Fale um pouco desta Conferência, ponto máximo da evolução da política do Partido nesta questão da emancipação da mulher.

Esta Conferência representa o acúmulo que o Partido, e as mulheres do Partido, foram conseguindo tanto do ponto de vista teórico como do ponto de vista político. Acho que o Partido se debruçou sobre essa questão, e muitas mulheres comunistas se debruçaram, foram estudar, foram para a academia, e mesmo fora da academia, mas se preocupando em retomar a questão teórica de fundo da opressão da mulher.

Essa II Conferência avança nessa questão da emancipação humana, vendo-a na totalidade, como um processo de emancipação das mulheres dentro do processo de emancipação de toda a sociedade, no sentido de libertação mesmo. Por isso, acho que ela representa um avanço nesse sentido.

E nesse período também o Partido está muito mais comprometido com a questão da mulher. Os homens comunistas têm participado muito mais e compreendido a importância – não apenas no discurso – de que é estratégico. Porque se não ficariam somente as mulheres tratando da questão. Mas tem sido uma bandeira para todo o Partido. E, a meu ver, essa é a principal vitória que estamos conquistando nesse avanço.

A emancipação da mulher é um dos seus fundamentos do Partido. Como você vê essa evolução histórica dos comunistas brasileiros?

Havia essa compreensão, mas no início era uma visão de que era preciso trazer as mulheres para a luta, porque elas participavam muito pouco dos sindicatos, dos movimentos e, inclusive, do próprio Partido. Quer dizer, no início quase não havia mulheres no Partido. Depois elas foram se incorporando, e começaram lentamente a participar também das instâncias de direção do Partido.
Então, tem toda uma evolução nesse sentido. Havia uma visão mais abstrata da questão da mulher. Havia a bandeira, havia a chamada, a preocupação com a mulher, mas isso foi se corporificando, isso foi se concretizando em todo um tratamento teórico que foi dado para a questão. E hoje, a meu ver, temos uma visão construída, uma teoria mais construída. E uma prática política de acordo com essa teoria muito mais concreta do que tínhamos anteriormente.

Você acha que o João Amazonas teve um papel importante para essa visão que você acabou de expressar?

Acho que sim. João sempre levantava essa questão da mulher. Ele sempre teve a preocupação de nos estimular a estudar. Ele contribuiu, por exemplo, para criarmos a revista Presença da Mulher. Ele foi um dos principais articuladores para criarmos a própria União de Mulheres. Quer dizer, ele tinha toda uma preocupação com a necessidade de organizar as mulheres, e com a necessidade de capacitação política e teórica das mulheres para estarem onde podem estar.

Você dirigiu a revista Presença da Mulher. Fale um pouco dessa experiência.

A revista Presença da Mulher foi fundada em 1986, e nós já tínhamos alguns núcleos de mulheres em vários estados. E a revista foi trabalhando com tudo isso, e ajudamos depois a fundar a União Brasileira de Mulheres (UBM), em 1988, em Salvador. É uma revista interessante porque acredito que seja a única do estilo que ainda sobrevive, apesar de todas as dificuldades – não se consegue vendê-la em bancas etc., por ser uma imprensa alternativa.

Mas ela sobrevive, e tem dado uma contribuição muito importante no sentido de trazer o debate sobre as questões das mulheres, as questões do feminismo e as questões da sociedade, porque, no final das contas, todas as questões são das mulheres. E a revista tem trazido isso e tem contribuído muito para que possamos melhorar o debate. E ela sobrevive, e isso é uma grande coisa.

Você vê ainda insuficiências teóricas no Partido para dar atenção à questão da mulher? A revista não poderia ser melhor trabalhada dentro do Partido?

Isso sim, claro. A revista ainda tem um papel pequeno no interior do Partido. Ela é muito mais vendida entre as mulheres do que no conjunto do Partido, como a Princípios, por exemplo. Acho que não é só uma questão das mulheres. Isso é uma questão de que tudo o que se refere à formação, que é mais teórico, ao debate teórico em geral, ainda tem um pouco de resistência no Partido. E, dentro desse debate teórico, sem dúvida essa questão da condição feminina ainda não alcançou o nível que deveria. Temos muito ainda a conquistar.

Mas estamos num caminho, principalmente no atual momento do Partido, que é extremamente frutífero para o avanço da questão da mulher. E pelo fato de termos uma presidenta, de termos várias ministras, também, historicamente, o contexto que estamos vivendo é favorável a que possamos avançar no debate e nas proposições do que se refere à emancipação da mulher. Acho que o Partido está sabendo aproveitar este momento e dar passos adiante.