As pessoas conversavam sobre o calor na mesa vizinha a minha aqui no café. Saíram e deram lugar a um casal. É interessante como a praça continua com a mesma mania de ser chamada de Marques da Silva. Aquela árvore centenária que permanece plantada entre o café e a floricultura ainda abriga os pardais. Mas o antigo cinema desapareceu dando lugar a uma loja popular de roupas.

      Os pardais são comuns por aqui, são aves cosmopolitas e cheias de barulho até que a noite os sossegue.

      Temo pela árvore e pelos pardais, uma velha mania da praça. A cidade está envelhecendo ainda mais e sofrendo alterações na memória. Algumas “manias” vão realmente desaparecendo. Outras não.

      Ontem, quando o sol avisava que estava a caminho do Japão, os pardais estavam enlouquecidos. No entanto, alguém bateu as mãos uma na outra e eles fizeram silêncio por dois ou três segundos. Em seguida, voltaram para seus desesperos. Foi engraçado e intrigante. Contudo, a tarde escondeu seus dentes na boca quando um homem de quase meia idade, uniformizado surgiu de repente esbravejando contra o governador do nosso Estado de cada dia. Xingou e falou para todos nós ali naquele momento no café o quanto sofria por ser um policial civil, ressaltou indignado sobre o salário baixo e humilhante e expôs situações de sua intimidade financeira. Sentou-se um pouco, pôs as mãos sobre o rosto e chorou. Logo depois, levantou-se enxugando o rosto e foi embora. Ficamos ali por alguns instantes como os pardais ao ouvir um bater com as palmas das mãos.

Marta Eugênia é Especialista em Linguística e Professora de Língua Portuguesa na cidade de Arapiraca em Alagoas. http://eugenico.blogspot.com/