariado de outros países no sentido da vitória da revolução mundial.

Eis, segundo Lênin, qual é a perspectiva da revolução, se se tiver em vista a perspectiva da vitória da revolução, problema que diz respeito particularmente a nós, do Partido.

Confundir esta perspectiva com a perspectiva apresentada por Trotski e que se refere ao prazo de trinta a cinquenta anos — significa caluniar Lênin.

                            7. Como se Apresenta o Problema na Realidade

Sétima questão. Admitamos que assim seja, diz-nos a oposição, mas, afinal de contas, com quem é melhor manter a união — com o proletariado mundial ou com o campesinato de nosso país, a quem dar preferência — ao proletariado mundial ou ao campesinato da URSS? Assim, o problema se apresenta como se de um lado estivesse o proletariado da URSS e diante dele dois aliados — o proletariado mundial que se acha preparado para derrotar imediatamente a sua burguesia mas aguarda a nossa aprovação preliminar, e o nosso campesinato que se acha disposto a ajudar o proletariado da URSS mas não se acha inteiramente convencido de que o proletariado da URSS aceitará essa ajuda. Trata-se, camaradas, de uma apresentação infantil do problema. Uma tal apresentação do problema não tem nada de comum com a marcha da revolução em nosso pais nem com a correlação de forças na frente da luta entre o capitalismo mundial e o socialismo. Desculpem a minha expressão, mas somente colegiais podem apresentar a questão dessa maneira. Lamento que o problema não se apresente de uma forma que atenda aos desejos de alguns oposicionistas e não há motivos para se duvidar de que aceitaríamos, com prazer, a ajuda deste ou daquele grupo, se isso dependesse apenas de nós. Não, não é assim que a questão se apresenta na vida real.

Eis como a questão se apresenta: uma vez que diminuiu o ritmo do movimento revolucionário mundial, ainda não se verificou a vitória do socialismo no Ocidente, mas o proletariado da URSS se mantém no poder, fortalece-o de ano a ano, unifica firmemente em torno de si as massas fundamentais do campesinato, já conta com sérios êxitos na frente da construção socialista e fortalece com sucesso os laços de amizade com os proletários e os povos oprimidos de todos os paises — então há motivo para se negar o fato de que o proletariado da URSS pode superar a sua burguesia e continuar a edificação vitoriosa do socialismo em nosso país, apesar do cerco capitalista?

Eis como se apresenta a questão atualmente, se se partir, é lógico, não da fantasia, como o faz o bloco oposicionista, mas da correlação real de forças na frente da luta entre o socialismo e o capitalismo.

O Partido responde a esta questão afirmando que o proletariado da URSS se acha em condições, em vista da situação mencionada, de superar a sua burguesia “nacional” e edificar com êxito a economia socialista.

A oposição afirma, porém, que:

“Sem um apoio estatal (o grifo é meu — J. St.) direto do proletariado europeu a classe operária da Rússia não poderá se manter no poder e transformar o seu domínio temporário numa prolongada ditadura socialista”. (Vide Trotski “A Nossa Revolução”, pág. 278).
E qual é o sentido desta afirmação de Trotski e o que significa o “apoio estatal do proletariado europeu”? Significa que sem a previa vitória do proletariado no Ocidente, sem a prévia tomada do poder pelo proletariado do Ocidente o proletariado da URSS não somente não poderá superar a sua burguesia e edificar o socialismo como não poderá até mesmo se manter no poder.

É assim que se apresenta a questão e eis onde se encontra a raiz de nossas divergências.

Em que se distingue a posição de Trotski da posição do menchevique Otto Bauer?

É de se lamentar que em nada.

                                                   8. As Possibilidades de Vitória

Oitava questão. Admitamos que assim seja, afirma a oposição, mas quem tem, mais probabilidades de vitória — o proletariado da URSS ou o proletariado mundial?

Trotski afirmou em discurso pronunciado perante a XV Conferência do PC (b) da URSS:

“Pode-se supor que o capitalismo europeu entrará em decadência dentro de trinta a cinquenta anos e o proletariado seja incapaz de realizar a revolução? Pergunto: por que devo aceitar esta premissa que só pode ser chamada de uma premissa de um negro pessimismo sem motivo em relação ao proletariado europeu? Afirmo que não tenho nenhuma base teórica ou política para julgar que nos será mais fácil edificar o socialismo com o campesinato do que o proletariado europeu tomar o poder”. (Vide o discurso de Trotski perante a XV Conferência do PC (b) da URSS).
Em primeiro lugar, deve-se abandonar, sem reservas, a perspectiva de calmaria na Europa “no decurso de trinta a cinquenta anos”. Ninguém obrigou Trotski a partir desta perspectiva da revolução proletária nos países capitalistas do Ocidente e que não tem nada de comum com a perspectiva de nosso Partido. O próprio Trotski se ateve a essa perspectiva inventada por ele mesmo e ele próprio deve responder pelas consequências de uma tal operação. Penso que estes prazos devem ser diminuídos, no mínimo, da metade, se se tem em vista a perspectiva real da revolução proletária no Ocidente.

Em segundo lugar, Trotski decide, sem reservas, que o proletariado do Ocidente tem probabilidades muito maiores de superar a burguesia, mundial, que atualmente se encontra no poder, do que o proletariado da URSS a sua burguesia “nacional” que já se acha politicamente derrotada, já foi afastada dos postos-chave da economia nacional, que é forçada a recuar, do ponto de vista econômico, diante da pressão da ditadura do proletariado e das formas socialistas de nossa economia.

Eu considero errada essa maneira de colocar o problema. Considero que Trostski, ao apresentar o problema desta forma, trai-se completamente. Não é verdade que os mencheviques nos afirmavam o mesmo em Outubro de 1917, quando eles nos gritavam a plenos pulmões que o proletariado do Ocidente têm probabilidades muito maiores de derrubar a burguesia e tomar o poder do que o proletariado da Rússia onde a técnica está pouco desenvolvida e onde o proletariado é pouco numeroso? E acaso não é fato que, apesar das lamentações dos mencheviques, o proletariado da Rússia teve, em outubro de 1917, maiores possibilidades de tomar o poder e derrubar a burguesia do que o proletariado da Inglaterra, da França ou da Alemanha? Acaso a prática da luta revolucionária em todo o mundo não demonstrou e não provou que não se pode colocar o problema da forma como Trotski o apresenta?

A questão de se saber quem tem mais possibilidades de vitória rápida é solucionada não por meio da contraposição do proletariado de um país ao proletariado de outros países ou do campesinato de nosso pais ao proletariado de outros países. Uma tal contraposição é um jogo de comparações infantil. A questão de se saber quem tem maiores possibilidades de vitória rápida é solucionada pela situação internacional real, pela real correlação de forças entre o capitalismo e o socialismo. Pode acontecer que os proletários do Ocidente vençam a sua burguesia e tomem o poder antes que tenhamos tempo de construir a base socialista de nossa economia. Essa possibilidade não se acha de forma alguma excluída. Mas pode acontecer também que o proletariado da URSS consiga construir a base socialista de nossa economia antes que proletariado do Ocidente derrote a sua burguesia. Essa possibilidade também não se acha excluída.

A solução da questão das perspectivas de vitória rápida depende aqui da situação real na frente da luta entre o capitalismo e o socialismo e somente dela.

                                                          9. Divergências Políticas Práticas

Tais são as causas de nossas divergências.

Destas causas decorrem as divergências políticas práticas tanto no setor da política exterior e interna como no setor puramente partidário. Estas divergências constituem objeto da nona questão.

a) O Partido considera, partindo do fato da estabilização parcial do capitalismo, que atravessamos um período inter-revolucionário e que marchamos, nos países capitalistas, para a revolução e a tarefa fundamental dos Partidos Comunistas consiste em ir ao encontro das massas, fortalecer as suas ligações com massas, dominar as organizações de massa do proletariado e preparar as amplas massas de operários para as próximas lutas revolucionárias.

Mas a oposição, não tendo fé nas forças internas de nossa revolução e temendo a estabilização parcial do capitalismo como um fato que possa fazer a nossa revolução fracassar, considera (ou considerou) possível negar o fato da estabilização parcial do capitalismo, considera (ou considerou) a greve dos operários ingleses(25) um indício do fim da estabilização do capitalismo, mas quando se constatou, porém, que a estabilização é um fato, a oposição afirma que tanto pior para os fatos e que se pode, portanto, desprezar os fatos apresentando ao mesmo tempo como trunfo palavras de ordem bombásticas relativamente à revisão da tática da frente única, o rompimento com o movimento sindical do Ocidente, etc.

Mas o que significa não levar em conta os fatos e a marcha objetiva das coisas? Significa abandonar o campo da ciência e enveredar pelo caminho do charlatanismo.

Dai decorre o aventurismo na política do bloco oposicionistas.

b) O Partido considera, partindo do fato de que a industrialização constitui o elemento básico da construção socialista e que o mercado interno de nosso país constitui o mercado principal para a indústria socialista, que a industrialização deve se desenvolver na base de um melhoramento constante da situação material da massa principal do campesinato (sem falar já dos operários) e que a estreita união entre a indústria e a economia camponesa, entre o proletariado e o campesinato e a direção do proletariado nessa união constitui, segundo a expressão de Lênin, “o alfa e o omega do Poder Soviético”(26) e a vitória de nossa construção e que em conseqüência disto a nossa política em geral, a política tributária e a política dos preços em particular deve ser organizada de maneira a atender aos interesses dessa estreita união.

Mas a oposição, não acreditando na possibilidade da atração do campesinato à tarefa da construção do socialismo e supondo, evidentemente, que se pode realizar a industrialização em prejuízo da massa fundamental do campesinato, envereda pelo caminho dos métodos capitalistas de industrialização, pelo caminho da consideração do campesinato como “colônia”, como objeto de “exploração” da parte do Estado proletário e propõe medidas de industrialização, a intensificação da pressão tributária sobre o campesinato, o aumento dos preços de entrega das mercadorias industriais, etc., que serviram apenas para frustrar a união entre a indústria e a economia camponesa, minar a situação econômica dos camponeses pobres e dos camponeses médios e destruir as próprias bases da industrialização.

Daí a atitude negativa da oposição em relação à idéia de um bloco entre o proletariado e o campesinato e da hegemonia do proletariado nesse bloco, — atitude peculiar à social-democracia.

c) Partimos do fato de que o Partido, o Partido Comunista, é instrumento básico da ditadura do proletariado e que a direção de um único Partido, que não divide e não pode dividir essa direção com outros Partidos, constitui a condição fundamental sem qual não se pode conceber uma ditadura do proletariado algo sólida e desenvolvida. Em virtude disso consideramos inadmissível a existência de frações dentro de nosso Partido uma vez que é claro por si mesmo que a existência de frações organizadas dentro do Partido conduz à divisão de um Partido único em organizações paralelas, à formação de embriões e células de um novo Partido ou de novos Partidos no país e, por conseguinte, à decomposição da ditadura do proletariado.

Mas a oposição, ao não se manifestar francamente contra estas teses, parte, porém, no seu trabalho prático, da necessidade do enfraquecimento da unidade do Partido, da necessidade da liberdade de frações dentro do Partido, o que quer dizer — da necessidade da formação de elementos de um novo Partido.

Dai a política divisionista que se manifesta no trabalho prático do bloco oposicionista.

Daí os gritos da oposição quanto ao “regime” vigente no Partido e que são, em essência, um reflexo dos protestos dos elementos não proletários no país contra o regime da ditadura do proletariado.

Daí a questão relativa aos dois Partidos.

Tal é, camaradas, o conjunto de nossas divergências com a oposição.

                                                        IV — A Oposição Trabalha

PASSEMOS agora à questão de saber como essas divergências se manifestaram no trabalho prático.

Pois bem, na realidade, como se manifestava a nossa oposição em seu trabalho prático, na sua luta contra o Partido?

Sabe-se que a oposição desenvolvia uma intensa atividade não somente no nosso Partido mas também em outras secções da Internacional Comunista, por exemplo: na Alemanha, na França, etc. Por isso é necessário colocar a questão da seguinte maneira: na realidade, como se manifestava o trabalho prático da oposição e de seus adeptos tanto no PC (b) da URSS como nas demais secções da Internacional Comunista?

                a) O trabalho prático da oposição e de seus adeptos no PC (b) da URSS

A oposição iniciou o seu “trabalho” pela apresentação de gravíssimas acusações contra o Partido. A oposição declarou que o Partido “escorrega pelo plano inclinado do oportunismo”. A oposição afirmou que a política do Partido “é contrária à linha de classe da revolução”. A oposição afirmou que o Partido degenera e marcha para o Thermidor. A oposição afirmou que o nosso Estado “está longe de ser um Estado proletário”. Tudo isso foi dito ou em declarações francas e discursos dos representantes da oposição (pleno de julho do CC e da Comissão Central de Controle de 1926) ou em documentos ilegais da oposição difundidos pelos seus partidários.

Mas, ao apresentar estas graves acusações contra o Partido, a oposição criava condições por isso mesmo para a organização, dentro do Partido, de novas células paralelas, para a organização de um novo centro paralelo do Partido, para a criação de um novo Partido.

O sr. Ossovski, um dos adeptos da oposição, declarou claramente em seus artigos que o Partido existente, o nosso Partido, defende os interesses dos capitalistas, e que em vista disso torna-se necessário organizar um novo Partido, “um Partido realmente proletário” que existiria e desenvolveria as suas atividades ao lado do Partido existente.

A oposição tem a liberdade de afirmar que não responde pela posição assumida pelo sr. Ossovski. Mas isto não é verdade. Ela responde integral e completamente pelas “proezas” do sr. Ossovski. É sabido que Ossovski se incluiu abertamente no número dos partidários da oposição e contra isso a oposição nunca fez a menor tentativa de protesto. Sabe-se, também, que Trotski defendeu Ossovski no pleno de julho do CC contra o camarada Molotov. Sabe-se, finalmente, que, apesar da opinião unânime do Partido contra Ossovski, a oposição votou, no CC, contra a exclusão de Ossovski do Partido. Tudo isso confirma o fato de que a oposição assumia a responsabilidade moral pelas “proezas” do sr. Ossovski.

Conclusão: o trabalho prático da oposição no PC (b) da URSS se manifestou na posição assumida pelo sr. Ossovski, na sua posição de defesa da necessidade da formação de um novo Partido em nosso país, paralelo ao PC (b) da URSS e contra ele.

Sim, e não poderia ser de outro modo. Porque das duas uma:

Ou a oposição, ao apresentar estas graves acusações contra o Partido, era a primeira a não acreditar na seriedade destas acusações e as apresentava apenas a título de exibição e nesse caso induzia a classe operária a erro, o que é um crime; ou a oposição acreditava e continua a acreditar na seriedade de suas acusações e então devia se orientar e realmente se orientava no sentido da derrota dos quadros dirigentes do Partido e da formação de um novo Partido.

Eis qual era a fisionomia de nossa oposição no seu trabalho prático contra o PC (b) da URSS em outubro de 1926.

          b) O trabalho prático dos adeptos da oposição no Partido Comunista Alemão.

Partindo das acusações contra o Partido apresentadas pela nossa oposição, os “ultra-esquerdistas” da Alemanha, chefiados pelo sr. Korsch, chegaram às suas “próprias;” conclusões e colocaram os pontos nos ii. Sabe-se que Korsch, ideólogo dos “ultra-esquerdistas” na Alemanha, afirma que a nossa indústria socialista é “uma indústria puramente capitalista”. Sabe-se que Korsch, chama o nosso Partido de Partido “kulakizado” e a Internacional Comunista de Organização “oportunista”. Sabe-se, ainda, que Korsch, prega, em vista disso, a necessidade de uma “nova revolução” contra o poder existente na URSS.

A oposição pode dizer que ela não responde pela posição assumida pelo sr. Korsch. Mas isto não é verdade. A oposição responde integral e completamente pelas “proezas” do sr. Korsch. O que o sr. Korsch afirma é a conclusão natural das premissas que os lideres de nossa oposição estabeleceram para os seus partidários, sob a forma das conhecidas acusações contra o Partido. Porque se o Partido escorrega pelo plano inclinado do oportunismo, se a sua política se divorcia da linha de classes da revolução, se ele degenera e marcha para o Thermidor e se o nosso Estado “está longe de ser um Estado proletário”, então só se pode chegar a uma conclusão — uma nova revolução contra o poder “kulakizado”. Sabe-se, além disso, que os “ultra-esquerdistas” da Alemanha, os Wedding(27) inclusive, votaram contra a exclusão de Korsch do Partido, assumindo com esse ato a responsabilidade moral pela propaganda contra-revolucionária de Korsch. Pois bem, e quem desconhece que os “ultra-esquerdistas” defendem a oposição no PC (b) da URSS?

                        c) O trabalho prático dos adeptos da oposição na França

O mesmo se pode dizer dos adeptos da oposição na França. Refiro-me a Souvarine e seu grupo que editam uma conhecida revista na França. Partindo das premissas estabelecidas pela nossa oposição nas suas acusações contra o Partido. Souvarine chega à conclusão de que a burocracia do Partido, isto é, os dirigentes de nosso Partido, constituem os piores inimigos da revolução. Souvarine afirma que só há um meio de “salvação”: uma nova revolução contra os dirigentes superiores do Partido e do governo, uma nova revolução, em primeiro lugar, contra o Secretariado do CC do PC (b) da URSS. Ali, na Alemanha, uma “nova revolução” contra o poder existente na URSS. Aqui, na França, uma “nova revolução” contra o Secretariado do C.C.. Pois bem, e como organizar esta nova revolução:? Pode-se organizá-la sem um Partido particular, adaptado aos objetivos da nova revolução? Não, sem dúvida. Daí a questão da criação de um novo Partido.

A oposição pode dizer que não responde pelo que o sr. Souvarine escreve. Mas isto não é verdade. Em primeiro lugar, sabe-se que Souvarine e seu grupo são partidários da oposição e particularmente de sua fração trotskista. Em segundo lugar, sabe-se que ainda muito recentemente a oposição projetava colocar o sr. Souvarine na redação do órgão central do Partido Comunista da França. É verdade que esse projeto fracassou. Mas não foi por culpa sua, mas por infelicidade da nossa oposição.

Conclui-se. por conseguinte, que a oposição, no seu trabalho prático, se a considerarmos não sob o aspecto em que ela se apresenta a si mesma, mas sob o aspecto em que ela se manifesta no curso do seu trabalho entre nós, na URSS, assim como na Franca e na Alemanha, — conclui-se, afirmo eu, que a oposição se aproximou bastante, no seu trabalho prático, da questão da destruição dos quadros atuais de nosso Partido e da formação de um novo Partido.

              V — Porque os Inimigos da Ditadura do Proletariado Louvam a Oposição

Por que os social-democratas e os kadetes(28) louvam a oposição? Ou melhor — a oposição reflete o estado de espírito de quem?

Talvez tenhais prestado atenção ao fato de que a chamada “questão russa se tornou, ultimamente, a questão mais momentosa da imprensa social-democrata e burguesa do Ocidente. Será por mera casualidade? Sem dúvida que não é por mera casualidade. O progresso do socialismo na URSS e o desenvolvimento do movimento comunista no Ocidente não podem deixar de provocar um grande alarme nas fileiras da burguesia e dos seus agentes na classe operária — os líderes social-democratas. O divisor de águas entre a revolução e a contra-revolução passa atualmente pelo caminho de um ódio feroz de uns e da sincera amizade de outros em relação ao Partido proletário na URSS. A mais grandiosa significação internacional da “questão russa” está atualmente no fato de que os inimigos do comunismo não podem deixar de levá-la em conta.

Formaram-se duas frentes em torno da “questão russa”: a frente dos inimigos da República dos Soviets e a frente dos seus amigos abnegados. O que desejam os adversários da República dos Soviets?

Esforçam-se no sentido de criar as bases ideológicas e morais entre as amplas massas da população para a luta contra a ditadura proletária. O que desejam os amigos da República dos Soviets? Esforçam-se no sentido de criar as bases ideológicas e morais entre as amplas camadas do proletariado para o apoio e a defesa da República dos Soviets. Vejamos, agora, porque os social-democratas e os kadetes entre os emigrados da burguesia russa elogiam a nossa oposição.

Eis o que afirma, por exemplo, Paul Lewy, conhecido líder social-democrata da Alemanha:

“Éramos de opinião que os interesses particulares do proletariado afinal de contas, os interesses do socialismo, acham-se em contradição com a existência da propriedade camponesa e que a identidade de interesses entre os operários e camponeses é apenas aparente e que o desenvolvimento posterior da revolução russa aguçará e tornará mais nítida esta contradição. Consideramos a idéia da comunidade de interesses um novo aspecto da idéia da coalizão. Se o marxismo em geral possui uma sombra que seja de base, se a história se desenvolve dialeticamente, então esta contradição deveria destruir a idéia de coalizão da mesma forma como foi destruída na Alemanha… Para nós que examinamos os acontecimentos que se processam na URSS à distância, da Europa Ocidental, uma coisa é clara: os nossos pontos de vista coincidem com os pontos de vista da oposição… Acha-se presente o fato de que novamente se inicia, na Rússia, um movimento independente, anti-capitalista, sob o signo da luta de classes” (“Leipsiger Volkszeitung”, 30 de julho de 1926).
Que aqui, neste trecho, há confusão quanto à questão da “identidade” de interesses entre os operários e camponeses — é evidente.

Mas que Paul Lewy louva a nossa oposição pela sua luta contra a idéia de um bloco de operários e camponeses, contra a idéia da aliança entre os operários e os camponeses, — isto também não admite qualquer dúvida.

Eis o que afirma a respeito da nossa oposição o famigerado Dan, líder da social-democracia “russa”, líder dos mencheviques “russos” que luta pela restauração do capitalismo na URSS:

“Com a sua crítica ao regime existente e que repete, quase literalmente, a crítica da social-democracia, a oposição bolchevique prepara os espíritos… para a aprovação da plataforma efetiva da social-democracia”.
E mais adiante:

“A oposição progride não apenas entre as massas operárias mas também entre os operários comunistas há embriões de idéias e estados de espírito que, com um tratamento hábil, poderão facilmente dar frutos social-democratas” (“O Mensageiro Socialista” nºs: 17-18).
Não pode haver maior clareza.

E eis o que a respeito de nossa oposição escreve o órgão central do Partido contra-revolucionário burguês de Miliukov, Notícias”.(29):

“Hoje a oposição mina a ditadura, cada nova edição da oposição contém um número maior de palavras “ameaçadoras”, a própria oposição evolui no sentido de desfechar ataques cada mais rudes contra o sistema dominante e isto por enquanto basta para que acolhamos agradecidos como alto-falante para as amplas camadas da população politicamente insatisfeita” (“últimas Notícias” n.° 1990).
E a seguir:

“O mais temível inimigo do poder Soviético é atualmente o que se aproxima dele imperceptivelmente, prende-o por todos lados com os seus tentáculos e o liquida antes que perceba que está liquidado. É justamente esse papel, inevitável e necessário na etapa preparatória da qual ainda não saímos, que a oposição soviética representa” (Últimas Notícias” n.° 1983, 27 de agosto deste ano).
Penso que são supérfluos quaisquer comentários a respeito.

Limito-me apenas a estas citações em vista da exigüidade do tempo ao meu dispor, embora se possa fazer dezenas e centenas de citações idênticas.

Eis porque os social-democratas e os kadetes louvam a nossa oposição.

Será por mera casualidade? Não, é.

Vê-se por aí que a oposição não reflete o estado de espírito do proletariado de nosso país, mas o estado de espírito dos elementos proletários que se acham descontentes com ditadura do proletariado, que se enfurecem contra a ditadura do proletariado e aguardam, com impaciência, a sua decomposição e a sua queda.

Dessa forma a lógica da luta fracionista de nossa oposição conduziu, na realidade, ao fato que a frente de nossa oposição se fundiu objetivamente com a frente dos adversários e inimigos da ditadura do proletariado.

Era esse o desejo da oposição? Talvez não fosse esse o seu desejo. Mas aqui a questão não depende do que deseja a oposição mas a que objetivamente conduz a sua luta fracionista. A lógica da luta fracionista é mais forte do que os desejos destas ou daquelas pessoas. E é precisamente por isso que a questão se processou de tal forma que a frente da oposição se fundiu na realidade com a frente dos adversários e dos inimigos da ditadura do proletariado.
Lênin nos ensinou que a defesa e o fortalecimento do proletariado constitui o principal dever dos comunistas. Mas se processou de tal forma que a oposição se encontrou, em virtude da sua política fracionista, no campo dos adversários da ditadura proletariado.

Eis porque afirmamos que a oposição rompeu com o leninismo não apenas em teoria mas também na prática.

E não poderia acontecer de maneira diferente. A correlação de forças na frente de luta entre o capitalismo e o socialismo é tal que nas fileiras da classe operária só é possível uma das duas políticas: ou a política do comunismo, ou a política do social-democratismo. A tentativa da oposição no sentido de ocupar uma terceira posição quando se verifica o aguçamento da luta contra o PC (b) da URSS deveria terminar inevitavelmente com o fato de que a oposição foi lançada, pela marcha da luta fracionista, no campo dos adversários do leninismo.

Foi justamente o que aconteceu, como o demonstram os fatos citados.

Eis porque os social-democratas e os kadetes elogiam a oposição.

                                            VI — A Derrota do Bloco Oposicionista

Afirmei acima que a oposição, na sua luta contra o Partido, fez gravíssimas acusações ao Partido. Afirmei que a oposição no seu trabalho prático chegou a encarar a questão da cisão e da formação de um novo Partido. Daí a pergunta — por quanto tempo a oposição conseguiu manter-se nessa posição divisionista? Os fatos demonstram que ela conseguiu se manter nesta posição por alguns meses ao todo. Os fatos demonstram que em princípios de outubro deste ano a oposição foi obrigada a reconhecer a sua derrota e recuar.

O que provocou o recuo da oposição?

Penso que o recuo da oposição se verificou em conseqüência das seguintes causas:

Em primeiro lugar, pelo fato de que a oposição não conseguiu reunir um exército político na URSS. Pode muito bem ser que a organização de um novo Partido seja uma tarefa agradável. Mas se depois de uma discussão se verifica que não há elementos com que se organizar um novo Partido, então se torna claro que o recuo é única saída.

Em segundo lugar, pelo fato de que no curso da luta fracionista toda sorte de elementos desclassificados se juntaram à oposição, tanto entre nós, na URSS, como no estrangeiro e os social-democratas e os kadetes puseram-se a elogiá-la sem reservas, emporcalhando-a e envergonhando-a aos olhos dos operários com as suas demonstrações de carinho. A oposição teve de escolher: ou aceitar esses elogios e demonstrações de carinho dos inimigos como tributo a que tem direito, ou empreender uma viragem brusca no sentido do recuo para que automaticamente se afastassem da oposição os elementos desclassificados que haviam se juntado à mesma. Recuando, e ao recuar condenando os elementos que a comprometiam e se afastando deles, a oposição reconhecia que a segunda saída era para ela a única saída aceitável.

Em terceiro lugar, pela circunstância de que a situação da URSS era melhor do que a oposição supunha e se constatou que as massas do Partido eram mais conscientes e estavam mais unidas do que pareceu à oposição no início da luta. É verdade que se o país atravessasse uma fase de crise, se o descontentamento dos operários crescesse e se o Partido estivesse menos unido — a oposição enveredaria, então por outro caminho e não se decidiria pelo recuo. Mas os fatos demonstraram que os cálculos da oposição fracassaram também neste setor.

Daí a derrota da oposição.

Daí o seu recuo.

A derrota da oposição passou por três etapas.

Primeira etapa — a “declaração” da oposição de 16 de outubro de 1926. A oposição renunciou, neste documento, à teoria e à prática da liberdade de frações e dos métodos fracionista de luta, após haver confessado franca e inequivocamente os seus erros nesse sentido. Mas isso só não constituiu toda a renúncia da oposição. Uma vez que ela, na sua “declaração”, se afastava da “oposição operária” e de toda espécie de Korsch e Souvarine, a oposição renunciava também ao mesmo tempo às suas posições ideológicas que até há pouco a aproximavam destas tendências.

Segunda etapa — refutação, de fato, das acusações que a oposição levantara recentemente contra o Partido. É preciso reconhecer e, ao reconhecê-lo é preciso frisar, que a oposição não se decidiu a repetir as suas acusações contra o Partido por ocasião da XV Conferência do PC (b) da URSS. Se compararmos as atas relativas ao pleno de julho do CC e da CC C. com as atas da XV Conferência do PC (b) da URSS, então não se poderá deixar de notar que na XV Conferência não houve nem sinal das velhas acusações de oportunismo, de termidorismo, de afastamento da linha de classe da revolução, etc. Se, além disso, se levar em consideração a circunstância de que toda uma série de delegados se dirigiu à oposição indagando-lhe sobre as suas velhas acusações e a oposição se manteve a respeito obstinadamente calada, então não se pode deixar de reconhecer que a oposição de fato renunciara às suas velhas acusações contra o Partido.

Pode-se qualificar esta circunstância como um afastamento de fato da oposição de uma série de suas posições ideológicas? Pode-se e deve-se. Trata-se do enrolamento consciente da bandeira de luta da oposição em face de sua derrota. E não poderia ser de outra forma. A oposição apresentara as suas acusações contando com a organização de um novo Partido. Mas uma vez que os seus cálculos fracassaram — também as acusações deveriam ser retiradas pelo menos temporariamente.

Terceira etapa — isolamento completo da oposição na XV Conferência do PC (b) da URSS. Deve-se observar que a oposição, na XV Conferência, não teve nenhum voto e ficou, por isso, inteiramente isolada. Consideremos a gritaria e o estardalhaço levantados pela oposição em fins de setembro deste ano ao encetar uma campanha, uma campanha aberta contra o Partido e comparemos esse barulho todo com o fato de que a oposição se manteve ilhada, como dizem, na XV Conferência, e compreenderemos que seria impossível desejar à oposição uma derrota “melhor”.

Pode-se negar o fato de que a oposição retirou as suas acusações contra o Partido e não se decidiu a repeti-las na XV Conferência apesar das exigências dos delegados?

Não, não se pode, porque trata-se de um fato.

Por que então a oposição enveredou por este caminho e por que enrolou a sua bandeira?

Porque o desfraldar da bandeira ideológica da oposição significa, obrigatória e inevitavelmente, a teoria dos dois Partidos, o ressuscitar de todas as espécies de Katsiev, Korsch, Maslov, Souvarine e de outros elementos podres, a liberdade de ação para as forcas anti-proletárias em nosso país, os elogios e os carinhos dos social-democratas e dos burgueses liberais da emigração russa.

A bandeira ideológica da oposição mata a oposição — essa é a questão, camaradas.

É por isso que afim de não apodrecer definitivamente a oposição foi obrigada a recuar e atirar fora a sua bandeira.

Nisto se encontra a base da derrota do bloco oposicionista.

             VII — O Sentido Prático e a Significação da XV Conferência do PC (b) da URSS

TERMINO, camaradas. Tenho ainda a dizer apenas algumas palavras sobre algumas conclusões do ponto de vista do sentido e da significação das resoluções da XV Conferência do PC (b) da URSS.

A primeira conclusão está em que a conferência fez um balanço da luta interna no Partido após o XIV Congresso, caracterizou a vitória conquistada pelo Partido sobre a oposição e, após haver isolado a oposição, pôs fim à bacanal fracionista que a oposição impusera ao nosso Partido no período precedente.

A segunda conclusão consiste em que a conferência tornou o nosso Partido mais coeso do que nunca, na base da perspectiva socialista de nossa construção, na base da idéia da luta pela vitória da construção socialista, contra todas as tendências oposicionistas em nosso Partido e contra todos os desvios existentes em nosso Partido.

A questão da construção do socialismo em nosso país constitui a questão mais momentosa que se apresenta ao nosso Partido atualmente. Lênin tinha razão ao afirmar que todo o mundo nos observa, observa a nossa edificação econômica e observa os nossos êxitos na frente da edificação. Mas para se conseguir êxitos nesta frente é necessário que o instrumento fundamental da ditadura do proletariado, o nosso Partido, esteja preparado para esta tarefa, que reconheça a importância desta tarefa e que possa servir de alavanca da vitória da construção socialista em nosso país. O sentido e a significação da XV Conferência consistem em que ela deu forma e coroou a tarefa de armar o nosso Partido com a idéia da vitória da construção socialista em nosso país.

A terceira conclusão é a de que a conferência manifestou a sua repulsa decisiva e a todas e a cada uma das vacilações ideológicas existentes em nosso Partido e por isso mesmo facilitou o triunfo completo do leninismo no PC (b) da URSS.

Se o pleno ampliado do Comitê Executivo da Internacional Comunista aprova as resoluções da XV Conferência do PC (b) da URSS e reconhece a justa política de nosso Partido em relação oposição, do que não tenho motivos para duvidar, então chegamos à quarta conclusão, isto é, que a XV Conferência preparou algumas conclusões importantes indispensáveis a que o leninismo triunfasse em toda a Internacional Comunista e nas fileiras do proletariado revolucionário de todos os países e de todos os povos. (Prolongados aplausos. Ovações de todo o pleno).

 

                                                                      Palavras Finais
                                                         [Intervenção de 13 de Dezembro]

I — Observações Isoladas

                      1. Necessitamos de Fatos e Não de Invenções e Intrigas

CAMARADAS!

Antes de passar à essência da questão permiti que eu faça algumas retificações, baseadas em fatos, relativamente às declarações da oposição, declarações que ou adulteram os fatos ou representam invencionices e intrigas.

1) Primeira questão — trata-se da questão dos discursos da oposição no pleno ampliado do Comitê Executivo da Internacional Comunista. A oposição declarou que ela se decidira a se manifestar porque o CC do PC (b) da URSS não fizera uma indicação direta no sentido de que o pronunciamento da oposição pudesse infringir a “declaração” da oposição de 16 de outubro de 1926 e que se o CC lhe tivesse proibido de se manifestar então os líderes da oposição não teriam se decidido a fazê-lo.

A oposição declarou, a seguir, que ao se manifestar aqui no pleno ampliado, tomaria medidas no sentido de não aguçar a luta que se limitaria a simples “esclarecimentos” e que nem sequer pensa, Deus nos livre!, em fazer qualquer ataque ao Partido, que não tem, Deus nos livre!, nenhum propósito de apresentar quaisquer acusações contra o Partido e de apelar contra as suas decisões.

Tudo isso não é verdade, camaradas. Isso não corresponde, de forma alguma, à realidade. Trata-se de uma hipocrisia da parte da oposição. Os fatos demonstraram, e particularmente o discurso de Kamenev, que os pronunciamentos dos líderes da oposição no pleno ampliado não foram “esclarecimentos” mas investidas* contra o Partido e ataques contra o Partido.

O que significa colocar abertamente a questão da acusação ao Partido de desvio de direita? Trata-se de um ataque contra o Partido trata-se de uma investida contra o Partido.

Acaso o CC do PC (b) da URSS não indicou nas suas resoluções que os discursos da oposição aguçariam a luta e dariam impulso à luta fracionista? Sim, indicou. O CC do P. C. (b) da URSS advertiu a oposição neste sentido. O CC poderia avançar mais a esse respeito? Não, não poderia. Por que? Porque o CC não poderia proibir os pronunciamentos da oposição. Todo membro do Partido tem o direito de apelar para a instância superior contra as resoluções do Partido. O CC não poderia deixar de levar em conta o direito dos membros do Partido. Por conseguinte o CC do P C (b) da URSS fez tudo o que estava ao seu alcance afim de evitar um novo aguçamento da luta e um novo incremento da luta fracionista.

Os líderes da oposição, alguns deles membros do CC deviam saber que os seus discursos não poderiam deixar de se transformarem apelação contra as resoluções de seu Partido, em investida contra o Partido e em ataque contra o Partido.

Dessa forma os discursos da oposição particularmente o discurso Kamenev, que não é um discurso pessoal seu, mas um pronunciamento de todo o bloco oposicionista, dado que o discurso lido por ele estava assinado por Trotski, Kamenev e Zinoviev — esse discurso de Kamenev assinala um ponto de viragem no desenvolvimento do bloco oposicionista a partir da “declaração” de 16 de outubro de 1926, que a oposição renunciava a seus métodos fracionista de luta, para o novo período de existência da oposição em que ela volta novamente aos métodos fracionista de luta contra o Partido.

Daí decorre a seguinte conclusão: a oposição infringiu a sua própria “declaração” de 16 de outubro de 1926, voltando aos métodos fracionista de luta.

Esses são os fatos, camaradas. Nada de hipocrisia. Kamenev tinha toda razão quando afirmou que se deve chamar um gato de gato. (Vozes: “Muito bem!”. “E um porco — de porco”).

2) Trotski afirmou no seu discurso que “após a revolução de fevereiro Stálin pregou uma tática errônea que Lênin caracterizou como desvio kautskista”.

Isto não é verdade, camaradas. Não passa de maledicência. Stálin não “pregou” qualquer desvio kautskista. O fato de que eu tenha tido algumas vacilações após a minha volta do exílio, não o ocultei eu próprio escrevi a respeito no meu folheto “A caminho de Outubro”. Mas quem de nós não passou por vacilações passageiras? No que diz respeito à posição de Lênin e às suas teses de Abril(30) de 1917 — justamente do que se trata aqui — o Partido sabe muito bem que eu estava então nas mesmas fileiras com o camarada Lênin, contra Kamenev e seu grupo que lutavam então contra as teses de Lênin.

As pessoas que têm conhecimento das atas da Conferência de Abril de 1917 de nosso Partido não podem ignorar que eu me encontrava nas mesmas fileiras que Lênin e lutava juntamente com ele contra a oposição de Kamenev.

O embuste aqui está em que Trotski confundiu-me com Kamenev. (Risos. Aplausos).

É verdade que Kamenev se mantinha então em oposição a Lênin, contra as suas teses, contra a maioria do Partido e desenvolvia um ponto de vista próximo à defensiva. É verdade que Kamenev, por exemplo, escreveu então no “Pravda”, no mês de Março, artigos de caráter semi-defensivo e, evidentemente, eu não posso responder por esses artigos de forma alguma.

A desgraça de Trotski está em que ele confundiu aqui Stálin com Kamenev. E onde esteve então Trotski, por ocasião da Conferência de Abril de 1917, quando o Partido travava luta contra o grupo Kamenev, em que Partido ele se encontrava então — no menchevique de esquerda ou no menchevique de direita e porque então ele não se encontrava nas fileiras da esquerda de Zimmerwald?(31) — que Trotski nos responda a isso, pelo menos pela imprensa.

Mas que então ele não se encontrava em nosso Partido — é um fato que seria conveniente lembrar a Trotski.

Trotski afirmou em seu discurso que “na questão nacional Stálin cometeu um erro muito grande”. Que erro é esse e em que circunstâncias foi cometido — Trotski não o disse.

Isto não é verdade, camaradas. Não passa de maledicência. Nunca tive qualquer divergência com o Partido ou com Lênin quanto ao problema nacional. Trotski se refere aqui, ao que parece, a um incidente insignificante, quando o camarada Lênin me censurou, perante o XII Congresso do nosso Partido, de que ponho em prática uma política orgânica demasiadamente severa em relação aos semi-nacionalistas georgianos, semi-comunistas do tipo de Mdivani, que foi recentemente nosso representante comercial em Franca, e de que eu os “persigo”. Os fatos subseqüentes, porém, demonstraram que os chamados “desvisionistas”, pessoas do tipo de Mdivani, mereciam na realidade uma atitude em relação a eles mais severa mesmo do que a que eu tive, como um dos secretários do CC de nosso Partido. Os acontecimentos subseqüentes demonstraram que os “desvisionistas” constituem uma fração corrupta do oportunismo mais descarado.

Que Trotski demonstre que não é assim. Lênin não sabia e não podia saber desses fatos, uma vez que se achava doente, estava de cama e não tinha possibilidades de acompanhar os acontecimentos. Mas que relação pode ter esse incidente insignificante com a posição de princípios de Stálin? Trotski, evidentemente, na sua maledicência insinua certas “divergências” entre eu e o Partido. Mas acaso não é fato que o CC em seu conjunto e inclusive o próprio Trotski, votaram unanimemente pelas teses de Stálin relativas ao problema nacional? Acaso não é fato que essa votação teve lugar após o incidente com Mdivani, por ocasião do XII Congresso de nosso Partido? Acaso não é fato que foi precisamente Stálin e não qualquer outro quem fez o informe sobre o problema nacional no XII Congresso? Onde estão aqui, portanto, as “divergências” sobre o problema nacional e para que, propriamente, Trotski quis mencionar este incidente insignificante?

Kamenev declarou em seu discurso que o XIV Congresso de nosso Partido cometeu um erro “ao abrir fogo contra a esquerda” isto é, ao abrir fogo contra a oposição. Conclui-se que o Partido lutou e continua a lutar contra o centro revolucionário do Partido Conclui-se que nossa oposição é esquerdista e não direitista.

Tudo isso são disparates, camaradas. São intrigas espalhadas pelos nossos oposicionistas. O XIV Congresso não cogitou e não podia cogitar de abrir fogo contra a maioria revolucionária. Na realidade, o Congresso abriu fogo, contra os direitistas, contra os nossos oposicionistas, que constituem a oposição de direita, embora se envolvam na toga “de esquerda”. A oposição, é lógico, tende a se considerar “esquerda revolucionária”. Mas o XIV Congresso de nosso Partido determinou, pelo contrário, que a oposição apenas se mascara com uma fraseologia “de esquerda”, mas na realidade é uma oposição oportunista. Sabemos como a oposição de direita se mascara freqüentemente com uma toga de “esquerda” para induzir a classe operária a erro.

A “oposição operária” também se considerava mais esquerdista do que qualquer outra, mas na prática se revelou a mais direitista de todas. A atual oposição também se considera a mais esquerdista de todas, mas a prática e todo o trabalho da atual oposição demonstram que ela constitui o centro de atração e o foco de todas as tendências oportunistas de direita que vão da “oposição operária” e do trotskismo até a “nova oposição” e todos os Souvarine que nela existem.

Kamenev cometeu um “pequeno” engano a respeito de “esquerdistas” e “direitistas”. Kamenev fez uma citação das obras de Lênin no sentido de que nós ainda não acabamos de construir a base socialista de nossa economia e declarou que o Partido comete um erro ao pretendermos afirmar que já acabamos de construir a base socialista de nossa economia.

São disparates, camaradas. Trata-se de uma pequena intriga de Kamenev. O Partido nunca declarou, até hoje, que já construiu a base socialista de nossa economia. Atualmente a discussão não se desenvolve, de forma alguma, em torno de se saber se já acabamos de construir, ou não, a base socialista de nossa economia. Não se discute esse problema atualmente. Discute-se, isso sim, se podemos ou vão podemos construir, com as nossas próprias forças, a base socialista de nossa economia. O Partido afirma que temos possibilidades de construir a base socialista de nossa economia. A oposição nega isso e, por isso mesmo, envereda pelo caminho do derrotismo e do capitulacionismo. Eis o que se discute atualmente. Ao sentir a instabilidade de sua posição, Kamenev tenta fugir à questão. Mas não o consegue.

Kamenev cometeu ainda um “pequeno” engano.

6) Trotski declarou em seu discurso que ele “se antecipou à política de Lênin em março-abril de 1917”. Conclui-se, dessa forma, que Trotski “se antecipou” às teses de Abril do camarada Lênin. Conclui-se que Trotski já em fevereiro-março de 1917 chegou independentemente à política defendida pelo camarada Lênin em abril-maio de 1917 nas suas teses de Abril.

Permití-me declarar, camaradas, que se trata de uma ostentação estúpida e indecorosa. Trotski “antecipando-se” à Lênin — é um quadro diante do qual não se pode deixar de rir. Os camponeses tem toda razão quando costumam dizer, em tais casos: “Comparam uma mosca a um kalantcha”(32) (Risos). Trotski “antecipando-se” a Lênin … Que Trotski tente aparecer e provar isto pela imprensa. Porque não experimentou fazê-lo ao menos, uma vez? Trotski “se antecipou” Lênin… Mas, nesse caso, como se explicar o fato de que o camarada Lênin, desde o seu aparecimento no cenário da Rússia, em abril de 1917 considerou necessário afastar-se da posição de Trotski? Como explicar o fato de que o “antecipado” julgue necessário afastar-se do “antecipador”? Acaso não é fato que Lênin declarou, várias vezes, em abril de 1917 que nada tem de comum com a fórmula fundamental de Trotski; “sem o tsar, mas um governo operário”? Acaso não fato que o próprio Lênin declarou então por diversas vezes que nada tem de comum com Trotski que tenta saltar a etapa do movimento camponês e a revolução agrária?

Onde está aí a “antecipação”?

Conclusão: necessitamos de fatos e não de invenções e intrigas, enquanto que a oposição prefere operar por meio de invenções e intrigas.

               2. Porque os Inimigos da Ditadura do Proletariado Elogiam a Oposição

Afirmei no meu informe que os inimigos da ditadura do proletariado, os mencheviques e os kadetes da emigração russa, elogiam a oposição. Afirmei que eles elogiam a oposição pelo trabalho que esta realiza para romper a unidade do Partido, o que quer dizer para solapar a ditadura do proletariado. Fiz uma série de citações que provam que os inimigos da ditadura do proletariado elogiam a oposição precisamente pelo fato de que a oposição, com o seu trabalho, põe em atividade as forças anti-proletárias do país e se esforça por desmoralizar o nosso Partido, desmoralizar a ditadura do proletariado e, por isso mesmo, facilitar a obra dos inimigos da ditadura do proletariado.

Em resposta a isto Kamenev (e também Zinoviev) se referiu a princípio à imprensa capitalista do Ocidente que, de fato, elogia o nosso Partido e também Stálin, e depois se referiu a Ustrialov, smienovierroviets(33), representante dos técnicos burgueses em nosso país, que se solidariza com a posição de nosso Partido.

No que diz respeito aos capitalistas, as suas divergências a respeito de nosso Partido são ainda maiores. Recentemente, por exemplo, a imprensa americana elogiou Stálin, afirmando que este lhe daria a possibilidade de conseguir grandes concessões. Mas verifica-se que atualmente criticam e insultam Stálin por todas as formas afirmando que ele, Stálin, os “enganou”. Certa ocasião, surgiu na imprensa burguesa uma caricatura de Stálin que o representa com um balde d’água nas mãos apagando as chamas da revolução. Mas posteriormente surgiu uma outra caricatura, como refutação à primeira e em que Stálin segura um balde cheio não de água, mas de querosene, e não apaga, mas aviva as chamas da revolução. (Aplausos e risos).

Há entre os capitalistas, como vemos, grandes divergências tanto a respeito da posição do nosso Partido quanto a respeito da posição de Stálin. Passemos à questão de Ustrialov. Quem é Ustrialov? Ustrialov é representante dos técnicos burgueses e da nova burguesia em geral. É um inimigo de classe do proletariado. Não há nenhuma duvida a esse respeito. Mas há várias espécies de inimigos. Há inimigos de classe que não se conciliam com o Poder Soviético e se esforçam no sentido de derrubá-lo custe o que custar. Há inimigos de classe que se conciliam, desta ou daquela forma, com o Poder Soviético. Há inimigos que se esforçam no sentido de preparar condições para a derrocada da ditadura do proletariado. São os mencheviques, os social-revolucionários, os kadetes, etc. Mas há também inimigos que cooperam com o Poder Soviético e lutam contra os que se conservam no ponto de vista da derrubada do Poder Soviético, mantendo esperanças de que a ditadura pouco a pouco se enfraquecerá, degenerará e depois atenderá aos interesses da nova burguesia. Ustrialov pertence a esta última categoria de inimigos.

Por que Kamenev citou Ustrialov? Para demonstrar, talvez, que o nosso Partido degenerou e Ustrialov por isso elogia Stálin ou o nosso Partido em geral? Vê-se que não foi para isso, uma vez que Kamenev não se decidiu a afirmá-lo com franqueza. Para que, então, Kamenev se referiu neste caso a Ustrialov? Evidentemente para fazer alusão à “degeneração”.

Kamenev, porém, se esqueceu de dizer que esse mesmo Ustrialov elogiou muito mais Lênin. Os artigos de Ustrialov que contêm louvores a Lênin são conhecidos de todo o nosso Partido. De que se trata então? Talvez o camarada Lênin tenha “degenerado” ou começou a “degenerar” quando introduziu a NEP? Basta colocar esta questão para se compreender todo o absurdo desta suposição sobre a “degeneração”.

Pois bem: por que Ustrialov elogia Lênin e nosso Partido e por que os mencheviques e os kadetes elogiam a oposição — eis o problema que é necessário solucionar em primeiro lugar e a que Kamenev tenta fugir por todos os meios ao seu alcance.

Os mencheviques e os kadetes elogiam a oposição pelo fato de que ela mina a unidade de nosso Partido, enfraquece a ditadura do proletariado e por isso mesmo facilita o trabalho dos mencheviques e dos kadetes no sentido da derrota do Poder Soviético. É o que provam as citações feitas. Ustrialov, por sua vez, elogia o nosso Partido pelo fato de que o Poder Soviético introduziu a NEP, permitiu a atividade do capital privado, utiliza-se dos serviços dos especialistas burgueses, de cuja ajuda e experiência o proletariado necessita.

Os mencheviques e os kadetes elogiam a oposição porque esta, com sua luta fracionista, os ajuda na tarefa de preparação das condições favoráveis à derrocada da ditadura do proletariado E os Ustrialov, convictos de que não se conseguirá derrotar a ditadura, abandonam o ponto de vista da derrocada do Poder Soviético, esforçam-se por conseguir um postozinho em torno da ditadura do proletariado e se esforçam no sentido de se manterem nas suas boas graças e elogiam o Partido pelo fato de que adotou a NEP e permitiu, sob determinadas condições, a existência de uma nova burguesia que deseja se utilizar do Poder Soviético para atender aos seus objetivos de classe mas que é utilizada pelo próprio Poder Soviético para atender aos objetivos da ditadura proletária.

É aí que reside a diferença entre os diversos inimigos de classe do proletariado de nosso país.

É aí que reside o motivo por que os mencheviques e os kadetes elogiam a oposição e os senhores Ustrialov o nosso Partido.

Desejaria chamar a vossa atenção para o ponto de vista de Lênin sobre este assunto.

“Na nossa República Soviética — afirma Lênin — o regime social se baseia na cooperação de duas classe: os operários e os camponeses e nela são admitidos, em determinadas condições, também os “nepmans”, isto é, a burguesia”(34).
É por que se dá à nova burguesia essa permissão de prestar alguma cooperação condicional e„ evidentemente, subordinada a determinadas condições e sob o controle do Poder Soviético — é precisamente por isso que Ustrialov elogia o nosso Partido, esperando agarrar-se a essa permissão e se utilizar do Poder Soviético para atender aos objetivos da burguesia. Mas os nossos cálculos e os do Partido são outros: utilizarmo-nos dos representantes da nova burguesia, de sua experiência e dos seus conhecimentos para sovietizá-los, assimilar uma parte deles e jogar fora a outra parte que não estiver em condições de ser sovietizada.

Não é verdade que Lênin estabelecia uma diferença entre a nova burguesia e os mencheviques e kadetes, admitindo e utilizando-se da primeira e propondo a prisão dos segundos?

Vejamos o que escreveu a respeito o camarada Lênin na sua obra “O Imposto em Espécie”:

“Não devemos recear que os comunistas “aprendam” com os especialistas burgueses e inclusive com os comerciantes, os capitalistas-cooperativistas e os outros capitalistas. Devemos aprender com eles de forma diferente, mas, em essência, da mesma maneira como aprendemos com os especialistas militares. Só se pode controlar os resultados da “ciência” pela experiência prática: devemos trabalhar melhor do que o faziam ao nosso lado, os técnicos burgueses, devemos conseguir, por todos os meios ao nosso alcance, o fomento da agricultura e da indústria e o desenvolvimento da troca entre a agricultura e a indústria. Não devemos regatear o pagamento “pela ciência”: não tenhamos receio de pagar caro pela ciência, sob a condição de que aprendamos o que nos é útil”.(35).
Foi assim que Lênin se manifestou a respeito da nova burguesia e dos técnicos burgueses, de quem Ustrialov é representante.

Vejamos agora o que Lênin afirmou a propósito dos mencheviques e dos social-revolucionários:

“Quantos aos “sem Partido” que na realidade não passam de mencheviques e social-revolucionários disfarçados no traje da moda dos sem Partido de Kronstadt — devemos mantê-los cuidadosamente na prisão ou mandá-los para Berlim, onde está Mártov, para que possam gozar livremente de todas as belezas de uma democracia pura e para que possam trocar idéias livremente com Tchernov, com Miliukov e com os mencheviques georgianos”(36).

Assim se manifestou Lênin.

Será que a oposição não concorda com Lênin? Que o diga francamente.

É assim que se explica o fato de que condenamos os mencheviques e os kadetes à prisão e permitimos a existência da nova burguesia sob determinadas condições e alguma limitação para, ao lutarmos contra ela através de medidas de ordem econômica e ao superá-la passo a passo, utilizarmo-nos ao mesmo tempo de sua experiência e de seus conhecimentos para a realização de nossa construção econômica.

Conclui-se, dessa forma, que alguns inimigos de classe da espécie de Ustrialov elogiam o nosso Partido, pelo fato de que adotamos a NEP e permitimos certa cooperação da burguesia condicional e limitada, ao regime soviético existente, uma vez que é nosso propósito utilizarmo-nos dos seus conhecimentos e da sua experiência para realização da nossa construção, objetivo que, como se sabe, estamos alcançando com êxito. Mas a oposição é elogiada por outros inimigos de classe, do gênero dos mencheviques e kadetes, uma vez que o seu trabalho conduz ao enfraquecimento da unidade de nosso Partido, ao enfraquecimento da ditadura do proletariado e facilita a tarefa dos mencheviques e dos kadetes que visa a derrota da ditadura.

Espero que a oposição compreenderá, finalmente, a amplitude da diferença entre os elogios da primeira categoria e os elogios da segunda categoria.

                                                             3. Há Erros e Erros

A OPOSIÇÃO falou aqui a respeito de alguns erros de determinados membros do CC. Houve alguns erros isolados, não se pode negar. Não há, entre nós, pessoas que sejam absolutamente “infalíveis”. Não existe em todo o mundo indivíduos dessa espécie. Mas há diferentes espécies de erros. Há erros em que os seus autores não insistem e que não dão origem a plataformas, tendências e facções. São erros que se esquecem rapidamente. Há outro gênero de erros, sobre os quais os seus autores insistem e dos quais surgem facções, plataformas e a luta dentro do Partido. São erros que não se podem esquecer rapidamente.

É preciso fazer uma distinção rigorosa entre estas duas categorias de erros.

Trotski declara, por exemplo, que eu cometi um erro, em certa ocasião, quando exercia funções junto ao departamento do monopólio do comércio exterior. Isto é verdade. Eu de fato propus, num período de ruína dos nossos órgãos armazenadores de gêneros alimentícios, a abertura provisória de um dos nossos portos para a exportação de trigo. Mas não insisti nesse erro e após me entender com Lênin tomei providências no sentido de corrigi-lo rapidamente. Eu poderia citar dezenas e centenas de erros idênticos de Trotski, corrigidos posteriormente pelo CC, e nos quais ele não insistiu. Se eu fosse me ocupar da enumeração de todos os erros, os muito sérios, os menos sérios e os pouco sérios, cometidos por Trotski durante a sua atividade no CC mas nos quais não persistiu e que foram esquecidos — teria de ler vários relatórios sobre o assunto. Mas penso que na luta política, na polêmica política, deve-se falar não sobre erros desse gênero, mas sobre os erros que se transformam posteriormente em plataformas e provocam lutas dentro do Partido.

Trotski e Kamenev, porém, levantaram justamente uma questão relacionada a esse gênero de erros que não se transformaram em tendências oposicionistas e que foram rapidamente esquecidos. E desde que foram justamente estas as questões levantadas pela oposição, permití-me então que eu também lembre aqui alguns erros do mesmo gênero, cometidos no passado pelos líderes da oposição. Talvez isso lhes sirva de lição e de outra vez não tentarão se agarrar a erros já esquecidos.

Houve uma ocasião em que Trotski afirmou no CC de nosso Partido que o Poder Soviético estava por um fio, que “já dera o que tinha de dar” e só restava ao Poder Soviético alguns meses de vida, senão uma semana. Isso foi em 1921. Foi um erro perigosíssimo que indicava o perigoso estado de espírito em que se encontrava Trotski. Mas o CC achou graça na sua afirmação, Trotski não insistiu nesse erro e o erro foi esquecido.

Houve uma ocasião — isso foi em 1922 — em que Trotski propôs que se permitisse às nossas empresas e trustes industriais que hipotecassem a propriedade do Estado, inclusive o capital fixo, aos capitalistas privados em troca de crédito. (O camarada Iaroslavski: “É o caminho da capitulação”.) Sem dúvida que o é. Teria sido, em todo caso, uma base para a desnacionalização de nossas empresas. Mas o CC rejeitou esse plano, Trotski lutou em favor do mesmo, mas deixou depois de insistir em seu erro e hoje já não há mais lembrança desse erro.

Houve uma ocasião — isso foi em 1922 — em que Trotski propôs uma rígida concentração de nossa indústria, uma concentração tão extravagante que acarretaria inevitavelmente o desemprego para cerca de um terço de nossa classe operária. O CC rejeitou essa proposta de Trotski como algo escolástico, extravagante e politicamente perigoso. Trotski lembrou por várias vezes ao C.C. que no futuro se teria, apesar de tudo, de enveredar por esse caminho. Não enveredamos, porém, por esse caminho. (Vozes no auditório: “Ter-se-ia de fechar a fábrica Putilov”). Sim, chegou-se a se cogitar disso. Mas depois Trotski deixou de insistir no seu erro e este foi esquecido.

E etc, etc.

Ou consideremos os amigos de Trotski — Zinoviev e Kamenev que gostam de lembrar com frequência que Bukhárín disse em certa ocasião — “enriquecei-vos” e se divertem todas as vezes em que citam essa sua observação.

Isso foi em 1922, quando se estudava entre nós a questão da concessão do Urkart(37) e as condições escravizadoras dessa concessão. E o que sucedeu então? Acaso não é fato que Kamenev e Zinoviev propunham que se aceitassem as condições escravizadoras da concessão do Urkart e insistiam nesse sentido? O CC, porém, rejeitou a concessão do Urkart, Zinoviev e Kamenev não persistiram no seu erro e este foi esquecido.

Ou consideremos, por exemplo, ainda um fato ligado aos erros de Kamenev a respeito do qual eu não desejaria falar mas que Kamenev me obriga a recordar já que se tornou enfadonho com as suas referências ao erro de Bukhárín, erro que Bukhárín já corrigiu e liquidou há muito tempo. Falo de um incidente acontecido com Kamenev quando este se achava exilado na Sibéria, após a revolução de fevereiro, quando Kamenev junto com ricos comerciantes da Sibéria (em Atchinsk) participou da remessa de um telegrama de congratulações ao constitucionalista Mikail Romanov (exclamações: “Que vergonha!”), ao mesmo Mikail Romanov a quem o tzar transmitiu, ao renunciar ao trono, o “direito ao trono”. Sem dúvida que isto constituiu um erro dos mais estúpidos e por esse erro Kamenev recebeu uma severa critica de nosso Partido por ocasião da Conferência de Abril de 1917. Mas Kamenev reconheceu o seu erro e este foi esquecido.

É necessário lembrar erros dessa espécie? É lógico que não é necessário, dado que foram esquecidos e de há muito liquidados. Por que então Trotski e Kamenev lançam esse gênero de erros à face de seus adversários do Partido? Não é claro que isso só serve para nos lembrar os numerosos erros dos líderes da oposição? E somos forçados a fazê-lo embora apenas para obrigar a oposição a perder o seu hábito de lançar mão de intrigas e ardis.

Há, porém, erros de outra espécie, erros nos quais os seus autores insistem e dos quais surgem posteriormente plataformas fraccionistas. Trata-se já de erros de uma espécie inteiramente diferente. Cumpre ao Partido descobrir esses erros e superá-los. Isso porque a superação desses erros é o único meio de manter os princípios do marxismo no Partido, conservar a unidade do Partido, liquidar o fracionismo e criar uma garantia contra a repetição desses erros.

Consideremos, por exemplo, o erro de Trotski por ocasião da paz de Brest e que se transformou em toda uma plataforma contra o Partido. É preciso lutar franca e decididamente contra tais erros? Sim, é preciso.

Ou consideremos outro erro de Trotski, por ocasião da discussão sindical, o qual provocou uma discussão em nosso Partido que abrangeu toda a Rússia.

Ou consideremos, por exemplo, o erro de Outubro de Zinoviev e Kamenev, que provocou uma crise no Partido, antes da insurreição de Outubro de 1917.

Ou, por exemplo, os erros atuais do bloco da oposição que se transformaram numa plataforma fracionista e em luta contra o Partido.

E etc., etc.

É preciso lutar franca e decididamente contra tais erros? Sim, é preciso.

É admissível que nos mantenhamos calados em face de tais erros, quando se trata das divergências no Partido? Claro que não é admissível.

                                       4. A Ditadura do Proletariado Segundo Zinoviev

Zinoviev falou, em seu discurso, sobre a ditadura do proletariado e afirmou que Stálin esclarece de maneira errônea a noção da ditadura do proletariado no seu conhecido artigo “Questões do Leninismo”.

Trata-se de um disparate, camaradas. Zinoviev responsabiliza os outros pelos seus próprios erros. Na realidade só se pode supor que Zinoviev adultera o conceito leninista da ditadura do proletariado. Zinoviev possui duas versões sobre a ditadura do proletariado, das quais nenhuma delas pode ser considerada marxista e em que uma contradiz radicalmente a outra.

Primeira versão. Partindo da tese certa de que o Partido constitui a força dirigente fundamental do sistema da ditadura do proletariado, Zinoviev chega a uma conclusão inteiramente errônea, de que a ditadura do proletariado é a ditadura do Partido. Zinoviev identifica, assim, a ditadura do Partido com a ditadura do proletariado.

Mas o que quer dizer identificar a ditadura do Partido com a ditadura do proletariado?

Quer dizer, em primeiro lugar, colocar um sinal de igualdade entre a classe e o Partido, entre o todo e uma parte desse todo, o que é absurdo e inteiramente incongruente. Lênin nunca identificou e não podia identificar o Partido com a classe. Entre o Partido e a classe há toda uma série de organizações de massas do proletariado sem Partido e atrás destas organizações se encontra toda a massa da classe dos proletários. Ignorar o papel e o peso específico dessas organizações das massas sem Partido e, além disso, toda a massa da classe operária e pensar que o Partido pode substituir as organizações das massas sem Partido do proletariado e toda a massa proletária em geral significa separar o Partido das massas, levar a burocratização do Partido ao mais alto grau, transformar o Partido em força infalível e implantar no Partido o “netchaievismo”(38) e o “araktcheevismo”(39).

Não é preciso dizer que Lênin nada tem de comum com tal “teoria” da ditadura do proletariado.

Quer dizer, em segundo lugar, conceber a ditadura do Partido não em sentido figurado, não no sentido da direção da classe operária pelo Partido, como justamente a concebeu o camarada Lênin, mas concebê-la no sentido exato da palavra “ditadura”, isto é, no sentido da substituição da direção pela coerção do Partido em relação à classe operária. Porque, o que é uma ditadura no sentido exato da palavra? A ditadura, no sentido exato da palavra é um poder que se apóia na coerção, uma vez que não há ditadura sem elementos de coerção se considerarmos a ditadura no sentido exato desta palavra.

Pode o Partido ser um poder que se apóie na coerção em relação à sua classe, em relação à maioria da classe operária? É claro que não. Em caso contrário seria não uma ditadura contra a burguesia, mas uma ditadura contra a classe operária.

O Partido é o mestre, o dirigente, o chefe de sua classe, mas não um poder que se apóia na coerção em relação à maioria da classe operária. De outra forma nada se teria a dizer sobre o método da persuasão como método fundamental do trabalho do Partido proletário nas fileiras da classe operária. De outra forma nada se teria a dizer sobre que o Partido deve convencer as amplas massas do proletariado da justeza de sua política e que somente no decurso do cumprimento desta tarefa é que o Partido poderia se considerar um Partido realmente de massas, capaz de arrastar o proletariado à luta.

De outra forma o Partido teria de substituir o método da persuasão pelo método das ordens e ameaças em relação ao proletariado, o que é absurdo e inteiramente incompatível com o conceito marxista da ditadura do proletariado.

Eis a que absurdo conduz a “teoria” de Zinoviev sobre a identificação da ditadura (direção) do Partido com a ditadura do proletariado.

Não é preciso dizer que Lênin nada tem de comum com esta “teoria”.

Combati esse absurdo, quando me manifestei contra Zinoviev, no meu artigo “Questões do Leninismo”.

Talvez não seja supérfluo declarar que esse artigo foi escrito e dado à publicidade de pleno acordo e com a aprovação dos camaradas dirigentes de nosso Partido.

É assim que se coloca a questão acerca da primeira versão da ditadura do proletariado segundo Zinoviev.

Consideremos agora a segunda versão. Se a primeira versão constitui uma deturpação do leninismo num determinado sentido, a segunda versão, por outro lado, constitui uma adulteração num sentido inteiramente diverso e diretamente oposto ao primeiro sentido.

A segunda versão reside em que Zinoviev define a ditadura do proletariado como direção não de uma classe, não da classe proletária, mas como direção de duas classes, os operários e os camponeses.

Vejamos como Zinoviev se manifesta a respeito:

“Atualmente a direção, o leme, a orientação da vida estatal se encontra nas mãos de duas classes — a classe operária e o campesinato” (G. Zinoviev — “A aliança operária e camponesa e o Exército Vermelho”).
Pode-se negar que existe entre nós atualmente a ditadura do proletariado? Não, não se pode. Em que consiste a ditadura do proletariado em nosso país? Constata-se, segundo Zinoviev, que ela reside no fato de que duas classes dirigem a vida estatal de nosso país. É isso compatível com o conceito marxista da ditadura do proletariado? É claro que é incompatível.

Lênin afirma que a ditadura do proletariado é o domínio de uma classe, da classe proletária. Nas condições da aliança entre o proletariado e o campesinato, esse poder único do proletariado se manifesta em que a força dirigente nessa aliança é o proletariado, o seu Partido, o qual não divide e não pode dividir a direção da vida estatal com outra força ou com outro Partido. Tudo isso é tão elementar e indiscutível que quase se torna desnecessário explicar cousas tão elementares. Mas Zinoviev conclui que a ditadura do proletariado é a direção de duas classes. Por que, então, não se denominar essa ditadura, não de ditadura do proletariado, mas de ditadura do proletariado e do campesinato? acaso não é claro que, segundo o conceito zinovievista da ditadura do proletariado, deveríamos ter a direção de dois Partidos, de acordo, com as duas classes que estão no “leme da vida estatal”? O que pode haver de comum entre esta “teoria” de Zinoviev e o conceito marxista da ditadura do proletariado?

Não é preciso dizer que Lênin nada tem de comum com esta “teoria”.

Conclusão: Zinoviev adultera, de modo evidente, a doutrina leninista da ditadura do proletariado, quer se trate da primeira versão da “teoria” zinovievista ou de sua segunda versão.

                                                  5. Os Aforismos Oraculares de Trotski

Desejaria me deter, também, sobre algumas declarações ambíguas de Trotski que têm o objetivo essencial de induzir-nos a erro. Desejaria apenas citar alguns fatos.

Primeiro fato. Quando se perguntou a Trotski qual era a sua posição atual em relação a seu passado menchevique, Trotski respondeu, não sem alguma pose:

“Já pelo próprio fato de que eu ingressei no Partido Bolchevique… já esse fato por si mesmo demonstra que depositei às portas do Partido tudo o que até então me afastava do bolchevismo”.
O que significa “depositar às portas do Partido tudo o que separava”Trotski”do bolchevismo”? Remmele tinha razão ao replicar a essas palavras de Trotski: “Como se pode depositar tais coisas às portas do Partido”? E, de fato, como se pode depositar tais sujeiras às portas do Partido? (Risos). Essa pergunta ficou sem resposta da parte de Trotski.

Além disso, o que significa depositar às portas do Partido as sobrevivências mencheviques de Trotski? Depositou ele estas coisas às portas do Partido e as armazenou para futuras lutas dentro do Partido ou simplesmente as queimou? Parece que Trotski tencionou armazená-las às portas do Partido. Ou então como se explicar de outra forma as divergências permanentes de Trotski com o Partido, que tiveram início algum tempo após o seu ingresso no Partido e que ainda não cessaram até o presente momento?

Deveis julgar por vós mesmos. 1918 — divergências de Trotski com o Partido quanto à questão da paz de Brest e luta dentro do Partido. 1920-21 — divergências de Trotski com o Partido quanto ao movimento sindical e discussão em toda a Rússia. 1923 — divergências de Trotski com o Partido quanto às questões fundamentais da construção do Partido, quanto à sua política econômica, e discussão no Partido. 1924 — divergências de Trotski com o Partido quanto à questão da análise da Revolução de Outubro e da direção do Partido e discussão no Partido. 1925-26 — divergências de Trotski e de seu bloco oposicionista com o Partido quanto às questões fundamentais de nossa revolução e da política corrente.

Não são divergências demais para um homem que “depositou às portas do Partido tudo o que o “separava do bolchevismo”?

Pode-se afirmar que estas divergências permanentes de Trotski com o Partido constituem “um caso casualmente casual” e não um fenômeno regular?

Dificilmente se poderia afirmá-lo.

Qual pode ser o objetivo visado, em tal caso, por essa declaração de Trotski mais do que ambígua?

Penso que um só objetivo: atirar areia nos olhos dos ouvintes e induzi-los a erro.

Segundo fato. Sabe-se que a questão da “teoria” da revolução permanente de Trotski tem grande significação do ponto de vista da ideologia de nosso Partido e do ponto de vista das perspectivas de nossa revolução. Sabe-se que esta “teoria” tinha a pretensão e continua a ter a pretensão de concorrer com a teoria do leninismo sobre a questão das forças motrizes de nossa revolução. É de todo compreensível, por isso, que se tenha dirigido a Trotski, por mais de uma vez, e se lhe tenha indagado a respeito da atitude que mantém, hoje, em 1926, sobre a sua “teoria” da revolução permanente. E que resposta nos deu Trotski em seu discurso perante o Pleno do Komintern? Essa resposta é mais do que ambígua. Ele afirmou que a “teoria” da revolução permanente possui algumas “lacunas” e que alguns aspectos desta “teoria” não foram justificados pela nossa experiência revolucionária. Conclui-se que se alguns aspectos desta “teoria” constituem “lacunas”, então há outros aspectos desta “teoria” que não constituem “lacunas” e que devem permanecer em vigor. Mas como separar alguns aspectos da “teoria” da revolução permanente de outros aspectos desta “teoria”? Acaso a “teoria” da revolução permanente não constitui todo um sistema de pontos de vista? Acaso se pode comparar a “teoria” da revolução permanente a uma caixa que tem dois cantos apodrecidos e os dois cantos restantes ilesos e em perfeito estado de conservação? E para que tudo isso, uma vez que podemos nos limitar aqui a uma declaração simples, que não envolve responsabilidade alguma, sobre as “lacunas” em geral, não indicando quais são precisamente as “lacunas” que Trotski tem em vista e quais são precisamente os aspectos da “teoria” da revolução permanente que ele considera errados? Trotski se refere a algumas “lacunas” da “teoria” da revolução permanente, mas quais são precisamente essas “lacunas” e quais são precisamente os aspectos desta “teoria” que ele considera errados — sobre tudo isso ele não disse uma palavra. As declarações de Trotski sobre esta questão devem ser consideradas, por isso, uma resposta formal ao problema, uma tentativa de se livrar de uma dificuldade por meio de uma frase ambígua a respeito de “lacunas” que não envolvem nenhuma responsabilidade para Trotski.

Trotski procede neste caso da mesma forma como procediam, nos velhos tempos, alguns hábeis oráculos que se livravam dos seus clientes por meio de respostas ambíguas como essa: “um grande exército será vencido ao atravessar um rio”. Que rio é esse e que exército será vencido — entenda quem puder. (Risos).

                6. Zinoviev no Papel de um Colegial que Cita Marx, Engels e Lênin

EU desejaria, a seguir, dizer algumas palavras sobre a maneira particular de Zinoviev citar os clássicos do marxismo. O traço característico desta maneira zinovievista consiste em confundir todos os períodos e datas, colocá-los num monte, separar teses e fórmulas isoladas de Marx e Engels da sua ligação viva com a realidade, transformá-las em dogmas obsoletos e infringir, dessa forma, a exigência fundamental de Marx e Engels no sentido de que “o marxismo não é um dogma, mas um guia para a ação”.

Citemos alguns fatos.

1) Primeiro fato. Zinoviev, em seu discurso, citou um conhecido trecho do folheto de Marx “A luta de classes na França” (1848-1850) que afirma que “a tarefa da classe operária (trata-se da vitória do socialismo.— J. St.) não tem solução dentro dos limites das fronteiras nacionais”(40).

Zinoviev fez, em seguida, a seguinte citação tirada de uma carta de Marx a Engels (1858):

“Um problema difícil para nós é o seguinte: no continente a revolução é inevitável e assumirá imediatamente um caráter socialista. Acaso não será ela inevitavelmente sufocada neste pequeno recanto em vista de que o movimento da sociedade burguesa num território ilimitadamente maior se acha ainda em sua fase ascendente?” (O grifo é meu — J. St.)
Zinoviev faz citações de obras de Marx escritas na década de 40 a 50 do século passado e chega à conclusão de que pelo mesmo motivo o problema da vitória do socialismo em países considerados isoladamente não tem solução em todos os tempos e períodos do capitalismo.

Pode-se afirmar que Zinoviev compreendeu Marx, o seu ponto de vista, a sua linha básica na questão da vitória do socialismo em países considerados isoladamente? Não, não se pode afirmá-lo. Ao contrário percebe-se por essas citações que Zinoviev nada compreendeu de Marx e que adulterou o ponto de vista fundamental de Marx.

Decorre da citação de Marx que a vitória do socialismo em determinados países seja impossível em todas as condições do desenvolvimento do capitalismo? Não, não decorre. Das palavras de Marx decorre apenas que a vitória do socialismo em países considerados isoladamente é impossível somente se “o movimento da sociedade burguesa ainda continua em linha ascendente”. Pois bem, e em que ficamos, se o movimento da sociedade burguesa em seu conjunto, por força do curso dos acontecimentos, modifica a sua direção e começa a seguir uma linha descendente? Das palavras de Marx decorre que em tais condições desaparece o motivo para se negar a possibilidade da vitória do socialismo em países considerados isoladamente.

Zinoviev se esquece de que os trechos de Marx dizem respeito à época do capitalismo pré-monopolista, quando o capitalismo em seu conjunto se desenvolvia segundo uma linha ascendente, quando o progresso do capitalismo em seu conjunto não era acompanhado pelo processo de decomposição de um país tão desenvolvido no sentido capitalista como a Inglaterra, quando a lei da desigualdade de desenvolvimento ainda não representava, e não podia representar, o fator tão poderoso de decomposição do capitalismo em que se transformou posteriormente, na época do capitalismo-monopolista, na época do imperialismo. Para a época do capitalismo pré-monopolista é perfeitamente justa a afirmação de Marx no sentido de que é impossível a solução da tarefa fundamental da classe operária em países considerados isoladamente. Já em meu informe apresentado à XV Conferência do PC (b) da URSS eu afirmei que para os velhos tempos, para a época do capitalismo pré-monopolista, a questão da vitória do socialismo em países considerados isoladamente não tinha solução e isso era perfeitamente justo. Pois bem, e agora, na etapa atual do capitalismo, em que o capitalismo pré-monopolista se transformou em capitalismo imperialista — pode-se afirmar que o capitalismo em seu conjunto se desenvolve atualmente segundo uma linha ascendente? Não, não se pode afirmá-lo. A análise da essência econômica do imperialismo feita por Lênin nos indica que na época do imperialismo a sociedade burguesa em seu conjunto segue uma linha descendente. Lênin tem toda razão quando afirma que o capitalismo monopolista, o capitalismo imperialista é o capitalismo moribundo. Vejamos o que nos diz o camarada Lênin a respeito:

“Compreende-se porque o imperialismo é o capitalismo moribundo, o período de transição no sentido do socialismo: o monopólio que surge do capitalismo já é a morte do capitalismo e o princípio de sua transição ao socialismo. A gigantesca socialização do trabalho realizada pelo imperialismo (o que os apologéticos — os economistas burgueses, chamam de “entrelaçamento”) significa a mesma coisa”(41).
Uma coisa é o capitalismo pré-monopolista que se desenvolve em seu conjunto segundo uma linha ascendente. Outra coisa é o capitalismo imperialista, quando o mundo já se acha dividido entre grupos capitalistas, quando o desenvolvimento aos saltos do capitalismo exige novas repartições de um mundo já repartido por meio dos choques armados, quando os conflitos e as guerras entre os grupos imperialistas que surgem nessa base, enfraquecem a frente mundial do capitalismo, tornam-o facilmente vulnerável e criam a possibilidade do rompimento dessa frente em determinados países. A vitória do socialismo em países considerados isoladamente era impossível outrora, na época do capitalismo pré-monopolista. Hoje, na época do imperialismo, na época do capitalismo moribundo, já se tornou possível a vitória do socialismo em países isolados.

É assim que se apresenta o problema, camaradas, e isso Zinoviev não quer compreender.

Vemos que Zinoviev cita Marx como o faria um colegial, afastando-se do ponto de vista de Marx e apegando-se a trechos isolados das obras de Marx, empregando, além disso, essas citações não como marxista, mas como social-democrata.

Em que consiste a maneira revisionista de se citar Marx? A maneira revisionista de se citar Marx consiste na substituição do ponto de vista de Marx por citações de determinadas teses de Marx tomadas sem ligação com as condições concretas de uma determinada época. Em que consiste a maneira zinovievista de se citar Marx? A maneira zinovievista de se citar Marx consiste, na substituição do ponto de vista de Marx pela letra e por citações de Marx desligadas de sua conexão viva com as condições do desenvolvimento que se processou nos anos da década de cinqüenta do século XIX e transformá-las em dogma.

Penso que os comentários a respeito são supérfluos.

2) Segundo fato. Zinoviev cita palavras de Engels, que constam da sua obra “Princípios do Comunismo”(42) no sentido de que a revolução proletária “não pode ter lugar num país qualquer”, confronta estas palavras de Engels com as minhas declarações feitas por ocasião da XV Conferência do PC (b) da URSS relativamente a que nós, na URSS, já realizamos nove décimos das doze tarefas apresentadas por Engels e tira daí duas conclusões: em primeiro lugar que é impossível a vitória do socialismo em países considerados isoladamente e em segundo lugar que eu, nas minhas declarações, considero de maneira demasiadamente otimista as atuais condições da URSS.

Quanto aos trechos de Engels citados, é preciso dizer que Zinoviev, ao comentar as citações que faz, comete o mesmo erro que cometeu em relação à citação de trechos extraídos de Marx. É compreensível que na época do capitalismo pré-monopolista e na época do desenvolvimento da sociedade burguesa em seu conjunto em linha ascendente, Engels devia chegar à uma conclusão negativa quanto à solução do problema da possibilidade da vitória do socialismo em países considerados isoladamente. Divulgar mecanicamente esta tese de Engels, que se refere à velha época do capitalismo, na nova etapa do capitalismo, na sua etapa imperialista — significa adulterar o ponto de vista de Engels e Marx em favor de sua letra, de uma citação isolada tomada sem ligação com as condições reais do desenvolvimento na época do capitalismo pré-monopolista. Eu já afirmei em meu informe apresentado à XV Conferência do PC (b) da URSS que, naquela época, esta fórmula de Engels era a única fórmula justa. Mas não se pode deixar de compreender que é de todo impossível comparar a época dos anos da década de 40 do século passado, quando não se podia falar em capitalismo moribundo, com a atual época de desenvolvimento do capitalismo, a época do imperialismo, quando o capitalismo em seu conjunto é o capitalismo moribundo. Será por acaso difícil se compreender que o que se considerava então impossível se tornou atualmente, na vigência das novas condições do capitalismo, possível e necessário?

Vemos que tanto aqui em relação à Engels quanto em relação à Marx, Zinoviev permaneceu fiel à sua maneira revisionista de citar os clássicos do marxismo.

No que diz respeito, porém, à segunda conclusão de Zinoviev, então se verifica que ele desfigurou completamente o pensamento de Engels relativamente às suas doze reivindicações ou medidas que a revolução operária teria de pôr em prática. Zinoviev é de parecer que Engels nos teria apresentado, nas 12 reivindicações que menciona, um amplo programa do socialismo até o desaparecimento das classes o desenvolvimento da produção mercantil e, inclusive, o desaparecimento do Estado. Isto absolutamente não é verdade. Trata-se de uma adulteração completa do pensamento de Engels. Nas doze reivindicações apresentadas por Engels não há nenhuma palavra que se refira ao desaparecimento das classes, nem ao desaparecimento da produção mercantil, nem ao desaparecimento do Estado, nem ao desaparecimento de todas e quaisquer formas de propriedade privada. Pelo contrário, as 12 reivindicações de Engels se baseiam na existência da “democracia” (Engels considerava então “democracia” a ditadura do proletariado), na existência das classes e na existência da produção mercantil. Engels afirma claramente que as suas 12 reivindicações têm em vista “atentar diretamente contra a propriedade privada” (e não a sua destruição total) e “assegurar a existência do proletariado” (e não o desaparecimento do proletariado como classe). Eis as palavras textuais de Engels:

“A revolução do proletariado que, com toda a probabilidade se processará, só gradualmente é que poderá transformar a sociedade atual e só depois disso é que acabará com a propriedade privada, quando já tiver sido criada uma massa de meios de produção indispensáveis a que isso se realize… Instituirá, em primeiro lugar, um regime democrático e, por isso mesmo, direta ou indiretamente, a dominação política do proletariado… A democracia seria completamente inútil para o proletariado se não fosse utilizada imediatamente como meio para a realização de amplas medidas que atentem diretamente contra a propriedade privada e que assegurem a existência do proletariado. (Os grifos são meus — J. St.). Essas medidas principais, que decorrem necessariamente das condições agora vigentes, são as seguintes”.
E segue-se a enumeração das já conhecidas 12 reivindicações ou medidas (Vide Engels, “Os princípios do comunismo”)(43).

Vemos, dessa forma, que Engels não trata de um amplo programa do socialismo que inclua o desaparecimento das classes, do Estado, da produção mercantil, etc., mas dos primeiros passos da revolução socialista, das primeiras medidas necessárias a que se realize imediatamente uma limitação da propriedade privada, assegure a existência da classe operária e fortaleça o domínio político do proletariado.

A conclusão só pode ser uma: Zinoviev adulterou o pensamento de Engels, ao caracterizar as suas 12 reivindicações como um amplo programa de socialismo.

Que afirmei eu nas minhas palavras de encerramento da XV Conferência do PC (b) da URSS? Afirmei que entre nós, na URSS, já se acham realizados nove décimos das reivindicações apresentadas por Engels e que constituem os primeiros passos da revolução socialista.

Isso significa que o socialismo já esteja realizado entre nós?

É claro que não.

Por conseguinte Zinoviev, fiel à sua maneira de citar, fez uma “pequena” trapaça em relação às minhas declarações feitas na XV Conferência do PC (b) da URSS.

Por aí vemos aonde é levado Zinoviev por sua maneira específica de citar Marx e Engels.

A maneira de Zinoviev citar me lembra uma “história” bastante engraçada sucedida a social-democratas e que nos foi contada por um sindicalista revolucionário sueco, em Estocolmo. Isso aconteceu em 1906, por ocasião do Congresso de Estocolmo de nosso Partido. Esse companheiro sueco descrevia na sua narração, de modo bastante engraçado, como alguns social-democratas citavam Marx e Engels de maneira pedante e ao pé da letra, e nós, delegados ao Congresso, riamos a valer ao ouvi-lo. Mas vamos à “história”. Os acontecimentos se desenrolam na Criméia, por ocasião do levante da esquadra e da infantaria. Chegam representantes da esquadra e da infantaria e dizem aos social-democratas: durante os últimos anos vós nos conclamastes à insurreição contra o tsarismo, nós nos convencemos de que o apelo é justo e nós, marinheiros e soldados da infantaria, entendemo-nos quanto ao levante e agora vimos pedir o vosso conselho. Os social-democratas ficaram alarmados e responderam que não poderiam solucionar a questão sem uma conferência especial. Os marinheiros deram a entender que não se podia perder tempo, que a coisa já estava preparada e que se não obtivessem uma resposta imediata dos social-democratas e se estes não tomassem a direção do levante, a coisa poderia fracassar. Os marinheiros e os soldados se afastaram e ficaram aguardando as diretivas e os social-democratas convocaram uma conferência para a análise do problema. Consultaram o primeiro tomo do “O Capital”, consultaram o segundo tomo “O Capital” e finalmente consultaram o terceiro tomo do “O Capital”. Procuram indicações relativas à Criméia, a Sebastopol e a insurreições na Criméia. Mas nenhuma indicação, absolutamente nenhuma, encontram nos três tomos do “Capital”, nem sobre Sebastopol, nem sobre a Criméia e nem sobre levantes de marinheiros e soldados. (Risos). Consultam outras obras de Marx e Engels, procuram diretivas e continuam a não encontrá-las. (Risos). Que fazer? E os marinheiros já haviam voltado e aguardavam a resposta. E então? Os social-democratas tiveram que confessar que em tal situação de fato não se achavam em condições de dar uma indicação qualquer que fosse aos marinheiros soldados. “Foi assim que fracassou a insurreição da esquadra e da infantaria” — termina a sua narrativa o camarada sueco. (Risos).

Evidentemente há muito de exagero nessa narrativa. Mas não há dúvida também que essa narrativa revela, com muita propriedade, o defeito fundamental da maneira zinovievista de citar Marx e Engels.

Terceiro fato. Trata-se da citação de trechos das obras de Lênin. Zinoviev tudo fez para acumular todo um monte de citações das obras de Lênin e “pasmar” os seus leitores. Evidentemente, Zinoviev pensa que quanto mais citações fizer, tanto melhor e, assim procedendo, pouco leva em consideração o conteúdo dessas citações e a que elas conduzem. E, todavia, se lermos atentamente essas citações, torna-se então fácil compreender que Zinoviev não fez nenhuma citação das obras de Lênin que aludisse, ainda que de passagem à utilidade da atual posição capitulacionista do bloco oposicionista. Convém observar que Zinoviev. por qualquer motivo, não citou um dos trechos fundamentais de Lênin relativamente a que se pode considerar assegurada a solução do “problema econômico” da ditadura e a vitória do proletariado da URSS na tarefa de resolver esse problema.

Zinoviev fez uma citação de um trecho do folheto de Lênin “Sobre a Cooperação” que afirma que temos, na URSS, tudo o que é necessário e suficiente para a construção de uma sociedade socialista completa. Mas ele não tentou mover uma palha ao menos para colocar a questão, ainda que de passagem, de modo a esclarecer qual o objetivo dessa citação e em proveito de quem é feita: em proveito do bloco oposicionista ou em proveito do PC (b) da URSS.

Zinoviev se esforçou por demonstrar que é impossível a vitória da construção socialista em nosso país mas, como prova desta tese, fez citações das obras de Lênin que refutam de alto e baixo a tese de Zinoviev.

Consideremos, por exemplo, uma dessas citações:

“Já tive ocasião de afirmar por mais de uma vez: em comparação com os países avançados seria mais fácil aos russos iniciar uma grande revolução proletária, mas lhes será mais difícil continuá-la e conduzi-la à vitória definitiva no sentido de uma organização completa da sociedade socialista” (O grifo é meu —J. St).(44)
Zinoviev nem mesmo pensou em que esta citação fala não em proveito do bloco oposicionista, mas em proveito do Partido, porque nela se fala não sobre a impossibilidade da construção do socialismo na URSS, mas sobre as dificuldades desta construção e em que se reconhece nessa citação a possibilidade da construção do socialismo como algo que se subentende por si mesmo. O Partido sempre afirmou que será mais fácil iniciar a revolução na URSS do que nos países capitalistas da Europa Ocidental mas será mais difícil construir o socialismo. Isso quer dizer que o reconhecimento deste fato equivale à negação da possibilidade da construção do socialismo na URSS? Sem dúvida que não. Pelo contrário, deste fato decorre somente a conclusão de que a construção do socialismo na URSS é inteiramente possível e necessária, apesar das dificuldades.

Pergunta-se: por que Zinoviev teve necessidade dessa espécie de citação?

Evidentemente para “confundir” os seus leitores com um monte de citações e pescar em águas turvas. (Risos).

Mas agora se torna claro, penso, que Zinoviev não atingiu o seu objetivo e que a sua maneira mais do que divertida de citar os clássicos do marxismo o colocou em situação positivamente insustentável.

                                  7. O Revisionismo Segundo Zinoviev

CITEMOS, por fim, algumas palavras relativamente à explicação que Zinoviev dá ao conceito “revisionismo”. Zinoviev é de parecer que todo melhoramento e todo esforço que se faca no sentido de tornar mais precisas velhas fórmulas ou teses isoladas de Marx e Engels e com maior razão a sua substituição por outras fórmulas correspondentes às novas condições, é revisionismo. Pergunta-se: por que? Acaso o marxismo não é uma ciência e acaso a ciência não se desenvolve, se enriquece com a nova experiência e melhora as velhas fórmulas? Porque, ao que se sabe, uma “revisão” significa “reexame” e o melhoramento e uma precisão maior das velhas fórmulas não podem ser realizados sem um certo “reexame” destas fórmulas e, por conseguinte, todo melhoramento e precisão maior das velhas fórmulas e qualquer enriquecimento do marxismo pela nova experiência e novas fórmulas é revisionismo. Tudo isso é engraçado, sem dúvida. Mas o que fazer com Zinoviev se ele mesmo se coloca em posição ridícula e ao mesmo tempo faz alarde de sua luta contra o revisionismo.

Stálin, por exemplo, teve o direito de modificar e tornar mais precisa a sua própria fórmula relativa à vitória do socialismo em um único país (1924) em completa correspondência com as indicações e a linha fundamental do leninismo? Segundo Zinoviev, Stálin não tinha esse direito. Por que? Porque a modificação e uma precisão maior de uma velha fórmula é o “reexame” desta fórmula, e “reexame” em alemão significa revisão. Não é claro que Stálin caiu no revisionismo?

Conclui-se, dessa forma, que temos, segundo Zinoviev, um novo critério do revisionismo que condena o pensamento marxista à completa imobilidade em face do temor da acusação de revisionismo.

Se, por exemplo, Marx afirmou, em meados do século passado, que é impossível a vitória do socialismo dentro das fronteiras de uma nação na época em que o desenvolvimento do capitalismo se processa no sentido de uma linha ascendente, e Lênin afirmou, no ano 15 do século XX que essa vitória é possível em virtude do fato de que o desenvolvimento do capitalismo se processa no sentido de uma linha descendente e nós nos achamos em presença do capitalismo moribundo — então chega-se à conclusão de que Lênin, em relação à Marx, caiu no revisionismo.

Se, por exemplo, Marx afirmou em meados do século passado que “a reviravolta socialista nas relações econômicas de qualquer pais do continente europeu ou até mesmo de todo o continente europeu com exceção da Inglaterra — é apenas uma tempestade num copo d’água”(45), e Engels, levando em conta a nova experiência da luta de classes, modificou posteriormente esta tese, afirmando que “os franceses começariam a revolução socialista e os alemães a acabariam” — ent&o conclui-se que Engels caiu em revisionismo em relação à Marx.

Se Engels afirmou que os franceses começariam a revoluç&o socialista e os alemães a acabariam, enquanto que Lênin, levando em conta a experiência da vitória da revolução na URSS, modificou esta formulação e a substituiu por outra, afirmando que os russos iniciaram a revolução socialista e que os alemães, os franceses e os ingleses a acabariam — então conclui-se que Lênin caiu em revisionismo em relação a Engels e, além do mais, em relaç&o a Marx.

Citemos, a respeito, as palavras de Lênin:

“Os grandes fundadores do socialismo Marx e Engels, ao observarem, no decurso de uma série de décadas de desenvolvimento do movimento operário e de progresso da revolução socialista mundial, notaram claramente que a transição do capitalismo ao socialismo exigirá profundos sofrimentos de gerações e gerações, um longo período da ditadura do proletariado, a destruição de tudo o que é velho, a destruição implacável de todas as formas do capitalismo, a cooperação dos operários de todos os países que devem fundir todos os seus esforços a fim de garantir a vitória total. E afirmaram que em fins do século XIX os acontecimentos se processarão de forma a que “os franceses começarão e os alemães terminarão” — os franceses começarão porque eles criaram em si mesmos, no decorrer de décadas de revolução, a suprema capacidade da iniciativa na ação revolucionária que fez deles a vanguarda da revolução socialista.
Acha-se atualmente diante de nós uma nova combinação de forças do socialismo internacional. Afirmamos que o movimento terá mais facilidade em começar nos países que não pertencem ao número dos países exploradores e que têm a possibilidade de mais facilmente pilhar e subornar a aristocracia operária… Os acontecimentos se processaram de maneira diferente da que Marx e Engels previram (o grifo é meu — J. St.) e nos deram, aos operários e demais classes exploradas da Rússia, o honroso papel de vanguarda da revolução socialista internacional e hoje vemos claramente como marcha a passos rápidos o desenvolvimento da revolução; os russos começaram — e os alemães, franceses e ingleses terminarão e o socialismo vencerá”(46).
Vemos que Lênin, aqui, “re-elabora” Engels e Marx, caindo, segundo Zinoviev, no “revisionismo”.

Se, por exemplo, Marx e Engels definiram a Comuna de Paris como uma ditadura do proletariado que, como se sabe, era dirigida por dois Partidos, dos quais nenhum era marxista, e Lênin, levando em conta a nova experiência da luta de classes nas condições do imperialismo, afirmou posteriormente que uma ditadura do proletariado algo desenvolvida só pode ser realizada sob a direção de um Partido, o Partido do marxismo — então conclui-se que Lênin caiu em manifesto “revisionismo” em relação a Marx e Engels.

Se Lênin afirmou, na etapa anterior à guerra imperialista, que uma federação constitui um tipo inadmissível de organização estatal, mas em 1917, levando em conta a nova experiência da luta do proletariado reconsiderou e modificou esta formulação, afirmando que uma federação é um tipo compatível de organização estatal no período de transição ao socialismo — então conclui-se que Lênin caiu em “revisionismo” em relação a si mesmo e ao leninismo.

E etc., etc.

Conclui-se daí, segundo Zinoviev, que o marxismo não deve se enriquecer com a nova experiência, que é revisionismo qualquer melhoramento de determinadas teses e fórmulas deste ou daquele clássico do marxismo.

O que é o marxismo? O marxismo é uma ciência. Pode-se manter e desenvolver o marxismo como ciência se não se o enriquecer com a nova experiência da luta de classes do proletariado, se não se re-elaborar esta experiência do ponto de vista do marxismo, sob o ponto de vista do método marxista? Claro que não.

Torna-se claro depois disto que o marxismo exige o melhoramento e o enriquecimento das velhas fórmulas na base da consideração da nova experiência mantendo-se o ponto de vista do marxismo, mantendo-se o seu método, mas Zinoviev procede ao contrário, mantendo a letra e substituindo o ponto de vista do marxismo e seu método pela letra de determinadas teses do marxismo.

O que pode haver de comum entre o marxismo real e a substituição da linha fundamental do marxismo pela letra de determinadas fórmulas e citações tiradas de determinadas teses do marxismo? Acaso se pode duvidar de que isto não marxismo mas uma caricatura do marxismo?

Marx e Engels tiveram em vista justamente “marxistas” da qualidade de Zinoviev, quando afirmaram:

“A nossa doutrina não um dogma, mas um guia para a ação”.
A desgraça de Zinoviev está em que ele não compreende o sentido e a significação destas palavras de Marx e de Engels.

             II — A Questão da Vitória do Socialismo em Determinados Países Capitalistas

Eu me manifestei a respeito determinados erros da oposição e os conceitos realmente errôneos que se notam nos discursos dos líderes da oposição. Esforcei-me no sentido de esgotar esta questão, sob a forma de observações isoladas na primeira parte das minhas palavras finais. Permití-me que passe agora à essência questão.

          1. Premissas da Revolução Proletária em Países Isolados na Época do Imperialismo

A PRIMEIRA questão é a questão da possibilidade da vitória do socialismo em determinados países capitalistas na época do imperialismo. Não se trata, como vemos, de um país qualquer, mas de todos os países imperialistas mais ou menos desenvolvidos.

Em que consiste o erro fundamental da oposição na questão da vitória do socialismo em determinados países capitalistas?

O erro fundamental da oposição está em que ela não compreende ou não quer compreender toda a diferença entre o capitalismo pré-imperialista e o capitalismo imperialista, não compreende a essência econômica do imperialismo e confunde duas fases diversas do capitalismo — a fase pré-imperialista e a fase imperialista.

Deste erro da oposição decorre outro erro seu e que consiste em que ela não compreende o sentido e a significação da lei da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo, contrapõe a esta lei a tendência à nivelação e resvala desta forma, para a posição kautskista do ultra-imperialismo.

Estes dois erros conduzem ao terceiro erro da oposição, ao erro no sentido de que ela divulga mecanicamente e, na fase do capitalismo imperialista, fórmulas e teses que surgiram na base do capitalismo pré-imperialista em virtude do que ela chega à negação da possibilidade da vitória do socialismo em países capitalistas considerados isoladamente.

Em que consiste a diferença entre o velho capitalismo, pré-monopolista, e o novo capitalismo, monopolista, se formos expressar esta diferença em duas palavras?

Consiste em que o desenvolvimento do capitalismo através da livre concorrência foi substituído pelo desenvolvimento através de imensas uniões monopolistas dos capitalistas e que o velho capital, “culto” e “progressista” foi substituído pelo capital financeiro, pelo capital “em decomposição”, que a expansão “pacífica” do capital e a sua distribuição pelos territórios “livres” foram substituídas pelo desenvolvimento aos saltos, pelo desenvolvimento através da repartição de um mundo já dividido por meio de choques armados entre os grupos capitalistas e que o velho capitalismo que em seu conjunto se desenvolvia no sentido de uma linha ascendente, foi substituído, dessa forma, pelo capitalismo moribundo, capitalismo que em seu conjunto se desenvolve segundo uma linha descendente.

Citemos o que nos diz Lênin a respeito:

“Recordemos em que se baseia a modificação da época precedente, da época “pacífica” do capitalismo pela etapa atual, a etapa imperialista: ela se baseia em que a livre concorrência cedeu lugar à união monopolista dos capitalistas e no fato de que todo o globo terrestre (globo terrestre? — J. St.) já se acha dividido. É claro que ambos estes fatos (e fatores) têm uma significação realmente internacional: o comércio livre e a concorrência pacífica foram possíveis e necessários enquanto o capital pôde, sem obstáculos, aumentar o número de colônias e apoderar-se, na África e alhures, de terras desocupadas, numa época em que a concentração de capital era ainda fraca e ainda não existiam empresas monopolistas tão grandes que dominassem todo um determinado setor da indústria. O aparecimento e o progresso dessas empresas monopolistas… tornam impossível a livre concorrência anterior, minam a base sobre a qual esta se apóia e a divisão do globo terrestre obriga a passar da expansão pacífica à luta armada pela redistribuição das colônias e de suas esferas de influência”(47).
E mais adiante:

“É impossível viver à maneira antiga em situação relativamente pacifica e cultural e que evolui de maneira calma e que se expande gradualmente para novos países do capitalismo, porque sobreveio uma nova época. O capital financeiro desloca e continuará a deslocar determinado país da série das grandes potências e arrebata as suas colônias e as suas esferas de influência”(48).
Dai decorre a conclusão fundamental de Lênin sobre o caráter do capitalismo imperialista:

“Compreende-se porque o imperialismo é o capitalismo moribundo e transitório ao socialismo: os monopólios que surgem do capitalismo já representam a morte do capitalismo, o principio de sua passagem para o socialismo. A gigantesca socialização do trabalho realizada pelo imperialismo (aquilo que os economistas burgueses apologéticos chamam de “entrelaçamento”) significa a mesma coisa”(49)

A desgraça de nossa oposição consiste em que ela não compreende toda a importância desta diferença entre o capitalismo pré-imperialista e o capitalismo imperialista.

Dessa forma o ponto de partida da posição de nosso Partido é o reconhecimento do fato que o capitalismo atual, o capitalismo imperialista, é um capitalismo moribundo.

É lamentável que isto ainda não signifique que o capitalismo já tenha morrido. Mas isto, sem dúvida, significa que o capitalismo em seu conjunto marcha não no sentido do seu renascimento, mas no sentido da sua morte e que o capitalismo em seu conjunto não se desenvolve segundo uma linha ascendente, mas segundo uma linha descendente.

Desta questão geral decorre a questão da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo.

De que tratam geralmente os leninistas quando falam sobre a desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo?

Não é sobre o fato de que existe uma grande diferença no nível de desenvolvimento dos diferentes países capitalistas, que alguns países se distanciam de outros no seu desenvolvimento e que essa diferença aumenta cada vez mais?

Não, não se trata disso. Confundir a desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo com a diferença no nível de desenvolvimento dos países capitalistas — significa cair no filisteismo. É precisamente neste filisteismo que caiu a Oposição quando confundiu, na XV Conferência do PC (b) da URSS, a questão da desigualdade do desenvolvimento com a questão da diferença no nível da situação econômica dos diversos países capitalistas. Foi justamente partindo dessa confusão que a oposição chegou então à conclusão inteiramente errônea de que anteriormente a desigualdade do desenvolvimento era maior do que na época do imperialismo. Foi precisamente por isso que Trotski afirmou na XV Conferência que “no século XIX essa desigualdade era maior do que no século XX”. (Vide o discurso de Trotski na XV Conferência do PC (b) da URSS) O próprio Zinoviev afirmou então: “Não é verdade que a desigualdade do desenvolvimento capitalista antes do começo da época imperialista fosse menor” (Vide discurso de Zinoviev na XV Conferência do PC (b) da URSS).

É verdade que agora, depois da discussão na XV Conferência, a oposição julgou necessário mudar de frente, declarando em seus discursos no pleno ampliado do Comitê Executivo da Internacional Comunista algo inteiramente oposto ou simplesmente se esforçando no sentido de silenciar a respeito desse seu erro. Eis, por exemplo, a declaração de Trotski em seu discurso pronunciado no pleno ampliado:

“No que diz respeito ao ritmo de desenvolvimento, verifica-se que o imperialismo aguçou desmedidamente esta desigualdade do desenvolvimento”.
No que diz respeito a Zinoviev, verifica-se que ele, em seu discurso pronunciado por ocasião do pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista julgou aconselhável silenciar simplesmente sobre esta questão, embora não pudesse deixar de saber que a discussão se processava justamente no sentido de se saber se a ação da lei da desigualdade do desenvolvimento se intensifica ou se enfraquece na época do imperialismo. Mas isso apenas atesta o fato de que a discussão ensinou algo à oposição e não deixou de ser proveitosa para a mesma.

Pois bem: não se pode confundir a questão da desigualdade do desenvolvimento dos países capitalistas na época do imperialismo com a questão da diferença no nível da situação econômica dos diversos países capitalistas.

Pode-se afirmar que o enfraquecimento da diferença no nível de desenvolvimento dos países capitalistas e o desenvolvimento da tendência ao nivelamento destes países enfraquecem a ação da lei da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo? Não, não se pode afirmar isso. Essa diferença no nível de desenvolvimento aumenta ou diminui? Não há dúvida de que diminui. O nivelamento aumenta ou diminui? Não há dúvida alguma de que aumenta. A tendência ao nivelamento não contradiz a intensificação da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo? Não, não contradiz. Ao contrário, o nivelamento é o fundo e a base sobre a qual se torna possível o fortalecimento da ação da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo. Somente as pessoas que não compreendem a essência econômica do imperialismo do gênero de nossos oposicionistas é que podem contrapor o nivelamento à lei da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo. É justamente pelo fato de que os países atrasados apressam o ritmo de seu desenvolvimento e se nivelam aos países avançados — é justamente por isso que se aguça a luta de uns países para ultrapassar a outros e é precisamente por isso que se cria a possibilidade de alguns países ultrapassarem outros paises e afastá-los dos mercados, criando por isso mesmo as premissas para os choques armados, para o enfraquecimento da frente mundial do capitalismo, para o rompimento desta frente pelos proletários dos diversos países capitalistas. Quem não compreendeu esse fato simples nada compreendeu da questão da essência econômica do capitalismo monopolista.

Pois bem: o nivelamento constitui uma das condições para o fortalecimento da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo.

Pode-se afirmar que a desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo consiste em que alguns países alcançam outros e depois os ultrapassam sob o ponto de vista econômico na ordem habitual, numa ordem, por assim dizer, de evolução, sem saltos, sem catástrofes guerreiras e sem repartições de um mundo já dividido? Não, não se pode afirmar isso. Essa desigualdade existiu também no período do capitalismo pré-monopolista, fato que era do conhecimento de Marx e sobre o qual Lênin escreveu na sua obra “O desenvolvimento do capitalismo na Rússia”(50). Nessa época o desenvolvimento do capitalismo se processava de uma maneira mais ou menos calma, mais ou menos progressista e uns países ultrapassavam outros no decurso de um prolongado lapso de tempo sem saltos e sem choques armados inevitáveis em escala mundial. Não estamos nos referindo neste momento a essa desigualdade.

O que representa, em tal caso. a lei da desigualdade do desenvolvimento dos países capitalistas na época do imperialismo?

A lei da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo significa um desenvolvimento, por saltos, de uns países em relação a outros a expulsão rápida do mercado mundial de uns países por outros, as repartições periódicas de um mundo já dividido por meio dos choques armados e das catástrofes guerreiras, o aprofundamento e o aguçamento dos conflitos no campo do imperialismo, o enfraquecimento da frente do capitalismo mundial, a possibilidade do rompimento desta frente pelo proletariado de determinados países, a possibilidade da vitória do socialismo em determinados países considerados isoladamente.

Em que residem os elementos fundamentais da lei da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo?

Em primeiro lugar no fato de que o mundo já se acha dividido entre os grupos imperialistas e que no mundo já não há mais territórios “livres” e desocupados e, para se ocupar novos mercados e fontes de matérias primas e para se expandir — é preciso tomar de outros, pela força, esses territórios.

Em segundo lugar no fato de que o desenvolvimento, sem precedentes, da técnica e a crescente tendência ao nivelamento do nível de desenvolvimento dos países capitalistas criaram a possibilidade e facilitaram a tarefa do sobrepujamento aos saltos, de uns países em relação aos outros, a tarefa do deslocamento de paises mais poderosos por paises menos poderosos mas que se desenvolvem mais rapidamente.

Em terceiro lugar no fato de que a velha divisão das esferas de influência entre determinados grupos imperialistas entra em choque passo a passo com a nova correlação de forças no mercado mundial e que para o estabelecimento do “equilíbrio” entre a velha distribuição de esferas de influência e a nova correlação de forças tornam-se necessárias divisões periódicas do mundo por meio das guerras imperialistas.

Daí decorre o fortalecimento e o aguçamento da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo.

Daí decorre a impossibilidade da solução dos conflitos que surgem no campo do imperialismo por meios pacíficos.

Daí decorre a inconsistência da teoria kautskista do ultra-imperialismo, que prega a possibilidade da solução pacífica desses conflitos.

Mas disto se conclui que a oposição, ao negar o fato do fortalecimento e do aguçamento da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo, se coloca na posição do ultra-imperialismo.

Tais são os traços característicos da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo.

Quando terminou a divisão do mundo entre os grupos imperialistas?

Lênin afirmou que a divisão do mundo estava terminada em princípios do século XX.

Quando foi de fato colocada, pela primeira vez, a questão da repartição de um mundo já dividido?

Na época da primeira guerra imperialista mundial.

Mas daí decorre que a lei da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo pôde ser descoberta e fundamentada somente em princípios do século XX.

Fiz referência a este assunto no meu informe prestado à XV Conferência do PC (b) da URSS. quando afirmei que a lei da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo foi descoberta e fundamentada pelo camarada Lênin.

A guerra imperialista mundial foi a primeira tentativa feita no sentido de repartir um mundo já dividido Essa tentativa custou ao capitalismo a vitória da revolução na Rússia e minou as bases do imperialismo nos paises coloniais e dependentes.

Não é preciso dizer que à primeira tentativa de divisão do mundo deveria se seguir a segunda tentativa e nesse sentido já se acham em andamento os preparativos no campo imperialista.

Não se pode duvidar de que a segunda tentativa de divisão do mundo custará ao capitalismo mundial muito mais caro do que a primeira.

Essas são as perspectivas do desenvolvimento do capitalismo mundial do ponto de vista da lei da desigualdade do desenvolvimento nas condições do imperialismo.

Vemos que estas perspectivas conduzem imediata e diretamente à possibilidade da vitória do socialismo em determinados países capitalistas na época do imperialismo.

Sabe-se que Lênin, partindo imediata e diretamente da lei da desigualdade do desenvolvimento dos países capitalistas, concluiu peia possibilidade da vitória do socialismo em determinados paises considerados isoladamente. E Lênin tinha toda razão. Porque a lei da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo acaba com quaisquer motivos para exercidos “teóricos” de todos e quaisquer social-democratas relativamente à impossibilidade da vitória do socialismo em determinados países capitalistas considerados isoladamente.

Eis o que nos afirma Lênin a respeito no seu artigo programático, escrito em 1915:

“A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei incondicional do capitalismo. Daí se conclui (o grifo é meu — J St.) que a vitória do socialismo se torna possível em primeiro lugar em alguns ou até mesmo num determinado país capitalista, considerado isoladamente”(51).
Conclusões:

a) O erro fundamental da oposição está em que ela não vê a diferença existente entre duas fases do capitalismo ou evita frisar essa diferença. E por que ela o evita? Porque essa diferença conduz à lei da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo.

b) O segundo erro da oposição consiste em que ela não compreende, ou subestima a significação decisiva da lei da desigualdade do desenvolvimento dos países capitalistas na época do imperialismo. E por que ela o subestima? Porque uma apreciação justa da lei da desigualdade do desenvolvimento dos países capitalistas conduz à concluir pela possibilidade da vitória do socialismo em países considerados isoladamente.

c) Daí decorre o terceiro erro da oposição e que consiste na negação da possibilidade da vitória do socialismo em países capitalistas considerados isoladamente na época do imperialismo.

Quem nega a possibilidade da vitória do socialismo em paises isolados é obrigado a silenciar sobre a significação da lei da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo e quem é obrigado a silenciar sobre a significação da lei da desigualdade não pode deixar de dissimular a diferença existente entre o capitalismo pré-imperialista e o capitalismo imperialista.

É assim que se acha colocado o problema relativo a questão das premissas da revolução proletária nos países capitalistas.

Qual é a significação prática desta questão?

Do ponto de vista da prática acham-se diante de nós duas linhas.

Uma linha é a linha de nosso Partido que convoca os proletários de cada país a se prepararem para a revolução que se aproxima, a observarem atentamente o desenrolar dos acontecimentos e a estarem preparados para, ao surgirem condições favoráveis, romper independentemente a frente do capital, tomar o poder e abalar as bases do capitalismo mundial.

Outra linha é a linha de nossa oposição que semeia dúvidas a respeito da conveniência do rompimento independente da frente capitalista e que convoca os proletários de cada país a aguardarem o momento do “desenlace geral”.

Se a linha de nosso Partido é uma linha de fortalecimento da pressão revolucionária sobre a nossa burguesia e de desenvolvimento da capacidade de iniciativa dos proletários de cada país, por outro lado a linha de nossa oposição é uma linha de expectativa passiva e de retenção da capacidade de iniciativa dos proletários de cada país na sua luta contra a sua burguesia.

A primeira linha é uma linha de ativação dos proletários de cada país.

A segunda linha é uma linha de enfraquecimento da vontade do proletariado no sentido da revolução, uma linha de passividade e de expectativa.

Lênin tinha mil vezes razão quando escreveu as seguintes valiosas palavras que se relacionam diretamente com a nossa discussão atua!:

“Sei que há, sem dúvida, sábios que se consideram muito inteligentes e que até mesmo se chamam socialistas e que afirmam que não se deve tomar o poder enquanto a revolução não explodir em todos os países. Não suspeitam que, ao afirmar isto, afastam-se da revolução e se passam para o lado da burguesia. Esperar que as classes trabalhadoras realizem a revolução em escala internacional — significa manter a todos na expectativa. Isto é uma insensatez”(52).
Não se pode esquecer estas palavras de Lênin.

                                         2. Como Zinoviev “Elabora” Lênin

FALEI sobre as premissas da revolução proletária em determinados países capitalistas considerados isoladamente. Desejaria agora dizer algumas palavras sobre a maneira de Zinoviev adulterar ou “elaborar” o artigo principal de Lênin relativo às premissas da revolução proletária e à vitória do socialismo em paises capitalistas isolados. Refiro-me ao conhecido artigo de Lênin “A palavra de ordem dos Estados Unidos da Europa”, escrito em 1915 e citado várias vezes por ocasião de nossos debates. Zinoviev me censurou pelo fato de que não citei esse artigo por inteiro; nesse sentido ele se esforça por emprestar a esse artigo uma interpretação que só pode ser chamada de deturpação completa dos pontos de vista de Lênin e de sua linha fundamental relativamente à questão da vitória do socialismo em paises isolados. Permití-me que eu reproduza essa citação por inteiro, sublinhando as linhas que foram deixadas de lado por mim da última vez por falta de tempo. Eis o trecho em questão:

“A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Disso se conclui que é possível a vitória do socialismo, em primeiro lugar em alguns ou até mesmo num único país capitalista considerado isoladamente. O proletariado vitorioso desse país, após haver expropriado os capitalistas e após haver organizado a produção socialista, se levantaria contra o resto do mundo capitalista, atraindo para o seu campo as classes oprimidas dos demais países, impulsionando neles a insurreição contra os capitalistas e, em caso de necessidade, intervindo até com a força armada contra as classes exploradoras e seus Estados. A forma política da sociedade em que vencer o proletariado, ao derrotar a burguesia, será uma república democrática que centralizará cada vez mais as forças do proletariado de uma determinada nação ou de determinadas nações para a luta contra os Estados que ainda não chegaram ao socialismo. É impossível a supressão das classes sem a ditadura da classe oprimida, o proletariado. É impossível a livre união das nações no socialismo sem uma luta mais ou menos prolongada e tenaz das repúblicas socialistas contra os Estados atrasados”(53).
Zinoviev apresenta duas observações ao fazer esta citação: primeira — sobre a república democrática e segunda — sobre a organização da produção socialista.

Consideremos inicialmente a primeira observação. Zinoviev é de parecer que se Lênin se refere aqui à república democrática, então, é possível que se trate, no máximo, da tomada do poder pelo proletariado e nesse sentido Zinoviev não se envergonhou de fazer uma insinuação bastante nebulosa mas insistente no sentido de que Lênin se refira aqui, talvez, à república burguesa. Acaso isso é verdade? Sem dúvida que não. Para se refutar essa insinuação de Zinoviev, aliás não inteiramente honesta, basta que se leia as últimas linhas da citação, onde se fala sobre a “luta das repúblicas socialistas contra os Estados atrasados”. É claro que, ao se referir à república democrática, Lênin tinha em vista não a república burguesa, mas a república socialista.

Em 1915, Lênin ainda não conhecia o poder soviético como a forma estatal da ditadura do proletariado. Em 1905, Lênin já sabia que os Soviets isolados de então constituíam embriões do poder revolucionário na época da derrocada do tsarismo. Mas naquela época ele ainda não conhecia o poder soviético, unificado em escala nacional, como forma estatal da ditadura do proletariado. Foi somente em 1917 que Lênin se manifestou sobre a república dos soviets como forma estatal da ditadura do proletariado e no verão do mesmo ano elaborou detalhadamente a questão desta nova forma de organização política para uma sociedade em fase de transição e o fez principalmente no seu livro “O Estado e a Revolução”. É por isso, particularmente, que se explica o fato de que Lênin se refere, na sua citação, não à República Soviética, mas à república democrática, dando a entender com isto, como se vê pelas citações, que tem em vista a república socialista. Lênin procedeu aqui da mesma forma como o procederam em sua época Marx e Engels que consideravam a república em geral, antes da Comuna de Paris, como a organização política de uma sociedade em transição do capitalismo ao socialismo e, depois da Comuna de Paris, retificaram esta terminologia, afirmando que essa república deveria ser uma república do tipo da Comuna de Paris. Já não me refiro ao fato de que se Lênin tivesse em vista, ao fazer a sua citação, a república democrático-burguesa, então não poderia falar sobre a “ditadura do proletariado”, a “expropriação dos capitalistas”, etc.

Vemos que não se pode considerar feliz a tentativa de Zinoviev de “elaborar” Lênin.

Passemos à segunda observação de Zinoviev. Zinoviev afirma que não se pode compreender a frase do camarada Lênin sobre a “organização da produção socialista” como devem compreendê-la em geral as pessoas normais, mas de maneira algo diferente, isto é, que Lênin nesse sentido tinha em vista apenas um começo de organização da produção socialista. Por que e sobre que fundamento — Zinoviev não nos explica. Permití-me afirmar que Zinoviev também aqui fez ainda mais uma tentativa de “elaborar” Lênin. Na citação se afirma francamente que “o proletariado vitorioso deste país, após haver expropriado os capitalistas e após haver organizado a produção socialista, se levantaria contra o resto do mundo capitalista”. Aqui se afirma — “após haver organizado” e não “ao organizar”. Será preciso ainda demonstrar que aqui há uma diferença? Será preciso ainda demonstrar que se Lênin tivesse em vista apenas um começo de organização da produção socialista, diria então — “ao organizar” e não “após haver organizado”. Lênin tinha em mente, por conseguinte, não apenas um começo de organização da produção socialista, mas também a possibilidade de organizar a produção socialista, a possibilidade de construir a produção socialista em países isolados.

Vemos que se pode considerar também mais do que infeliz esta segunda tentativa que Zinoviev faz de “elaborar” Lênin.

Zinoviev procura mascarar as suas tentativas de “elaborar” Lênin com zombarias relativamente ao fato de que “não se pode construir o socialismo segundo os nossos próprios desejos, em duas semanas ou em dois meses”. Tenho o mau pressentimento de que Zinoviev necessita dessas caçoadas para “fazer boa cara em face de um jogo perverso”. Mas onde, porém, Zinoviev encontrou pessoas que pretendam construir o socialismo em duas semanas, em dois meses ou em dois anos? Por que então não nos diz quais são essas pessoas, se de fato existem neste mundo? Mas ele não no-las indicou porque elas não existem neste mundo. Zinoviev necessitou de caçoadas de mau gosto para mascarar o seu “trabalho” de “elaboração” de Lênin e do leninismo.

Conclui-se, portanto, que:

a) Partindo da lei da desigualdade do desenvolvimento na época do imperialismo, Lênin chegou, no seu artigo básico “A palavra de ordem dos Estados Unidos da Europa” à conclusão de que é possível a vitória do socialismo em determinados países capitalistas considerados isoladamente;

b) por vitória do socialismo em cada país considerado isoladamente Lênin subentende a tomada do poder pelo proletariado, a expropriação dos capitalistas e a organização da produção socialista, devendo-se considerar que todas estas tarefas não constituem um fim em si mesmo, mas um meio para o levante contra o restante mundo capitalista e a ajuda aos proletários de todos os países na sua luta contra o capitalismo;

c) Zinoviev tentou cortar pela raiz estas teses do leninismo e “elaborar” Lênin de acordo com a posição atual, semi-menchevique, do bloco oposicionista. Mas constatou-se que os meios utilizados para realizar esta tentativa são imprestáveis. Penso que são supérfluos quaisquer outros comentários a respeito.

                             III — O Problema da Construção do Socialismo na URSS

Permití-me que eu passe agora, camaradas, ao problema da construção do socialismo na URSS, em nosso país.

          1. As “Manobras” da Oposição e o “Nacional-Reformismo” do Partido de Lênin

TROTSKI declarou em seus discursos que o maior erro de Stálin é constituído pela teoria da possibilidade da construção do socialismo num único país, em nosso país. Conclui-se, dessa forma, que não se trata da teoria de Lênin a respeito da possibilidade da construção do socialismo em nosso país, mas de uma outra teoria, que ninguém conhece, a “teoria” de Stálin. Julgo que Trotski se traçou como objetivo travar luta contra a teoria de Lênin, mas como é tarefa arriscada travar uma luta aberta contra Lênin, ele então se decidiu a travar esta luta sob o aspecto de luta contra a “teoria” de Stálin. Trotski deseja, com isto, facilitar a sua luta contra o leninismo, mascarando esta luta com a sua crítica da “teoria” de Stálin. Tentarei demonstrar a seguir que a questão se apresenta justamente de maneira que o nome de Stálin aparece aí sem qualquer motivo, que não se pode falar de qualquer “teoria” de Stálin, que Stálin nunca pretendeu apresentar algo de novo em matéria de teoria mas sempre se esforçou no sentido de facilitar o triunfo completo do leninismo em nosso Partido, apesar dos esforços revisionistas de Trotski. Observemos, por enquanto, que a declaração de Trotski relativamente à “teoria” de Stálin é uma manobra, um estratagema, um covarde e infeliz estratagema que visa mascarar a sua luta contra a teoria leninista da vitória do socialismo em países considerados isoladamente, luta que teve início em 1915 e que se prolonga até os nossos dias. Que os camaradas julguem se esse método de Trotski é um indício de polêmica honrada. Os conhecidos trabalhos programáticos do camarada Lênin constituem o ponto de partida das resoluções de nosso Partido quanto à questão da possibilidade da construção do socialismo em nosso país. Lênin afirma, nesses trabalhos, que é possível a vitória do socialismo em países isolados nas condições do imperialismo, que está assegurada a vitória da ditadura do proletariado na questão da solução do problema econômico desta ditadura e que nós, os proletários da URSS, possuímos tudo o que é necessário e suficiente para a construção de uma sociedade socialista completa.

Fiz, há pouco, uma citação de conhecido artigo de Lênin onde ele pela primeira vez colocou a questão da possibilidade da vitória do socialismo em países considerados isoladamente e, em vista disso, não a repetirei aqui. Esse artigo foi escrito em 1915. Afirma-se, nesse artigo que são possíveis a vitória do socialismo em países isolados, a tomada do poder pelo proletariado, a expropriação dos capitalistas e a organização da produção socialista. Sabe-se que Trotski mesmo então, no próprio ano de 1915, se manifestou, pela imprensa, contra esse artigo de Lênin, chamando de “estreiteza nacional” a teoria leninista do socialismo num único país.

Pergunta-se: onde se vê aqui uma “teoria” de Stálin?

Citei mais adiante, em meu informe, um trecho da conhecida obra de Lênin “A Economia e a Política na Época da Ditadura do Proletariado”, onde se afirma, de maneira clara e precisa, que é necessário considerar-se assegurada a vitória do proletariado da URSS no sentido da solução do problema econômico da ditadura do proletariado. Essa obra foi escrita em 1919. Eis o trecho em questão:

“Por mais que mintam e caluniem os burgueses de todos os países e seus auxiliares abertos e encobertos (os “socialistas” da II Internacional), um fato permanece fora de qualquer dúvida: do ponto de vista do problema econômico fundamental da ditadura do proletariado, acha-se entre nós assegurada a vitória do comunismo sobre o capitalismo. A burguesia de todo o mundo se enfurece e perde a cabeça nas suas manifestações contra o bolchevismo, organiza expedições militares, conspirações, etc., contra os bolcheviques, precisamente porque compreende perfeitamente a inevitabilidade de nossa vitória na reorganização da economia social, (se ela não conseguir nos esmagar pela força das armas). Mas por esse meio ela não conseguirá esmagar-nos”. (O grifo é meu — J. St.)(54)
Vemos que Lênin se manifesta aqui claramente sobre a possibilidade da vitória do proletariado na URSS na questão da reorganização da economia social, na questão da solução do problema econômico da ditadura do proletariado.

Sabe-se que Trotski e a oposição em seu conjunto não estão de acordo com as teses fundamentais apresentadas nesta citação.

Pergunta-se: onde se vê aqui uma “teoria” de Stálin?

Fiz, finalmente, uma citação do conhecido folheto de Lênin, “Sobre a Cooperação”, escrito em 1923. Afirma-se nessa citação:

“Na realidade, todos os grandes meios de produção em poder do Estado, e o poder estatal em mãos do proletariado; a aliança deste proletariado com os muitos milhões de pequenos e muito pequenos camponeses; a garantia da direção do proletariado sobre o campesinato, etc., — acaso isso não é tudo o que necessitamos para que com a cooperação, nada mais do que com a cooperação, que anteriormente desprezáramos como mercantilista e que agora, na vigência da NEP, continuamos a desprezar de certo modo, acaso isto não é tudo o que necessitamos para a construção de uma sociedade socialista completa? Isso não é ainda a construção de uma sociedade socialista, mas é tudo o que é necessário e suficiente para essa construção”. (O grifo é meu — J. St.).(55).
Vemos que essa citação não deixa nenhuma dúvida a respeito da possibilidade da construção do socialismo em nosso pais.

Vemos que nesta citação acham-se enumerados os fatores principais para a construção de uma economia socialista em nosso país: o poder proletário, a grande produção nas mãos do poder proletário, a aliança entre o proletariado e o campesinato, a direção do proletariado nessa aliança e a cooperação.

Recentemente, na XV Conferência do PC (b) da URSS, Trotski tentou contrapor a esta citação uma outra citação tirada das obras de Lênin, onde se afirma que “o comunismo é o Poder Soviético mais a eletrificação de todo o país”(56). Mas contrapor estas citações uma à outra — significa adulterar o sentido fundamental do folheto de Lênin “Sobre a Cooperação”. Acaso a eletrificação não é uma parte constituinte da grande produção e acaso ela é possível em nosso país em geral sem a grande produção concentrada nas mãos do poder proletário? Não é claro que as palavras de Lênin no folheto “Sobre a Cooperação” a respeito da grande produção, como um dos fatores da construção do socialismo, inclui também a eletrificação?

É sabido que a oposição trava uma luta de maneira mais ou menos clara e no mais das vezes de maneira dissimulada contra as teses fundamentais expostas neste trecho do folheto de Lênin “Sobre
a Cooperação”.

Pergunta-se: mas, onde se vê aqui uma “teoria” de Stalin?

Tais são as teses básicas do leninismo quanto à questão da construção do socialismo em nosso pais.

O Partido afirma que estas teses do leninismo contradizem as conhecidas teses de Trotski e do bloco oposicionista no sentido de que “é impossível a construção do socialismo dentro dos limites nacionais de um país”, que “a teoria do socialismo em um único pais é a justificação teórica da estreiteza nacional” e que “sem um apoio estatal direto do proletariado europeu a classe operária da Rússia não poderá manter-se no poder”. (Trotski).

O Partido afirma que estas teses do bloco oposicionista constituem uma manifestação do desvio social-democrata em nosso Partido.

O Partido afirma que a fórmula de Trotski relativamente ao “apoio estatal direto do proletariado europeu” é uma fórmula de rompimento completo com o leninismo. Isso porque, o que significa colocar a construção do socialismo em nosso país na dependência do “apoio estatal direto do proletariado europeu”? O que se deve fazer se o proletariado europeu não conseguir tomar o poder nos próximos anos? Pode a nossa revolução ficar à reboque dos acontecimentos, na expectativa da vitória da revolução no Ocidente por tempo indeterminado? Pode-se contar com que a burguesia de nosso país concorde em aguardar a vitória da revolução no Ocidente, abandonando o seu trabalho e a sua luta contra os elementos socialistas de nossa economia? Acaso não decorre desta fórmula de Trotski a perspectiva de um abandono gradual de suas posições aos elementos capitalistas de nossa economia e depois a perspectiva do afastamento de nosso Partido do poder, em caso de atraso de uma revolução vitoriosa no Ocidente?

Não é claro que temos aqui diante de nós duas linhas inteiramente diversas, das quais uma é a linha do Partido e do leninismo, e a outra — a linha da oposição e do trotskismo?

Perguntei a Trotski, em meu informe, e continuo a perguntar-lhe: acaso não é verdade que a teoria de Lênin sobre a possibilidade da vitória do socialismo em países considerados isoladamente foi qualificada por Trotski, em 1915, como teoria da “estreiteza nacional”? Mas não obtive resposta. Por que? Acaso a personificação do silêncio é sinal de coragem na polêmica?

Perguntei mais adiante a Trotski e continuo a perguntar-lhe: acaso não é verdade que ele repetiu a acusação de “estreiteza nacional” contra a teoria da construção do socialismo ainda muito recentemente, em setembro de 1926, no seu conhecido documento endereçado à oposição? Mas também desta vez não obtive resposta. Por que?

Não será por que a personificação do silêncio constitui também um gênero de manobra peculiar a Trotski?

Qual a conclusão que se tira de tudo isso?

Primeiro, que Trotski se mantém nas suas velhas posições de luta contra o leninismo na questão fundamental da construção do socialismo em nosso país.

Segundo, que Trotski não teve a coragem de se manifestar francamente contra o leninismo, tentando dissimular essa sua luta com a crítica a uma inexistente “teoria” de Stálin.

Passemos a outro “manobrista”, a Kamenev. Ele, pelo que se vê, se deixou contagiar pela doença de Trotski e se pôs também a manobrar. Mas a sua manobra é mais estúpida do que a de Trotski. Se Trotski tentou culpar apenas Stálin, Kamenev por sua vez lançou acusações a todo o Partido, declarando que ele, isto é, o Partido, “substitui a perspectiva revolucionária internacional pela perspectiva nacional-reformista”. Cada qual escolha o que quiser: o nosso Partido, ao que se constata, substitui a perspectiva revolucionária internacional por uma perspectiva nacional-reformista. Mas uma vez que o nosso Partido é o Partido de Lênin, uma vez que ele nas suas resoluções relativas à questão da construção do socialismo se apóia integralmente e completamente nas conhecidas teses de Lênin, então chega-se à conclusão de que a teoria leninista da construção do socialismo é uma teoria do nacional-reformismo. Lênin é um “nacional-reformista” — essa é a estupidez que Kamenev nos apresenta.

Possui o nosso Partido quaisquer resoluções relativas à questão da construção do socialismo em nosso país? Sim, possui, e até resoluções muito precisas. Quando o Partido aprovou essas resoluções? Foram aprovadas em abril de 1925 na XIV Conferência de nosso Partido. Faço referência à conhecida resolução da XIV Conferência sobre o trabalho do Comitê Executivo da Internacional Comunista e a construção socialista em nosso país. Trata-se de uma resolução leninista? Sim, trata-se de uma resolução leninista, uma vez que isso nos podem garantir pessoas tão competentes, como Zinoviev, que apresentou um informe à XIV Conferência em defesa desta resolução, e Kamenev que ocupava a presidência da referida conferência e que votou a favor desta resolução.

Portanto, por que Kamenev e Zinoviev não se esforçaram então no sentido de surpreender o Partido em contradições, em divergência em relação às resoluções da XIV conferência quanto à questão da construção do socialismo em nosso país, cuja resolução foi aprovada, como se sabe, por unanimidade?

Ao que nos parece, é muito simples: o Partido aprovou uma resolução especial relativa à questão da construção do socialismo em nosso país, Kamenev e Zinoviev votaram em favor da mesma e agora ambos acusam o Partido de nacional-reformismo — por que eles não argumentam contra um documento do Partido tão importante como as resoluções da XIV Conferência que trata da construção do socialismo em nosso país e que é, evidentemente, leninista do princípio ao fim?

Prestastes atenção ao fato de que a oposição em geral, e Kamenev em particular, passaram pela resolução da XIV Conferência como gato por brasas? (Risos). Qual é a origem desse medo que eles têm à resolução da XIV Conferência, aprovada segundo o informe de Zinoviev e justificada com a ativa participação de Kamenev? Por que Kamenev e Zinoviev têm medo até mesmo de mencionar de passagem esta resolução? Será que ela, esta resolução, não trata da construção do socialismo em nosso país? Será que a questão da construção do socialismo não constitui a questão fundamental em litígio na nossa discussão?

De que se trata, então?

Trata-se de que Kamenev e Zinoviev, que se manifestaram, em 1925, a favor da resolução da XIV Conferência, repudiaram-na posteriormente e repudiaram, portanto, o leninismo, passaram-se para o campo do trotskismo, e hoje temem tocar nessa resolução, ainda que de passagem, temendo que sejam desmascarados. O que nos diz essa resolução? Eis um trecho desta resolução:

“A vitória do socialismo é perfeitamente possível (mas não no sentido de uma vitória definitiva) num único país”. (O grifo é meu — J. St).
E mais adiante:

“… A existência de dois sistemas sociais diretamente opostos provoca a ameaça constante do bloqueio capitalista, de outras formas de pressão econômica, a intervenção armada e a restauração. A única garantia de uma vitória definitiva do socialismo, isto é, garantia contra a restauração, está, por conseguinte, na revolução socialista vitoriosa numa série de países. Disto não se conclui, de forma alguma, que seja impossível a construção de uma sociedade totalmente socialista num país tão atrasado, como a Rússia, sem o “auxílio estatal” (O grifo é meu — J. St.) (Trotski) de países mais desenvolvidos no sentido técnico e econômico. É parte constituinte da teoria trotskista da revolução permanente a afirmação de que um “autêntico surto da economia socialista na Rússia só se tornará possível após a vitória do proletariado nos países mais importantes da Europa” (Trotski, 1922) — afirmação que condena o proletariado da URSS a se manter, no momento atual, numa passividade fatalista. O camarada Lênin escreveu contra “teorias” desse gênero: “É extremamente ridículo o argumento de que lançam mão e que aprenderam de cor por ocasião do desenvolvimento da social-democracia da Europa Ocidental e que consiste em que ainda não progredimos o suficiente para alcançarmos o socialismo e que entre nós não há, segundo a expressão de diferentes categorias desses “sábios” senhores, as premissas econômicas objetivas para o socialismo” (Notas sobre Sukanov)”. (Resoluções da XIV Conferência do P. C. (b) da Rússia “Sobre as Tarefas da Internacional Comunista e do PC (b) da Rússia em relação ao pleno ampliado do Comitê Executivo da Internacional Comunista”)(57).
Vemos que as resoluções da XIV Conferência constituem uma exposição exata das teses fundamentais do leninismo sobre a questão da possibilidade da construção do socialismo em nosso país.

Vemos pela resolução que o trotskismo é qualificado de contraposição ao leninismo e uma série de teses da resolução parte da negação franca das bases do trotskismo.

Vemos que a resolução reflete inteiramente as questões que surgem novamente agora em relação ao problema da construção de uma sociedade socialista em nosso país.

Todos vós sabeis que meu informe foi organizado na base das diretivas apresentadas por esta resolução.

Deveis vos lembrar de que eu mencionei especialmente, em meu informe, as resoluções da XIV Conferência que acusam Kamenev e Zinoviev e acusei Kamenev e Zinoviev de infração a essa resolução e de se afastarem dessa resolução.

Por que, portanto, Kamenev e Zinoviev não tentaram destruir essa acusação?

Qual é o segredo dessa sua atitude?

O segredo está em que Kamenev e Zinoviev já de há muito repudiaram essa resolução e, ao repudiá-la — passaram-se para o campo do trotskismo.

Porque uma das duas:

Ou a resolução da XIV Conferência não é leninista — e então Kamenev e Zinoviev, já que votaram a favor desta resolução, não eram leninistas;

Ou esta resolução é leninista — e então Kamenev e Zinoviev, após haverem repudiado esta resolução, deixaram de ser leninistas.

Alguns oradores afirmaram aqui (inclusive, ao que parece, Rizie) que não foram Kamenev e Zinoviev que se passaram para o trotskismo, mas, pelo contrário, foi Trotski quem se aproximou de Zinoviev e Kamenev. Tudo isso são disparates, camaradas. O fato de Kamenev e Zinoviev repudiarem a resolução da XIV Conferência constitui um testemunho direto de que foram precisamente Kamenev e Zinoviev que se passaram para o campo do trotskismo.

Assim sendo:

Quem repudiou a linha leninista na questão da construção do socialismo na URSS, formulada na resolução da XIV Conferência do PC (b) da Rússia?

Conclui-se que foram Kamenev e Zinoviev.

Quem “substituiu a perspectiva revolucionária internacional” pelo trotskismo?

Conclui-se que foram Kamenev e Zinoviev.

Se hoje Kamenev faz alarde ao se referir ao “nacional-reformismo” de nosso Partido é porque tenta com isso desviar a atenção dos camaradas em relação à sua apostasia e procura descarregar nos ombros dos outros a sua própria responsabilidade.

Eis porque a “manobra” de Kamenev em relação ao “nacional-reformismo” de nosso Partido é um estratagema, estratagema inábil e estúpido que visa, com a sua gritaria sobre o “nacional-reformismo” de nosso Partido, mascarar o seu repúdio à resolução da XIV Conferência, o seu repúdio ao leninismo e a sua passagem para o campo do trotskismo.

  2. Estamos Construindo e Podemos Construir a Base Econômica do Socialismo na URSS

AFIRMEI no meu informe que a base política do socialismo já se acha criada entre nós, isto é, a ditadura do proletariado. Afirmei que ainda falta muito para criarmos a base econômica do socialismo e ainda é necessário que a criemos. Afirmei, mais adiante, que em vista disso a questão se apresenta da seguinte maneira: temos a possibilidade de construir, com as nossas próprias forças, a base econômica do socialismo em nosso país? Afirmei, finalmente, que, se traduzirmos esse problema para a linguagem de classe, ele assumirá então o seguinte aspecto: temos ou não temos a possibilidade de superar, com as nossas próprias forças, a nossa burguesia soviética?

Trotski afirma em seu discurso que, ao falar sobre a superação da burguesia da URSS eu tinha em mente a sua superação política. Evidentemente que isto não é verdade. Trata-se de uma manifestação da paixão que Trotski tem pelo fraccionismo. Pela leitura do meu informe torna-se evidente que, ao falar sobre a superação da burguesia da URSS, eu queria me referir à sua superação no sentido econômico, uma vez que politicamente ela já foi superada.

O que significa superar economicamente a burguesia da URSS? Ou, em outras palavras: o que significa criar a base econômica do socialismo na URSS?

“Criar a base econômica do socialismo — significa ligar estreitamente a agricultura à indústria socialista numa única e indivisível economia, submeter a agricultura à direção da indústria socialista, organizar as relações entre a cidade e o campo na base da troca de produtos da agricultura e da indústria, fechar e liquidar todos os canais com a ajuda dos quais se originam as classes e se origina, em primeiro lugar, o capital e criar, finalmente, condições de produção e de distribuição que conduzam imediata e diretamente à supressão das classes” (Vide informe de Stálin ao VII pleno ampliado do Comitê Executivo da Internacional Comunista).
Foi assim que eu defendi, em meu informe, a essência da base econômica do socialismo na URSS.

Esta definição constitui uma exposição exata da definição da “essência econômica” e da “base econômica” do socialismo apresentada por Lênin no seu conhecido esboço: “O Imposto em Espécie”(58). Se essa definição é justa e se podemos contar com a possibilidade da construção da base econômica do socialismo em nosso país — eis em que se encontra atualmente a questão básica de nossas divergências.

Trotski não se referiu nem de leve a esta questão. Ele simplesmente evitou-a, considerando, evidentemente, que seria mais sensato silenciar a respeito.

Para se constatar que estamos construindo e podemos construir a base econômica do socialismo, basta citar os seguintes fatos:

a) a nossa produção socializada é uma produção unificada em grande escala, enquanto que a produção não nacionalizada é, em nosso país, uma produção em pequena escala e dispersa, sabendo-se que é um fato indiscutível a superioridade da grande produção, além do mais unificada, sobre a pequena produção;

b) a nossa produção socializada já dirige e começa a submeter a si a pequena produção, quer se trate da pequena produção urbana ou da pequena produção agrícola;

c) na frente da luta dos elementos socialistas de nossa economia contra os elementos capitalistas, é inegável a superioridade de forças dos primeiros em relação aos segundos, sendo que aqueles progridem ininterrupamente e superam os elementos capitalistas de nossa economia tanto no setor da produção como no setor da circulação.

Já não falo de outros fatores que conduzem à vitória dos elementos socialistas de nossa economia sobre os elementos capitalistas.

Que motivos há para se supor que o processo de superação dos elementos capitalistas de nossa economia não continuará também doravante?

Trotski afirmou em seu discurso:

“Stalin diz que estamos realizando a construção do socialismo, isto é, estamos conseguindo a supressão das classes e do Estado, isto é, estamos superando a nossa burguesia. Sim, camaradas, mas o Estado precisa de um exército para se defender dos inimigos externos”. (Esta citação é feita na base do texto colhido pela taquigrafia — J. St.).
O que significa isso? Qual é o sentido desta citação? Desta citação só se pode tirar uma conclusão: uma vez que a construção da base econômica do socialismo significa a supressão das classes e do Estado e uma vez que necessitamos, não obstante, de um exército para a defesa da pátria socialista, sendo que é impossível existir um exército sem o Estado (como o pensa Trotski) — então chega-se à conclusão de que não podemos construir a base econômica do socialismo até que desapareça a necessidade da defesa armada da pátria socialista.

Trata-se, camaradas, de uma miscelânea de todos os conceitos. Isso porque aqui se entende, por Estado, somente o aparelho de defesa armada da sociedade socialista, o que é absurdo, porque o Estado é, em primeiro lugar, a arma de uma classe contra as demais classes e torna-se compreensível por si mesmo que, assim que desaparecerem as classes também não poderá haver Estado. Porque o exército de defesa da sociedade socialista não se concebe aqui sem a existência do Estado, o que além do mais é absurdo, uma vez que teoricamente pode-se admitir perfeitamente uma tal situação da sociedade em que não haja classes, nem Estado, mas o povo armado que defende a sua sociedade sem classes dos inimigos externos. A sociologia nos apresenta muito exemplos de sociedades, na história da humanidade que não tinham classes, não tinham Estado mas se defendiam, desta ou daquela forma, dos seus inimigos externos. O mesmo se pode dizer da futura sociedade sem classes que, não possuindo classes nem Estado, pode contudo possuir uma milícia socialista indispensável para a sua defesa em face dos seus inimigos externos. Considero pouco provável que as coisas possam chegar entre nós a uma tal situação, uma vez que não há nenhuma dúvida de que os êxitos da construção socialista em nosso país e, tanto mais, a vitória do socialismo e a supressão das classes — são fatos de tão grande significação histórica e mundial que não podem deixar de provocar um poderoso impulso dos proletários dos países capitalistas no sentido do socialismo e que não podem deixar de provocar explosões revolucionárias nos outros países. Mas teoricamente é perfeitamente admissível uma tal condição da sociedade em que seja concebível a existência de uma milícia socialista sem a existência das classes e do Estado.

Esta questão, aliás, se acha esclarecida, até um certo ponto, no programa de nosso Partido. Eis o que o mesmo afirma a respeito:

“O Exército Vermelho, como arma da ditadura do proletariado, precisa de ter um caráter nitidamente de classe, isto é, formar-se exclusivamente do proletariado e das camadas semi-proletárias do campesinato que lhe são próximas. É somente em consequência da supressão das classes que um exército de classe desse tipo se transforma em milícia socialista de todo o povo”. (O grifo é meu — J. St.) (Vide Programa do PC (b) da URSS)(59).

Trotski, evidentemente, se esqueceu deste ponto de nosso programa.

Trotski falou, em seu discurso, da dependência de nossa economia nacional em relação à economia capitalista mundial e afirmou que “do comunismo de guerra isolado passamos cada vez mais à união orgânica com a economia mundial”.

Conclui-se, assim, que nossa economia nacional, com a sua luta entre os elementos capitalistas e socialistas, une-se organicamente à economia capitalista mundial. Falo sobre a economia capitalista mundial, uma vez que não existe outra economia mundial no momento atual.

Isto não é verdade, camaradas. É evidentemente um absurdo. Trata-se de uma manifestação da tendência fraccionista de Trotski.

Ninguém nega que existe uma dependência de nossa economia nacional em relação à economia capitalista mundial. Ninguém negou ou nega este fato, assim como ninguém nega o fato de que existe uma dependência de cada país e cada economia nacional, inclusive a economia nacional americana, em relação à economia capitalista mundial. Mas essa dependência é recíproca. Não apenas a nossa economia dependas países capitalistas, mas também os países capitalistas dependem de nossa economia, de nosso petróleo, de nosso trigo, de nossa madeira, finalmente, de nosso imenso mercado. A “Standard Oil”, digamos nos abre créditos. Dispomos também de créditos entre os capitalistas alemães. Mas não é por nossos belos olhos que esses créditos nos são concedidos, mas pelo lato de que os países capitalistas necessitam de nosso petróleo, de nosso trigo e de nosso mercado para escoamento de parte do equipamento que fabricam. Não se pode esquecer o fato de que o nosso país representa uma sexta parte do mundo, representa um imenso mercado de escoamento e os países capitalistas não podem dispensar determinadas ligações com o nosso mercado. Tudo isso representa a dependência dos países capitalistas em relação à nossa economia. Essa dependência é recíproca.

Isso significa que a dependência de nossa economia nacional em relação aos países capitalistas exclui a possibilidade da construção da economia socialista em nosso país? Sem dúvida que não significa isso. Apresentar a economia socialista como absolutamente fechada e absolutamente independente em relação às economias nacionais que a circundam — significa afirmar uma estupidez. Pode-se afirmar que a economia socialista não terá absolutamente nenhuma exportação e importação, não importará os produtos que faltam ao país e, em consequência disto, exportará os seus produtos? Não, não se pode afirmá-lo. E o que representa a exportação e a importação? É a expressão da dependência de determinados países em relação a outros. É uma expressão de dependência recíproca.

O mesmo se aplica aos países capitalistas de nossa época. Não se pode citar qualquer país que não possua exportação e importação. Consideremos a América, que é o pais mais rico entre todos os países do mundo. Pode-se afirmar que os atuais países capitalistas, digamos, a Inglaterra ou a América, sejam países absolutamente independentes? Não, não se pode afirmá-lo. E por que? Porque dependem da exportação e da importação, dependem da matéria prima de outros países (a América se acha em dependência, por exemplo, da borracha e outras espécies de matéria prima), dependem dos mercados de escoamento, onde colocam as suas máquinas e outras espécies de mercadorias manufaturadas.

Isso significa que se não há países absolutamente independentes, então por isso mesmo se exclui a independência das economias nacionais isoladas? Não, não quer dizer isso. O nosso país depende de outros países da mesma forma que outros países dependem de nossa economia nacional mas isso ainda não significa que nosso pais perdeu, por isso mesmo, ou perde a sua independência, que não pode defender a sua independência e que deva se transformar num parafuso da economia capitalista internacional. É preciso distinguir entre a dependência de uns países em relação a outros e a independência econômica desses países. A negação da independência absoluta das unidades econômicas nacionais isoladas ainda não significa e não pode significar a negação da independência econômica destas unidades.

Mas Trotski não fala apenas da dependência de nossa economia nacional. Ele transforma esta dependência na união orgânica econômica com a economia capitalista mundial. Mas o que quer dizer a união orgânica de nossa economia nacional com a economia capitalista mundial? Quer dizer a sua transformação em apêndice do capitalismo mundial. Mas será que nosso país é um apêndice do capitalismo mundial? Sem dúvida que não! Trata-se de uma estupidez, camaradas. Isso não é sério.

Se isso fosse verdade não teríamos então qualquer possibilidade de defender a nossa economia socialista, o nosso monopólio do comércio exterior, o nosso transporte nacionalizado, o nosso crédito nacionalizado e a nossa direção planificada da economia.

Se isso fosse verdade então já teríamos enveredado pelo caminho da degeneração de nossa indústria socialista em indústria capitalista comum.

Se isso fosse verdade não teríamos êxitos na frente da luta dos elementos socialistas de nossa economia contra os elementos capitalistas.

Trotski afirmou, em seu discurso, que “na realidade nós nos encontraremos sempre sob o controle da economia mundial”.

Conclui-se, dessa forma, que a nossa economia nacional se desenvolverá sob o controle da economia capitalista mundial, uma vez que não existe atualmente no mundo outra economia mundial, além da capitalista.

Isso é verdade? Não, não o é. Trata-se de um sonho dos tubarões capitalistas que nunca será realizado.

O que é o controle da economia capitalista mundial? O controle na boca dos capitalistas não é uma palavra sem sentido. O controle na boca dos capitalistas é algo real.

O controle capitalista significa, em primeiro lugar, o controle financeiro. Mas acaso os nossos bancos não estão nacionalizados e acaso eles trabalham sob a direção dos bancos capitalistas europeus? O controle financeiro significa a implantação em nosso país de filiais dos grandes bancos capitalistas e significa a formação dos chamados bancos “anônimos”. Mas por acaso, há bancos dessa espécie entre nós? Sem dúvida que não! E não somente não há mas também nunca os haverá enquanto viver o Poder Soviético.

O controle capitalista significa o controle sobre a nossa indústria, a desnacionalização de nossa indústria socialista e a desnacionalização de nosso transporte. Mas acaso a nossa indústria não se acha nacionalizada e acaso ela não progride justamente como indústria nacionalizada? Acaso se pretende desnacionalizar uma que seja das empresas nacionalizadas?

No que me diz respeito, não conheço as propostas que Trotski possa ter para apresentar ao Comissariado para as Concessões. (Risos). Mas não se pode duvidar de que não haverá lugar no nosso país para a existência de desnacionalizadores, enquanto viver o Poder Soviético.

O controle capitalista significa o direito de dispor de nosso mercado e significa a liquidação do monopólio do comércio exterior. Sei que os capitalistas do Ocidente deram com o nariz na porta por mais de uma vez ao tentarem romper a couraça do monopólio do comércio exterior. Sabe-se que o monopólio do comércio exterior é o escudo e a muralha de nossa jovem indústria socialista. Mas será que os capitalistas já puderam conseguir êxitos na questão da liquidação do monopólio do comércio exterior? Acaso é difícil compreender que enquanto existir o Poder Soviético o monopólio do comércio exterior será mantido e progredirá apesar de todos os obstáculos.

O controle capitalista significa, finalmente, o controle político, o aniquilamento da independência política de nosso país, a adaptação das leis do país aos interesses e gostos da economia capitalista internacional. Mas acaso o nosso país não é um país politicamente independente? Acaso as nossas leis não são ditadas pelos interesses do proletariado e das massas trabalhadoras de nosso país? Por que não se citam os fatos, um que seja, que demonstrem a perda da independência política de nosso país? Que tentem fazê-lo.

É isso o que significa o controle capitalista, se, está claro, queremos nos referir ao controle real e não tagarelar à toa a propósito de um controle qualquer, sem eficiência.

Se se trata desse controle capitalista real — e só pode se tratar desse controle, uma vez que apenas maus literatos podem se entregar à uma conversa fiada a propósito de um controle qualquer, ineficiente — então devo declarar que não há e nunca haverá entre nós um controle dessa espécie enquanto viver o nosso proletariado e enquanto existir entre nós um Poder Soviético. (Aplausos).

Trotski afirmou em seu discurso:

“Trata-se de construir um Estado socialista isolado dentro do cerco da economia capitalista mundial. Isso só poderá ser conseguido se as forças produtivas desse Estado isolado forem mais poderosas do que as forças produtivas do capitalismo uma vez que somente considerando-se a perspectiva não de um ano ou de dez anos, mas de meio século e até mesmo de um século é que se pode consolidar o Estado e a nova forma social cujas forças produtivas sejam mais poderosas do que as forças produtivas do velho sistema social” (Vide o texto taquigrafado do discurso de Trotski perante o VII Pleno Ampliado da Comissão Executiva da Internacional Comunista).
Conclui-se, assim, que serão necessários uns cinquenta ou mesmo cem anos para que o sistema socialista de economia demonstre na prática a sua superioridade, em relação ao sistema capitalista de economia, do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas.

Isso não é verdade, camaradas. Trata-se de uma miscelânea de todos os conceitos e perspectivas.

Para que o sistema feudal de economia demonstrasse a sua superioridade em relação ao sistema escravagista de economia foram necessários, ao que parece, cerca de duzentos anos, se não menos. E não poderia ser de outra forma, uma vez que o ritmo de desenvolvimento era então extremamente lento e a técnica de produção era mais do que primitiva.

Para que o sistema burguês de economia demonstrasse a sua superioridade em relação ao sistema feudal de economia foram necessários cerca de cem anos ou menos. Já no seio da sociedade feudal o sistema burguês de economia demonstrou que ele era superior, muito superior ao sistema feudal de economia. As diferenças de prazo aqui se explicam pelo ritmo mais rápido de desenvolvimento e pelo maior desenvolvimento da técnica do sistema burguês de economia.

Desde então a técnica atingiu êxitos sem precedentes e o ritmo de desenvolvimento se tornou verdadeiramente assombroso. Pergunta-se: que base tem Trotski para supor que o sistema socialista de economia exige, para demonstrar sua superioridade sobre o sistema capitalista de economia, cerca de cem anos?

Acaso o fato de que à frente de nossa produção não se encontrarão parasitas, mas os próprios produtores — acaso este fato não constitui o mais poderoso fator de que o sistema socialista de economia terá todas as probabilidades para fazer avançar a economia a passos de gigante e demonstrar a sua superioridade sobre o sistema capitalista de economia num prazo mais curto?

Acaso não é fato que a economia socialista é a economia mais unificada e concentrada e que a economia socialista é dirigida por um plano, acaso esse fato não demonstra que a economia socialista terá todos os elementos positivos para demonstrar a sua superioridade, em prazo relativamente curto, sobre o sistema capitalista de economia, dilacerado pelas contradições internas e minado pelas crises? Não se torna claro, depois de tudo isso, que operar aqui com uma perspectiva de cinquenta a cem anos — significa padecer de uma fé supersticiosa de pequeno-burguês timorato no todo-poderoso sistema capitalista de economia? (Vozes: “Muito bem!”)

E que conclusões tiramos daí? Essas conclusões são duas.

Primeiro. Nas suas réplicas sobre a questão da construção do socialismo em nosso país Trotski abandonou a sua velha base de polêmica e passou-se para uma nova base. Anteriormente a oposição replicava partindo do ponto de vista das contradições internas, do ponto de vista das contradições entre o proletariado e o campesinato, considerando essas contradições insuperáveis. Agora Trotski frisa as contradições externas, as contradições existentes entre a nossa economia nacional e a economia capitalista mundial, considerando estas contradições insuperáveis. Se anteriormente Trotski julgava que as maiores dificuldades para a construção socialista em nosso país eram representadas pelas contradições entre o proletariado e o campesinato, agora ele muda de frente, passa-se para uma nova base de crítica à posição do Partido e afirma que o maior obstáculo para a construção socialista se encontra nas contradições entre o nosso sistema de economia e a economia capitalista mundial. Com isso ele reconheceu na realidade a inconsistência dos velhos argumentos da oposição.

Segundo. Verifica-se que o recuo de Trotski é um recuo para o labirinto, para o pântano. Trotski, na realidade, recuou direta e abertamente em direção à Sukanov. No que consistem, em essência, os “novos” argumentos de Trotski? Consistem em que, em vista de nosso atraso econômico nós ainda não alcançamos o socialismo e que não há entre nós premissas objetivas para a construção de uma economia socialista e que a nossa economia nacional em vista disso, se transforma e deve se transformar em apêndice da economia capitalista mundial, numa unidade econômica sob o controle do capitalismo mundial.

Mas isto é sukanovismo, sukanovismo claro e sem nenhum disfarce.

A oposição resvalou até o menchevique Sukanov, até sua posição de completa negação de possibilidade de uma construção socialista vitoriosa em nosso país.

              3. Construímos o Socialismo em Aliança com o Proletariado Mundial

QUE construímos o socialismo em aliança com o campesinato, isso, ao que parece, é um fato que a nossa oposição não se decide a negar. Construímos realmente o socialismo em aliança com o proletariado mundial — isso a oposição quer pôr em dúvida. Alguns oposicionistas afirmam até mesmo que o nosso Partido subestima a significação dessa aliança. E um deles, Kamenev, chegou mesmo a tal extremo que se pôs a acusar o Partido de nacional-reformismo e de substituir a perspectiva revolucionária internacional pela perspectiva nacional-reformista.

Trata-se de uma estupidez, camaradas. Uma rematada estupidez. Somente os loucos podem negar a grandiosa significação da aliança dos proletários de nosso país com os proletários de todos os demais países na tarefa da construção do socialismo. Somente os loucos podem acusar o nosso Partido de subestimar a questão da aliança dos proletários de todos os países. É somente em aliança com o proletariado mundial que se pode construir o socialismo em nosso país.

Toda a questão está em se compreender o sentido dessa aliança.

Quando os proletários da URSS tomaram o poder em Outubro de 1917 — isso representou uma ajuda aos proletários de todos os países e isso representou uma aliança com os mesmos.

Quando os proletários da Alemanha iniciaram a revolução em 1918 — isso representou uma ajuda aos proletários de todos os países e particularmente aos proletários da URSS e isso representou uma aliança com o proletariado da URSS.

Quando os proletários da Europa Ocidental faziam fracassar as tentativas de intervenção na URSS, não transportavam armamento para os generais contra-revolucionários, organizavam comitês de ação e minavam as retaguardas de seus capitalistas — isso representou uma ajuda aos proletários da URSS, isso representou uma aliança dos proletários da Europa Ocidental com os proletários da URSS. Sem uma tal simpatia e sem esse apoio da parte dos proletários dos países capitalistas não teríamos ganho a guerra civil.

Quando os proletários dos países capitalistas enviam a nós toda uma série de delegações, observam a nossa construção e depois fazem propaganda sobre os êxitos de nossa construção por toda a Europa operária — isso representa uma ajuda aos proletários da URSS, representa um grande apoio aos proletários da URSS, representa a aliança com os proletários da URSS e um freio a uma possível intervenção imperialista em nosso país. Sem esse apoio e sem esse freio não teríamos hoje uma “trégua” e sem essa ‘trégua” não teríamos um grande trabalho de construção do socialismo em nosso país.

Quando os proletários da URSS fortalecem a sua ditadura, liquidam a desorganização econômica, desenvolvem um trabalho de construção e conseguem êxitos na tarefa da construção do socialismo — então isso representa uma grande ajuda aos proletários de todos os paises, sua luta contra o capitalismo e sua luta pelo poder, isto porque a existência da República Soviética, a sua firmeza e seus êxitos na frente da construção socialista constituem o mais grandioso fator da revolução mundial que encoraja os proletários de todos os países na sua luta contra o capitalismo. Não há nenhuma dúvida de que para o aniquilamento da República Soviética se alinharia a mais negra e feroz reação de todos os países capitalistas.

A força de nossa revolução e a força do movimento revolucionário dos países capitalistas está neste apoio recíproco e nesta aliança dos proletários de todos os paises.

Tais são as diversas formas da aliança dos proletários da URSS com o proletariado mundial.

O erro da oposição está em que ela não compreende ou não reconhece estas formas de aliança. A desgraça da oposição esta em que ela reconhece apenas uma forma de aliança, a forma que se manifesta no “apoio estatal direto” ao proletariado da URSS pelos proletários da Europa Ocidental, isto é, uma forma que infelizmente ainda não é aplicada e, ao mesmo tempo, a oposição coloca em completa dependência desse apoio futuro o destino da construção socialista na URSS.

A oposição pensa que somente reconhecendo uma tal forma de apoio é que o Partido pode manter uma “perspectiva revolucionária internacional”. Mas eu já afirmei que em caso de demora da revolução mundial uma tal posição só pode conduzir a incessantes concessões de nossa parte aos elementos capitalistas de nossa economia, e, no final das contas, a capitulação e à derrota.

Conclui-se, dessa forma, que o apoio estatal direto do proletariado da Europa proposto pela oposição como a única forma de aliança com o proletariado mundial, constitui, no caso de demora de revolução mundial, uma máscara para o capitulacionismo.

A “perspectiva revolucionária internacional” de Kamenev como máscara do capitulacionismo — eis, evidentemente, o sentido em que se orienta Kamenev.

Por isso não pode deixar de causar admiração a ousadia com que Kamenev se manifestou aqui ao acusar o nosso Partido de nacional-reformismo.

De onde surgiu — não se pode empregar um qualificativo mais suave — essa ousadia de Kamenev que nunca se distinguiu entre nós nem pelo revolucionarismo nem pelo internacionalismo?

De onde surgiu essa ousadia de Kamenev que sempre foi entre nós um bolchevique entre mencheviques e um menchevique entre bolcheviques? (Risos).

Onde conseguiu essa ousadia Kamenev que Lênin, com toda razão, chamava em sua época de “fura-greve” da Revolução de Outubro?

Kamenev deseja saber se o proletariado da URSS é internacionalista. Devo declarar que o proletariado da URSS não necessita de um atestado do “fura-greve” da Revolução de Outubro.

Desejais saber da medida do internacionalismo do proletariado da URSS? Perguntai aos operários ingleses, perguntai aos operários alemães (tempestuosos aplausos), perguntai aos operários chineses — e eles vos dirão do internacionalismo do proletariado da URSS.

                                                          4. Questão da Degeneração

ASSIM podemos considerar provado que a oposição se mantém no ponto de vista da negação direta da possibilidade da construção vitoriosa do socialismo em nosso país.

Mas a negativa da possibilidade de uma construção vitoriosa do socialismo conduz à perspectiva da degeneração do Partido e a perspectiva da degeneração conduz, por sua vez, ao afastamento do poder e à questão da formação de um outro Partido.

Trotski fingiu que não pode tratar dessa questão com seriedade Trata-se de um subterfúgio.

Não pode haver dúvida de que se não podemos construir o socialismo e a revolução demora a surgir nos outros países, ao mesmo tempo em que, entre nós, aumenta o capital assim como aumenta a “ligação orgânica” de nossa economia nacional com a economia capitalista mundial — então, do ponto de vista da oposição, só se pode chegar a duas conclusões:

a)ou nos mantemos no poder e realizamos uma política de democracia burguesa, participamos de um governo burguês e praticamos, por conseguinte, o “mileranismo”;

b) ou nos afastamos do poder afim de evitar a nossa degeneração e formamos, ao lado do Partido oficial, um novo Partido, o que particularmente a nossa oposição, em essência, se esforçava e ainda continua a se esforçar para consegui-lo.

A teoria de dois Partidos ou a teoria de um novo Partido é o resultado direto da negação da possibilidade da construção vitoriosa do socialismo, o resultado direto da perspectiva da degeneração.

Tanto esta quanto aquela conclusão conduzem ao capitulacionismo e ao derrotismo.

Como se apresentava a questão na época da guerra civil? A questão se apresentava da seguinte maneira: se não soubéssemos organizar um exército e fazer frente ao inimigo, a ditadura do proletariado cairia e perderíamos o poder. A guerra se apresentava, então, em primeiro plano.

Como se apresenta a questão agora, quando terminou a guerra civil e as tarefas da construção econômica se colocaram em primeiro plano? Atualmente questão se apresenta da seguinte maneira: se não podemos construir uma economia socialista, então a ditadura do proletariado, ao fazer concessões cada vez mais sérias à burguesia, deverá degenerar e se arrastar à reboque da democracia burguesa.

Podem os comunistas concordar em pôr em prática uma política burguesa com ditadura do proletariado que se degenera?

Não, não podem não devem.

Daí solução: afastarmo-nos do poder e criarmos um novo Partido depois de termos aberto caminho à restauração do capitalismo.

O capitulacionismo, como resultado natural posição atual do bloco oposicionista — essa é conclusão.

                                      IV — A Oposição e a Questão da Unidade do Partido

PASSO à última questão, à questão do bloco oposicionista e da unidade nosso Partido.

                                      1. Como se formou o bloco oposicionista?

O Partido afirma que o bloco oposicionista se formou por meio da passagem da “nova oposição”, por meio da passagem de Kamenev e Zinoviev para lado do trotskismo.

Zinoviev e Kamenev negam isto, insinuando que não foram eles que se aproximaram de Trotski, mas este que se aproximou deles.

Consideremos os fatos.

Falei sobre resolução da XIV Conferência relativa à questão da construção do socialismo em nosso país. Disse que Kamenev e Zinoviev repudiaram esta resolução que Trotski não aceita e não pode aceitar, repudiaram-na a fim de se aproximarem de Trotski e se passarem para do trotskismo. Isto é ou não é verdade? Sim, é verdade. Tentaram Kamenev Zinoviev contrapor esta afirmativa? Não, não tentaram. Limitaram-se silenciar sobre o assunto.

Possuímos, também, a resolução da XIII Conferência de nosso Partido que qualifica o trotskismo como desvio pequeno-burguês e revisão do leninismo.(60). Essa resolução foi ratificada, como se sabe, pelo V Congresso da Internacional Comunista. Afirmei em meu informe que Kamenev e Zinoviev repudiaram esta resolução após reconhecerem, nas suas declarações especiais, justeza do trotskismo na sua luta contra Partido em 1923. Isso é ou não é verdade? Sim, é verdade.

Tentaram Zinoviev e Kamenev contrapor algo a esta afirmação? Não, não tentaram. Responderam com o silêncio.

Citemos outros fatos. Em 1925 Kamenev escreveu o seguinte sobre o trotskismo:

“O camarada Trotski enveredou pelo caminho no qual se manifesta o elemento pequeno-burguês dentro de nosso Partido todo o caráter de seus atos e todo o seu passado histórico demonstram isso. Na sua luta contra o Partido ele já se tornou no país um símbolo de tudo o que é dirigido contra o nosso Partido”… “Devemos tomar todas as medidas no sentido de evitar que sejam contagiadas por essa doutrina anti-bolchevique as camadas do Partido com a qual essa doutrina conta, isto é, a nossa juventude, os quadros que no futuro devem tomar em suas mãos os destinos do Partido. E por isso a intensificação de todo gênero de explicações relativamente ao caráter errôneo da posição do camarada Trotski e relativamente à necessidade de se escolher entre o trotskismo e o leninismo e que um e outro não podem se combinar (O grifo é meu — J. St.) — esta deve ser a tarefa na ordem do dia para o nosso Partido” (Vide Kamenev: “O Partido e o Trotskismo”, coleção “Pelo Leninismo”, págs. 84-86).
Tem Kamenev a ousadia de repetir hoje estas palavras? Se se acha disposto a repeti-las, por que ele se encontra atualmente em bloco com Trotski? Se não se decide a repeti-las, então não é claro que Kamenev se afastou de suas velhas posições e se passou para o campo do trotskismo?

Em 1925 Zinoviev escreveu o seguinte sobre o trotskismo:

“O último discurso do camarada Trotski (“As Lições de Outubro”) não é nada mais do que uma tentativa já bastante clara de revisão ou mesmo de uma franca liquidação dos fundamentos do leninismo (O grifo é meu — J. St.). Dentro de pouco tempo isso se tornará claro a todo o nosso Partido e a toda a Internacional” (Vide Zinoviev, “Bolchevismo ou trotskismo”, coleção “Pelo Leninismo”, pág. 120)
Comparemos este trecho de Zinoviev com a declaração de Kamenev em seu discurso: “Estamos com Trotski porque ele não revê as idéias fundamentais de Lênin” — e compreenderemos toda a profundidade da queda de Kamenev e Zinoviev. No mesmo ano de 1925 Zinoviev escreveu sobre Trotski:

“Atualmente, em 1925, se acha em processo de solução a questão de se saber quais as características que o PC da Rússia deve assumir. Em 1903 essa questão foi solucionada em relação ao primeiro parágrafo dos Estatutos e em 1925 em relação à Trotski, ao trotskismo. Quem afirma que o trotskismo pode se tornar uma “nuança legal” no Partido Bolchevique deixa de ser bolchevique. Quem deseja atualmente construir um Partido em aliança com Trotski, em cooperação com o trotskismo que se manifesta abertamente contra o bolchevismo, se afasta dos fundamentos do leninismo. (O grifo é meu — J. St). É preciso que se compreenda que o trotskismo é uma etapa ultrapassada e que hoje só é possível construir um Partido leninista a despeito do trotskismo”‘”Pravda”. de 5 de fevereiro de 1925).
Tem Zinoviev a ousadia de repetir hoje estas palavras? Se ele acha disposto a repeti-las, por que forma hoje bloco com Trotski?

Se não pode repeti-las, então não está claro que Zinoviev se afastou do leninismo e se passou para o trotskismo ?

O que nos revelam todos esses fatos?

Revelam que o bloco oposicionista se formou por meio da passagem de Kamenev e Zinoviev para o lado do trotskismo.

                                 2. Qual a Plataforma do Bloco Oposicionista?

A PLATAFORMA do bloco oposicionista é a plataforma do desvio social-democrata, a plataforma do desvio de direita em nosso Partido, a plataforma de reunião de todas e quaisquer tendências oportunistas para a organização da luta contra o Partido, contra a sua unidade, contra a sua autoridade. Kamenev fala sobre o desvio de direita em nosso Partido indicando, com um sinal de cabeça, o Comitê Central. Mas trata-se de um estratagema, de um estúpido e falso estratagema que tem por objetivo mascarar, com altissonantes acusações contra o Partido, o oportunismo do bloco oposicionista. Na realidade a expressão do desvio de direita em nosso Partido é o bloco oposicionista. Fazemos os nossos julgamentos sobre a oposição não pelas suas declarações, mas por seus atos. E os atos da oposição atestam que ela constitui um ponto de reunião e um foco de todos e quaisquer elementos oportunistas que vão de Ossovski e da “oposição operária” até Suvarine e Maslov, Korsch e Ruth Fisher. O restabelecimento do fracionismo, o restabelecimento da teoria da liberdade de frações em nosso Partido, a reunião de todos os elementos oportunistas de nosso Partido, a luta contra a unidade do Partido, a luta contra os seus quadros dirigentes e a luta pela formação de um novo Partido — eis em que sentido se orienta atualmente a oposição se a julgarmos pelo discurso de Kamenev. O discurso de Kamenev constitui, a respeito, o ponto de afastamento em relação à “declaração” da oposição em outubro fie 1926 para o restabelecimento da linha divisionista da oposição.

              3. O que é o bloco oposicionista do ponto de vista da unidade do Partido?

O BLOCO oposicionista é o embrião de um novo Partido dentro de nosso Partido. Acaso não é fato que a oposição teve o seu comitê central e seus comitês locais paralelos? A oposição afirmou, na sua “declaração” de 16 de outubro de 1926, que ela repudiava o fracionismo. Mas acaso o discurso de Kamenev não demonstra que ela se voltou novamente para a luta fracionista? Que garantia nos apresenta de não ter ainda restabelecido a organização central e as organizações paralelas da oposição? Acaso não é fato que a oposição reuniu contribuições especiais de membros do Partido para a sua caixa? Que garantia nos apresenta de que ainda não tenha enveredado pelo caminho do divisionismo?

O bloco oposicionista é una embrião de um novo Partido que mina a unidade de nosso Partido.

A nossa tarefa está em desfazer esse bloco e liquidá-lo. (Tempestuosos aplausos)

Camaradas, a ditadura do proletariado, quando existe a dominação do imperialismo em outros países, quando um país, somente um único país, pode romper a frente do capital — a ditadura do proletariado nessas condições não pode existir nem um minuto sem a unidade do Partido, armado com uma disciplina de ferro. As tentativas feitas no sentido de minar a unidade do Partido e as tentativas de formação de um novo Partido devem ser destruídas pela raiz se quisermos manter a ditadura do proletariado e se quisermos construir o socialismo.

Por isso é nossa tarefa liquidar o bloco oposicionista e consolidar a unidade de nosso Partido.

                                                                            V — Conclusão

TERMINO, camaradas.

Se fizermos um balanço dos debates aqui travados poderemos chegar a uma conclusão geral que não permite quaisquer dúvidas, isto é — à conclusão de que o XIV Congresso de nosso Partido tinha razão ao afirmar que a oposição sofre de falta de fé nas forças de nosso proletariado e de falta de fé na possibilidade da construção vitoriosa do socialismo em nosso país.

Esse é o desagradável resultado geral das impressões e da conclusão geral a que os camaradas não podem deixar de chegar.

Apresentam-se perante nós, dessa forma, duas forças. De um lado — o nosso Partido que com segurança conduz para a frente o proletariado da URSS, que constrói o socialismo e que conclama os proletários de todos os países à luta. De outro lado — a oposição que coxeia atrás de nosso Partido, como velho decrépito, atacado de reumatismo, de dor nos rins e de enxaqueca — oposição que semeia em torno de si o pessimismo e uma atmosfera envenenada pela tagarelice de que nada resultará de nosso socialismo e que entre eles, os burgueses, tudo marcha bem e entre nós, entre os proletários, tudo marcha mal.

Essas são, camaradas, as duas forças que se apresentam diante de nós.

Deveis escolher entre as duas. (Risos).

Não duvido de que fareis uma escolha acertada. (Aplausos).

A oposição, em sua cegueira fracionista, considera a nossa revolução como algo privado de qualquer força independente, como algo no gênero de um apêndice inútil da futura revolução que ainda não venceu no Ocidente.

Não foi assim que Lênin considerou a nossa revolução, a República dos Soviets. O camarada Lênin comparava a Republica dos Soviets a um farol que ilumina o caminho dos proletários de todos os países.

Vejamos o que o camarada Lênin afirmou a respeito:

“O exemplo da República Soviética se manterá por longo tempo diante deles (isto é, dos proletários de todos os países. J. St.). A nossa república socialista dos Soviets se manterá firme como fanal do socialismo internacional e como exemplo para todas as massas trabalhadoras. Lá — as lutas, a guerra, a carnificina, o sacrifício de milhões pessoas, exploração do capital, aqui — uma autêntica política de paz e a República Socialista dos Soviets”.(61)
Duas frentes se formaram em torno desse fanal: a frente dos inimigos da ditadura proletária que se esforçam por abalar esse fanal, derrubá-lo de seu pedestal e apagá-lo, e a frente dos amigos da ditadura proletariado que se esforçam por conservar o fanal e tornar mais viva a sua chama.

É nossa tarefa manter esse fanal e consolidar a sua existência em nome da vitória da revolução mundial.

Camaradas! Não duvido de que tomareis todas as medidas sentido de que esse fanal se mantenha aceso e ilumine o caminho a todos os oprimidos escravizados.

Não duvido de que tomareis todas as medidas no sentido de que a chama desse fanal se mantenha acesa em a sua plenitude para terror dos inimigos do proletariado.

Não duvido de que tomareis todas as medidas no sentido de que fanais idênticos se acendam em todas as partes do mundo para alegria dos proletários de todos os países. (Prolongados e repetidos aplausos. Todos os delegados se levantam cantam a “Internacional”. Três vezes “viva” !)

                             * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Notas:
(2) O otzovismo, ou liquidacionismo de esquerda, era uma tendência oportunista que surgiu nas fileiras da social-democracia após a revolução de 1905. O otzovismo pregava a rejeição total das formas legais do trabalho partidário entre as massas e a renúncia dos deputados bolcheviques à Duma. Sob a máscara de uma fraseologia “esquerdista”, punha em prática, no essencial, uma política de liquidação do Partido. – nota da redação 
(3) (I) A lei de exceção contra os socialistas foi decretada na Alemanha em 1878 pelo governo de Bismark. Essa lei lançou à ilegalidade todas as organizações do Partido Social-Democrata, as organizações operárias de massa e a imprensa operária. Na base dessa lei confiscou-se a literatura socialista e se desencadearam as repressões contra os social-democratas. O Partido Social-Democrata Alemão foi forçado a passar à ilegalidade. A lei foi revogada em vista da pressão do movimento operário de massas, em 1890. 
(4) “O Social-Democrata” (“Der Sozialdemokrat”) — Jornal ilegal, órgão da social-democracia alemã; foi publicado de setembro de 1879 a setembro de 1890, a princípio em Zurique (Suíça) e a partir de outubro de 1888 em Londres. 
(5) K. Marx e F. Engels — “Cartas Escolhidas’, pgs. 358-359, edição russa, 1947. Moscou. 
(6) Idem, pg. 371. 
(7) Refere-se aqui ao grupo anti-partldárlo existente no PC (b) da Rússia e que se denominava grupo do “centralismo democrático”. Esse grupo se formou na época do comunismo de guerra e era chefiado por Sapronov e Ossinskl. Os “centralistas democráticos” negavam o papel dirigente do Partido nos Soviets; manifestavam-se contra o princípio do comando único e da responsabilidade pessoal dos diretores na Indústria e contra a linha leninista nas questões de organização; exigiam a liberdade de frações e de grupos no Partido. Os IX e X Congressos do Partido condenaram com firmeza os centralistas democráticos. Em 1927 o grupo dos “centralistas democráticos” foi expulso do Partido pelo XV Congresso do PC (b) da URSS juntamente com alguns ativos elementos da oposição trotskista. 
(8) A “Oposição Operária” era um grupo anti-partidário e anarco-sindicalista existente no PC (b) da Rússia: os seus líderes eram Shliapnikow. Medvedlev e outros. Esse grupo se formou na segunda metade de 1920 e travou luta contra a linha leninista do Partido. O X Congresso do PC (b) da Rússia condenou a “oposição operária” e qualificou a propaganda das idéias do desvio anarco-sindicalista incompatível com a qualidade de membro do Partido Comunista. Posteriormente os restos da fracassada “oposição operária” se juntaram ao trotskismo contra-revolucionário e foram esmagados como inimigos do Partido e do Poder Soviético. 
(9) O V Congresso Mundial da Internacional Comunista que se realizou de 17 de junho a 8 de julho de 1934, em Moscou, após haver debatido a questão “A Situação Econômica da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a Discussão no PC (b) da Rússia, apoiou unanimemente o Partido Bolchevique na sua luta contra o trotskismo. O Congresso ratificou a resolução da XIII Conferência do PC (b) da Rússia: “Os resultados da discussão e o desvio pequeno-burguês no Partido”, aprovada pelo XIII Congresso do PC (b) da Rússia e deliberou publicá-la como resolução sua. 
(10) V. I. Lênin — Obras, tomo XVI pgs. 65 e 67-70, edição russa, Moscou. 
(11) A XV Conferência do PC (b) da URSS teve lugar de 26 de outubro a 3 de novembro de 1926. J. V. Stálin, por incumbência do Bureau Político do C.C. do PC (b) da URSS, escreveu as teses “O bloco oposicionista no PC (b) da URSS” Em 3 de novembro essas teses foram unanimemente aprovadas pela Conferência como uma resolução da Conferência. No mesmo dia a resolução foi ratificada pelo Pleno Unificado do Comitê Central e da Comissão Central de Controle do PC (b) da URSS. 
(12) O Conselho Geral é o órgão executivo do Congresso dos sindicatos Ingleses; foi eleito, pela primeira vez, em 1931.                                                                                                                                                            (13) V. I. Lênin — Obras, tomo XXVI, pgs. 311-312, edição russa. Moscou.                

(14) V. I. Lênin — “Obras Escogidas”, tomo IV, pág. 705, Editorial Problemas, B. Aires. 

(15) Refere-se à resolução da XIV Conferência do PC (b) da Rússia “As tarefas da Internacional Comunista e do PC (b) da Rússia decorrentes do Pleno Ampliado do Comitê Executivo da Internacional Comunista (Vide “O PC nas resoluções e decisões dos Congressos, das Conferências e dos Plenos C.C.”, parte II, 1941, pgs. 25-31, edição russa. Moscou. 
(16) “O Social-Democrata”, jornal ilegal, órgão central do POSDR. Foi publicado desde fevereiro de 1908 a Janeiro de 1917, num total de 58 números. O primeiro número foi publicado na Rússia e as edições posteriores foram publicadas no estrangeiro, a principio em Paris e depois em Genebra. A redação do “O Social-Democrata” foi composta, segundo uma resolução do CC do POSDR de representantes dos social-democratas bolcheviques, mencheviques e poloneses. A luta intransigente de Lênin dentro da redação do “O Social Democrata” por uma linha bolchevique conseqüente provocou o afastamento da redação dos representantes dos social-democratas mencheviques e poloneses. A partir de dezembro de 1911 o jornal “O Social-Democrata” foi redigido por Lênin. No jornal foram impressos uma série de artigos de J.V. Stálin. O artigo de V. I. Lênin “Sobre a palavra de ordem dos Estados Unidos da Europa” foi impresso no nº 44 do “O Social-Democrata”, datado de 23 de agosto de 1915. 
(17) V. I. Lenin —Obras, tomo XVIII, págs. 232-233. edição russa, Moscou. 
(18) “A Nossa Palavra” — Jornal menchevique e trotskista; publicado em Paris de Janeiro de 1915 até setembro de 1916. 
(19) — V. I. Lênin — Obras, tomo XXIV, pág. 510, edição russa. Moscou. 
(20) — Vide V. I. Lênin — “Sobre o Imposto em Espécie”, em “Obras Escogidas”, tomo IV, pgs. 507-549, Editorial Problemas, B. Aires. 
(21) — V. I. Lênin — Obras, tomo XXVII. pág. 366, edição russa, Moscou. 
(22) V. I. Lênin —”Obras Escogidas”, tomo IV, pg. 700. Editorial Problemas. B. Aires. 
(23) J. Stálin — “O Desvio Social Democrata em nosso Partido”, Obras, tomo VIII, pgs. 23-297. edição russa, Moscou. 
(24) V. I. Lênin — Obras, tomo XXVI, pg. 313, ediç&o russa, Moscou. 
(25) Refere-se à greve geral dos operários ingleses que teve lugar de 3 a 12 de maio de 1926. Da greve participaram mais de cinco milhões de operários organizados de todos setores mais importantes da indústria e do transporte. Para conhecimento das causas que deram origem à greve e ao seu fracasso vide J. Stálin. Obras, tomo VIII, pgs. 155-168, edição russa. Moscou. 
(26) V, I, Lênin — Obras, tomo XXVI, pg. 312, edição russa, Moscou.                                                                        (27) Os Weddings constituem um dos grupos “ultra-esquerdistas” no Partido Comunista Alemão; esse grupo pertencia à organização do Partido do distrito Wedding, na parte noroeste do perímetro interno de Berlim. Os dirigentes da “oposição de Wedding” solidarizaram-se com o bloco oposicionista trotskista-zinovievista do PC (b) da URSS. O VII Pleno Ampliado do CE da I.C. condenou categoricamente a “oposição de Wedding”, exigiu que esta cessasse completamente a sua atividade fracionista, que rompesse todas as suas relações com os elementos expulsos do Partido Comunista Alemão e com os elementos hostis ao mesmo e que se submetesse incondicionalmente às resoluções do PCA e da Internacional Comunista. 

(28) Kadete: membro ou partidário do Partido Constitucional Democrata, partido liberal burguês existente na Rússia antes da Grande Revolução Socialista e que ainda existe na emigração, tendo mudado de nome para Partido da Liberdade Popular. A palavra Kadete vem das iniciais do nome do Partido Constitucional Democrata em russo. (nota da redação) 
(29) “Ultimas Noticias”, jornal diário, órgão do contra-revolucionário de Miliukov; foi editado de abril de 1920 a julho de 1848, em Paris. 

(30) V. I. Lênin — “As Tarefas do Proletariado na Atual Revolução”, Obras, tomo XX, pgs. 87-89, 3ª edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(31) A Esquerda de Zimmerwald — grupo dos internacionalistas de esquerda; foi formado por V. I. Lênin na primeira conferência internacional dos internacionalistas que se realizou de 23 a 26 de agosto (5 a 8 de setembro) de 1915, em Zimmerwald (Suíça). O Partido Bolchevique, à cuja frente se encontrava V. I. Lênin, ocupou no grupo de esquerda de Zimmerwald a única posição justa e consequente até o fim, contra a guerra. Sobre a esquerda de Zimmerwald vide a “Historia PC (b) da URSS.” ( pg. 68, Edições Horizonte, Rio). 
(32) Kalantchá: palavra russa que significa um mastro ornamentado com flores para as festas do Primeiro de Maio. (nota da redação). 
(33) Os Smienovierroviets são partidários de uma tendência política burguesa que surgiu em 1921, no estrangeiro entre a emigração burguesa russa e que tirou a sua denominação da revista “Smiena Ver”. O smienovierrovismo constitui manifestação dos pontos de vista da nova burguesia e da intelectualidade burguesa da Rússia Soviética que haviam renunciado, em conseqüência da introdução da nova política econômica (NEP), à luta armada aberta contra o Poder Soviético e que contavam com a gradual transformação do regime soviético numa república burguesa comum. Ustrialov foi o ideólogo do smienovekovismo. 
(34) V. I. Lênin – Obras, tomo XXVII, pg. 450, edição russa, Moscou. 
(35) V. I. Lênin – “Obras Escogidas”, tomo IV, pg. 549, Editorial Problemas, B. Aires.
(36) Idem, Idem. 
(37) Urkart — palavra formada das iniciais de Artel Ural-Kusniets. (nota da redação) 
(38) Netchaievismo — tática dos complôs e do terrorismo; recebeu a sua denominação do nome do anarquista russo e bakuninista S. G. Netchaiev. Em fins dos anos 60 do século XIX Netchaiev criou na Rússia uma organização estreitamente conspirativa, desligada das massas e na qual a vontade e as opiniões dos seus membros eram completamente sufocadas. 
(39) Araktcheevismo — regime de despotismo policial ilimitado, do arbítrio dos militaristas e de violência contra o povo que existiu na Rússia no primeiro quartel do século XIX; recebeu a sua denominação do nome do político reacionário conde Araktcheev. 
(40) K. Marx e F. Engels – Obras, tomo VIII, pg. 71, edição russa de 1931, Moscou. 
(41) V. I. Lênin — Obras, tomo XIX. pág. 302. Edição russa. Moscou.
(42) K. Marx e F. Engels – Manifesto do Partido Comunista, Anexos, pgs. 75-97, edição russa, 1939, Moscou.
(43) F. Engels — “Princípios do Comunismo”, pgs.18 e 19, Edições Horizonte, 1946, Rio. 
(44) V. I. Lênin – Obras, tomo XXIV. pg. 250. edição, russa, Moscou. 
(45) K. Mar e F. Engels — Obras, tomo VII, pg, 103, edição russa, 1930, Moscou
(46) V. I. Lênin — Obras, tomo XXII, pg. 318, edição russa, Moscou. 

(47) Idem, tomo XVIII, pg. 254. 
(48) Idem, idem, pgs. 256-257. 
(49)Idem, tomo XIX, pg. 302. 
(50) Idem, tomo III, pgs. 1-535, 4ª edição russa, Moscou.
(51) Idem, tomo XVIII, pg, 232. 
(52) Idem, tomo XXIII, pg. 9. 
(53) Idem, tomo XVIII. pgs. 232-233

(54) Idem, tomo XXIV, pg. 510. (retornar ao texto)
(55) V. I. Lênin— “Obras Escogidas”, tomo IV, pg. 700, Editorial Problemas, B. Aires. 
(56) V. I. Lênin — Obras, tomo XXVI, pg. 46, edição russa, Moscou. 
(57) “O P. C (b) da URSS nas Resoluções e Decisões dos Congressos, Conferências e Plenos do C.C., pgs. 25-31, edição russa, 1941, Moscou. 
(58) Refere-se ao “Plano e Sumário do folheto “O Imposto em Espécie”. 
(59) “O PC (b) da URSS nas Resoluções e Decisões dos Congressos, Conferências e Plenos do CC, parte I, pgs. 281-295, ediçáo russa, Moscou. 

(60) Refere-se à resolução “Os resultados da discussão e o desvio pequeno-burguês no Partido” aprovada pela XIII Conferência do PC (b) da Rússia na base do informe apresentado por J. V. Stálin “As tarefas imediatas da organização do Partido” (Vide “O PC (b) da URSS nas resoluções e decisões dos Congressos, Conferências e Plenos do CC”, parte I, 1941, pgs. 540-545). 
(61) V. I. Lênin – obras, tomo XVII pg. 218, edição russa. Moscou.