Escritores e artistas são pessoas que pensam ser especiais, por ganharem muito dinheiro ou por copiarem-se uns aos outros. Por viverem a escrever, pintar ou fazer música do que lhes ditam suas sugestões e associações mentais, emocionais ou intelectuais, tudo no que fazem é acidental. É apenas artesão de versos, e não verdadeiro poeta, quem apenas faz poesia, e não a toma como destino.

      Nunca fez tanto barulho (em banda larga) a bandalheira da mediocridade. Como há mais facilidade em publicar, hajam florestas a derrubar-se, para imprimir-se tanta vacuidade! A internet, então, é uma porteira aberta. Nunca o poetariado se esbaldou tanto, produzindo lamúrias sentimentais à mão cheia, ou entregando-se à pilhagem escancarada, em céu estrelado de plágios. Caiu na rede, é peixe. Ou, como cinicamente o proclamou um falso compositor carioca, que tornou-se famoso por plagiar sambas de colegas. Uma vez, sendo flagrado por Noel Rosa em roubo explícito de uma composição sua, saiu com esta: “Samba é como passarinho: é de quem pegar primeiro”.

      Raduan Nassar deu adeus ao sucesso que fez com a publicação de duas obras primas , Lavoura Arcaica, e Um copo de cólera. E mesmo sendo tratado a pão de ló, pela crítica que tira ouro do nariz, trocou o ofício de escrevinhador de ficção pelo rude trabalho de criador de galinha e plantador de milho. Perguntado por que fez tal escolha, respondeu que um dente de alho fritando para receber o arroz cotidiano tem mais valor do que a quase totalidade do que se escreve e se publica.

      Quase tudo o que se pinta, se escreve, encena ou compõe, não vale a tinta da caneta, o pano ou o pincel com que foram feitos. Mas muito deste lixo mental (fruto de associações e delírios mentais, muitas delas doentias e mórbidas, pedindo a urgente intervenção de psiquiatras ou pais de santo) vai parar nas livrarias, em salas de concerto, teatros ou galerias de arte, sendo recebido com pompa e circunstância, com fanfarras de elogios pernósticos e vazios, por parte da chamada “crítica especializada”.

      Mesmo não valendo nem um dente de alho, muito do que se publica de mixórdia, paródia ou cópia mal disfarçada, chega às bancas e lojas refestelado e festejado de aceitação e sucesso. De tal modo se inverte a ordem lúcida das coisas que alguém que se dedicasse a só fazer arte verdadeira, ao ver-se reconhecido e aplaudido, deveria se perguntar: onde foi que errei?

 Brasigóis Felício, é goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.