Graça Fleury, que espalha o encanto de seu sorriso e de sua inteligência por onde passa, informa sobre as várias homenagens que o historiador, músico, fotógrafo e poeta, Paulo Bertran vem recebendo. A morte estancou o jorro de sensibilidade e talento do intelectual, mas inscreveu sua passagem em um tempo de maior permanência da história. Candente foi a escolha de Paulo, em votação pela internete, como Brasileiro Imortal, na área socioambiental, na Região Centro-Oeste. O empenho dos amigos, a dedicação de sua mãe, D. Helena, e o suave apelo de sua musa dos últimos dias foram decisivos para que seu nome emergisse como vencedor. Além do troféu recebido por André, seu filho, em presença de várias autoridades no anexo da ABL, no Rio de Janeiro, foi dedicado a Paulo um selo comemorativo e uma espécie de orquídea, ainda não catalogada, que receberá seu nome “Beltrani”. Embora não tenha convivido com Bertran, que se demorava mais pelos arredores de Brasília, guardo em lembrança sua figura alta, barba por fazer, e o jeito sonhador de contemplar as coisas. Conheço, entretanto parte de seu trabalho historiográfico, reconhecido como buscador de fontes, descobridor de sinais e sensibilidades do passado. Meio Indiana Jones do cerrado, figura aventureiro, suscitador de inventos e mistérios, dando a conhecer vozes e silêncios de pessoas, bichos e paisagens, ampliando e aprofundando a riqueza do imaginário cerratense. Com certeza, sua contribuição nuclear é a leitura que fez do universo do cerrado, da história goiana, de Vila Boa, do Planalto Central e da enigmática Brasília e seu entorno. Mas uma parte menos conhecida de seu trabalho, a poesia, vem agora reunida em um livro à feição de obra completa, reunido amorosamente e explicado por Graça Fleury. Sertão do Campo Aberto recolhe a maior parte da obra poética de Paulo Bertran, incluindo Cerratense de 1998. A obra reflete a caminhada lírica de um homem ilustrado, amoroso dos lugares, dos tempos e das pessoas que habitam seu momento de convergência histórica e existencial. A terra, a água, o ar, o cosmo são os materiais de seu canto. Demora na celebração da paisagem, na recuperação de momentos e atores do passado e indaga futuros. Numa linguagem que vai do regional ao erudito, plena de ressonâncias clássicas, das raízes gregas e latinas sobrevivas nas falas européias e nos arcaísmos do novo mundo, Paulo é dono de um canto de alteridadades em que todos os sujeitos aparecem com sua voz e identidade. Recorre frequentemente à paisagem e à história ressuscitando rostos, ângulos e nomes do policrômico painel planáltico, ou cerratense. Mas não deixa de olhar o mundo, as viagens, preservando no verso os insights de sua alma andeja e sensível. Canta o amor e impregna seu poema desse sentimento que perpassa a natureza, a história e repousa estremecido no colo da mulher amada. Sua poesia abre portas e horizontes, daí seu canto residir, com arte e graça, neste maravilhoso, goiano e universal Sertão de Campo Aberto. Nenhum goiano pode morrer sem ler este livro.