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    Comunicação

    Simpósio debate o Brasil na geopolítica mundial

    “A geopolítica moderna: realidades e representações” foi o tema de abertura abordado pelo professor Michel Foucher, do Institut des Hautes Études de Défense Nationale. Em seguida ocorreu a mesa-redonda sobre “Os dilemas estratégicos dos EUA para a próxima década”, com a participação do professor André Martin, do departamento de Geografia da USP e organizador do […]

    POR: Redação

    11 min de leitura

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    “A geopolítica moderna: realidades e representações” foi o tema de abertura abordado pelo professor Michel Foucher, do Institut des Hautes Études de Défense Nationale. Em seguida ocorreu a mesa-redonda sobre “Os dilemas estratégicos dos EUA para a próxima década”, com a participação do professor André Martin, do departamento de Geografia da USP e organizador do Simpósio; do professor Wagner Costa Ribeiro, também do departamento de Geografia da USP; e do professor Flavio Rocha, do departamento de relações internacionais da Unifesp.

    No dia 19 de abril, o primeiro assunto debatido foi “O Conselho de Defesa Sul Americano: potencialidades e riscos”, com o professor Hector SaintPierre, do departamento de relações internacionais da UNESP; o professor Charles Penaforte, diretor do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (Cenegri); e Ronaldo Carmona, pós-graduando do departamento de Geografia da USP. O segundo assunto do dia, “A Geopolítica e a Integração Regional na América do Sul”, foi abordado pelo professor titular do departamento de Geografia da USP Wanderley Messias da Costa.

    No dia 20 de abril, os trabalhos foram iniciados com mesa-redonda “A renovação do pensamento geopolítico brasileiro”, da qual participou o professor Alfredo Salomão, ex-vice-ministro de Assuntos Estratégicos do governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva; o professor Edu Silvestre Albuquerque, da Universidade Estadual de Ponta Grossa e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; e o professor Eli Penha, pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE) e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Encerrando o evento, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, alto representante do Mercosul, ex-ministro de Assuntos Estratégicos e ex-vice ministro da Relações Exteriores, fez uma conferência sobre os “Desafios para a Presença Brasileira no Mundo”.

    O Grabois.org conversou rapidamente com o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães e com Ronaldo Carmona, um dos organizadores do Simpósio, que  integra a Comissão de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

    Veja as entrevistas:

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    Ronaldo Carmona e Samuel Pinheiro Guimarães

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    Samuel Pinheiro Guimarães

    Grabois.org – Por favor, embaixador, fale um pouco sobre o tema da sua conferência.

    Samuel Pinheiro Guimarães – O tema que vou abordar, sobre as perspectivas, os desafios para a presença brasileira no mundo, é uma análise da situação internacional, da situação regional, das perspectivas, das características brasileiras e das vantagens e desvantagens do Brasil nesse contexto internacional.

    Grabois.org – O senhor acompanhou os debates anteriores?

    Samuel Pinheiro Guimarães – Assisti à apresentação do professor Eli, do professor Edu, do professor Luis Salomão. Achei muito interessante a do professor Eli sobre a geopolítica marítima e sobre a parte terrestre, e a do professor Salomão mais sobre a situação do Brasil atual. Achei muito proveitosas. É muito importante que num dia de hoje, que é quase feriado (véspera dos feriados de Tiradentes e da Páscoa, 21 e 22 de abril, respectivamente), haja tantos alunos, uma plateia tão grande.

    Grabois.org – Como o senhor vê a situação do Brasil do ponto de vista dos temas abordados neste evento?

    Samuel Pinheiro Guimarães – Acho o Brasil um país com extraordinárias características, de população, de território, de produção. E essas características fazem com que tenhamos a perspectiva de um processo de desenvolvimento muito importante. Talvez, dentre os países do grupo chamado Bric, sejamos o que tem melhores condições.

    Grabois.org – O senhor pode enumerar algumas delas?

    Samuel Pinheiro Guimarães – Vou dizer por quê. Em primeiro lugar, porque temos um grande território – o 5º maior do mundo, nossa população é a 7ª maior do mundo – muito bem dotado de recursos naturais. Possui uma grande diversidade de fontes de energia, grande produção agrícola. Então, temos uma autonomia agrícola, uma autonomia de alimentos, que outros países não têm. Por outro lado, temos uma população, que é grande, importante que permite ter um importante mercado interno. E ao mesmo tempo não é um número excessivo, como é, por exemplo, o caso da Índia, ou o da China. A nossa população é urbana. Quarenta por cento da população da Índia é rural. A nossa é muito homogênea em termos de língua, na Índia há 19 línguas oficiais, sem contar outras. E assim por diante…

    Temos também uma variedade de fontes de energia muito grande, de petróleo, gás, eletricidade, biomassa, energia eólica etc., que outros países não têm. Tanto China quanto Índia são dependentes da importação de energia. Temos nossas disparidades sociais, mas eles também têm. As disparidades sociais na Índia são maiores do que no Brasil. Na Índia há um regime de castas que impede muito a integração social. Na China também há uma enorme massa da população no campo, e muito pobre, que ainda não foi incluída na economia moderna – cerca de 1 bilhão de pessoas. Trezentos milhões foram, mas 1 bilhão não. Então, temos condições estruturais importantes.

    Grabois.org – Essas condições estão sendo traduzidas em força política no cenário internacional?

    Samuel Pinheiro Guimarães – Certamente que a posição do Brasil no cenário internacional sofreu uma transformação muito grande. Hoje em dia o Brasil é um participante, um ator fundamental na área econômica, nas negociações comerciais, nas negociações financeiras, e mesmo nas questões políticas, principalmente em nível regional. Mas hoje em dia também em nível internacional. O Brasil participa dos Bric, do Ibas, o bloco Índia, Brasil, África do Sul… Desse modo, temos aí uma modificação na nossa posição muito grande. Muito maior autonomia, muito maior altivez e menor dependência externa.

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    Ronaldo Carmona

    Grabois.org – Por favor, fale um pouco sobre o tema do qual você participou como palestrante.

    Ronaldo Carmona – No dia que participei, o debate foi sobre a América do Sul. Organizamos uma mesa de trabalho que discutiu a questão do Conselho Sul-Americano de Defesa, como base para a integração regional. Ou seja: como se trata de um simpósio sobre geopolítica, se procurou ver o problema da integração sul-americana a partir do tema estratégico, do tema ligado exatamente a essa dimensão do debate, que é a integração e a defesa.

    Procuramos apresentar a ideia de que o Conselho Sul-Americano de Defesa se realiza no bojo desse processo da integração, baseado em duas motivações. A primeira é a ideia de criar condições de confiança entre os países da América do Sul, de maneira a materializar a região como uma zona de paz. E, mais do que isso, materializar a América do Sul como uma região em que o Brasil conseguiu desenvolver um entorno de paz e prosperidade. Essa é a primeira ideia: de o Conselho gerar confiança entre os diversos países de modo a impedir a repetição de episódios como os das duas vezes em que a Colômbia conturbou o cenário sul-americano, primeiro no ataque a um acampamento guerrilheiro em território equatoriano, em março de 2008, e, depois, no anúncio, em 2009, do acordo militar para a cessão de bases para os Estados Unidos.

    A segunda idéia tem a ver com a construção de uma identidade própria sul-americana em matéria de percepção dos problemas e ameaças que o mundo atual apresenta ao nosso continente. Ou seja: a ideia de que precisaríamos ter uma percepção das ameaças segundo nossos próprios critérios. Hoje está em voga, por exemplo, por parte do governo dos Estados Unidos, uma tentativa de impor a chamada teoria das novas ameaças, que basicamente é um movimento para fazer com que nossas forças armadas realizem movimentos de contenções a riscos que possam ameaçar o próprio território americano. Por exemplo: risco de imigração ilegal, do narcotráfico ou do terrorismo.

    Precisamos construir uma identidade sul-americana em matéria de segurança e defesa, exatamente porque a nossa percepção de ameaças é de que os problemas de segurança são outros. Quais são nossos problemas de segurança? Por exemplo: a decisão da Otan de estender seu alcance estratégico para o Atlântico sul e o risco gerado pela presença militar de uma potência extrarregional na América do Sul, mais exatamente na Colômbia. Enfim, existe uma série de percepções de ameaças que, a meu ver, deve ser vista de acordo com nossa própria identidade, com nossa própria visão a respeito do panorama internacional de segurança vivido hoje no mundo.

    Grabois.org – Você considerou aspectos da ofensiva da Otan na Líbia?

    Ronaldo Carmona – Sem dúvida. Inclusive foi objeto de uma polêmica – de um nosso representante francês – que foi a seguinte: uma das percepções de risco no que diz respeito a nossa segurança foi localizada exatamente – já fazendo um paralelo com esse problema da Líbia e da Costa do Marfim – a utilização de um conceito das Nações Unidas chamado responsabilidade de proteger. Esse conceito precisamente permite às potências ocidentais por meio da instrumentalização do Conselho de Segurança das Nações Unidas tomar partido em cenários de conflagração interna em determinados países.

    Isso aconteceu na Líbia, onde numa guerra civil o Conselho de Segurança, autorizada a intervenção, tomou partido de um dos lados. E aconteceu novamente agora na Costa do Marfim, onde as tropas francesas, a mando da ONU, também tomaram partido de forças que, por acaso, são precisamente aliadas das grandes potências ocidentais. É curioso ver a manipulação desse conceito, como é curioso ver também a manipulação do conceito de democracia, do conceito de direitos humanos – que são sempre úteis às grandes potências do ponto de vista da imposição de seus interesses estratégicos e geopolíticos.

    Grabois.org – Algum aspecto da fala dos demais debatedores que você gostaria de ressaltar?

    Ronaldo Carmona – Sim. O Saint-Pierre é tido como especialista na questão do Conselho Sul-Americano. Ele fez uma análise mais teórica, sobretudo baseada nas teorias da balança do poder. O Penaforte discutiu mais estritamente o processo de integração regional. Ou seja: a evolução e o curso do Mercosul e da Unasul. Ele foi mais nesse aspecto do debate sobre integração.


    Auditório do departamento de Geografia da USP

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