Já os telegramas se referiram à repercussão causada no mundo ianque dos negócios, quando Jacob Málik formulou a sua proposta de paz – a Bolsa de Nova Iorque em pânico. Os jornais americanos refletiram esse medo da paz nas manchetes do dia, por exemplo: “Rumores de paz desequilibram a Bolsa” – “A proposta de paz provoca depressão no mercado” – “Alista da Bolsa acusa queda violenta” – “Caem os títulos do açúcar” – “Colapso do cacau”… e assim por diante.

Isto serve para comprovar, uma vez mais que a guerra é um grande negócio, o mais lucrativo dos negócios em que se acham empenhados os magnatas imperialistas de Wall Street e arredores. A segunda guerra mundial lhes proporcionára lucros verdadeiramente astronômicos, que andaram beirando os 80 bilhões não confessados.

Eis o que explica, antes de qualquer outra razão, a guerra ianque na Coreia e a intensiva e cínica preparação de uma nova guerra mundial. Os lobos capitalistas estão cada vez mais vorazes, quanto mais ganham mais querem ganhar. De resto, isto é a própria natureza do capitalismo. Como igualmente a guerra. A famosa frase de Jaurés exprime uma realidade visível ao olho nu – “a guerra vem do capitalismo como a chuva vem da nuvem”.

A este propósito, quero chamar a atenção do leitor para o recente informe de João Amazonas (na Voz Operária nº 109), no parágrafo relativo aos lucros obtidos no Brasil, ultimamente, por empresas pertencentes a trustes estrangeiros e também por empresas nativas. As cifras apresentadas por João Amazonas são na verdade impressionantes, e sua significação é muito clara.

Os lucros declarados da Light, durante o ano de 1950, montaram a mais de 600 milhões de cruzeiros, cerca de 45 milhões mais do que em 1949. A Standard Oil obteve, aqui, um lucro líquido de 120 milhões de cruzeiros, também em 1950. A Belgo Mineira, no mesmo ano, 126 milhões. As quatro grandes fábricas “nacionais” de pneus (Good-year, Firestone, Pirelli e Dunlop) comeram em 1950 lucros líquidos num total de 258 milhões, e isto sobre um capital de 316 milhões, o que dá percentagem de 80%.

As indústrias Matarazzo, cujo capital soma 600 milhões de cruzeiros, lucraram nada menos de 318 milhões líquidos, mais de 50%. (Daqui deste monte de milhões, acumulados anualmente à custa da feroz exploração dos operários, é que o pimpolho Eduardo Andréa tira dinheiro para suas farras de filinho de papai). A S. A. Indústria Votorantim teve 46% de lucro líquido, e a Orquima ganhou cerca de 100% de lucros líquidos sobre o capital – e aí está porque o poeta Schmidt, um de seus donos, também quer a guerra.

Os grandes fazendeiros e criadores de gado – e Getúlio Vargas entre estes últimos – encheram-se igualmente com as desgraças da guerra. Em 1950 os fazendeiros de café obtiveram lucros de 41% sobre o capital, contra 16% em 1949; os grandes plantadores de algodão, 12% contra 4%; os pecuaristas, 19% contra 3%. Este enorme aumento de lucros dos pecuaristas decorre sobretudo do fornecimento de gado aos frigoríficos ingleses e americanos.

Não ficaram atrás os usineiros e industriais do açúcar como se pode calcular pelos algarismos seguintes, que nos mostram os lucros alcançados durante os últimos anos pela Cia. União dos refinadores e pela Refinaria Tupi, respectivamente: 1946, 12% e 12%; 1947, 14% e 17%; 1948, 21% e 26%; 1950, 27% e 37%.

Os bancos, observa Amazonas, refletem com segurança, de modo geral o índice dos negócios. Pois bem, bancos estabelecidos no Brasil tiveram no ano passado lucros líquidos avaliados em 21,5% relativamente ao capital mais reserva, em comparação com 17,5% em 1949 e ainda menos nos anos anteriores. O encaixe nesses bancos aumentou de 42% entre 1949 e 1950, e neste mesmo período duplicou o número de bancos que mantém reservas líquidas acima de 200 milhões de cruzeiros.

Amazonas cita a opinião da revista “Conjuntura Econômica”, segundo a qual o nosso comércio exterior, que se processava “desusadamente limitado” até junho de 1950, “ampliou-se rapidamente desde a guerra da Coreia”. Acrescenta a referida revista que “o espectro da nova conflagração universal e a alta das matérias primas que disse resultava repercutiam pouco a pouco sobre todos os nossos produtos de exportação.”

Eis aí, portanto, a quem interessa a guerra – em primeiro lugar aos magnatas dos trustes e monopólios, aos fabricantes de armamentos, aos grandes bancos e consórcios financeiros, aos grandes capitalistas e fazendeiros da América do Norte; em segundo lugar, aos seus sócios menores nos demais países capitalistas, Inglaterra, França, Itália, Canadá, Alemanha Ocidental, etc.; e por fim aos grandes capitalistas e latifundiários dos países dependentes, como o Brasil. Para essa minoria de exploradores imperialistas, seus sócios e agentes, a guerra é sempre o melhor, o mais rendoso dos negócios.

Para as massas trabalhadoras, para o povo em geral de todos os países, a guerra significa, pelo contrário, sofrimento de vidas, fome, luto, numa palavra – aniquilamento físico e moral. Só a paz, portanto, interessa às massas populares de todos os países – e por isso as massas lutam pela paz.

Lutam pela paz e hão de por fim derrotar os provocadores de guerra, porque as forças populares e progressistas favoráveis à paz aumentam sem cessar no mundo inteiro, batendo palmo a palmo, dia a dia, os traficantes e beneficiários da guerra.

(Imprensa Popular nº 735B 13/07/1951, páginas 2 e 4)