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    Comunicação

    A Cólera – Esperança

    A Cólera – Esperança   Atiro-a contra quinas erguidas desta madrugada, contra estes edifícios enormes,parados contra o cinza do céu sujo como o sabão que lava o piso dos botequins ao fim da noite.   Atiro-a contra o cansaço do mundo, contra o meu próprio e inenarrável cansaço, atiro-a em nome da utopia que é […]

    POR: Hélio Pellegrino

    2 min de leitura

    A Cólera – Esperança

     

    Atiro-a contra quinas erguidas desta madrugada,
    contra estes edifícios enormes,parados
    contra o cinza do céu sujo como o sabão que lava o piso dos
    botequins ao fim da noite.

     

    Atiro-a contra o cansaço do mundo,
    contra o meu próprio e inenarrável cansaço,
    atiro-a em nome da utopia que é minha, a tua, a nossa utopia,
    atiro-a com raiva, sem estratégia, sem prudência,
    como hemorragia que se esvai e tinge a calçada
    com o esguicho do seu incêndio rubro.

     

     

    Atiro-a para nada, para o nenhum resultado
    do  grito que precede o baque do copo atropelado na rua,
    atiro-a no ar do mar, na curva corrosiva do azul, à porta dos
    orfanatos e prostíbulos,
    atiro-a ao chão como bile sanguinolenta que escorre,
    como quem cospe um dente arrancado por um murro na boca.

     

    Mas atiro-a, flecha turva, esperança e nojo,vida e cólera,
    atiro-a com este punho fechado, com esta sede e esta fome,
    atiro-a com funda mais funda do meu sonho mais profundo,
    atiro-a contra argentários e fundiários, opressores e ditadores,
    atiro-a em meu nome e em nome dos que ainda não tem nome,
    e em nome dos que em dores e cólicas acordam para seu nome,
    e ao rés-do-chão, em pleno pó, o desentranham.

     

     


    Hélio Pellegrino – Minérios domados – poesias reunida