Nas declarações seguintes alguns deles expressam por que votaram em Lula ou o que esperar do novo governo das esquerdas.

Tem de mudar, há 500 anos ‘eles’ mandam e não resolvem. É hora de Lula.” Ziraldo, cartunista

Sempre fui Lula, desde 1989. É Lula e pronto. Nem quero falar mais para não atrapalhar.” Chico Buarque de Holanda, compositor

É a solução social e a solução brasileira.” Aldo Lins e Silva, jurista

Porque representa a ruptura, o novo, o povo. O que veio de baixo.” Leonardo Boff, teólogo

Por tudo que significa: luta e esperança.” Fernando Morais, jornalista e escritor

Pelo acúmulo político que o PT reúne. Porque ele é o nome emblemático dessa trajetória.” Chico de Oliveira, economista

Por sua tradição de luta, para ampliar os direitos neste país.” Lúcio Kowarick, sociólogo

Por compaixão ao povo brasileiro.” Augusto Boal, teatrólogo
História, história, história. Lula tem e faz história.” Ênio Candotti, ex-presidente da SBPC

Pela mudança. Para fazer uma varredura, porque o povo não agüenta mais.” Nelson Sargento, sambista

Lula é sinônimo de esperança. E dela precisamos muito.” Nilcéia Freire, reitora da UERJ

Porque o Brasil precisa de um novo projeto de desenvolvimento nacional.” Márcio Thomas Bastos, jurista

É o mais preparado: reúne liderança, conhecimento e determinação.” Maurício Tolmasquim, físico, professor da URFJ

É um contraponto aos doutores da Sorbonne que quebraram o Brasil, estrangularam a pesquisa e o ensino público.” Marcus Barros, diretor do INPA

É a melhor opção para responder à crise social brasileira.” Paulo Gadelha, vice-presidente da Fiocruz

Lula está na sua melhor fase. Dá esperança, paz e certeza.” Carla Camurati, cineasta

É o mais preparado porque formou-se pela universidade chamada Brasil.” José Leite Lopes, físico

É hora de ajudar o povo sofrido.” Zeca Pagodinho, sambista

Para colocar no poder um filho do povo. Ariano Suassuna, escritor

As condições são favoráveis. Lula vai se entender com todos os setores da sociedade”. Maria da Conceição Tavares, economista

Os grandes expoentes no Brasil não tiveram diploma. Mauá inovou a economia no país, trouxe industrialização de fato, não na teoria. Amador Aguiar também não precisou de diploma para fundar o Bradesco. Ele tem condições de se tornar um grande estadista. Digo isso pela história única dele, por suas idéias e sua biografia.” Raymundo Faoro, jurista e escritor

Lula porque tem lastro político, um partido consistente, um programa viável, uma equipe invejável. Prefiro estar ao lado de Maria Victória Benevides, Dalmo Dallari, Fábio Konder Comparato, Marilena Chauí, Luiz Pinguelli Rosa, Emir Sader, Paulo Nogueira Batista Júnior, Marina da Silva, Eduardo Suplicy, Cristovam Buarque, Antonio Candido, etc., e também da CUT, da CMP e do MST, que estão com Lula, do que ficar mal acompanhado.” Frei Betto, escritor

É bom que tenhamos presente que o que está em causa não é uma luta antiglobalização. É, antes, uma luta contra esta globalização neoliberal, a favor de uma globalização alternativa mais solidária e mais sustentável. Aliás, como pode ler-se no último livro de Stiglitz (ex-dirigente do Banco Mundial), a globalização neoliberal, nesta forma atual, está com seus dias contados. A transição para outra mais justa será gradual, mas é inevitável. E para que ela ocorra de modo pacífico, com menos custos para a grande maioria da população, duramente fustigada pela globalização neoliberal, é imprescindível que as energias democráticas dos cidadãos sejam mobilizadas ao máximo. Por isso é tão importante a vitória de Lula.
O capitalismo sempre viveu a tensão entre capitalistas que só enxergam o curto prazo — hoje dramaticamente representados pelos especuladores — e as instâncias político-econômicas que procuram garantir a sobrevivência do sistema a médio e longo prazo. O Brasil vive hoje uma situação paradoxal: o governo FHC levou ao máximo a vulnerabilidade externa do país, mas, ao mesmo tempo, tornou a queda do Brasil demasiado onerosa para o sistema. É nesta contradição que as forças de esquerda do Brasil encontram agora a base real para a sua oportunidade histórica.
(…) o sistema capitalista combina extrema rigidez com grande capacidade de adaptação. Tentará de tudo para evitar ter de adaptar-se a um governo progressista, mas quando for confrontado com essa necessidade o fará. Sem quaisquer problemas —e com uma flexibilidade que surpreenderá a muitos. Nos próximos dias vai dramatizar a rigidez para intimidar o povo brasileiro. O importante é que o povo brasileiro não se deixe intimidar e acredite que, no dia seguinte à vitória de Lula, não é só a esfera política que muda, mas também o patamar de adaptação que o sistema desenhará. O sistema vai se adaptar não só para perder o mínimo com a nova situação política, mas sobretudo para ganhar o máximo com ela.” Boaventura de Sousa Santos, sociólogo

Lula, a meu ver, é um homem que encarna as aspirações profundas do povo brasileiro.
O povo brasileiro fala pela voz de Lula. Isso eu sempre disse e o Lula, como todo grande líder, primeiro inconscientemente, agora conscientemente, sente que é um representante desse povo. O que é essa liderança? É a centelha que falta para o sistema entrar em movimento.
Porque a energia recalcada do povo brasileiro ainda não foi despertada. E as grandes massas pobres sentem que o ideal está em algum lugar adiante. E que você precisa se superar para chegar a ele. Ora, racionalmente, essa superação se dá pelo partido político, não por mistificações. Agora, esse partido só irá para frente se tiver uma liderança capaz de contagiar, e isso Lula tem.
Isso me dá uma grande confiança. E todo o esforço que a intelectualidade brasileira puder fazer para colaborar com Lula renderá juros elevadíssimos. Porque ele vai aplicar muito bem esse capital intelectual. Como eu o tenho visto aplicar. É um homem que o que ouve, lê e vê, ele transforma em instrumentos de análise de um poder extraordinário. A visão que Lula formou da questão agrária no Brasil, por exemplo, parece-me tipicamente fruto de uma re-elaboração muito refinada de tudo o que viu, ouviu e discutiu com homens como José Gomes da Silva, Aziz Ab’Saber, de suas viagens, debates, etc. Por isso vejo nele a possibilidade de aglutinar em torno de seu governo tudo o que houver de intelectualmente relevante no Brasil.” Antonio Candido, escritor

Existe um clima de expectativa popular que nenhum presidente recente desfrutou no início de seu mandato. A esperança de que o país possa deixar para trás a miséria dos últimos anos não vai desaparecer da noite para o dia.
Hoje a América Latina mais uma vez enfrenta uma crise de proporções continentais. Por que o Brasil não poderia encontrar uma saída do impasse de maneira similar – com soluções pragmáticas, feitas sob medida para cada caso? A diferença está no grau incomparavelmente maior de integração das economias, sociedades e culturas latino-americanas com a ordem mundial do capital, comandada pelo Norte. Por esse motivo, os pré-requisitos programáticos para uma fuga da camisa de força atual parecem ser muito maiores. Mas se as economias centrais entrassem numa espiral descendente, então, enquanto o império ficasse cuidando de suas próprias terras, é provável que aumentassem as chances de a periferia encontrar soluções baseadas na criatividade.
Quando as pessoas falam do efeito ‘civilizador’ do governo FHC, estão, na realidade, fazendo referência à sua capacidade de reprimir o potencial conflituoso da democracia brasileira, ao estabelecer os parâmetros de um consenso no qual toda discordância séria é desqualificada de antemão, vista como anacrônica e deslocada. É a versão local do pensamento único.” Perry Anderson, historiador

Lula tem idéias e propostas que se identificam com nossa trajetória de vida.
O que mais admiro no programa Lula Presidente é que ele tenha embutida uma estratégia para desconcentrar a renda. E que assegure uma parcela crescente do Produto Nacional para os investimentos no fator humano.
Dar o neoliberalismo por falido é desconhecer a história do capitalismo. O dado mais importante para compreender a crise atual do capitalismo é o enorme crescimento das empresas transnacionais. O problema essencial é enfrentar essas novas estruturas de poder para se saber que tipo de Estado nacional sobreviverá.
O capitalismo não necessita de modelo neoliberal para sobreviver, é importante que isso fique claro. As eleições são uma oportunidade histórica para abrir espaço à emergência de novos atores. O avanço das forças democráticas é decisivo para evitar a concentração de poder econômico.
O respaldo internacional só é indispensável se não contamos com um respaldo nacional da população. O Brasil tem peso suficiente para se auto-governar. Se houver percalços, a responsabilidade principal cabe a nós mesmos.” Celso Furtado, economista

Acredito que Lula, e seu governo, vai concretizar as propostas da sua plataforma: redução da fome, aumento do número de empregos condignos, melhoras nos índices de saúde, extensão da escolaridade em largura e profundidade, aumento real dos salários, tratamento médico de qualidade para todos, e assim por diante.
Creio que Lula sabe que os países onde a fome é reduzida, a saúde do povo é bem-cuidada, água corrente e saneamento existem a contento, são também os países cientificamente adiantados, com uma significativa parcela do PIB nacional investido em pesquisa científica e tecnológica. Em suma, países com ciência vigorosa.
Poderia dizer que não é saudável que a pesquisa científica de um país seja tão desigualmente distribuída entre as suas diferentes regiões, como se observa no Brasil. Estou certo de que Lula e seus companheiros sabem que é disso que o Brasil precisa.” Ricardo Ferreira, cientista

A vitória de Lula é um dos poucos eventos do começo do século 21 que nos dá esperança para o resto deste século.
A eleição de Lula é uma conseqüência direta da aplicação de reformas do FMI, do fundamentalismo de mercado, ao Brasil. Foi a resposta de brasileiros de todas as classes ao que se costumava chamar de Consenso de Washington. Quanto mais as pessoas diziam que o mercado iria operar contra se votassem no PT, mais as pessoas viram uma boa razão para votar nele. É a prova de que o tipo de globalização de Washington produz maciça reação política e social contrária.
A única restrição real ao fundamentalismo de mercado é quando se reconhece que leva a uma resistência política que não pode ser superada. Então, têm de mudar. A economia financeira internacional está muito instável e até os EUA reconhecem que deixar o Brasil ir à falência, como aconteceu na Argentina, é intolerável. Resistir ao FMI, se feito de forma apropriada é uma política eficaz, como aconteceu com a Malásia. Mas, por outro lado, seria ridículo para o Brasil, e mesmo para Lula, decidir ir totalmente contra as condições impostas pelos mercados internacionais. Porque um enorme perigo para qualquer governo de esquerda, em qualquer país, é que se ele for inaceitável para os mercados capitalistas internacionais pode ser desestabilizado muito rapidamente. O Brasil tem a vantagem de que, no momento, a economia internacional está tão instável que até mesmo os mercados vão hesitar em produzir uma catástrofe no país. É uma situação muito difícil e vai determinar o sucesso do governo Lula, mas ele tem vantagens.
Ele tem considerável apoio de um grande número de pessoas no Brasil que também se opõem ao tipo de globalização que os norte-americanos querem. Por tradição, o desenvolvimento econômico brasileiro tem sido amplamente baseado num tipo de desenvolvimento nacional, planejado. O Brasil não é o único a fazer isso. A Coréia do Sul, por exemplo, faz. Qualquer governo que for percebido como aquele que resiste à versão americana da globalização terá apoio mais amplo e não só da esquerda.” Eric Hobsbawm, historiador

A eleição de Lula é um acontecimento extraordinário não só no quadro do Brasil, mas no quadro de toda a América. É uma enorme esperança.
Mas a pior coisa que os brasileiros podem fazer é olhar para o Lula como um Dom Sebastião. Nós, portugueses, temos uma experiência longuíssima de esperar o D. Sebastião, que é sempre aquele que vem resolver todos os problemas. Mas não fiquem sentados à espera de ver o que o Lula faz, porque ele vai enfrentar os três monstros que dominam o mundo e que se chamam Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Organização Mundial do Comércio – o Brasil tem uma dívida e Lula não pode dizer que não cumpre, porque, se dissesse ‘suspendem-se os pagamentos’, correria riscos imensos.” José Saramago, escritor

EDIÇÃO 67, NOV/DEZ/JAN, 2002-2003, PÁGINAS 32, 33, 34