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    Comunicação

    1984 (ou versos ilegais)

    companheiro (o companheiro não responde) depois de tanto medo certo um abraço não vai fazer mal ao país companheiro tão solto agora que dá gosto da farinha os mesmos somos da história lida relida nos jornais velhos como quem diz que tem vida (o companheiro não ouve) não tem cronologia possível sou eu está preso […]

    POR: Ricardo Albuquerque

    2 min de leitura

    companheiro
    (o companheiro não responde)
    depois de tanto medo
    certo um abraço não vai fazer mal
    ao país companheiro
    tão solto agora que dá gosto
    da farinha os mesmos somos
    da história lida relida nos jornais
    velhos como quem diz que tem vida

    (o companheiro não ouve)
    não tem cronologia possível
    sou eu
    está preso às noites e noites e noites
    isso não vai ser notícia ninguém vai saber
    de manhã na praça joão mendes
    o povo ainda tem fome televisão carnê
    companheiro ainda tem você
    dois passos atrás para o seu bem
    você pode andar de novo
    lênin tinha fogo no rabo

    (o companheiro não escuta)
    companheiro sou eu
    na esquina um relógio grande faz tempo
    não pode andar
    é a senha
    vamos acertar os ponteiros
    ali exatamente vai cair uma estrela
    depois outra eu sei onde está
    o segredo
    faça um pedido
    vamos poder mijar juntos
    mordendo os lábios na rua
    respeitosamente entre senhoras
    nus vamos fazer outra história
    sem rugas olheiras
    é cedo onde você nasceu brasileiro

    (o companheiro está surdo
    de tanta porrada não vê sangue
    no escuro)
    companheiro
    depois de tanto medo
    é certo
    não somos os mesmos

    marxengels
    eles
    eleninfern
    izaram
    nos
    osAnjos
    nus
    amaram
    filos
    o/fiaram
    newman

     

    Versos Ilegais – Ricardo Albuquerque
    Águas Brasileiras Editora – edição 2001