O episódio, protagonizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), é uma das marcas das lutas populares que estão gravadas na história do Brasil de forma indelével. Não se trata de episódio passageiro, um mero choque de paradoxos decorrente de visões conjunturais.

Havia ali, condensados, dois veios cujas nascentes remontam aos primórdios de nossa existência como nação. Pode-se dizer que o ocorrido no Araguaia foi uma etapa do fio da história da qual participou a Inconfidência Mineira com sua clareza de objetivos; a conspiração dos Alfaiates, na Bahia, que nos legou quatro mártires da forca; Canudos e Contestado, revoltas populares impiedosamente esmagadas. Essa lógica repressiva demonstra mais do que qualquer palavra a importância desses movimentos. Os repressores sabiam perfeitamente o que faziam — ao punir com rigor os revoltosos tinham consciência do que estava em questão.

A truculência do Estado no Sul do Estado do Pará — o local dos combates — e na base de apoio à Guerrilha em São Paulo e no Rio de Janeiro — onde foram assassinados Carlos Danielli, Luiz Guilhardini, Lincoln Oest e Lincoln Bicalho Roque — mostra que havia uma decisão criminosa deliberada com a finalidade de defender os interesses poderosos que manipulavam a ditadura. Os criminosos se apartaram da tradição das Forças Armadas para dar um banho de sangue e estancar a marcha progressista no país.

O documentário “Camponeses do Araguaia – a Guerrilha vista por dentro” mostra que os guerrilheiros contavam com amplo apoio popular. Os que cometeram crimes durante o regime discricionário, portanto, estavam contra o povo. Contra a própria história das Forças Armadas, que não formam algo à parte na sociedade nem tampouco em relação ao poder político. Se nas duas décadas pós-1964 a função principal das instituições militares foi a de executar o serviço sujo determinado pelos altos interesses econômicos que estavam em jogo, no movimento abolicionista o Exército desempenhou um papel sumamente importante ao recusar-se a caçar escravos fugidos.

Ideal

Aquela decisão da oficialidade do Exército foi uma verdadeira insubordinação, mas foi sobretudo uma atitude digna — essencialmente progressista. E se podemos buscar características para as Forças Armadas do Brasil, principalmente do Exército, ela é precisamente esta: militância política. Se alguns altos mandatários militares ao longo da história procuraram fazer a política das oligarquias, o mesmo não se pode dizer da massa do Exército.

Em todos os movimentos revolucionários do nosso país, das fileiras das Forças Armadas surgiram personagens que são verdadeiras legendas das lutas populares. Maurício Grabois, o principal comandante da Guerrilha do Araguaia, por exemplo, tem origem militar. Assim como Tiradentes, Pedro Ivo e Luiz Carlos Prestes — para lembrar alguns. A luta dos guerrilheiros do Sul do Pará e dos demais democratas que deram a vida pela ideal democrático continua hoje por outros meios. É, a rigor, a mesma luta de Tiradentes, Frei Caneca, Cipriano Barata e tantos outros valentes que tinham um ideal político muito bem definido. O documentário é um registro fundamental sobre a ligação desse ideal com a luta do povo brasileiro.

Serviço:
Camponeses do Araguaia – a Guerrilha vista por dentro
O documentário pode ser adquirido na Fundação Maurício Grabois ou na Editora Anita Garibaldi pelo preço de R$ 10,00.
Acima de 20 unidades, desconto de 30%.
E-mail: [email protected]
Fonte: (11) 3337.1578

Editora Anita Garibaldi:

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