Quando era pequeno (e nem faz tanto tempo assim), nos reuníamos na sala ou perto do Ipê Amarelo da frente de casa para tirar fotos. Em seguida, era necessário se terminar como filme todo (12, 24 ou 36) para deixar até uma semana no laboratório fotográfico. Podíamos ver, então, o resultado, nem sempre agradável, daqueles momentos parados para a eternidade finita das fotografias. Era muito poético, romântico e emocionante.

      Até que um dia, apareceram as máquinas digitais. As pessoas tem agora modernas câmeras, com visores diversos, funções múltiplas e memórias infinitas! Nossos momentos eternos tornaram-se fáceis, banais. São milhões de fotos arquivadas em computador. O antigo gesto de olhar os álbuns na casa de um amigo ou parente foi extinto. Acabou. Frente a acontecimentos, fatos ou amigos, agora deixamos de apreciar as cenas para tirar mil fotos. E quando as poderosas máquinas de vários M.Ps não estão por perto, os celulares fazem o serviço de guardar milhões de imagens que pouquíssimas vezes serão vistas novamente. Não vemos mais com nossos próprios olhos e, as fotos que produzimos, muito raramente são reveladas e quase nunca ganham um porta-retratos. A estante da sala não tem mais fotografias. As revistas de decoração já não recomendam mais aquelas fotos de famílias unidas sobre o mobiliário. Não devemos ser contra a tecnologia (faço este texto agora em um computador, por exemplo, e não gostaria de estar em uma máquina de escrever, é fato.), mas acredito ver exageros no uso das máquinas digitais.

      Faço um desafio a você, amigo leitor, tente ir a um local onde acontecerão fatos inesquecíveis e deixe sua máquina de última geração em casa. Leve apenas seu coração e grave as imagens em sua memória. Você não poderá colocar as fotos no orkut, mas certamente aproveitará de verdade seu passeio.


Luiz Henrique Dias da Silva é escritor, estudante de Arquitetura e Urbanismo e comunista (convicto). Ele escreve diariamente no seu blog acasadohomem.blogspot.com. (
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